N.º 22 –
Março de 2002
Muito se tem escrito
e falado sobre a GRANDE BARRAGEM, umas vezes com verdade e rigor ,
outras nem tanto.
Houve quem se
dissesse contra o empreendimento aparecendo agora como seu grande
defensor, e também o contrário.
As peregrinações à
barragem e arredores quase são comparáveis à grande peregrinação a Meca.
Mas no meio de todo
este espectáculo, a questão do concelho de Mourão ( que perde 1/3 do seu
território) fica sempre, estranhamente, nas entrelinhas e de forma
nebulosa.
Fala-se na povoação
da Luz e da Portucel Recicla com um pouco mais de ênfase numa visita de
“último olhar” em que se bebem uns copos, tiram-se umas fotografias... e
adeus até à próxima.
Pela parte que nos
toca, temos uma posição clara, desde sempre (basta ver números
anteriores desde há décadas): defender a construção da barragem e os
direitos das populações, ajudando a exigir contrapartidas sérias tanto
no equipamento como nos postos de trabalho, saneamento básico, rede
viária, qualidade de vida, fixação das populações nativas, etc., etc.
Mas, para tristeza de
muitas pessoas com quem falamos, as coisas no concelho de Mourão não
foram assim; a nova Luz está inacabada, cheia de defeitos, as
expropriações foram feitas sobre critérios esquisitos beneficiando uns e
prejudicando outros, o respeito pelos sentimentos das pessoas não passou
do “ai coitadinhos”, a Portucel Recicla foi demolida sem que a sua
garantida substituição tivesse ainda começado, sendo os trabalhadores e
as suas famílias iludidos descaradamente até às eleições autárquicas.
Quanto à nova rede
viária, o problema não é menor, pois isola a sede de concelho.
Quanto às
características de que aquele povo tanto se orgulha, incluindo a
limpeza, dizia-nos um idoso: “Olhe, está à vista!...”
Relativamente a uma
das vertentes de maior tradição no concelho: a agricultura, com o novo
teor de humidade e quantidade de pluviosidade, ninguém sabe bem o que
dali vai sair.
Outra das grandes
questões é no turismo: pelo que conseguimos averiguar, tudo é obscuro. O
PDM não foi alterado visando a grande importância que a questão tem. As
relações da Câmara com a Região de Turismo de Évora praticamente não
existiram no anterior mandato porque, segundo afirmações do Presidente
da Câmara (ouvidas na rádio durante a campanha eleitoral), esta
instituição era partidária... e com este espírito sectário se deixaram
de aproveitar as vantagens do relacionamento com uma instituição
especializada e interessada.
Quanto à povoação da
Granja, pura e simplesmente, parou no tempo.
Enfim! A Câmara do
Concelho mais atingido negativamente por este grande empreendimento, do
mesmo partido que era o do Governo, devia por isso mesmo ter
reivindicado mais-e-mais para o seu povo. Mas não! Afinou pelo mesmo
diapasão. O imobilismo e a mentira mascarados de diálogo, muitas
posições de “sim” que mais parecem encomendadas e apadrinhadas por
interesses outros que não os do povo.
Por tudo isto, e por
muito mais que poderíamos escrever, recomendamos que vá agora a esta tão
bela região, pois em breve dada a
descaracterização galopante, muito pouco ficará igual ao que era dantes,
neste cantinho onde já tudo de mau parece ser possível acontecer. |