José Tavares, Centenário de Marques Gomes, Vol. XIX, pp. 145-148.

CENTENÁRIO

DE MARQUES GOMES

COMPLETOU-SE no dia 6 de Fevereiro do corrente ano o primeiro centenário do nascimento do historiógrafo e antiquário aveirense JOÃO AUGUSTO MARQUES GOMES.

Alberto Souto e Eduardo Cerqueira, dois devotados aveirenses, entendendo, e muito bem, que se não devia deixar passar a data sem uma comemoração, embora modesta, resolveram promover a realização de uma sessão na sala de leitura da Biblioteca Municipal, em que se evocasse essa prestigiosa figura de aveirense e se expusessem as obras de investigação histórica que o ilustre e incansável historiógrafo havia legado à cidade e ao País. A fim de constituir a comissão que para a cerimónia havia de dirigir convites às entidades oficiais, agregaram a si dois dos directores do «Arquivo do Distrito de Aveiro», Francisco Ferreira Neves e José Pereira Tavares; mas é justo que se saiba que a ideia partiu daqueles dois aveirenses.

A comemoração do centenário consistiu naquela sessão, realizada em 6 de Fevereiro, e na exposição bibliográfica que imediatamente se inaugurou e esteve patente ao público durante uns dias. Estiveram presentes o filho do homenageado, Cap. Fernão Marques Gomes, e demais pessoas da Família, numerosas entidades oficiais e S. Exc.ª Reverendíssima o Arcebispo-Bispo de Aveiro, D. João Evangelista de Lima Vidal.

Falou o Dr. Alberto Souto, ilustre director do Museu Regional e da Biblioteca Municipal, que com a notável precisão e elegância que lhe são peculiares se referiu à obra histórica e arqueológica de MARQUES GOMES e, em especial e mais desenvolvidamente, à organização do Museu Regional, que àquele exclusivamente se ficou devendo. A este discurso respondeu o Cap. Marques Gomes, agradecendo, em nome da Família, a homenagem prestada à memória de seu Pai.

O "Correio do Vouga" do dia 7 de Fevereiro associou-se a esta singela manifestação, estampando na primeira página  [Vol. XIX - N.º 74 - 1953] / 146 / a fotografia de MARQUES GOMES, publicando artigos do Dr. QUERUBIM DO VALE GUIMARÃES («Marques Gomes, aveirense ilustre e figura de relevo na investigação histórica nacional»), do Dr. FRANCISCO FERREIRA NEVES («Dívida Espiritual»), de FRANCISCO DA SILVA ROCHA («Marques Gomes»), do Dr. JOSÉ PEREIRA TAVARES («Marques Gomes») e de EDUARDO CERQUEIRA («Um aveirense ilustre que viveu para o passado servindo o futuro»), e inserindo uma bastante completa bibliografia e as mais importantes notas biográficas do ilustre Aveirense.

O «Arquivo», que já teve o ensejo de manifestar a sua admiração por MARQUES GOMES, estampando-lhe o retrato acompanhado dalgumas palavras de justiça na página 134 do seu vol. I (1935) e publicando-lhe o inédito − «Aveiro na obra e relações de CAMILO» − (Págs. 209-218 do mesmo volume), não podia ficar indiferente à comemoração do 1.º centenário do homem que tem de se considerar como um dos mais ilustres filhos de Aveiro. A este apontamento de simples reportagem vai juntar uma pequena notícia bio-bibliográfica e reproduzir, depois de modificado pelo autor, o curioso artigo que EDUARDO CERQUEIRA escreveu para o número de Fevereiro do "Correio do Vouga", a que acima se fez referência.

* * *

JOÃO AUGUSTO MARQUES GOMES, filho do Dr. Francisco Tomé Marques Gomes e de D. Ana Cândida Barros de Almeida, nasceu em Aveiro no dia 6 de Fevereiro de 1853 e faleceu no dia 1 de Dezembro de 1931.

Foi aluno do Liceu de Aveiro e, como tal, um dos signatários do auto da inauguração, em 21 de Outubro de 1865, do retrato de José Estêvão que actualmente figura na sala dos professores do nosso Liceu.

A sua paixão pelos assuntos históricos, arqueológicos e artísticos começou muito cedo e assim, aos vinte anos publicou o seu primeiro trabalho.

Organizou várias exposições de Arte, entre as quais a Exposição Distrital de Aveiro (1882) e a Exposição de Arte Religiosa no Colégio de Santa Joana (1895). Foi ele também o organizador e instalador do Museu Regional de Aveiro, que nos primeiros tempos dirigiu.

Foi sócio da segunda classe da Academia das Ciências desde 1884 e do Instituto de Coimbra, e sócio correspondente da Real Academia de Ia Historia de Madrid (1896).

É vasta a bibliografia de MARQUES GOMES. Como, porém, o «Arquivo» já publicou uma bastante completa lista de trabalhos / 147 / seus no vol. XVII (Págs. 255-256), a propósito da exposição bibliográfica de antigos alunos do Liceu de Aveiro por ocasião da celebração do seu primeiro centenário (Outubro de 1951), referir-nos-emos aqui somente às obras mais importantes:

Memórias de Aveiro (1875) − Este trabalho consta de Introdução (relance sobre Aveiro antigo e moderno) e três partes, cujos capítulos são:

Primeira parte − Talábriga. Os Donatários, Os Forais, A Alcaidaria-Mor, As Pescarias, Nossa Senhora do Pranto, O Comércio e a Navegação, A Judiaria, Força Armada, Privilégios, Caixa Económica, Cortes, O Brasão, A Agricultura, A Comarca e o Concelho, O Distrito, A Imprensa.

Segunda parte − Estação do Caminho de Ferro, Capela do Senhor das Barrocas, Capela de N. S.ª da Alegria, Igreja de Santa Maria de Sá, Convento de Sá, Convento de N. S.ª do Carmo, Igreja da Vera-Cruz, Igreja de N. S.ª da Apresentação, Colégio Aveirense, Clube, Capela de S. João, Pelourinho, O Cais, A Barra e a Ria, As Salinas, Alfândega, Aula do Conde Ferreira, Paço Episcopal, A Igreja de S. Miguel, Albergaria de S. Brás, O Liceu, Os Paços do Concelho, Misericórdia, O Hospital, Recolhimento de S. Bernardino, Sé Episcopal, Seminário, Roda dos Expostos, Convento de S. João Evangelista, Ermidas, O Jardim, Ordem Terceira, Convento de Santo António, Quartel Militar, Real Convento de Jesus, Convento de N. S.ª da Misericórdia, Teatro, Cemitério, Asilo de José Estêvão, Fontes, Muralhas.

Terceira parte − A Princesa Santa Joana, Antónia Rodrigues, D. Frei Jorge de Santa Luzia, D. Frei Duarte Nunes, Frei Simão Tavares, João Afonso, Aires Barbosa, Homens Ilustres, Frei Pantaleão de Aveiro, Visconde da Granja, Bento de Magalhães, José Estêvão.

Quer dizer: Aveiro do passado e do seu presente, acontecimentos, instituições, homens notáveis. Óptimas indicações e orientação para quem se resolvesse hoje a um trabalho idêntico.

O Distrito de Aveiro, notícia geográfica, estatística, heráldica, arqueológica e biográfica da cidade de Aveiro e de todas as vilas e freguesias do seu Distrito» − (1877).

Catálogo da Exposição Distrital de Aveiro, em 1882 (1883). (De colaboração com JOAQUIM DE VASCONCELOS).

José Estêvão, apontamentos para a sua biografia (1889).  / 148 /

Lutas Caseiras, Portugal de 1834 a 1851 (1894) (1).

O Prior do Crato em Aveiro (1588), em colaboração com Aníbal Fernandes Tomás (1894).

Aveiro, berço da Liberdade − O coronel Jerónimo de Morais Sarmento (1899).

História de Portugal, desde a morte de D. Maria II até nossos dias (1894), continuação da obra de Pinheiro Chagas (1907).

Olhada no seu conjunto, pode dizer-se que a obra de MARQUES GOMES fixa em especial Aveiro e o seu Distrito. Ele foi quem primeiro verdadeiramente se preocupou com a história da sua Terra natal.

Agora, bom seria que novos investigadores, aproveitando os materiais que MARQUES GOMES carreou e seguindo-lhe o exemplo, transmitissem aos vindouros as transformações por que Aveiro passou desde 1875 até este ano do 1.º centenário do ilustre autor das «Memórias de Aveiro».

JOSÉ TAVARES

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(1)Chamamos a atenção dos leitores para as cartas de OLIVEIRA MARTINS dirigidas a MARQUES GOMES a propósito desta obra, porventura a melhor que publicou, reproduzidas no vol. IV do Arquivo (págs. 137-138 e 297-299) (1938).

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