N.º 19 –
Junho de 2001
Quando qualquer
indivíduo vai ao médico, salvo raras excepções, é porque está doente e,
só por esse facto está, naturalmente, mais fragilizado que o habitual.
Mas se o indivíduo for idoso a sua fragilidade é claramente maior.
Seria licito
pensar-se, com base no simples raciocínio acima exposto, que os centros
de saúde, pelo menos os da Segurança Social, tivessem as condições
necessárias para minorar esse sofrimento e fragilidade. Em alguns casos
assim será, mas em muitíssimo poucos.
Umas vezes são os
empregados que parecem imunes à simpatia, outras são os esquemas de
funcionamento que foram previstos para tudo menos para o fim em vista,
outras ainda são as duas coisas juntas.
Imagine-se por
exemplo um centro médico da Segurança Social onde a maioria esmagadora
dos utentes são idosos, em que a recepção é no piso térreo (tira uma
senha de vez) e os consultórios e salas de tratamento são no piso
superior, sendo necessário para lá chegar subir dois e meio compridos e
altos lanços de escadas, sem qualquer tipo de elevador ou ajuda.
Por outro lado, há
as intermináveis horas (na recepção, depois no piso superior, e de novo,
para carimbar as receitas, na zona da recepção ou outra parecida), em
espaços apertados, com cadeiras insuficientes e sem qualquer tipo de
conforto. Meia dúzia de revistas, ou o que resta delas, regra geral da
pior qualidade,
E sempre aquele som
irritante, mas desejado: “fulano de tal, sala
x ou y”...
Depois há ainda as
“consultas externas e as operações” onde tudo se agrava e a dor se
multiplica. Mas sobre isso vão argumentando e contra argumentando os
tidos por entendidos, falando de filas/listas de espera com uma
ligeireza e insensibilidade que parece tratar-se de filas para a compra
de bilhetes para o cinema ou futebol.
E no meio de tudo
isto, ainda há uns sujeitos muito bem vestidos, com ar não sei se
arrogante, vaidoso ou tolo, que embora tenham horas e local para
actuarem, estão em sítios estratégicos das instalações, para que possam
entre a saída de um doente e a entrada de outro, abordar o médico que
lhes convém, o que fazem/conseguem sem obstrução, ou pelo menos com uma
muito débil chamada de atenção, para não dar demasiado nas vistas,
alongando naturalmente o doloroso tempo de espera de quem sofre estes
“tratos de polé”.
E tudo isto, mesmo
com a declarada paixão do Governo sobre as questões de saúde...
A realidade de que
falamos também é válida no Alentejo e, certamente, em outras zonas do
interior em que as distancias e a densidade populacional são diferentes.
Mas o caos?! Esse é o mesmo.
Por
favor, que quem manda, de facto, considere que urge humanizar. |