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Revista Alentejana (2ª série) in memoriam. Um texto para memória, o Estatuto Editorial e 26 editoriais. Lisboa, 2011, 36 páginas.


Humanizar é preciso

N.º 19 – Junho de 2001

Quando qualquer indivíduo vai ao médico, salvo raras excepções, é porque está doente e, só por esse facto está, naturalmente, mais fragilizado que o habitual. Mas se o indivíduo for idoso a sua fragilidade é claramente maior.

Seria licito pensar-se, com base no simples raciocínio acima exposto, que os centros de saúde, pelo menos os da Segurança Social, tivessem as condições necessárias para minorar esse sofrimento e fragilidade. Em alguns casos assim será, mas em muitíssimo poucos.

Umas vezes são os empregados que parecem imunes à simpatia, outras são os esquemas de funcionamento que foram previstos para tudo menos para o fim em vista, outras ainda são as duas coisas juntas.

Imagine-se por exemplo um centro médico da Segurança Social onde a maioria esmagadora dos utentes são idosos, em que a recepção é no piso térreo (tira uma senha de vez) e os consultórios e salas de tratamento são no piso superior, sendo necessário para lá chegar subir dois e meio compridos e altos lanços de escadas, sem qualquer tipo de elevador ou ajuda.

 Por outro lado, há as intermináveis horas (na recepção, depois no piso superior, e de novo, para carimbar as receitas, na zona da recepção ou outra parecida), em espaços apertados, com cadeiras insuficientes e sem qualquer tipo de conforto. Meia dúzia de revistas, ou o que resta delas, regra geral da pior qualidade,

E sempre aquele som irritante, mas desejado: “fulano de tal, sala x ou y”...

Depois há ainda as “consultas externas e as operações” onde tudo se agrava e a dor se multiplica. Mas sobre isso vão argumentando e contra argumentando os tidos por entendidos, falando de filas/listas de espera com uma ligeireza e insensibilidade que parece tratar-se de filas para a compra de bilhetes para o cinema ou futebol.

E no meio de tudo isto, ainda há uns sujeitos muito bem vestidos, com ar não sei se arrogante, vaidoso ou tolo, que embora tenham horas e local para actuarem, estão em sítios estratégicos das instalações, para que possam entre a saída de um doente e a entrada de outro, abordar o médico que lhes convém,  o que fazem/conseguem sem obstrução, ou pelo menos com uma muito débil chamada de atenção, para não dar demasiado nas vistas, alongando naturalmente o doloroso tempo de espera de quem sofre estes “tratos de polé”.

E tudo isto, mesmo com a declarada paixão do Governo sobre as questões de saúde...

A realidade de que falamos também é válida no Alentejo e, certamente, em outras zonas do interior em que as distancias e a densidade populacional são diferentes. Mas o caos?! Esse é o mesmo.

Por favor, que quem manda, de facto, considere que urge humanizar.

 

 
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