COMPLETOU-SE
no dia 6 de Fevereiro do corrente
ano o primeiro centenário do nascimento do historiógrafo e antiquário aveirense JOÃO AUGUSTO MARQUES
GOMES.
Alberto Souto e Eduardo Cerqueira, dois devotados aveirenses,
entendendo, e muito bem, que se não devia deixar passar a data sem uma
comemoração, embora modesta, resolveram promover a realização de uma
sessão na sala de leitura da Biblioteca Municipal, em que se evocasse
essa prestigiosa figura de aveirense e se expusessem as obras de
investigação histórica que o ilustre e incansável historiógrafo havia
legado à cidade e ao País. A fim de constituir a comissão que para a
cerimónia havia de dirigir convites às entidades oficiais, agregaram a
si dois dos directores do «Arquivo do Distrito de Aveiro», Francisco
Ferreira Neves e José Pereira Tavares; mas é justo que se saiba que a
ideia partiu daqueles dois aveirenses.
A comemoração do centenário consistiu naquela sessão, realizada em 6 de
Fevereiro, e na exposição bibliográfica que
imediatamente se inaugurou e esteve patente ao público durante uns dias.
Estiveram presentes o filho do homenageado, Cap. Fernão Marques Gomes, e
demais pessoas da Família, numerosas entidades oficiais e S. Exc.ª
Reverendíssima o Arcebispo-Bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal.
Falou o Dr. Alberto Souto, ilustre director do Museu
Regional e da Biblioteca Municipal, que com a notável precisão
e elegância que lhe são peculiares se referiu à obra histórica e
arqueológica de MARQUES GOMES e, em especial e mais desenvolvidamente, à organização do Museu Regional, que àquele exclusivamente
se ficou devendo. A este discurso respondeu o Cap.
Marques Gomes, agradecendo, em nome da Família, a homenagem prestada à
memória de seu Pai.
O "Correio do Vouga" do dia 7 de Fevereiro associou-se a esta singela
manifestação, estampando na primeira página
[Vol. XIX - N.º 74 - 1953]
/
146 /
a fotografia de MARQUES GOMES, publicando artigos do Dr. QUERUBIM DO VALE GUIMARÃES
(«Marques Gomes, aveirense ilustre e figura de
relevo na investigação histórica nacional»), do Dr. FRANCISCO FERREIRA
NEVES («Dívida Espiritual»), de FRANCISCO DA SILVA ROCHA («Marques
Gomes»), do Dr. JOSÉ PEREIRA TAVARES («Marques Gomes») e de EDUARDO CERQUEIRA
(«Um aveirense ilustre que viveu para o passado servindo
o futuro»), e inserindo uma bastante completa bibliografia e as
mais importantes notas biográficas do ilustre Aveirense.
O «Arquivo», que já teve o ensejo de manifestar a sua admiração por
MARQUES GOMES, estampando-lhe o retrato acompanhado dalgumas palavras de justiça na página
134 do seu
vol. I (1935) e publicando-lhe o inédito − «Aveiro na obra e
relações de CAMILO» − (Págs. 209-218 do mesmo volume), não
podia ficar indiferente à comemoração do 1.º centenário do
homem que tem de se considerar como um dos mais ilustres
filhos de Aveiro. A este apontamento de simples reportagem
vai juntar uma pequena notícia bio-bibliográfica e reproduzir,
depois de modificado pelo autor, o curioso artigo que EDUARDO
CERQUEIRA escreveu para o número de Fevereiro do "Correio do Vouga", a que
acima se fez referência.
*
* *
JOÃO AUGUSTO MARQUES GOMES, filho do
Dr. Francisco Tomé Marques Gomes
e de D. Ana Cândida Barros de Almeida, nasceu em Aveiro no dia 6 de
Fevereiro de 1853 e faleceu no dia 1 de Dezembro de 1931.
Foi aluno do Liceu de Aveiro e, como tal, um dos signatários do auto
da inauguração, em 21 de Outubro de 1865, do
retrato de José Estêvão que actualmente figura na sala dos professores
do nosso Liceu.
A sua paixão pelos assuntos históricos, arqueológicos e artísticos
começou muito cedo e assim, aos vinte anos publicou o seu primeiro
trabalho.
Organizou várias exposições de Arte, entre as quais a Exposição
Distrital de Aveiro (1882) e a Exposição de Arte Religiosa no Colégio de
Santa Joana (1895). Foi ele também o
organizador e instalador do Museu Regional de Aveiro, que
nos primeiros tempos dirigiu.
Foi sócio da segunda classe da Academia das Ciências desde
1884 e do
Instituto de Coimbra, e sócio correspondente da Real Academia de Ia
Historia de Madrid (1896).
É vasta a bibliografia de MARQUES GOMES. Como, porém,
o «Arquivo» já publicou uma bastante completa lista de trabalhos
/
147 / seus no vol. XVII (Págs. 255-256), a propósito da exposição
bibliográfica de antigos alunos do Liceu de Aveiro por ocasião da
celebração do seu primeiro centenário (Outubro de 1951),
referir-nos-emos aqui somente às obras mais importantes:
Memórias de Aveiro (1875)
− Este trabalho consta de Introdução (relance
sobre Aveiro antigo e moderno) e três partes, cujos capítulos são:
Primeira parte − Talábriga. Os Donatários, Os Forais,
A Alcaidaria-Mor, As Pescarias, Nossa Senhora do Pranto,
O Comércio e a Navegação, A Judiaria, Força Armada, Privilégios, Caixa
Económica, Cortes, O Brasão, A Agricultura, A Comarca e o Concelho, O
Distrito, A Imprensa.
Segunda parte − Estação do Caminho de Ferro, Capela do Senhor das
Barrocas, Capela de N. S.ª da Alegria, Igreja de Santa Maria de Sá,
Convento de Sá, Convento de N. S.ª do Carmo, Igreja da Vera-Cruz,
Igreja de N. S.ª da Apresentação, Colégio Aveirense, Clube, Capela de
S. João, Pelourinho,
O Cais, A Barra e a Ria, As Salinas, Alfândega, Aula do
Conde Ferreira, Paço Episcopal, A Igreja de S. Miguel, Albergaria de S. Brás, O Liceu, Os Paços do Concelho, Misericórdia, O
Hospital, Recolhimento de S. Bernardino, Sé Episcopal, Seminário, Roda
dos Expostos, Convento de S. João Evangelista, Ermidas, O Jardim, Ordem
Terceira, Convento de Santo António, Quartel Militar, Real Convento de
Jesus, Convento de N. S.ª da Misericórdia, Teatro, Cemitério, Asilo de
José Estêvão, Fontes, Muralhas.
Terceira parte − A Princesa Santa Joana, Antónia Rodrigues, D. Frei Jorge
de Santa Luzia, D. Frei Duarte Nunes, Frei Simão Tavares, João Afonso,
Aires Barbosa, Homens Ilustres, Frei Pantaleão de Aveiro, Visconde da
Granja, Bento de Magalhães, José Estêvão.
Quer dizer: Aveiro do passado e do
seu presente, acontecimentos,
instituições, homens notáveis. Óptimas indicações e orientação para quem
se resolvesse hoje a um trabalho idêntico.
O Distrito de Aveiro, notícia geográfica, estatística, heráldica,
arqueológica e biográfica da cidade de Aveiro e de todas as vilas e
freguesias do seu Distrito» − (1877).
Catálogo da Exposição Distrital de Aveiro, em 1882 (1883). (De
colaboração com JOAQUIM DE VASCONCELOS).
José Estêvão, apontamentos para a sua biografia (1889).
/
148 /
Lutas Caseiras, Portugal de 1834 a 1851 (1894)
(1).
O Prior do Crato em Aveiro (1588), em colaboração com
Aníbal Fernandes Tomás (1894).
Aveiro, berço da Liberdade
− O coronel Jerónimo de Morais Sarmento (1899).
História de Portugal, desde a morte de D. Maria II até nossos
dias (1894), continuação da obra de Pinheiro Chagas (1907).
Olhada no seu conjunto, pode dizer-se que a obra de MARQUES GOMES
fixa em especial Aveiro e o seu Distrito. Ele foi
quem primeiro verdadeiramente se preocupou com a história da
sua Terra natal.
Agora, bom seria que novos investigadores, aproveitando os materiais que
MARQUES GOMES carreou e seguindo-lhe o exemplo, transmitissem aos
vindouros as transformações por que
Aveiro passou desde 1875 até este ano do 1.º centenário do ilustre autor das «Memórias de Aveiro».
JOSÉ TAVARES
|