PERSONAGENS
Baltazar
Gaspar Belchior
Anjo
Cabo da Guarda
Herodes
Secretário
Pastores
ENCONTRO NA CANTALEIRA
(1)
BALTAZAR – Quem és tu?
GASPAR – Eu sou o Gaspar, o rei da
Pérsia, o senhor da Média (2); um sinal de Deus me veio anunciar a
vinda do Senhor e é quem eu procuro para ir adorar.
BALTAZAR (para Belchiôr) – E tu
quem és?
BELCHIOR – O rei da Líbia, senhor
imenso. Na minha pátria também eu vi um sinal de Deus, porque foi
visto pelos meus avós e é quem eu procuro para ir adorar.
BALTAZAR – Bem sei que estamos
todos para o mesmo fim; seguimos aquela estrela que nos conduzirá
ao nosso destino, para que os nossos desejos se cumpram.
Fala o anjo da estrela.
ANJO – Pastores e pastorinhas,
venho trazer-vos a notícia que, na cidade de David, nasceu o
Messias, o criador, o salvador de todo o mundo.
Vinde, vinde, que o deveis
encontrar em pobres palhas deitado; seguimos todos esta estrela e
vamos todos adorá-lo.
Depois seguem todos em direcção
ao palácio de Herodes. Chegada ao palácio; brado de armas.
CABO DA GUARDA – Quem sois vós,
majestades?
Os TRÊS – Três reis do Oriente.
BALTAZAR – Em que país nos
encontramos?
CABO DA GUARDA – No país de nossa
real majestade rei Heirodes.
BALTAZAR – Diz-lhe que estão aqui
três personagens que desejam falar a Vossa real majestade
(3).
CABO DA GUARDA (bate à porta do
palácio de Heirodes).
HEIRODES – Quem está lá, cabo da
guarda?
CABO DA GUARDA – Cabo da Guarda.
HEIRODES – Que desejais?
CABO DA GUARDA – Estão aqui três
personagens que desejam falar a vossa real majestade.
HEIRODES – Pergunta se vêm para
paz ou para guerra?
CABO DA GUARDA – Vêm para paz ou
para guerra?
OS TRÊS – Para paz.
HEIRODES – Examina-os bem, Cabo da
guarda, se vêm armados ou desarmados!...
CABO DA GUARDA – Apenas trazem
três espadas.
HEIRODES – Então que se aproximem.
Depois Heirodes abre a porta e
fita-os.
– Quem sois vossas majestades?
(4)
OS TRÊS – Três reis do Oriente.
HEIRODES – Quem és tu?
GASPAR – Eu sou Gaspar, o rei da
Pérsia, o senhor da Média; no meu país que é distante, foi visto
um sinal do Senhor. Uma estrela divina nos veio anunciar a vinda
do Redentor do Mundo, como nos tinha sido predito pelos profetas.
Fomos seguindo essa estrela até chegarmos ao teu país, onde deve
ter nascido o homem por que há quarenta séculos, espera o mundo
inteiro. Diz-me se sabes onde nasceu essa criança, para lhe oferta
mos o nosso incenso, o nosso ouro e a nossa
/ 56 / mirra, e
podermos adorá-lo como nosso Deus que é, o Redentor do Mundo.
HEIRODES – E tu?
BELCHIOR – Eu sou o Belchiôr,
o rei da Líbia, senhor imenso. É árido o solo da minha Pátria, que
purifica os espíritos e calcina as almas. É lá que os meus
vassalos vão caçar as feras dos meus sertões; não precisam de ser
trazidas para os circos, porque assim poderão viver sem
mortificar. Os homens da minha cor são tão dignos como os
imperadores de Roma; na minha pátria também houve um sinal de
Deus, porque foi visto pelos meus avós. Agora, grande rei,
dizem-nos ter nascido um menino que é o Salvador de todo o mundo;
ensina-me, pois, o caminho, porque o quero ir adorar
(5).
HEIRODES – E tu quem és?
BALTAZAR – Sou Baltazar, o rei da
Arábia, desse grande país que separa o Egipto da Ásia pelos lados
do Oriente. Os homens do meu país são grandes sábios e grandes
guerreiros. É lá que os romanos vão buscar os seus cavalos e os
perfumes para ungirem os seus mortos; tudo no meu país é grande e
majestoso.
Foi lá anunciado pelos profetas a
vinda do Senhor; (6); e uma estrela divina, com o seu brilho
incomparável, até hoje desconhecida pelos meus astrólogos que
todos os dias estudam a imensidade dos céus, anunciou-nos o
nascimento do Messias e indicou-nos com o seu clarão o caminho que
me conduziu ao teu país. A essas longínquas passagens
(7) de onde
venho guiado pela minha fé e pelo sinal do Senhor, tem chegado a
fama do teu despotismo, Tetarca
(8) da Galileia. Desmente-me com
um gesto só essa calúnia que assombra a tua grandeza. Diz-me se
sabes onde nasceu o Redentor do mundo. Eu acredito na tua palavra
de rei e seguirei as tuas determinações, porque estou no teu país.
Mas não me mintas, rei da Galileia, e diz-me onde nasceu o Messias,
porque o quero ir adorar.
HEIRODES – Enganastes-vos no
caminho, reis do Oriente. Não é neste país que deveis procurar
esse menino de que me falais. Eu sou o Tetarca da Galileia
senhor absoluto das doze tribos de Irrael, por graça
suprema de Octávio César Augusto, imperador e Senhor dos Romanos.
Neste país, desde o Tigre ao
Ofrates (9) desde o Jordão ao Mar Vermelho, o único rei
senhor, sou eu. Faço dispor da vida dos meus vassalos, das suas
riquezas e das suas mulheres, para que ninguém tente usurpar um
poder que só a mim pertence.
Mas, visto vós me afirmardes que
neste país nasceu um rei, eu vou inquirir quem foi esse rei que
nasceu e depois vo-lo direi. No entanto vós, segui, eu não quero
perturbar a vossa fé; segui o caminho que vos indiquei, que vos
conduzirá até onde, suponho esteja, o anunciado pelos vossos
profetas. Essa estrada que atravessa todas as cidades de Irrael
vai entrar em Roma pela Via Ápia e assim deveis encontrar o que
procurais.
Cabo da guarda... Chama-me o meu
secretário.
CABO DA GUARDA (Vai chamar o
Secretário).
HEIRODES – O meu secretário vai
ler um édito que publicou com autorização de Octávio César
Augusto, cuja execução imediata fará aumentar muitíssimo o senso
da população – Secretário, quero que leias o código da lei na
presença destas majestades.
SECRETÁRIO – Heirodes Amen,
Tetarca da Galileia, senhor de todo o mundo, intima todas
as mães de Irrael que tenham meninos de leite até à idade
de dois anos, que os apresentem no seu palácio, para que entre
eles seja reconhecido o Messias que os profetas anunciaram há
perto de dois mil anos. Para que estas determinações se cumpram,
intima todos os leitores e escrivães e centuriões para que façam
chegar a justiça a todos os tribunais.
Heirodes
Amen, Tetarca da Galileia.
BALTAZAR – Agradeço as tuas
palavras, grande rei; diz-me também, como, num país tão vasto,
podeis descobrir entre tantos meninos de mães hebraicas aquele que
o Senhor de Messias e Abrão (10) destinou para remir o pecado de
Adão, nosso primeiro pai...
HEIRODES – Agora segui o caminho
que vos indiquei e que os vossos desejos se cumpram; se o
encontrarem, vinde-me dizer, porque eu também o quero ir adorar.
(Heirodes fecha a porta).
Os três reis seguem à procura da
estrela, e pouco depois voltam defronte ao palácio de Heirodes
onde fala Baltazar.
BALTAZAR – Heirodes...
Heirodes! Traíste a palavra dada; mentiste, Rei da Galileia,
mentiste à nossa fé. Heirodes. Heirodes! Tu sabes
onde existe o grande rei; o Redentor do mundo. Acusa-lo traidor,
mas o poder do Senhor ofusca a tua tirania e tu vingas-te,
mentindo aos reis do Oriente.
Aparece a estrela e ele
continua:
– Bendito o Senhor que nos guia
com a sua luz. Heirodes, Heirodes, diz-me o que fizeste a teu
filho Antipas, mas não mintas ao Senhor teu Deus.
Enfrenta com os pastores e diz:
– Avante, companheiros, por Deus e
pela nossa fé.
Depois o cortejo dirige-se para
a Igreja onde o Anjo canta pela segunda vez.
JUNTO AO PRESÉPIO, NA IGREJA:
(11)
GASPAR:
Eu vos ofereço o meu incenso e a
minha mirra
Do meu poder e tesouro;
Rainha dos Céus e da terra,
Eu vos ofereço o meu ouro.
/ 57 /
BELCHIOR:
Este tributo de amor,
Doce mãe, recebereis,
Que o meu vassalo vos of'rece
Ao filho, o rei dos Reis.
BALTAZAR:
Jesus, Redentor dos homens,
Filho de eterna pureza,
Aceitai este tributo
que vos traz a realeza.
OS «REIS» NA BORRALHA
CONCELHO DE ÁGUEDA
(12)
O manuscrito da festa dos Reis da
aldeia da Borralha, no concelho de Águeda, dá-nos também indícios
seguros de ter sido aproveitado um plano anterior, e somos mesmo
levados a crer que esse plano fosse o dos papéis dos Reis de
Nariz.
A estrutura é igual; há uma ou
outra parte igual também aos papéis dos Reis da Palhaça; as falas
parecem-me mais equilibradas; algumas situações foram muito melhor
aproveitadas, não nos apresentando o pretensiosismo da peça
palhacense. Quer dizer, se os papéis dos Reis de Nariz estão
reduzidos à sua expressão mais simples, se não há nada de
complicado, se mostram um assunto muito mais apreensível por parte
do auditório, pela simplicidade quase ingénua das expressões e dos
cânticos, pelo tom naturalmente claro e simples de conversa
popular; se os papéis dos Reis da Palhaça pecam por uma
preocupação exagerada de erudição por falas excessivamente longas,
tocando autênticos discursos e talvez por uma ânsia de arte que
está para além do realismo vivido e natural da gente popular –, o
manuscrito dos Reis da Borralha ocupa entre ambos aquela mediania
simpática e equilibrada que permite uma audição agradável.
Vejamos, pois, para podermos fazer um juízo mais ou menos
perfeito, o manuscrito da Borralho.
PERSONAGENS
Anjo da Aparição
Sentinela ou Cabo da Guarda
Herodes
Gaspar
Belchior
Baltazar
Dr. Rabi
Secretário
Pastores
APARIÇÃO DO ANJO AOS PASTORES – (Organizado
o cortejo, prevenido o Anjo da estrela para a levantar logo que
comece a falar o Anjo da Aparição... surgem também os Magos a
visar a Estrela...).
ANJO – Ó pastores e pastorinhas,
venho anunciar-vos uma grande alegria: na cidade de David já
nasceu o MESSIAS, o Redentor!
Vinde, vinde pastorinhos! Haveis
de encontrá-lo, envolto em humildes fachas e em pobres palhinhas
deitado. Sigamos aquela estrela e vamos todos adorá-lo (O cortejo
desloca-se com a Estrela à frente, depois os Magos, depois os
Anjos aparecidos aos pastores, os pastores e pastorinhas e a
orquestra. Entretanto ouvem-se os versos dos pastores: vid. adian.).
SENTINELA DO PALÁCIO DE
HERODES –
(Avistando os Magos ao longe, grita:)
– Às ar...mas! (Acode
uma força armada, formando em sentido e o cabo da guarda dirige-se
ao encontro dos Magos ...).
CABO DA GUARDA (Para os Magos)
– Queiram parar! Que desejais?
(13)
MAGOS – Desejamos
falar a Herodes, rei da Galileia.
CABO DA GUARDA – (Deixa os
Magos e vai bater às portas do palácio...) – Truz,
truz, truz!
HERODES (De dentro) – Quem está
lá? (Fala alto).
CABO DA GUARDA – Cabo da guarda!
HERODES – Que desejas?
CABO DA GUARDA – Estão ali três
personagens que desejam falar a V. Real
Majestade.
HERODES (ainda de dentro) –
Pergunta-lhe (14) se veem
(15) para paz ou para guerra. Se veem
(16) armados ou desarmados. Examina-os bem, cabo da guarda.
CABO DA GUARDA (aproxima-se dos
Magos e examina-os atentamente sem nada dizer. Volta ao palácio e bate:) – Truz, truz!
HERODES – Quem está
lá?
CABO DA GUARDA – Cabo da guarda!
Vêm para paz! trazem apenas consigo, cada
um, a sua espada.
HERODES (Com a porta
meio aberta) – Então que se aproximem. (Abre as portas e
sobe ao estrado).
CABO DA GUARDA (Manda aproximar os
Magos) –
Queiram aproximar-se. (E
retira-se para o seu lugar e manda descansar os soldados).
HERODES (sobe ao palco
e depois para os Magos)
–
Quem sois vós?
MAGOS – Somos três reis do
Oriente.
HERODES (Para Gaspar) – Tu quem
és?
GASPAR – Sou Gaspar, Rei da Pérsia
e Senhor da Média. No meu país que é distante
foi visto um sinal do Senhor: uma estrela bendita nos anunciou a
vinda do Redentor do mundo; fui seguindo essa estrela até que
cheguei ao teu país, onde deve ter nascido o homem
/ 58 / por quem há quarenta séculos o
mundo inteiro espera. Diz-nos se sabes onde nasceu essa criança
porque queremos ofertar-lhe o nosso ouro, o nosso incenso e a
nossa mirra para depois, o adorar como Deus que é, o REDENTOR DO
MUNDO.
HERODES (Para Belchior) – E tu
quem és?
BELCHIOR – Sou
Belchior, Rei da Líbia, senhor imenso e ávido. O sol da minha pátria
purifica os espíritos e calcina as almas. É lá que os meus
vassalos vão caçar as feras dos meus sertões as quais não precisam
de ser trazidas para os círculos,
(16) porque assim, poderão viver
sem se danificar. Os homens da minha cor são tão dignos como os
imperadores de Roma. Lá, na minha pátria, também existe o sinal do
Senhor, porque foi visto pelos meus avós: diz-nos ter nascido um
menino que será o Redentor do Mundo. (Indica-nos o caminho, grande
Rei, que queremos ir adorá-lo.
(17)
HERODES (Para Baltazar) – E tu?
BALTAZAR – Sou Baltazar, rei da
Arábia, desse grande país que separa o Egipto da
Ásia pelas bandas do Oriente. Os homens do meu país são grandes
sábios e grandes guerreiros. É lá que os Romanos vão buscar os
seus cavalos, e os seus perfumes para ungirem os seus mortos. Tudo no meu país é
grande e majestoso!
Foi lá anunciada pelos profetas a
vinda do Senhor. E uma estrela divina, com um brilho incomparável,
até hoje desconhecida pelos meus astrólogos que todos os dias
estudam a imensidade do Céu, anunciou-nos o nascimento de Messias,
e indicou-nos, com o seu clarão fulgente, o caminho que nos
conduziu ao teu País. A essas longínquas paragens donde venho,
guiado pela minha fé e pelo sinal do Senhor, tem chegado a fama do
teu despotismo, tetrarca da Galileia! Desmente-nos com um gesto só
essa calúnia que assombra a tua grandeza. Diz-nos se sabes onde
nasceu o Redentor do Mundo. Eu acredito na tua palavra de Rei,
seguirei as tuas determinações porque estou no teu País. Mas não
me mintas, Rei da Galileia. Diz-me onde nasceu o Messias porque
quero ir adorá-lo.
HERODES – Enganaste-vos no
caminho, Rei do Oriente (18). Não é neste País que deveis procurar
o menino de que me falais. Eu sou Herodes, tetrarca e Rei da
Galileia, Senhor absoluto das doze tribos de Israel, por graça
suprema de Octávio César Augusto, Imperador e Senhor dos Romanos.
Neste país, desde o rio Tigre ao Eufrates, desde o Jordão ao Mar
Vermelho, o único Rei e Senhor sou
eu. Posso dispor da vida dos meus vassalos, das suas
riquezas e de suas mulheres, para que ninguém tente usurpar o
poder que só a mim pertence. Mas, no entanto, visto me falares que
neste país nasceu um Rei eu vou inquirir quem seja esse rei que
nasceu, do lugar onde nasceu, e depois vo-lo direi. Mas, também
não quero perturbar-vos na vossa fé. Segui por este caminho
que vos conduzirá até onde suponho que esteja aquele que vossos
profetas vos anunciaram – por essa estrada que atravessa todas as
cidades de Israel, vai entrar em Roma pela via Ápia e, aí, deveis
encontrar o que procurais.
BALTAZAR – Agradeço as tuas
palavras, grande Rei. Diz-nos, ainda, como num país tão vasto
podereis descobrir, no meio de tantos meninos nascidos de mães
Hebraicas, aquele que o Deus de Moisés e Abraão escolheu para
remir o pecado de Adão, nosso primeiro pai.
HERODES – Podeis então seguir esse
caminho que vos indiquei. Essa estrela vos guiará ao vosso destino
e se encontrarem o menino vide pelo meu palácio dizer-me onde ele
está porque também o quero ir adorar.
BALTAZAR – Avante companheiros
por Deus e pela nossa Fé. (Herodes recolhe-se e vai logo reunir-se
com os doutores da Lei para saber do Messias. Os Doutores da Lei
reunidos em assembleia recebem Herodes... Estão a estudar).
HERODES – Que sabeis
do nascimento do Messias, Doutor Rabi?
DOUTOR RABI
–
Sabia V.
Real Majestade que o profeta MIQUEIAS nos
diz o seguinte.
HERODES
–
Lê.
DOUTOR RABI – E tu
Belém, terra de Judá, tu que és a mais pequena entre as demais
cidades, de ti é que há-de sair o Messias, aquele que há-de reinar
em Israel, e cuja geração é desde o princípio, desde os dias da
eternidade. Deus vos terá abandonado aos vossos inimigos até ao
tempo em que der à luz aquela Virgem, a qual dará à luz o
DOMINADOR e, então, as relíquias de vossos irmãos se juntarão aos
filhos todos de Israel..
HERODES (Levanta-se e diz para o
secretário) – Secretário lê o meu Édito Imperial. Quero que seja
cumprido rigorosamente.
SECRETÁRIO – (Lê, sentado o
Herodes) – Determino que por ordens recebidas de Octávio César
Augusto, Imperador de Roma e Senhor do Mundo: – Que todas as
mulheres que tenham crianças do sexo masculino até à idade de dois
anos, as apresentem no nosso Palácio para entre elas ser
reconhecido o Messias que os profetas anunciaram à perto de dois
mil anos. E para que estas determinações se cumpram as leio na
vossa presença, conforme as determinações aprovadas para todas as
tribos do mundo.
Sua majestade,
Herodes Tetrarca da
Galileia.
(Desfaz-se o
cenário. Aparecem de novo os Magos pernoitando debaixo de alguma
árvore).
/ 59 / Anjo que avisa (em sonhos) os
Magos.
ANJO – Magos do Oriente! (à
maneira de grito). Herodes traiu-vos na palavra dada.
Ele sabe onde deve nascer o Messias, mas o poder do Senhor ofuscou
a sua tirania e eis porque se vingou, mentindo-vos. Fugi e ide por
outros caminhos porque Herodes quer matar o Menino.
MAGOS (Levantam-se exclamando:)
– Bendito o Senhor que nos guia com a sua Luz.
(Desaparecem e o cortejo das
pastorinhas segue para a igreja).
CÂNTICOS ENTOADOS DURANTE A MARCHA
LENTA DO CORTEJO, NOS INTERVALOS EM QUE NÃO HÁ FALAS:
(19)
AS POMBINHAS
|
I |
|
|
As pombinhos vão voando
Voando vão à porfia
|
A ver qual chega primeiro
Aos pés de Virgem Maria |
} |
bis |
|
Pois veio um Anjo do Céu
Cantando Ave-Maria
|
Dizer-nos que em Belém
Nasceu Jesus de Maria |
} |
bis |
|
|
II |
|
|
Vamos em bando pastores
Vamos
todos a Belém
|
Adorar o Deus Menino
Nos braços da Virgem Mãe |
} |
bis |
|
Ó meu menino Jesus
Eu vos irei entregar
|
esta linda pomba branca
Para o menino brincar |
} |
bis |
|
|
|
III |
Não esvoaces, ó pombinha,
Quero
dizer-te um segredo |
É preciso ser mansinha
p'ro Menino não ter medo |
} |
bis |
|
Irei daqui a Belém
Embora chegue cansado
|
Ofertar este
cordeiro
Ao Deus Menino Adorado |
} |
bis |
|
|
|
REIS
Dize tu, ó povo eleito
Onde o Messias é nado
Já no Céu vimos a estrela
Que
anuncia Ele ter chegado
Mas a estrela escureceu
Não sabemos por onde ir
Dizei vós, dizei, dizei.
Por que caminho seguir
PASTORES
A caminho vamos nós
O Deus Menino Adorar
Vinde connosco, ó Reis Magos
Não vos tornareis a enganar
REIS
Pastorinhas do deserto
É, pois, certo – É, pois, certo
Que na noite de Natal
Num curral – Num curral
Baixou o filho de Deus
Lá dos Céus – Lá dos Céus
|
|
DIALOGO
Reis – Quem nos deu tanta alegria?
Pastores – É Maria, é Maria?
R – E quem nos deu tanta luz?
P – Foi Jesus, foi Jesus!
R – Onde nasceu tanto bem?
P – Em Belém, em Belém!
R – Quem à graça nos conduz?
P – É Jesus é Jesus!
R – Quem fez a Terra e os Céus?
P – Foi só Deus. foi só Deus!
TODOS – Cantemos os seus louvores.
Ó pastores, ó pastores!
CÂNTICOS DAS PASTORINHAS
Pastores e Pastoras
Pastoras – cantemos, cantemos
Pastores
–
»
»
Pastoras – Com os Anjos de Deus
Pastores
–
» » »
» »
Pastoras – Glória a Jesus
Pastores – »
» »
Pastoras – Na Terra e nos Céus
Pastores
–
» » »
» »
Pastoras – Os Anjos, as Virgens
Pastores
–
» » »
»
Pastoras – Em terno candor
Pastores
–
» »
»
Pastoras – Cantam nas alturas
Pastores
–
» »
»
Pastoras – Glória ao Senhor!
|
PASTORES
São chegados os três Reis
Da parte do Oriente
Visitar o Rei da Glória
Nosso Deus Omnipotente
A caminho de um ano
Gastaram só
treze dias
com favor muito soberano
do Infante Rei Messias
REIS
Glória ao Pai, Glória ao Filho
Ao
Espírito Santo louvor
Glória, Glória ao Messias
Glória, Glória ao Salvador
PASTORAS
Glória, Glória, etc, etc.
Eles ouviram dizer
Há presépio em Belém
Onde estava o Deus nascido
Remédio para nosso bem.
Guiados por um estrela
Que a todo o mundo dá luz
Vamos ver outra mais bela
Que é o Menino Jesus
REIS
Glória, etc...
Ó meu Menino Jesus
Em que palhas estais deitado
Sendo vós o Criador
Que o mundo tínheis criado.
A estrela se escondeu
Chegados a uma cabana
Logo os três Reis adoraram
A Jesus neto de Ana.
|
REIS
Glória, etc...
Ofereceram ao Menino
Cada um por sua vez;
Por a lapa ser pequena
Não cabiam todos três.
Ofereceram ouro fino
Como Rei Oriental
Incenso como Divino
E mirra como mortal.
REIS
Glória, etc...
Porta aberta e mesa posta
Cantemos com alegria
Nado é o Rei da Glória
Filho da Virgem Maria
Que nasceu em Belém
Para todos nos salvar
Entre a mula e o boi lente
Que o estava a bafejar
REIS
Glória, etc...
Patriarca S. José
Pegai no vosso menino
Que nas
palhas está deitado
A chorar, que é pequenino
TODOS
Adeus Pai, adeus Filho
E Jesus Cristo também
Glória seja ao Espírito
Se Para todo o sempre, Além
Um facho de Luz Divina
Que brilhou no azul dos Céus
Deu
a
nova peregrina
De nascer o homem Deus
Esse farol que nos guia
A fé que nos ilumina
Traz às almas a alegria
Uma alegria Divina |
|
/ 60 /
|
CORO
Vamos à lapinha
Ver a Virgem Mãe
Ver a homem Deus
Que nos traz o bem;
Desceu das alturas
Incarnou, nasceu,
Vem remir os homens
E nos traz o Céu
(19)
As profecias cumpriram-se
Linda
estrela já brilhou
Vamos todos a Belém
Ver o que ela anunciou
CORO
Vamos alegres
Ver o Menino
Levar-lhe prendas
Cantar o hino
Pastorinhas do deserto
Caminhai e ide ver
A pobreza da lapinha
Onde Jesus quis nascer
Vamos alegres
etc., etc.
Pastorinhas do deserto
Caminhai para Belém
Adorar o Deus Menino
Nos braços da Virgem Mãe
|
Vamos alegres
etc., etc.
Pastorinhas do deserto
Cantai hinos de louvores
Guardai o vosso rebanho
Louvai o grande pastor.
Vamos alegres
etc., etc.
Vimos muito cansadinhos
Mas chegamos o Belém
Adorar o Deus Menino
S. José e a Virgem Mãe.
CORO
Glória a Deus no Céu
Paz aos homens sobre a Terra
No mar, na Serra,
Glória a Deus,
Glória a Deus...
Adoraremos o Menino
Adoraremos o Redentor
Que desceu do Céu à Terra
Somente par nosso Amor.
Glória a Deus no Céu
etc., etc.
|
|
Do que me propus apresentar alguma
coisa aí fica; de muita riqueza etnográfica, folclórica e
linguística que jaz enterrada nas nossas aldeias e que não chega
ao conhecimento de todos, muitas vezes por questiúnculas
despropositadas e por caprichos mesquinhos, bom era que pessoas de
boa vontade e com muito carinho a reconhecessem, pois se encontra
ameaçado e em vias de desaparecimento, Não perde a terra a
originalidade se os seus usos, costumes e tradições forem
publicados, antes ganha, pois que passa a ser mais conhecida; e o
nosso distrito tem muito para se conhecer; muitas manifestações de
pensar e de sentir que devem ficar religiosamente guardadas. Não
haja medo de incongruências, de anacronismos, de erros históricos
ou geográficos; recolha-se tudo e publique-se com ordenação e
esclarecimento; de tudo isso, pode o estudioso tirar suas
conclusões, E saiba-se que nesse mundo de irrealidade popular há
muito que fortaleceu os ânimos, muito que ajudou a acalentar fé e
esperança nos destinos da Pátria; muito que ajudou a estruturar a
alma autêntica mente portuguesa,
Chama-se Eufrates a Efrata –
Belém, cidade onde nasceu Jesus por causa do nome desse rio
asiático tão importante na antiguidade, que esse facto nada vem
roubar à glória tão vivamente sentida pelo nosso povo da revelação
de Jesus, Dê-se um revolver ou um relógio
a Herodes que nada disso vem
transformar a ideia histórica sobre a vida sanguinária dessa
figura hedionda. Atrás de tudo isso está o sentir humano e
universalmente conhecido da vida de Cristo e vivamente sentido
pela raça lusíada.
Os três manuscritos desta região
de Aveiro aí ficam; e com eles fica também alguma coisa de um
caçador desordenado de imagens, fracas embora, mas tanto quanto
possível completas na projecção da luz, da cor e do som. Que tudo
isso seja estímulo e fonte de entusiasmo para a fixação de outras
potencialidades que a técnica e o progresso, sem disso nos
apercebermos, vão relegando para um plano tão instável que leva ao
esquecimento.
_______________________________
BIBLIOGRAFIA
Capão, António Tavares Simões – «A
Bairrada». Estudo linguístico, histórico e etnográfico, Dissert.
dactilografada. Coimbra, 1959, VI + 329 pgs., com um aditamento de
25 pgs., inédito.
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«Dicionário de FolkIore brasileiro», Rio de
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Chaves, Luís – «A arte popular.
Aspectos do problema», Porto, 1959.
Coimbra, Armando – «Os
Presépios» ou «Autos Pastoris», da Figueira da Foz,
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Escrich, Pérez – «O Mártir
do Gólgota», 3 vol., Porto, s/d.
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Coimbra, 1944.
Jesus, Frei Tomé de – «Trabalhos
de Jesus», 2 vol., Porto, 1951.
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Folk-Iore», Rio de Janeiro, s/d.
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Vasconcelos, José Leite de – «A
Barba em Portugal. Estudo de Etnografia comparativo», Lisboa,
1925.
–
«Opúsculos» vol. II.
Vicente, GiI
–
«Obras Completas»,
da colecção Clássicos Sá da Costa, vol. I.
Wallace, Lewis –
«Ben Hur», Ed. Romano
Torres, Lisboa.
NOTAS
Para melhor compreensão dos textos
achamos que são necessárias algumas notas explicativas, pois
aparecem no discurso nomes de regiões, de cidades, de montanhas,
de rios, etc., que só se conhecem através da Sagrada Escritura,
mas de que por vezes não se faz
/ 61 / uma ideia da importância dessas
citações para o desenrolar dos acontecimentos.
Há necessidade de saber que certas
frases não são exactas e isso corresponde à falta de conhecimentos
geográficos sobre o Próximo Oriente, região cuja história é
absolutamente necessária para o conhecimento da evolução dos povos
que aí têm vivido, e muito especialmente para a compreensão do
livro sagrado dos hebreus – a Sagrada Escritura.
No texto da Palhaça, quando um dos
Doutores da Lei lê a Herodes a profecia que indica onde nascerá o
Menino, diz: «...nascerá uma estrela... em ti Belém, chamada
Eufrates». Ora isso não está correcto; com o nome de Belém havia
mais do que uma povoação: uma na Galileia e outra na Judeia. Belém
ou Betleem (de nome oficial Beit Lahon) é palavra hebraica que
significa casa do pão; a cidade de David, situada a nove quilómetros de Jerusalém, também
foi chamada Belém de Judá e, anteriormente, Efrata. A outra era
uma cidade da tribo de Zabulon, situada entre Nazaré e o monte
Carmelo, e foi pátria do juiz Abesan. Ora a palavra Eufrates,
indicando um rio que desagua no Golfo Pérsico, nada tem que ver
com a cidade onde nasceu Jesus; aparece-nos aqui por confusão com
o artigo nome Efrata.
Informações erradas são várias: há
a ideia de que os Reis Magos viajaram muito tempo juntos, o que só
é verdade em parte, porque, segundo o próprio texto, um era de
Hidaspe, outro da Arábia, outro do Egipto, portanto de regiões
opostas. Por outro lado, Cingo informa Herodes de que os Magos
chegaram às Portas de Damasco, o que nos leva a compreender que
Herodes se encontrava então nessa cidade.
É pois, com a intenção de
esclarecer que juntamos as seguintes notas. Mas tenhamos em conta
que os anacronismos têm um sabor especial, representam uma
sabedoria sui-generis que merece
ser compreendida com benevolência.
ABRAÃO – Uma das maiores figuras
da Bíblia, patriarca, antepassado dos Hebreus, nascido em Ur, na
Caldeia.
ANTIPAS – Herodes, filho de
Herodes, o Grande, e irmão de Herodes Filipe; foi tetrarca da
Galileia e reinou de 4 a. C. a 39 d. C., julgou Jesus Cristo e
mandou matar S. João Baptista. No texto de Nariz fala-se nele como
sendo uma das crianças vítimas na matança dos Inocentes, ordenada
pelo próprio pai.
ARÁBIA – Península a Oeste da Ásia
meridional. limitada ao Norte, pelo Iraque ou Mesopotâmia; a Este
pelo Golfo Pérsico; a Sul pelo Oceano Índico; e a Oeste pelo Mar
Vermelho, a Palestina e a Síria.
ÁZIMOS – Pão ázimo quer dizer pão
sem levedura. Os israelitas chamavam pão ázimo
àquele que mandavam cozer na véspera da Páscoa, em memória do que
os seus antepassados, quando deixaram o Egipto, tinham feito para
uma refeição, sem fermento. Chamava-se a este dia a Festa dos
Ázimos que é o Páscoa dos Judeus.
BABILÓNIA – Cidade da Antiguidade,
cujas ruínas, na margem do Eufrates, estão a cento e sessenta
quilómetros a sudeste de Bagdad. O texto chama babilónios e
caldeus aos Reis Magos – o que não está certo, pois um deles,
Belchior, é do Egipto. A ser assim. essas palavras indicavam da
Babilónia ou da Caldeia, portanto como tendo vindo da parte
inferior da Mesopotâmia.
BELÉM – Cidade da
Palestina da tribo de Judá, onde nasceu Jesus Cristo.
CARMELO – Montanha da Palestina da
cordilheira do Líbano. Esta montanha representou um
importantíssimo papel na história do povo Judeu.
DAMASCO – Actual capital da Síria.
Evangelizada por S. Paulo, conquistada pelos árabes em 639,
tornou-se residência dos califas omíadas que mandaram construir a
grande mesquita. Damasco foi inutilmente cercada em 1148 por Luís
VII e Conrado III. É no caminho para Damasco que S. Paulo tem a
visão e ouve o Senhor dizer-lhe: «Saulo, Saulo, por que me
persegues?». Desde então tornou-se apóstolo do Cristianismo,
deixando de ser seu perseguidor.
DAVID – Rei de Israel, sucessor de
Saul; fundou Jerusalém e venceu os Filisteus. Foi profeta e poeta;
da sua actividade poética, deixou-nos inspiradíssimos
salmos. Da sua vida dá-nos a
Bíblia alguns factos singulares: o seu combate com o gigante
Golias, morto por uma pedrada; David tocando harpa diante de seu sogro Saul; David dançando diante
da Arca da Aliança. Esta figura, pela sua virilidade e pelo seu
temperamento poético diz muito à maneira de ser da gente popular
que conhece os seus feitos e o faz entrar vivamente no cortejo dos
Magos, tocando harpa e dançando com as pessoas do seu séquito.
EGIPTO – País muito antigo,
compreendendo sobretudo, o vale do rio Nilo.
ELAM – O mesmo que Susiana. Antigo
estado vizinho da Caldeia que tinha por capital Susa. Os seus reis
conquistaram a Caldeia, mas mantiveram, depois, Babilónia contra a
Assíria.
EUFRATES – Rio da Ásia, que
nascendo na Arménia, atravessa o Tauro e reune-se ao Tigre para
formar o Chatt el-Arab. Babilónia. antiga capital da Caldeia,
estava construída na margem do Eufrates.
GALlLEIA – Região ao norte da
Palestina, perto do Lago Genezaré, teatro principal das prédicas
de Jesus Cristo.
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HÉBRON – Cidade das montanhas de
Judá, fundada segundo diz a Bíblia, sete anos antes de Tanis, a
mais antiga cidade do baixo Egipto. Tornou-se a segunda pátria de
Abraão, depois que lá arranjou um túmulo para si e para a sua
família. O actual nome árabe é EI Khalil, como chamam os
muçulmanos a Abraão. querendo estas palavras significar amigo de
Deus. Como curiosidade histórica apresenta esta cidade os Túmulos
dos Patriarcas – caverna sepulcral em que foram depositados os
corpos de Abraão, de Sara, de Isaac. de Rebeca. de Jacob e de Lia.
HELlOPOLlS
–1) – Cidade do baixo
Egipto. hoje arruinada. que fica situada perto do Cairo. Em 1800. Kléber derrotou aí os Mamelucos. É a esta que se refere o texto.
p. ? mas com forma diferente: Helipolis. 2) – Antigo nome de
Balbek. cidade do Líbano interior. Foi uma antiga cidade fenícia.
e uma colónia romana. no século I d. C. Possui vestígios de um
templo do Sol construído sob António, o Piedoso. Teve arcebispados
católicos de ritos maronita e grego.
HERMON – Cadeia de montanhas da
Judeia que prolonga a cadeia do Anti-Líbano.
HIDASPE – Geog. Ant. – Nome grego
de um rio da índia que parece ser o actual Jelam ou Djelem. É
célebre pela batalha que Alexandre Magno travou junto dele com o
rei Poro. terminando assim a conquista do Oriente. Foi talvez o
ponto mais oriental a que chegaram os gregos. Camões também se
refere a ele em «Os Lusíadas» I. 55.
ISAC – Filho de Abraão e de Sara
que foi salvo por um anjo na altura em que seu pai ia
sacrificá-lo. Casou com Rebeca; deste casamento nasceram Jacob e
Esaú.
ISRAEL – Nome dado a Jacob
depois da sua luta contra o anjo e que significa
forte contra Deus. Por extensão, nome dado ao povo Judeu.
descendente de Israel.
JACOB – Filho de Isac e de Rebeca.
foi um patriarca; teve doze filhos donde saíram as doze tribos de
Israel. Ao fugir da cólera de seu irmão que ele ludibriou
comprando-lhe o direito de sucessão por um prato de lentilhas,
chegou a um lugar deserto e adormeceu; então viu uma escada que se
apoiava na terra e ia até ao céu; e enquanto anjos subiam e outros
desciam. Deus anunciava a Jacob que a sua descendência seria tão
numerosa como os grãos de poeira. Ao fim de catorze anos. ao
voltar a Canaã teve que travar uma luta com um anjo de que saiu
vencedor. tendo por isso recebido o nome de Israel. Morreu no
Egipto onde seu filho José se tornara ministro do faraó.
JERICÓ – Antiga cidade da
Palestina situada a vinte e três quilómetros de Jerusalém.
edificada junto de um afluente do Jordão. e a primeira
que os Judeus encontraram, quando da sua chegada à Terra
Prometida.
JERUSALÉM – Cidade muito
conhecida pelos Cristãos; antiga capital da Judeia, depois da
Palestina, é hoje capital do estado de Israel. Historicamente. interessa
conhecer o Muro das Lamentações. o Santo Sepulcro e a Mesquita de
Omar.
JORDÃO – Rio da Palestina que
nasce no Anti-Líbano, atravessa o Lago Tiberíades e se lança no
Mar Morto. Foi neste rio que S. João Baptista baptizou Cristo.
JUDÁ – Filho de Jacob.
origem de uma das doze tribos de Israel.
JUDEIA – Parte da Palestina entre
o Mar Morto e o Mediterrâneo (o chamado reino
de Judá). Este nome tem-se aplicado também para designar toda a
Palestina.
LÍBANO – Montanha da Ásia anterior
muito famosa na Antiguidade pelos seus cedros; estende-se
paralelamente ao mar numa extensão de cento e sessenta quilómetros
de comprimento. Vid. Carmelo.
LÍBIA – Nome dado pelos antigos à
parte da África que eles conheciam. Reino da África do Norte.
compreendendo a Tripolitânia. a Cirenaica e o Fezan.
MÉDIA – Antiga região da Ásia.
tendo por capital Ecbátana. Primeiro dividida num certo número de
pequenos principados arianos subjugados pelos assírios. A Média
tornou-se sob Cyaxare, no século VII a. C., um poderoso império
que foi derrubado por Ciro em 556 e a uniu à Pérsia.
MESOPOTÂMIA – «Região entre os
rios» – Região da Ásia, entre o Tigre e o
Eufrates. berço da civilização assíria e caldaica. Hoje lraque.
Vid. Babilónia.
MIQUElAS – Nome de
dois profetas Judeus, sendo um do século IX e o outro do
século VIII. a. C.
PALESTINA – Região do Próximo
Oriente. entre a Fenícia ao N., o Mar Morto ao S.. o Mediterrâneo
a O.. e o deserto da Síria a E. É uma estreita faixa de terra apertada entre o mar e o
Líbano. e percorrida pelo rio Jordão. A Bíblia
chama-lhe Terra de Canaã. Terra Prometida. etc.; e nos nossos dias
Terra Santa.
PALMIRA – (O nome actual é Tadmor);
o seu nome antigo indicava «cidade das palmeiras». Povoação em
ruínas. na Síria. outrora cidade poderosa sob o governo de Zenóbia.
Foi conquistada pelos Romanos em 272, e destruída pelo Aureliano.
As suas ruínas, encontradas no fim do século XVII. são
importantes. principalmente as do templo de Bel.
PÉRSIA – Reino do Sudoeste da Ásia
entre a Transcaucácia. o Mar Cáspio e o Turquestão ao Norte; o
Afganistão e o Baluchistão, a Este; O Golfo Pérsico, ao Sul, o lraque e a Turquia. Muito importante na história antiga.
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SALOMÃO – Filho e sucessor de David
que reinou de 970 a 935 a. C. e se consagrou à administração,
embelezando os seus estados e mandando construir o Templo de
Jerusalém. A sua sabedoria tornou-se conhecida em quase todo o
mundo. Atribui-se-lhe a composição de três livros canónicos da
Bíblia: «Provérbios», «Eclesiastes» e «Cãnticos dos Cânticos».
SELÊUCIA – Cidade da antiga Ásia,
edificada junto do Tigre, foi capital dos selêucidas, depois dos
Partos, perto de Bagdad.
SENAAR – Bíblico – Nome que o
Génesis e alguns profetas (Isaías, Daniel e laca rias) dão à
Babilónia. Depois do Génesis (X e XI) o nome de Senaar desaparece
das Escrituras até aos citados profetas. No texto Senear.
SÍRIA – Aram da Bíblia; região da
Ásia ocidental, banhada a Oeste pelo Mediterrâneo e limitada ao
Norte pela cadeia do Tauro; a Este pelo Eufrates e a Sudeste e a Sul
pela Arábia.
SUSA – Cidade de Elam que foi, no
tempo do Império Persa, a residência de Dario e dos seus sucessores.
TABERNÁCULOS – Festas dos
Tabernáculos – Uma das três grandes solenidades dos hebreus que eles
celebravam depois da ceifa, sob toldos e ramagens, em memória do seu
acampamento no deserto, depois da saída do Egipto.
TIGRE – Rio da Ásia anterior que se reúne ao Eufrates para formar o Chatt El-Arab. Vid. também Eufrates.
ZABULÃO – Tribo que desempenhou um
importante papel na história de Israel. O território que ocupava na
Palestina setentrional, limitada a O., N. e E. pelo das tribos de
Aser e Neftali e a Sul pelo de Isacar, é, no entanto, de limites pouco
seguros. As suas cidades mais importantes eram Cateth, Naalol,
Semeron, lera Ia e Bethlehem. Na época de Cristo, compreendia
aquelas conhecidas nos textos evangélicos como Nazareth e Canaã. No
texto labulon.
NOTAS:
(1)
– Canto de Leira. lugar da
freguesia de Nariz. Nota – Neste texto conservam-se as
palavras do manuscrito: Belchiôr (o fechado); Heirodes
(ditongação do primeiro e); Irrael (assimilação regressiva). E
apesar de trazer na capa o ano de 1928, esclareço que essa data é a
de uma cópia, pois o original é mais antigo.
(2) – Note-se o emprego do artigo
definido.
(3) – Notar a discordãncia do
tratamento.
(4) – Note-se a falta de concordãncia no tratamento.
(5) – Comparem-se estas palavras de
Belchior com as do mesmo rei, na mesma altura, do auto da
Borralha.
(6) – Notar a discordãncia: «Foi
anunciado... a vinda».
(7) – Passagens por paragens.
(8) – Neste manuscrito aparece Tetarca por Tetrarca.
(9) – Por Eufrates, com a redução do
ditongo inicial.
(10) – Abrão
por Abraão.
(11) – A terminação deste auto
aproxima-se da de Gil Vicente; neste autor, contudo, os três reis
cantam em coro o vilancete.
(12) – Devo a recolha destes papéis dos Reis à gentileza do
meu antigo aluno, Augusto José B. M.
Castilho.
(13) – Discordância de tratamento.
(14) – Note-se a falta de concordância do pronome lhe.
(15) – Note-se a incorrecção da 3."
pessoa do plural do presente do indicativo do verbo vir.
(16) – Círculos por circos.
(17) – Comparem-se estas palavras de
Belchior com as do mesmo rei, na mesma altura, do auto
de Nariz.
(18) – Note-se a falta de
concordância na frase.
(19) – É pena não podermos publicar
também as músicas correspondentes a estes dois conjuntos de
versos; esperemos outra ocasião.
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