NA
antiga freguesia de Santa Eulália de Águeda, que se compõe desta vila e
de vários povoados que lhe ficam
à volta, construíram-se através dos tempos diferentes capelas; umas por
iniciativa particular, e outras que
se ficaram a dever ao esforço do povo, revelando o avultado número delas
o arraigado sentimento religioso da nossa gente, que ali prestava o seu
culto, e sempre, carinhosamente, velou pela sua conservação. Algumas,
desapareceram já na voragem do tempo, mas é bem considerável o número
das que ainda perduram; e outras se erigiram no decorrer das eras, a
juntar ao número das existentes.
Ainda que ligeira e acidentalmente, mais de uma vez me tenho referido
nos meus trabalhos a estes pequenos templos(1), onde o nosso povo se reúne muita vez pelo ano adiante em
satisfação da sua crença, principalmente no dia dos seus oragos, em que,
de forma particularmente festiva, os recorda e venera. E então essas
capelas – umas ricas, outras modestas ou mesmo pobres – alindam-se com
amoroso jeito, guarnecendo-se-lhes as paredes velhinhas com panejamentos
vistosos, perfumando-lhes os altares das mais viçosas flores e
tapetando-lhes o chão de verduras cheirosas, enquanto as imagens dos
Santos, veneradas desde séculos, por gerações há muito extintas, são
colocadas nos andores, e lá vão percorrer as ruas das povoações que à
sua sombra benfazeja se foram desenvolvendo dia a dia...
/ 59 /
*
*
*
Das capelas particulares, começarei por me referir às
duas existentes dentro da nossa igreja, pois havia também na vila mais
duas dessa natureza, das quais uma foi demolida(2), e a outra
transposta para outro lugar fora dela, como. adiante se verá(3).
CAPELA DE NOSSA SENHORA
DA ESPERANÇA
Fica na nave do lado Sul da igreja, a seguir ao altar colateral do lado
da Epístola, e pertence à Casa da Borralha. Foi instituída pelo Cónego
Simão Pinto em cumprimento do testamento de 26 de Agosto de 1622, feito
por Maria Pinta, irmã deste sacerdote; o mesmo cónego, por testamento de
8 de Janeiro de 1628, dispôs da mesma capela a favor de sua irmã
Brites de Pinho, continuando esta posse na mesma família.
Tinha a capela os seus bens próprios, o que lhe permitia haver capelão
privativo e o necessário para paramentos e actos cultuais. Embutida na
parede para o lado do Poente,
ainda ali pode ver-se uma lápide brasonada, que tem este letreiro:
ESTA CAPELA HE DE AIRES DE
PINHO E DE SV A MOLHER VIOLANTE
P.TA E SEVS F.OS A QVAL TEM DOTA
DA COM MISA COTIDIANA
1624
Tem retábulo de madeira simples, em talha doirada, com três nichos; o do
centro, onde outrora esteve a imagem de Nossa Senhora da
Esperança ou do Ó, está ocupado actualmente por uma imagem moderna, do Coração de
Maria, ladeando-a, à direita, a imagem de S.ª Agueda, e à esquerda a de
S. Luís, rei de França
(4).
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60 /
CAPELA DO MENINO JESUS
Ficava do mesmo lado Sul da igreja, separada da primeira pelo corredor
da entrada feita pela porta travessa, tal como hoje ainda se observa.
Data a sua fundação da mesma época da capela já referida, pois vê-se dos documentos que examinei(5) que Domingos João, mercador de
Águeda nos
fins do século XVI, juntamente com sua irmã Beatriz João, que era viúva
de Pedra Fernandes Chucre, requereram, no ano de 1624 à autoridade
eclesiástica para construírem uma capela dentro da igreja, obrigando
para isso todos os bens necessários. Por escritura de obrigação lavrada
a 16 de Novembro daquele ano hipotecaram algumas fazendas para garantir
a construção da capela, que era «pera suas sepulturas».
A capela andou muitos anos unida ao morgado da Rua
de São Pedro, instituído pelo Licenciado Bartolomeu da Fonseca no ano de
1681, com várias obrigações pias de celebração de missas por alma dele
instituidor, de seus pais, seus irmãos Pedro da Fonseca e António
Fernandes Chucre, por sua irmã Francisca da Fonseca e marido António
João da Serra, por sua tia Brites João, etc. Também o Auditor da
província da Beira, Manuel da Serra Chucre, em testamento de 13 de
Setembro de 1684, vinculou os bens que tinha, à mesma capela, com
obrigação de sufrágios por sua alma, e outros legados da mesma natureza
foram feitos através dos tempos.
Conserva-se ainda com o retábulo primitivo, em talha, simples, tendo ao
centro a imagem do Menino Jesus e em dois nichos, laterais as de S.
Domingos e S. João, sendo conhecida também pelo nome deste santo, ainda
que impropriamente.
Serviu, como a outra capela particular, de jazida a muitas pessoas da
família instituidora, e até a pessoas estranhas à família, e a
serventuários da Casa(6). Pertence presentemente à quinta das Lágrimas
(Coimbra).
/
61 /
Das capelas particulares construídas fora da igreja, mencionaremos em
primeiro a
CAPELA DA VISITAÇÃO DE
N.ª S.ª
A ST.ª ISABEL
Ficava situada à entrada da Rua que dava para a Praça Velha, e foi
demolida para alargamento desta parte da vila;
era de abóbada e tinha como
retábulo um quadro de madeira de grandes dimensões, representando a cena
da Visitação de N. S. a sua prima S. Isabel
(7).
No
remate do arco cruzeiro, tinha uma pedra armoriada com este letreiro:
ESTA CAPELLA MANDOV FAZER SEBASTIÃO DE MAÇEDO E SVA MVLHER MARIA
PINHEIRA PINTA 'A QVAL DEIXARAM TODOS OS SEVS BENS COM OBRIGAÇAM DE
MISSAS
Vem referida no Dicionário Geográfico, edição de 1747.
Tinha Breve de Indulgências, concedido pelo Papa Clemente Xl, de
10-XI-1713, e a obrigação de quatro missas por semana.
CAPELA DE SANTA ANA
Incrustada ao centro das casas apalaçadas que pertenceram à família
Homem de Macedo, sitas no Padrão, e que ficavam fronteiras à praça,
voltadas para o rio, a capela
/ 62 / de S. Ana foi fundada pelo Dr. Manuel Caetano Homem de
Macedo nos meados do século XVIII. Do grupo mencionado era a mais
notável, não só por ser de maiores proporções, como pelo valor
decorativo das suas peças ornamentais,
constituídas pelo seu retábulo de talha doirada, ainda que sóbrio, de
bom acabamento.
Digna de nota a imagem de Santa Ana, de bem aprimorado
recorte, amplas roupagens, estofada a ouro e cores, cuja execução é
devida a artista de incontestável mérito. Santa Ana está sentada, ensinando a ler N.
Senhora, que tem a atenção presa no livro que aquela tem sobre os
joelhos; bem marcada a suave expressão de ambas as figuras,
principalmente da primeira. Além desta imagem, viam-se
ainda ali as de S. José, S. Joaquim e do Menino Jesus, aquelas da mesma
época da da Padroeira.
O retábulo e imagens referidas, foram removidos para o lugar da Borralha e estão hoje na
capela que o Cónego Manuel Homem de Macedo da Câmara e Mota mandou
construir junto do seu palacete da Quinta do Redolho em 1870
(8).
Na parede da sua entrada principal, existe uma lápide onde se lê esta
inscrição
SANTA ANNA
MATER MATRIS
GRATIAE SV
CURRE MISERIS
1752
/ 63 /
CAPELA DE SÃO BERNARDO
É de mais recente fundação, e foi instituída pelo P.e Reitor António José de Sousa Ribeiro e Figueiredo, de Águeda. Tem um belo
retábulo de talha doirada, a que preside uma
boa escultura do Santo que lhe dá o nome, e acha-se ainda hoje na Casa
de S. Bernardo, pertencente ao Dr. Joaquim de Melo Coelho de Campos, da família do instituidor.
CAPELA DE S. SEBASTIÃO
Ficava num pequeno largo na R. da Venda Nova e, das duas capelas
públicas existentes dentro de Águeda, era a maior e mais antiga. No
ano de 1675 achava-se completamente arruinada, pelo que foi ordenado em
Visita Pastoral desse ano que se procedesse à sua reconstrução,
fazendo-se um peditório pelo povo da freguesia. Tinha uma tribuna
doirada com a imagem daquele Santo e a de S. Apolónia. Foi demolida há
anos para alargamento daquela rua, e reconstruída acima do local antigo.
CAPELA DE N.ª S.ª DA BOA MORTE
Ficava junto ao Hospital de Águeda. Não pude averiguar a data da sua fundação, mas já existia no primeiro quartel do
século XVIII.
O Dicionário Geográfico (ed. de 1747) designa-a por ermida de N. S. da Boa-Hora, informando que ela foi construída com
esmolas do povo e das confrarias para se poderem administrar os Sacramentos aos enfermos. Esteve algum
tempo no lugar do Barril, onde em tempos foi construído o Hospital velho; foi de lá que se transferiu para a capela do
actual Hospital Conde de Sucena a formosa imagem da Senhora da Boa-Morte,
muito venerada em Águeda, principalmente pela população ribeirinha do lugar
do Barril,
onde esteve o Hospital durante muitos anos. É uma boa escultura de
madeira policromada, figurando a Virgem sentada numa cadeirinha, e já
morta, com a cabeça docemente apoiada a uma das mãos.
A capela era de acanhadas dimensões, e recebeu boa reforma no ano de
1824; tinha mais no seu retábulo as imagens de Santa Ana e de Santa
Luzia.
/
64 /
O Dr. José Patrício Dinis da Silva Seixas, natural de Águeda(9), que
foi benfeitor do Hospital, instituiu ali a festa da Senhora da Boa
Morte, que tem lugar anualmente.
Por nos ficar a dois passos, referimo-nos, desde já, à
CAPELA DA SENHORA D'AJUDA
Também alguns documentos lhe chamam de St.º Amaro, por ali estar exposta
ao culto uma imagem deste santo, ali festejado a 15 de Janeiro. Tem um
retábulo de talha de madeira bastante antigo, mas de inferior valor
artístico, e no centro dele a imagem da Sr.ª d'Ajuda.
CAPELA DE SÃO PEDRO
Ficava já mais afastada de Águeda, no pitoresco Alto das Chãs; muito
antiga, remontando ao século XVI, sendo
junto dela que se enterraram algumas pessoas que morreram
de peste. A primitiva capela era de reduzidas proporções, e porque
ameaçava ruína nos princípios do século XIX, foi demolida, sendo
edificada no mesmo lugar a que hoje ali se
vê, de boa construção, guarnecida de silharia lavrada, de pedra de
granito. Acudia ali muita gente no dia da festa do Orago e anexos à
capela havia rendimentos de bens para o culto.
Na parede da capela-mor, está uma lápide, que tem gravada
a seguinte inscrição:
ESTA CAPELA DE S. PEDRO DESTA FREG.A DE
S.TA EULALIA DE AGUEDA FOI
REEDIFICADA COM MILHOR GRANDEZA NO MESMO CITIO DA ANTIQUISSIMA ARRUINADA
E SEM ARQUITETURA PELO B.el LVIZ BARETO TORRES DE FIG.º SOLT.ro DA RVA
DA CANCELA DO DITO LUGAR
DE IDADE DE 80 ANNOS QUE A MANDOU FAZER ASSVA CVSTA NO ANNO DE 1819 POR
DEVOÇÃO E ASSIM FICA SENDO DA M.ª FREG.ª COMO A ANTIGA EM 7.BRO DO DITO ANNO
/
65 / [Vol. XVIII -
N.º 69 - 1952]
Tinha um retábulo de madeira, no qual presidia a imagem do Orago, ladeada pelas do Padre Eterno e de S. Miguel,
todas em pedra de Ançã, denunciadoras de muita antiguidade,
as quais foram substituídas por outras modernas, destituídas
de valor artístico.
CAPELA DE SÃO CAETANO
Data a sua edificação dos fins do século XVII. Foi mandada construir pela autoridade eclesiástica, na Visita Pastoral
feita à nossa igreja em 1690, por se verificar ser necessária
para administrar os Sacramentos aos moradores do Gravanço
e do Ameal. Ainda hoje existe neste último lugar, mas é mais conhecida
pela designação de Capela de S. João, cuja
imagem está exposta ali ao culto, com a de S. Bárbara.
Na memória paroquial de 1758, também é designada como
de S. Caetano.
CAPELA DA SENHORA DO LIVRAMENTO
No meio do lugar do Gravanço. Tem a invocação acima
referida e é de recente fundação. Edificada com esmolas do
povo.
CAPELA DE SANTO ANTÓNIO
Fica na póvoa da Gesteira, num pitoresco e aprazível
outeiro, entre seculares carvalhos, já na parte serrana da freguesia. É de fundação muito antiga, pois já o Cónego Simão
Pinto, no seu testamento, feito em 1628, a contemplava com
uma esmola. De artístico nada há ali que a recomende, sendo
curiosa a imagem de St.º António, em pedra de Ançã, que
se vê no retábulo, ladeada pelas imagens de S. Mateus e N.ª S.ª dos Remédios. Tem a sua romaria no dia do Orago,
muito concorrida pelo povo das redondezas. O templo actual foi construído há anos pelo falecido Conde de Sucena, no
mesmo local da antiga capela.
CAPELA DE N.ª S.ª DA CONCEIÇÃO
Fica na póvoa de Rio-Covo. Na Visita Pastoral de 1674
foi verifica da a necessidade de a construir para serem administrados os Sacramentos mais comodamente aos moradores
dali, pelo que lhes foi recomendado que a edificassem, e lá existe
ainda. Tem retábulo de madeira e imagem da Virgem, ao gosto da época, de ornatos simples.
/
66 /
CAPELA DE SÃO SIMÃO
Está situada na póvoa da Massoida. É de pequenas proporções, com a
imagem, de madeira, deste Santo; ainda foi
restaurada há poucos anos; vem mencionada, já, na Memória
Paroquial de 1758.
CAPELA DE N.ª S.ª DA GRAÇA
Muito antiga também. Está erecta no lugar de Assequins, que foi antiga vila, com o seu Pelourinho, casa de
câmara, etc.
Não conheço qualquer documento que lhe marque o
princípio, mas são numerosas as referências que se encontram a seu
respeito; tinha confraria própria, e ia muita gente à ermida, não só em
romaria no dia da festa própria, mas no decorrer do ano. Havia o costume
de fazer ali práticas religiosas, de noite, pelo que, no ano de 1674 foi determinado que os
mordomos fechassem as portas da capela às Ave-Marias.
CAPELA DO SENHOR DA SERRA
Foi construída no cimo dum monte, no lugar do Raivo.
Não é antiga, e para ela foram removidos alguns materiais
da ermida de S. Silvestre, de que ainda se vê parte arruinada no centro
daquele lugar, e que existia ainda nos meados do século XVlII. O
retábulo da capela do S. da Serra
deve também ter pertencido àquela ermida, e nele se vê
uma boa imagem de Cristo crucificado. Há ali romaria anual.
CAPELA DA SENHORA DO BOM PARTO
Foi construída há poucos anos no lugar da Alhandra,
junto da estrada, e fronteira à povoação.
CAPELA DE SÃO, GERALDO
É das mais antigas da freguesia. Está situada no aprazível lugar de
Bolfiar e já existia no primeiro quartel do
século XVII, pois é já mencionada numa escritura datada
/
67 /
de 1623
(10). Tem romaria muito concorrida na primeira
oitava do Espírito Santo, acorrendo ali romeiros de longas
terras a levar suas oferendas, cujo rendimento é avultado. Nos meados do
século XVII, foi a capela ampliada e muito melhorada com transformações
nos seus retábulos, com o produto das esmolas recebidas.
CAPELA DE SÃO GONÇALO
Está situada no lugar da Redonda, mas ignora-se a data da sua fundação, não sendo, contudo, antiga. Passando o Rio,
encontra-se no alto do monte em que assenta a povoação do Candam, a
CAPELA DE N.ª S.ª DA SAÚDE
Na Visita Pastoral de 1707,
o Visitador ordenou que,
pelas rendas da freguesia, se mandasse edificar esta ermida,
visto que os moradores do lugar eram pobres e não podiam correr com as despesas necessárias; deve ter sido construída
pelos meados do século XVIII, sendo mais tarde ampliada pelo Conde de Sucena, que, à semelhança do que fez noutras terras do nosso
concelho, a mandou reedificar com maior tamanho.
Tem a imagem de N.ª S.ª com o Menino Jesus ao colo.
CAPELA DE SÃO TIAGO
Ao fundo do lugar da Borralha. Muito antiga, mas sem
'valor arquitectónico. Remonta a sua construção ao século XVI.
Em 1749 estava no mais adiantado estado de ruína, e era
reputada já muito pequena, não cabendo nela as pessoas que
tinham de ir ali aos diferentes actos do culto. Tinha a imagem do orago, a quem era feita a sua festa no dia próprio,
e as imagens de St.ª Cristina e St.ª Apolónia, que para ali vieram duma antiga capela da invocação daquela santa, e que se arruinou;
existia esta ermida ainda em 1666, mas em muito
mau estado, não chegando depois a reconstruir-se. Ao sítio onde esteve se chama ainda hoje o lugar de St.ª Cristina.
CAPELA DO SALVADOR
Era particular e ficava junto da Casa da Borralha, de que era pertença. Foi instituída por Simão Fernandes de Carvalho, que ali vivia, tendo falecido a 28 de Fevereiro de 1611.
'Tinha uma imagem grande, do Salvador, em pedra de Ançã.
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68 /
CAPELA DE NOSSA SENHORA
DE LA-SALLETE
Foi fundada por João Rodrigues de Seixas Almiro, junto às suas casas,
em que vivia na Vista, ao cimo do lugar da
Borralha, pelos anos de 1860-1870; de princípio foi coadjuvado nesta empresa pelo seu conterrâneo e vizinho António Rodrigues
Sucena, que depois não acompanhou até final este empreendimento.
A
expensas destes dois fundadores, construiu-se somente a capela-mor, e
assim estiveram as coisas durante alguns anos, estando esta parte vedada
convenientemente, de forma a poderem realizar-se ali vários actos do
culto; mais tarde, e com esmolas do povo, não só em dinheiro mas também
em ouro que se vendeu para esse fim, materiais de construção, carretos,
dias de trabalho, etc., foi erigido o corpo da capela, que serviu até
que o falecido Conde de Sucena mandou edificar a que hoje se vê noutro
local, para substituir aquela.
O terreno em que foi construída a primeira foi cedido gratuitamente
pelo mencionado João Rodrigues de Seixas Almiro e sua mulher D. Clara
Emília da Graça por título de 18 de Agosto de 1860. Digno de nota é
também o esforço que empregaram, para que a obra fosse levada a cabo, o
Padre Vicente Ferreira Sucena, António Tondela e António Alves, todos
da Borralha.
A imagem da Virgem, em barro cozido,
de agradável modelação, foi
comprada em Aveiro a Pedro Serrano, escultor dali, por 20.000 reis(11).
Trouxeram a imagem de barco até
/
69 /
Águeda, onde ficou depositada na Igreja, fazendo-se depois
uma luzida procissão até à Borralha, para a conduzirem até
ali; depois, fez-se uma representação no vasto sobreiral fronteiro da capela, em que se interpretou um AUTO alusivo
ao milagre de La-Sallete e que foi escrito pelo então Prior
de Águeda P.e João Batista de Figueiredo Breda, inaugurando-se assim festivamente a capela.
N.ª S.ª de La-Sallete é
hoje considerada o orago do lugar da Borralha, e ali é festejada anualmente, no mês de Setembro.
CAPELA DE NOSSA SENHORA DA GUIA
A construção que ainda hoje se vê data de 1684. Em 1682,
os moradores do lugar do Sardão pediram licença à autoridade eclesiástica para edificarem a capela, para ali serem
administrados os Sacramentos ao povo, comprometendo-se
a correr com as despesas necessárias. Tem a imagem de
Nossa Senhora, de escultura bem lavrada, que se guarda num oratório de madeira, em que consiste o retábulo.
Fechamos assim estas notas sobre as capelas públicas e
particulares da freguesia de Águeda.
DOCUMENTOS
(A CAPELA DO MENINO JESUS)
«Dizẽ Domingos Joaõ e sua irmã Beatriz
J.º Dona veuva m.os em Agada, q
por falecim.to de seu marido e cunhado P.º Fž q Ds. tem fiquaram certos
bẽns unidos á obrigacão de tres aniversarios Perpetuos para q se fizesse
hũa capella na igreja onde se satisfizesse a dita obrigacão q. ficou
nas
peças nomeadas no testam.to q com esta se offrece e porq fiqua com
mayor ornato na igreia, a dita capella e corpo della se ha de fazer q
fique fora da
dita igreia por naõ ocupar terra, e o lugar mais decente he iunto á
capella
do Santíss.º Sacramento,
Pede a V.ª Ex.ª e vistas as rezoẽs se da licenca para se
fazer a dita Capella e R M.e
Informe o R.do Prior d'Aguada do contheudo nesta petiçaõ e aiunte o
treslado do test.º e com isto se lhe deferirá. Aguada a 15 de Outubro
de 624
(12).
Bento d'Almeida»
/
70 /
TESTAMENTO DE PEDRO FERNANDES
CHUCRE
Saibão quoantos este estromento de testamento deste dia pera todo sempre virem que no anno do nasimento de noso sñr Jesu xpõ demill eseissentos evinte etres anos aos onze dias do mes dabrill do dito ano no
llugar
dageda epouzadas de Pero Fž o chuquere dalquoinha que he do termo da
villa daveiro onde estava de presente o dito pero Fž cõ sua molher
brites. João elloguo per elles ambos juntamente e quada hũ per sim foi dito em
prezensa demim Taballiaõ edas test.as ao diante nomeadas estando ambos
em todo seu prefeito juizo ehentendimnnto segundo ao pareser de mim
Taballião e das test.as ao diante nomeadas elloguo diserão que elles
ordenavão seus testamẽtos na maneira seguinte per não saberem a ora que
noso sñr. os chamaria pera sim etemendo a cõta que de todas suas obras
haverião de dar epera desquarguo desuas cõsiensias ordenarão seus testamentos na maneira seguinte primeiramente que emquomendavão suas allmas
adeus noso snr. que as remira cõ seu presiozo sange equetomavão per sua
entresessora avirgem maria nosa snra eaos santos apostollos Sam pedro
esam pallo ea virgem e marte santa Ollaia pera que cõ todos os santos
esantas da corte do seo sejão seus entresesores diante o trebunall da
devina
justisa eque seus corpos quoando deus fose servido llevallos desta vida
prezente fosem enterados dentro na igreja deste llugar dagueda donde são
freiguezes eque per suas allmas lhes fariam tres ofisios de nove
llissois
aquada hũ cõ as ofertas acostumadas e que seos corpos pera a sepolltura
serião acõpanhados cõ doze pobres que llevarão quada hũ sua tocha pello
que darão hũ vintẽ a quada hũ de esmolla e que se haião em este per
herdeiros hũ do outro e outro do outro pera sempre de maneira que o que fiquar
depois da morte do outro llograse toda a sua dereita parte do fallesido
pera sempre asim demovell quomo derais pela que de todo fasão o que lhe
convier e que no dia que quada hũ delles morese se fizese hũ aneversario
de
tres llisois eoutro aneversario que sera quada quatro mezes do anno hũ e
hestes tres aneversarios serão pera sempre os quais deixavão as suas
quazas
em que vivem cõ seu quintall e ellata e quazas per de tras tudo junto
assim quomo elles testadores pesuem cõ mais todas as terras que partem a
igreia
deste llugar dagueda cõ mais hũa terra que esta na prejorada que parte
com Antonio Roĩz dasequins e assim mais hũa vinha que tem nas chãs que
parte com Antonio João deste llugar dagueda eassim mais hũa vinha cõ sua
deveza e chão que tem no ninho daiguia que chamão a vinha da molleira
assim quomo a pesuem pera cõprimento dos ditos tres aniversarios em
quada hũ ano pera sempre cõ mais hũa terra onde chamão o pereiro que
parte cõ domingos João deste lIugar dagueda aquall fazenda somente
fiquara obrigada aos ditos tres aneversarios e tudo isto enquaregavam a
Antonio, filho de domingos joão deste lIugar dagueda sobrinho de ambos
e filho de Quaterina Antonia molher do dito domingos joão ao quall seo
sobrinho Antonio per seos fallesimentos deixavão todas as ditas propriadades pera cõprimento dos ditos tres aneversarios e sendo quazo que
falesa
sem erdeiro pase a seo sobrinho bertolameo da fonsequa e fazendose clleriguo ou frade lIoguo pasara aelIe bertolameo da fonsequa e sendo quazo
que elIe bertolameu da fonsequa seo irmão de Antonio se fasa frade ou clIeriguo fique a Pedro da fonsequa outro sim seo irmão e se aquazo se
fizer cllerigo ou frade pase toda esta fazenda a francisqua da fonsequa
irmã dos
sobreditos e os seos herdeiros cumprão a dita obrigasão de modo que os
ditos tres aneversarios se fasão na igreja de santa olIaia deste lIugar
dagueda cõ a sera custumada cõ quatro padres que lhe diguão quatro
missas das quoais sera hũa cantada e tres rezadas e que hũa sera que
tinhão nas areas da varzea dasequins onde chamão os talhos (?) deixavão
a paulla de pinho sua sobrinha cõ codisão que em quada hũ ano lhe daria
/
71 /
de esmolla ao espitall deste llugar dagueda hũ tostão e que elles
herdeiros
darião de esmolla a cõfraria do Santisimo sacramento quinhentos reis e
ade
nosa sñra quoatro sentos reis e ade Santa llozia dozentos reis e ade
Santa
Ollaia dozentos reis nos quoais erdeiros não entrará a dita paulla de
pinho
pera os ditos pagamentos somente pagara ao espitall o tostão atras decrarado em quada
hũ anno e desta maneira avião seus testamentos per aquabados e pedião as justisas clesiastiquas e secullares asim os mãdasem
cõprir e goardar asim etam enteiramente quomo nelles se cõtem per assim
serem suas ultimas e deradeiras vontades e per este revogavão todos e
quoantos ate o prezente tivesem feitos so este tivese forsa e vigor e
decllaravão que estas obrigasois quomesarião depois da morte de ambos per que
dantes não he sua vontade somẽtes os que de dereito se devão fazer e hem
de verdade assim o quizerão o que tudo foi perante test.as Manoel Antunes
deste llugar dagada que assinou por ella brites João aseu roguo della
per
ella não saber asinar eforão mais test.as antonio Roĩz da villa
dasequins e Ant.º Fž o droque e Manuell joão e lluis mĩz todos da dita villa
dassequins
e manoell pinheiro e pero miz ambos deste llugar dageda e João miz deste
dito llugar que todos aqui asinão cõ elle pero Fž testador eu pero joão
taballião o escrevi o quoall estromento de testamento, eu sobredito Pero
joão Taballião do pubriquo judisial e notas na villa de segoadaĩs eseu
termo e das notas neste llugar dageda pello duque dom alvaro
dallencastre sñr das ditas teras que bem e fielmente o tresladei de meu llivro de
notas
a que me reporto sem cousa que duvida fasa e per serteza detudo aqui
asinei em pubriquo de meu sinall que tall e fis e tudo escrevi (sinal
publico
do Tabelião).
ESCRITURA DE OBRIGAÇÃO
Saibão quoantos este estromento dobrigasão e ipotequa deste dia pera
todo sempre virem que no anno do nasimento de noso sñr. jesu xpo demill
eseis sentos e vinte e quatro anos aos dezasseis dias do mes de
novembro do dito ano no llugar dagueda e pouzadas de domingos joão
merquador que he do termo da villa daveiro onde estava de prezente o
dito domIngos joão cõ sua molher Quaterina antonia ebẽ asim brites joão
dona veuva molher
que foi de Pero Fž deste dito lIugar dageda elloguo per elles foi dito
em
prezensa de mim Taballião edas test.as ao diante nomeadas que elles cõ
o
favor devino querião enstetoir huã quapella na igreja deste llugar
dageda
pera suas sepulturas a que querião unir fazenda pera obrigasão de misas
per suas allmas e de seus pais e mais e marido defuntos e para a
quomesarem afazer primeiro querião obrigar e ipotequar fazenda e bẽs
particulares pera a fabriqua dadita capella elloguo diserão que elles
pera iso
obrigavão quomo lloguo de feito obrigarão e ipotequarão deste dia pera
todo sempre quomo vem a saber hũa vinha branqua que tem no campo de
baro daugoada onde se chama costa que lIeva des homẽs dequava foreira ao
snr. bispo de quoimbra que parte do nasente cõ vinha de dioguo dias de
baro que da oitenta allmudes de vinho hũ ano per outro e helle domingos
joão e sua molher obrigarão mais e hipotequarão adita capella quatro
teras
que tem na lavra de bollfear pegado a ermida de sangiralldo que lhe
paguão
em quada hũ anno desaseis alqueires de pão e milho f.ros pera elles e
asim
ipotequarão mais hũ chão que tem onde chamão o chão do rio na varzea da
villa dasequins e outro na pejorada na dita varzea junto deste lIogar
dagueda que lIevão sinquo alqueires de triguo de semeadura foreiros a
igreja deste llugar dageda o que tudo obrigarão e ipotequarão pera a fabriqua da dita capella doje pera sempre e
hem testemunho de fe e
verdade asim o
quizerão e outorgarão e delle mandarão ser feito este estromento de obrigasão e hipotequa ao quoall obrigarão suas pessoas e bẽs a cõprirem em
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juizo efora delIe o que tudo foi perante tes.as ant.º joão dasera
merquador e morador deste lIugar dagueda que asina pelIas ditas
quaterina antonia e brites joão aseus rogos dellas per elIas serem
molheres e não saberem asinar e farão mais tes.as joão Frencisquo e
andre joão ambos moradores deste dito lIugar dageda na rua de sima que
todos aqui asinarão nesta nota cõ elIe domingos joão e eu taballião dou
fe serem elIes todos os proprios nomeados pero joão tabalIião o escrevi
o quoalI estromento dobrigasão e ipotequa eu sobredito pero joão
tabalIião do pubriquo judesialI e notas na villa de segadais e seo termo
e das notas neste lIugar dageda pelIo duque dom alIvaro dalIencastre sñr
das ditas teras que bem e fielmente treslladei de meu livro de notas a
que me reporto sem causa que duvida fasa e per serteza de tudo asinei em pubriquo.
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