CONCLUSÕES
1 – Analisámos realidades e
exigências de «Aveiro – Rumo ao Futuro», no campo do ensino.
Não se pretendeu esgotar o assunto,
mas tão-somente, através de um estudo sério e fundamentado de
problema tão vital como é aquele sobre que nos debruçamos, dar uma
achega para a sua solução.
De quanto se afirmou, fácil é
concluir, que determinados aspectos e questões ultrapassam o âmbito
do Distrito, e acerca deles, resta-nos esperar que, tão rapidamente
quanto possível, sejam encarados e resolvidos, à escala nacional,
como se impõe.
Na verdade, o aumento do nível
cultural, com oportunidades iguais para todos e a dinamização da
escola, encaminhando-a para uma educação permanente, constituem
metas cuja acuidade parece inútil justificar.
2 – Mas a nossa preocupação
dominante foi Aveiro e o seu Distrito, que desejam e necessitam de
um ensino ao nível da sua projecção económica e condizente com a sua
explosão demográfica estudantil.
Para tanto, vimos ser instante a
necessidade
a) da criação, com carácter oficial,
de estabelecimentos de ensino infantil;
b) da construção de novas unidades
para os ensinos primário e liceal, mas com características adequadas
ao fim a que se destinam, nelas se considerando a prática da
educação física e o recreio dos alunos;
c) da criação de escolas de formação
profissional adequadas às actividades básicas do distrito, sem
esquecer a pesca e a agricultura;
d) de um aproveitamento mais
racional das estruturas escolares existentes e das boas vontades que
já há e das que hão-de forçosamente aparecer;
e) de uma acção médico-social
extensiva a todas as actividades escolares e verdadeiramente
eficiente;
f) de um centro regional de
investigação psicopedagógica, que oriente devidamente o quase
inesgotável potencial humano de que o Distrito dispõe.
3 – No contexto geral do País – e
pensando já em termos da Reforma do Ensino, ora ainda em discussão,
mas cujas directrizes gerais se supõem fixadas – o Distrito de
Aveiro poderá, com relativa facilidade, atingir o mínimo
indispensável, no que respeita ao ensina liceal – clássico, técnico
e artístico.
Com efeito, neste momento, e em tal
domínio, c cobertura distrital pode considerar-se das melhores do
País, embora longe do que todos pretenderíamos.
Simplesmente – a partir do ensino
liceal nada mais possuímos, e isso tem reflexos imediatos e
desastroso num sem número de alunos que, por carência de meios, se
vêem impossibilitados de prosseguir os seus estude e,
consequentemente, de se valorizarem; por outro lado, a referida
carência representa um dos maiores travões ao progresso económico do
Distrito que, embora sendo rápido, seria ainda muito mais sensível,
se houvesse técnicos e dirigentes habilitados para as inúmeras
funções que os exigem.
Desta maneira, e desde logo,
impõe-se criar as infra-estruturas que permitam, a todos aqueles que
não podem ou não querem frequentar o Ensino Superior, uma melhor
preparação para a vida, e neste sentido se sugere a criação no Distrito do ensino
do Magistério Primário, do Magistério Infantil, da Enfermagem, do
Serviço Social, da Educação Física e Náutico uma vez que para a
respectiva frequência, basta o curso geral dos liceus.
4 – Mas o esquema proposto continua
incompleto, por falta da cúpula, que é o Ensino Superior, cada vez
mais uma necessidade e menos um luxo, mas agora ainda quase um
privilégio de uns quantos.
A projectada Reforma do Ensino
Superior expressamente prevê, na sua Introdução, novos centros
universitários, a implantar, prioritariamente, em zonas definidas e
a partir de critérios precisos, que enumera.
Ora, na altura própria deste estudo,
demonstrou-se, à sociedade, que Aveiro satisfazia todos os
requisitos exigidos para ser considerada, com absoluta justiça e
inteiro direito de preferência, zona de implantação do Ensino
Superior.
Não cabe aqui, como é evidente,
repetir argumentos e insistir em dados estatísticos já referidos.
Importa, sim, e apenas, pôr em
destaque o interesse e a premência de que se reveste a criação, em
Aveiro, dos estudos universitários.
Sabe-se que não será tarefa fácil,
nem seriam legítimas pretensões a, de imediato, a Universidade local
incluir todos os graus do Ensino Superior – bacharelato,
licenciatura, e doutoramento.
Sabe-se, igualmente, que, dentro do
Ensino Superior, nem todos os cursos e especializações poderiam logo
aqui funcionar.
Mas ninguém ignora, e isso é que tem
fundamental interesse,
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a) que Aveiro dispõe já, em pleno
funcionamento, de estabelecimentos de ensino liceal clássico
(Liceu), técnico (Escola Industrial e Comercial) e
artístico (Conservatório Regional);
b) que, desses estabelecimentos e
de tantos outros congéneres, espalhados por todo o distrito, saem
anualmente centenas de alunos com as habilitações bastantes para o
ingresso no Ensino Superior;
c) que muitos mais alunos nele se
matriculariam, se a frequência das Universidades os não obrigasse a
deslocações e estadias incomportáveis para as respectivas economias
familiares.
O conhecimento destas realidades e
tudo o mais que anteriormente se disse, aconselha, ou melhor, impõe
1.º) Que em Aveiro se crie, com a
urgência possível, uma Universidade;
2.º) que nela se ministrem os
cursos mais adequados às características regionais e necessidades
nacionais;
3.º) que na escolha daqueles
cursos, se tenha na devida conta o facto do Distrito já dispor, e
perfeitamente consolidado, do ensino liceal clássico, técnico e
artístico;
4.º) que, na fase inicial, o
ensino universitário em Aveiro se confine ao ciclo de formação
básica, embora, a longo prazo e se as circunstâncias o justificarem,
se instituam os ciclos de formação complementar e de especialização
profissional.
Paul Valery afirmou um dia que «o
mundo de hoje já não pode enfrentar o futuro recuando»; pois
neste momento, melhor se diria – «o mundo de hoje já não pode
enfrentar o futuro, estagnando.»
Todos queremos e devemos avançar;
para isso, organize-se a Universidade de Aveiro, e então, sim,
teremos a Cidade e o seu Distrito no verdadeiro Rumo ao Futuro.
Aveiro, 8 de Abril de 1971
A COMISSÃO |