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DIAS, Diamantino –, Glossário. Designações relacionadas com as Marinhas de Sal da Ria de Aveiro, Aveiro, C. M. A., 1996, págs. 61 a 72.

Glossário

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Massa de untar os quícios
1. Massa consistente ou óleo queimado, utilizados para olear os eixos do cilindro, quando começam a chiar e a ficar perros, tornando, ainda mais dura, a tarefa de circiar.
2. Nas marinhas, o trabalho é muito e quase sempre duro, não havendo domingos nem feriados. Só se descansa, obrigatoriamente, após uma chuvada.
Nessas ocasiões, os marnotos resolvem, por vezes, brincar com os moços de primeiro ano, mandando-os buscar a massa de untar os quícios, a uma marinha relativamente distante, onde o respectivo marnoto lhes entrega um saco cheio de coisas pegajosas e com mau cheiro - por exemplo, trapos embebidos em óleo queimado.
Os mais ingénuos transportam o saco inútil de volta para a sua marinha, onde são alvo da chacota do marnoto maroto e restantes colegas.
Os mais espertos, apercebendo-se de que se trata de uma brincadeira, entram no jogo e vão para casa, só voltando no dia seguinte, gozando, assim, com os pretensos gozadores.
Veja-se Pedra de afiar as alfaias.

 

Maueiras
Hastes do círcio, ligeiramente curvas, com um comprimento de 1,20 m., dotadas de elos, onde se encaixam os quícios.
O mesmo que Moeiras.

 

Meio sal
Qualidade de sal fino, mas baço.

 

Meios
Compartimentos condensadores (meios de cima) e cristalizadores (meios de baixo) das marinhas nova e velha, com, aproximadamente, 17 m. de comprimento, por 4 m. de largura.

 

/ 62 / Meios arreados
Meios onde se mete muito mais água do que a usual e que não são utilizados para a sua função normal de cristalizadores, mas, sim, para ajudar a suprir, temporariamente, a baixa salinidade do mandamento.

 

Meios de baixo
Cristalizadores principais, com uma altura de água aproximada de 2 cm.

 

Meios de cima
Reservatórios com uma altura de água de, mais ou menos, 2 cm., onde as moiras se concentram antes de passarem para os meios de baixo.
Veja-se Alimentadores.

 

Meios dobrados
Conjunto dos meios de cima e de baixo das duas andainas.

 

Meios falsos
Meios de cima, quando utilizados como cristalizadores.

 

Meter água
Tomar água da Ria para o viveiro; a melhor ocasião para o fazer é durante as marés vivas, porquanto é nestas alturas que se verifica a maior concentração salina na água da Ria.

 

Meter moiras
Veja-se Imoirar.

 

Moço
Ajudante do marnoto nos trabalhos de salinagem.

 

/ 63 / Moeiras
Veja-se Maueiras.

 

Moira
Água concentrada e já livre de matérias prejudiciais.

 

Moira gorda
Moira com grande percentagem de sais de magnésio, que se depositam entre os 30 e 35 graus Baumé e tornam difícil a rapação, porque o sal, contendo mais água, por efeito da presença do magnésio, escapa-se da rasoila e dispersa-se pelo cristalizador.
Note-se que a percentagem de sais de magnésio tem tendência para aumentar de redura para redura.

 

Moiradoiro
Pau afiado na ponta, com 80 cm., empregue na abertura dos lacrimais.
O mesmo que Muradoiro.

 

Molhaduras
Veja-se Dar molhaduras.

 

Montear
Veja-se Emontear.

 

Montes de sal
O sal é transportado para as eiras, onde se acumula, usualmente, sob a forma de cones, cujo volume oscila entre as 80 e as 150 toneladas.
Enquanto o monte não ultrapassa as 5 toneladas, denomina-se estrela, mancheia ou mão cheia; se toma a configuração de um prisma triangular rematado por dois meios
/ 64 / cones laterais, chama-se mula ou serra; usa-se esta configuração, quando a largura do malhadal é insuficiente para implantar a forma cónica.
Note-se que, ao contrário do que se ouve e lê com frequência, nunca existiu a forma piramidal, que, aliás, seria muito mais difícil de concretizar.

 

Mula
Veja-se Montes de sal. O mesmo que Serra.

 

Muradoiro
Veja-se Moiradoiro.

 

Muro
Só há dois muros numa salina: a defensão e a trave do viveiro.

 

Não pegar a marinha
Veja-se Ficar na areia.

 

Ordens
Uma marinha divide-se em três ordens: comedorias, mandamento e marinha propriamente dita.

 

Pá cova
Pá de forma côncava com o comprimento de 1,2 m., utilizada na remoção das lamas.
Regista-se, também, a forma pacova.
Note-se que o O de cova e pacova é idêntico ao de avô.

 

Pá de amanhar
Pá com o comprimento de 1,1 m., utilizada para a vedação dos portais da andaina de cima e das bombinhas do mandamento.

 

/ 65 / Pá do sal
Pá com o comprimento de 1,15 m., utilizada para fazer o coruto dos montes e espalhar a areia nos cristalizadores, imediatamente antes da botadela.

 

Pá do tabuleiro
Pá chata, em forma de cunha, com o comprimento de 60 cm., utilizada para a abertura e vedação dos portais do tabuleiro do meio.

 

Pá de valar
Pá côncava com um comprimento de 1,05 m., em ferro e com cabo de madeira, utilizada para baldear.

Padiola
Tabuleiro de 80 x 80 cm., com guardas em três lados e quatro braços de 50 cm., a que pegam duas pessoas; emprega-se na remoção das lamas, do moliço e do codejo para a malhada e para o malhadal.

 

/ 66 / Pajão
Pá chata com um cabo de 3 m., utilizada para apajar os montes.

 

Palheiro
Casa rudimentar, primitivamente, em madeira e coberta a bajunça, o mais das vezes, de chão térreo juncado com ervas ceifadas na salina, onde se guardam as alfaias; serve, também, de abrigo para o pessoal, quando faz mau tempo.
Por vezes, ostenta, por cima da porta, o nome da marinha.

 

Palmeta
Espátula em madeira, com um cabo, chamado rabo ou rabicho; serve para abrir e fechar todo o tipo de bombas, funcionando verticalmente.

 

Parcel
Fundo das várias peças, com excepção do viveiro. O mesmo que Polmo e Praia.

 

Parceria de metade
Forma de exploração, em que o sal produzido se divide, em partes iguais, entre o patrão e o marnoto.
Neste regime, contrata-se quais as despesas da responsabilidade do marnoto e as que constituem encargo do proprietário.
Trata-se de um tipo de relação, em que o proprietário é, nitidamente, beneficiado, já que o seu único risco é ter um lucro menor do que o habitual, na medida em que os seus encargos são poucos. No que respeita ao marnoto, detentor da maior responsabilidade financeira, pode, num mau ano, ficar endividado, pelo que, no fim da safra, terá de trabalhar noutra arte, para poder honrar as suas obrigações.
Assim, estes contratos, de nítidos contornos medievais, têm vindo a desaparecer. A partir dos anos setenta, o normal é que o proprietário assuma todos os encargos de manutenção, exploração e fiscalidade, e o marnoto encarregado da marinha receba um salário e uma percentagem sobre o sal obtido.
Esta modalidade pressupõe risco de prejuízo por parte do proprietário, sendo uma das razões por que muitas salinas têm vindo a ficar no fundo.

 

Partir a marinha
Marcar a praia com pegadas, quando ela não está suficientemente compactada, estrago este que acontece, com muita frequência, quando se está ugalhar de baixo.

 

Passadoiros
Pequenos muros ou pranchas que permitem a passagem das pessoas através do entraval.

 

/ 68 / Patrão
Proprietário da marinha.

 

Pau de medições
Vara de madeira ou cana, com o comprimento de 1,24 m., 1,27 m., ou 1,5 m., com incisões que correspondem a uma escala, com que se mede o perímetro inferior da saia, sabendo, empiricamente, os marnotos que o número de paus obtido corresponde a uma determinada tonelagem do monte; por exemplo, num monte bem formado, 14 paus de 1,24 m. correspondem a 10 toneladas e 17 paus a 20 toneladas.

Peças
Os compartimentos de uma salina.

 

Pedra de afiar as alfaias
O mesmo tipo de brincadeira da "Massa de untar os quícios", em que o saco é substituído por um pedregulho de difícil transporte.
Note-se que as alfaias, quase todas em madeira, são afiadas com ajuda da enxó ou da navalha.
Veja-se o n.º 2 de Massa de untar os quícios.

 

Pegar
Diz-se que uma marinha pega, quando, na altura da botadela, as moiras são suficientemente fortes para produzir sal em quantidade apreciável.

 

Peles
Qualidade de sal muito fino, puro e brilhante, que se forma à superfície da água dos cristalizadores.
O mesmo que Sal de espuma.

 

/ 69 / Pesa-sais
Densímetro utilizado para verificar o grau de concentração salina da água, em graus Baumé (º Bé).
Antes de se conhecer este instrumento, o grau de salinidade era calculado de maneira empírica, através da maior ou menor capacidade de flutuação de uma batata: quanto maior fosse, mais concentrada estava a água.


Pesa-sais e respectiva proveta em bambu.

 

Poços das encanas
Covas onde se junta a água das encanas, que é seguidamente escoada com o cabaço, por norma, para o entraval.

 

Polmo
Veja-se Parcel
O mesmo que Praia.

 

Pôr ao sol
Veja-se Dar sol.
O mesmo que Levar a praia a seco e Secura.

 

Portais
Pequenas aberturas praticadas nas travessas, com as mesmas funções das bombinhas, por onde se faz a passagem da água entre as diferentes peças do mandamento ou dos meios de cima para os meios de baixo.

 

Portão
Eclusa de comunicação entre a Ria e o viveiro, por onde se efectuam as tomas de água; trata-se de uma comporta de madeira que funciona no sentido vertical ao longo de rasgos abertos em encontros laterais de cimento, por intermédio da manobra dum longo parafuso metálico, fixado na sua parte superior.
Veja-se Bomba de toma de água. O mesmo que Tomadoiro.

 

/ 70 / Praia
Veja-se Parcel.
O mesmo que Polmo.

 

Praia calua
Parcel muito resistente, formado por arzil.

 

Praia podre
Parcel que não consegue manter a dureza necessária, por haver nascentes de água doce no seu subsolo.

 

Prancha
Tábua de 3 m. de comprimento, 30 cm. de largura e 4 cm. de espessura, usada como plano inclinado, por onde sobem os moços para despejar o sal das canastras para o monte, quando a altura deste excede a acessível do solo.
Quando o monte ultrapassa as 50 toneladas, recorre-se a outras pranchas, apoiadas num ou dois cavaletes intermédios, a fim de tornar menos íngreme e penosa a subida.

 

/ 71 / Produção
Veja-se Feitura.

 

Punhos
Tábuas, com 40 cm. de comprimento e 20 cm. de altura, que os marnotos utilizam, uma em cada mão, para encher as canastras.

 

Quebrar
Veja-se Envieírar.
 

Quebrar as peles
Agitar, levemente, a água dos cristalizadores com o ugalho de bulir, impedindo a formação, à superfície, de uma película que prejudica a evaporação.

Queda
Declive do fundo da salina, no sentido viveiro-andainas, cujo grau deve permitir que a água arreie só por acção da gravidade.

 

Fotografia de João Salgueiro.

 

/ 72 / Quícios
Eixos do círcio em madeira ou ferro.
O mesmo que Quiços.

 

Quiços
Veja-se Quícios.

 

Quinhão
Conjunto de trinta meios dobrados.

 

Rapação
Acção de rer.
O mesmo que Redura.

Rapar
Puxar para o tabuleiro do sal, com a rasoila, o sal, que foi previamente envieirado.
O mesmo que Rer.

 

Rapinhadeira
Espécie de rapão, com uma pá de 25 cm. de comprimento, por 15 cm. de largura e 1,8 cm. de espessura, e um cabo de 1,6 m., com uma lâmina de serra mecânica, no gume; serve para cortar os cabeços da praia dos meios e rapar a tinha.

 

Rapinhar
Rapar a tinha que se acumula nos tabuleiros, nas eiras e nos machos, com a rapinhadeira.

 

 
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