J. Domingues Arede, Sobre a terra de Loureiro, Vol. XV, pp. 8-38

BREVES APONTAMENTOS

SOBRE A TERRA DE LOUREIRO

 

À veneranda memória do ilustre filho de Loureiro
− D. Frei Caetano Brandão −
preito de admiração pelo seu talento e virtudes, e
serviços à Igreja Católica. sobretudo, como
Bispo do Pará e Arcebispo de Braga.
 

Ao Ex.mo Sr.
Conselheiro Albino Soares Pinto dos Reis
homenagem de gratidão
do autor.

DUAS PALAVRAS

APROVEITANDO a minha estadia em Contumil, da freguesia de Loureiro, onde fui passar alguns dias em casa do meu bondoso e respeitável amigo António da Silva Esparrinha, observei a prosperidade da terra que, na sua maior parte, assenta em terreno chão.

Vi então que o povo de Loureiro, modesto nos seus costumes, ama devotadamente a sua Igreja, e não passa a vida em ostentação e regalos, mas sim na cultura e amanho da terra de onde colhe abundância de alimentos que lhe dão saúde, alegria riqueza.

Na minha leitura dos Anais do Município de Oliveira de Azeméis, em casa desse meu amigo, quando deparei com o nome da fecunda e fértil freguesia de Loureiro fiquei. desapontado com a pequenez e pobreza da sua narração histórica.

Depois de conhecer directamente a pujança da terra que produz o necessário para o sustento da vida, e de ter verificado a actividade laboriosa e bem dirigida do seu povo, achei conveniente, para ciência do passado loureirense, trazer à luz da publicidade, além de alguns conhecimentos etimológicos, outros acontecimentos ocorridos − tanto sociais, como políticos e religiosos − / 9 /  que mais tivessem influído na existência secular de Loureiro, terra antiga como se conclui pelos nomes de alguns dos seus lugares que marcam a sua dominação pelos povos dos tempos medievos, e o mesmo se verifica também de outros nomes pessoais que se lêem em documentos antigos respeitantes a Loureiro.

E daqui a organização destes «Breves apontamentos sobre Loureiro».


CAPÍTULO PRIMEIRO

Da etimologia de Loureiro e dos seus lugares, e vestígios dos seus dominadores nos tempos medievos. − Loureiro no princípio do século XI. − Família nobre em Loureiro no século XIV.

I

Etimologia de Loureiro e dos seus lugares, e vestígios dos seus dominadores nos tempos medievos.

Loureiro, como as demais terras da antiga Lusitânia, sofreu, nos tempos medievos, a invasão dos seguintes povos: romanos, germanos e mouros. Esses povos deixaram vestígios do seu domínio, que se revelam na etimologia dos nomes de várias povoações umas pelos antigos nomes pessoais, e outras pelos nomes de aves, árvores, montes, vales, etc.

Isto posto:

A proveniência do nome de Loureiro (freguesia) e do nome dos seus lugares é, em resumo, como segue:

Loureiro (1) (Laurario no século XI). Deriva do latim laurus-i  loureiro.

Louredo, como o anterior, provém de laurum, com o sufixo edo, de quantidade.

Ervedal (2) de ervedeiro, que é o mesmo que medronheiro (ou local muito abundante de erva?).

Rua Nova (3) de beco transformado em rua.

Arrota (4) de terra rompida de novo para cultura e edificação de casas, unde-Iugar. / 10 /

Chão de Além (5) de terreno plano e regadio. O locativo além localiza-o distante do núcleo principal da povoação.

Contumil (6) de Guntimirus-i nome germânico e patronimico, que deu nome à povoação.

Coxo de coxe, talvez.

Feital (7) do latim filectum-i, e filix. Mata de feitos, planta arbustiva e parasita.

Forno do latim furnus-i forno de cozer pão, cal, telha, ou cerâmica.

Freixo (8) do latim fraxinus-i. Freixo árvore oleagínia.

Graciosa de, aspecto alegre pelas suas vistas do mar e da serra.

Igreja nome tirado do templo principal.

Lumieira do latim luminaria-ae.

Macieira de local onde se praticava a cultura destas árvores frutíferas.

Minhoteira (9) de sítio abundante de milhafres ou minhotos.

Outeiro (10) do pequeno monte onde está situado. (Por alteiro, de alto).

Pinhal do latim pinetum-i mata de pinheiros, árvores coníferas.

Póvoa (11) de pobra do baixo latim popula; o mesmo que populus-i lugar, sitio, povoado.

Quintã de propriedade rústica com casas de habitação.

Tonce (12) de Tanuz.

Valverde povoação que tomou o nome de vale verdejante.

Vidigueira local abundante de vides, videiras.

NOTA A antiquíssima povoação de Tonce, no princípio do século Xl, teve o nome de Tanuz e, no século XIV, aparece grafada: Toncj . toncj . Teoti . Toote . Tooncj . tooncj .

Isto consta do Documento n.º CLXVII, já citado; e de outros documentos antigos transcritos no Censual do Cabido da Sé do Porto, págs. 262, 263 e 265.
    / 11 /
 

II

Loureiro no princípio do século XI

Portugal formou-se desde a cedência de um condado hespanhol, da Coroa de Leão, a Henrique, filho de Henrique de Borgonha e sua mulher Sibila, por D. Afonso VI, rei de Leão, em 1080, a quem prestou altos serviços na luta terrível contra os muçulmanos. Essa luta prosseguiu depois da morte do Conde D. Henrique e só terminou pela conquista do Algarve em 1250, por D. Afonso lII, o Bolonhês.

O mesmo Condado tomou o nome de Condado Portugalense ainda em vida de D. Henrique e, de Portugal, no tempo de seu filho D. Afonso Henriques que governou, com os títulos de infante e de príncipe, doze anos e, com o título de ,rei, quarenta e cinco.

A propósito e de propósito:

As Armas de Portugal, que definem a independência da Nação, têm 5 escudos em Cruz, em memória dos cinco chefes mouros vencidos em Ourique por D. Afonso Henriques.

A esses escudos se adicionam 7 castelos, representando os conquistados aos, muçulmanos:

Por D. Afonso Henriques − Santarém, Lisboa, Alcácer do Sal, Beja e Palmela.

Por D. Sancho I − Silves.

Por D. Afonso III − Faro.

Antes, porém, do Condado Portugalense, a terra de Loureiro era habitada por algumas pessoas de qualidade e possuidoras de grandes herdades. Os nomes dessas pessoas são uma reminiscência dos povos, da raça germânica (13). Isto se deduz da etimologia de alguns nomes de lugares da freguesia, como já advertimos, e de outros de pessoas que outorgaram alguns documentos públicos respeitantes a Loureiro.

Um desses documentos é do teor seguinte:

«Christus. ln dei nomine ego godesteo ideo plaguit mici bone pacis uoluntas asto animo integroque consilio ut per scriptis facerem uobis gundisalbus fredenandiz et uxore ermesinda sicut et facio de ereditatem mea propria que abui in uilla laurario / 12 / qui est inter uila tanuz et mazanaria suptus Kastro rekaredi territorio portugalense. uindo uobis ipsa ereditatem pro illa fidiaduria que uobis rouoraui et sacaui illo de uestros ferros et post hec fugalanise ipse querino et exsese ipse placitum et pro id accesit mici uoluntas ut pro ipsa actio concedo uobis ipsa ereditatem at integro per suis terminis antiquis quantum que ibidem podueritis inuenire que at prestitum ominis podueritis inuenire in ipsa mea ereditatem quantum me conpodet inter meis fratribus uel eredibus terras ruptas uel inruptas aruores fructuosas uel infructuosas pedras mouiles uel inmouiles aquis aquarum et sesegas molinarum pascuis padulibus exitus montium accesum uel regresum omnia todum ad integro abeatis uos et omnis posteritas uestra usque in perpetum uindicetis.

Si quis tamen quod fieri non credimus aliquis omo proinde uos kalumiauerit que uobis a iudicio demendigare uel auctorgare noluerimus uel non poduerimus pariemus uobis ipsa ereditate dublata uel quantum a bobis fuerit meliorada, et nos perpedim auiturum.

Nodum die uel tempore sub die quod erit XV kalendas iuni. Era XXXlª post Millesima.

Godesteo ín anc Kartula uenditionis manu mea +.

gutier fredenandiz − tahel belasquez − telo ermiariz

heifreiro et ali plures.

donon presbiter − saracino − rondo aluito presbiter

goirigo et ali pluresqui preses fuerunt.

(ln verso membranae)

nos filiis uisorum que sumus de parte ermiario guntigiciit sumus aldereto ketenando uimara placitum fazimus uobis gundisalbo fredenandizi ut de odie die uel tempore quot est era millesima XXXªlllª quinto decimo kalendas iunias si egu ermiario ausas fuerit me ad alio domno perclamare in que gundisalbo fredenandizi illa manda ziti mandare que parient ilos prenominatos que super resonant llllor quatuor boues et desuper ipso ermiario cum omnem facultate et suo kanato.

nos prenominatos ketenando et uimara aldereto in anc placitum manus nostras rouora + + uimus et fuit isto placitum escriptum in conzilio ante espasandos aba aketo sandizi zidi trastemirici moheibe presbiter zidi ermiarizi donan froiulfici gundino sentario ianardo carteniero sandino gesulfo brandila seioi sauarigu zidi quasi presbiter cos (14) noduit.» (Doc. n.º CLXVIl do vol. Diplom. et Chartae, pág. 103).

Tem a nota de ser carta autógrafa, proveniente do Mosteiro de Moreira, e encontrar-se na Torre do Tombo. / 13 /

Em português:

«Christo (Cristi Nomine invocato).

Em nome de Deus, eu Godesteo apraz-me em consciência e por boa paz e vontade, com ânimo recto e inteira deliberação, fazer escritura (de venda) a vós Gonçalo Fernandes e a vossa mulher Ermesinda, como de facto vendemos, da minha própria herdade que possuo na terra de Loureiro, situada entre a Vila de Tonce (vila Tanuz)(15) e Macieira, à vista do Castro Recarei, em território portugalense.

Vendo a vós a dita herdade por ali fideicomissária, que vos firmei (por contrato) e vos defendi, pelo mesmo sítio, das violências dos fiscais (do Rei de Leão) e, depois disto, o direito da (vossa) própria reclamação. E, por assim o entender, entrego-vos pela própria acção a referida herdade, integralmente pelos termos antigos, e tudo quanto nela puderdes encontrar para utilidade do homem e, na dita herdade, ainda quanto couber em partilhas entre meus irmãos ou herdeiros, como (sejam) terras cultas ou incultas, árvores frutíferas ou infrutíferas, pedras soltas ou pedreiras, águas, assentos de moinhos, pastagens em lameiros, entradas e saídas dos montes. Tudo isto possuireis vós por inteiro, e toda a vossa posteridade para todo sempre.

Se, porém, o que não acredito, algum homem vos demandar (judicialmente) com o pretexto de que não podíamos, nem quiséramos vender a mencionada propriedade, e de nós não reclamarmos a vosso interesse, isto é, não defendermos o vosso direito, nós vo-la pagaremos em dobro, e bem assim os melhoramentos que nela continuamente tiverdes feito. − Escrita no tempo aprazado, a XV das Calendas de Junho, Era (1003) − anos de Cristo) aos dezoito de Maio.

Godesteo − corroboro com minha mão esta carta de venda +.

Gutier Fernandes. Tahel Belasques. Telo Ermiaris.

Efrem e muitos outros.

Donon − presbitero. Saracino. Rando. Alvito presbítero. Goirigo e outros que foram presentes.

No verso do pergaminho:

Nós descendentes (filiis ipsorum) dos contratantes, retromencionados, da parte de Ermiario Godinho (herdeiro), de nomes − Aldereto, Ketenando e Guiomar, confirmamos (esta / 14 / carta de venda) a vós Gonçalo Fernandes, hoje, dia designado com tempo (aprazado) aos 18 de Maio de 1005 (anos de Cristo).

Se algum dos descendentes (herdeiros de Ermiário Godinho), acima referidos, ousar anular (Protestar) esta carta (manda) que outorguei a Gonçalo Fernandes, pague (de pena) aos herdeiros acima nomeados, quatro bois com seus bens e agências.

Nós Ketenando, Guiomar e Aldereto, supramencionados, subscrevemos, de comum acordo, esta carta com as nossas mãos. E foi esta decisão tomada em acordo ante os presentes: Aba. Aketo. Sandizi. Zidi. Transtemieri. Moheibe − presbítero. Zido Ermiariz. Donan. Froiulfici. Gundino. Sentario. lanardo. Cartiniero. Sendino. Gesulfo. Brandila. Seioi. Savarigu. Zido − quasi presbítero, perante os signatários deste documento, o redigiu.»


NOTA.
− Apreciado o diploma transcrito, no seu contexto, infere-se que o mencionado Godesteo era uma personagem celibatária. Houve outro com idêntico nome que foi abade do Convento da Vacariça e do de S. Salvador de Bouças.(16)
 

Outrossim: a palavra cos no final do diploma é a abreviatura de com os, equivalendo a cum eis (prasentibus), do latim consuo, is, ere. Traduzi: perante os signatários deste documento por julgar, deste modo, o seu sentido (significação) in loco.
 

Declaração oportuna: não foi possível ficar a tradução do documento, acima transcrito, conforrne às palavras do texto, devido à incorrecção dos notários redactores do documento original por falta de conhecimentos gramaticais, e à pouca atenção e escrúpulo dos copistas quando dos traslados dos manuscritos em latim bárbaro, popular ou castrense.


III

Família nobre em Loureiro no século XIV.

Como já disse anteriormente, pessoas poderosas e com grandes herdades habitaram a terra de Loureiro no princípio do século XI.

E no segundo e terceiro quartel do século XIV, uma família nobre e também poderosa, descendente de Estêvam Perez, Meirinho-mor(17) de Aquém Douro que habitou a mesma terra de Loureiro, possuiu, nesse tempo, o domínio do lugar de Tonce, acrescido de outros direitos, padroado, herança e propriedades na Igreja de Válega que, certamente, lhe vieram transmitidos por direito de sucessão como bens patrimoniais.

Essa família, como é de crer, pertencia à classe formada ao tempo por gente livre e cristã.

/ 15 /

Assim o atestam:

a) A sua nobreza. − Dos descendentes do supradito Estêvam Perez − tinham uns, o título de cavaleiros(18), e outros, o de escudeiros, como se vê da Resenha dos nomes das pessoas que seguem:

Estevam Perez, Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo, do lugar de Tonce.

Foi sua filha:

Aldonça Esteves, dona de Tonce.
Casou com

Afonso Rodrigues, Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo.
Filhos:

João Afonso e Afonso Rodrigues − Ambos escudeiros

A mesma Aldonça Esteves, depois de viúva,
casou com

Martim Martins, Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo.
Filha do 2.º e casamento:

Sancha Martins, dona de Tonce.
Casou com

Martim Gonçalves de Paiva, Cavaleiro da Ordem Militar de Cristo.

b) A sua acção de cedência dos direitos, privilégios e regalias na Igreja de Válega.

Desta acção fala, além de outros, o documento a seguir transcrito:

«Donatio patronatus ecclesiae santae Mariae de Valega pro capitulo

Sabham quantos este stromento uirem e leerem ouuirem que eu Sancha Martiz molher de Martim Gunsaluis de Panha caualeyro filha que foy de Martim martinz do auelaal caualeyro / 16 / e de Aldonça steuez dona de Tooncj molher que foy do dicto Martim martinz e filha que foy de Steuam perez do dicto logo de tooncj caualeyro. da mha liure uoentade sem constringimento nemhuu e ueendo e consijrando o seruiço de deus e prol de mha alma e en Remijmento de meus peccados. outorgo e ey por firme e por stauil pera todo sempre a doaçom que ffez a dicta Aldonça steuez mha madre com outorgamento de affonsv rrodriguez caualeyro que foy seu marido. ao Cabidoo da see do Porto de todo o derecto e padroado e natureza e erança que a dicta Aldonça steuez auia na Eigreia de santa Maria de Valega. e outorgo a en todo assi como na dicta doaçom he contheudo e outrossy eu Sancha martinz de susso dicta outorgo e ey por firme e por stauil pera todo sempre. a outorgaçom e doaçom que Martim gonsaluiz de panha meu Marido ffez por mjm e em meu nome. con meus Irmaaons Ioham aFfonsso e AFfonso rrodriguez ao Cabidoo do Porto de todo o dereyto e padroado e natureza e erança que eu e eles auiamos na dicta Eigreia de Valega e outorgo a en todo assi como em ela he contheudo. A qual outorgaçom e doaçom eles de susso dictos ffezerom na see de Coymbra dez e noue dias de Dezembro Era de Mil e Trezentos e sateenta e Dous anos...» (Censual do Cabido da Sé do Porto, Pág. 265).

Em resumo:

«Doação do Padroado da Igreja de Santa Maria de Válega ao Cabido (da Sé do Porto).

Saibam quantos este instrumento virem, lerem e ouvirem, que eu Sancha Martins, mulher de Martim Gonçalves de Paiva, cavaleiro, filha que fui de Martim Martins do Avelal, e de Aldonça Esteves, dona de Tonce (de Loureiro), mulher que foi do dito Martim Martins e filha que foi de Estêvão Peres, do dito lugar de Tonce, cavaleiro: da minha livre vontade, sem constrangimento nenhum, e vendo e considerando. o serviço de Deus e salvação da minha alma, e em remissão de meus pecados, outorgo e tenho por firme e por estável, para todo sempre, a doação que fez a dita Aldonça Esteves, minha Mãe, com outorgamento de Afonso Rodrigues, cavaleiro, que foi seu marido, tio Cabido da Sé do Porto, de todo o direito e padroado e natureza e herança que a dita Aldonça Esteves havia na Igreja de San'ta Maria de Válega; e outorgo-a em tudo, assim como na dita doação está contido. Outro sim: eu Sancha Martins, já referida, outorgo, e tenho por firme e estável para todo sempre, a outorgação e doação que Martim Gonçalves de Paiva, meu Marido, fez por mim e em meu nome, com meus irmãos − João Afonso e Afonso Rodrigues, ao Cabido do Porto, de todo o direito e padroado, e natureza e herança que eu e eles havíamos na dita Igreja de Válega, e outorgo-a em tudo, assim / 17 / [Vol. XV - N.º 57 - 1949] como nela esta contido. A qual outorgação e doação eles sobreditos fizeram na Sê de Coimbra, a 19 de Dezembro de 1372 (1334 anos de Cristo).

NOTA. − O facto, a seguir referido, terá relação com a Família Aldonça?

Eis o relato:

Consta, por documentos históricos, que o rei D. Afonso III esteve em Loureiro (19). Presume-se que por ali passou em visita aos progenitores de Aldonça Esteves, dona de Tonce.

Ora:

Tendo sido Loureiro, outrora, falha de comodidades e sem vias de comunicação, como explicar a vinda de D. Afonso III à terra de Loureiro nos fins do século XIII?

Em Loureiro não deixou D. Afonso lII de ter pousada e receber hospedagem com os seus fidalgos em casa de família nobre. E da história de Loureiro não consta outra família de nobreza antiga, de tão grande distinção e nomeada, senão a de Aldonça Esteves, dona de Tonce, filha de Estêvão Perez, cavaleiro da Ordem Militar de Cristo, do lugar de Tonce, sendo de presumir que a vinda de D. Afonso III, a Loureiro, tivesse sido uma visita afectuosa aos progenitores de Aldonça Esteves; já referida, como agradecimento e retribuição de outras já feitas pelos mesmos.

E demais eram raras as senhoras, no século XIII, com o tratamento de Dom (20).

É de supor, portanto, que os mesmos progenitores fossem aparentados de D. Afonso III por afinidade do sangue. E isto se pode presumir pelo nome de Aldonça, de distinta linhagem, em Loureiro, como memória subsistente do nome da Rainha D. Dolce, ou Aldonça, irmã do Rei de Aragão. que casou em 1174 com D. Sancho I, bisavô de D. Afonso lII.

Seria assim?


CAPÍTULO SEGUNDO

DE ACONTECIMENTOS EM LOUREIRO SUBORDINADOS A DIFERENTES ÉPOCAS

Loureiro e as Ordens militares e religiosas. − Antigas contribuições à Sé do Porto e ao Estado. − Igreja de Loureiro e seus Párocos na ordem civil e eclesiástica no decorrer dos sistemas governativos ou políticos da Nação. − Reconstrução da velha Igreja e sua descrição depois de reconstruída.

I

Loureiro e as Ordens militares e religiosas.

a) Loureiro e a Ordem dos Templários. A Ordem dos Templários, ou os Cavaleiros do Templo, estabeleci da na / 18 / Palestina em 1118, entrou em Portugal no ano de 1125, tendo sido seu primeiro Mestre D. Guilherme Ricardo. Esta Ordem dos Templários teve um casal em Loureiro(21). Foi extinta em 1311 pelo Papa Clemente V, no concílio de Viena, e seus bens transferidos para a Ordem militar de Cristo, fundada por D. Diniz em 1318, e confirmada por Bula do Pontífice João XXII, sucessor do Papa Clemente V, em 1319.

b) Loureiro e a Ordem militar de Cristo. Esta Ordem, de que foi seu primeiro Mestre D. Gil Martins, recebia da Igreja de Loureiro e da de Avanca, de que era Padroeiro o Reitor desta, 125 ducados de ouro(22), no tempo de D. Manuel I. Foi decretada a sua extinção em 5 de Agosto de 1833.

NOTA. − O referido casal era um pequeno povoado de Loureiro, como indica o próprio termo − Casal, que não − casa de família.

Os moradores desse Casal (povoado) pagaram à Ordem do Templo determinadas e sabidas rendas, em ser, que consistiam em trigo, centeio, milho, cevada, vinho, cera, galinhas e frangãos (23). Ignora-se a quantidade.

Nesses tempos recuados, os moradores do dito Casal eram caseiros enfiteutas com o domínio útil que pagavam à Ordem do Templo rendas sabidas em reconhecimento do domínio directo do seu senhorio.

Que nome tem, hoje, esse povoado que, outrora, foi da Ordem do Templo?

Ao povo de Loureiro compete a averiguação e reconhecimento.

II

Antigas contribuições à Sé do Porto e ao Estado.

A Igreja de Loureiro pagou à Sé do Porto, nos tempos medievos, direitos com o nome de Censos para sustentação do Bispo e do seu Cabido, sendo dois terços para o Bispo e um terço para o Cabido.

A mesma Igreja, nesses tempos, pagou também ao Estado, por espaço de três anos, uma contribuição suplementar com o nome de taxação eclesiástica para defesa da Pátria. Esta contribuição deve ser considerada como um imposto de guerra. / 19 /

Provas justificativas:

a) Censos da Igreja de Loureiro à Sé do Porto:

− Ecclesia. Sancti Iohanis. de Loureyro −

De cera. mediam libram.

De mortuariis. L. solidos.

Item tria. bracalia. uéI. XXVII. solidos. (24)

b) Taxação da. Igreja de Loureiro ao Estado:

O Pontífice João XXII, em 1320, concedeu a el-rei D. Dinis, por três anos, a décima parte das rendas eclesiásticas do seu Reino para subsídio da guerra com os mouros, excepto as igrejas da Ordem de São João do Hospital.

Daí a taxação da Igreja de Loureiro em 45 libras (25), moeda do tempo.


III

Igreja de Loureiro e seus Párocos na ordem civil e eclesiástica, no decorrer dos sistemas governativos ou politicos da Nação.

A Igreja de Loureiro, desde o seu início, observou sempre as determinações dos seus Bispos, a par das evoluções da política do Estado − tanto no regímen do absolutismo e do conslitucionalismo como, presentemente, do republicano.

Testemunham o facto:

1.º − A Igreja de Loureiro no regímen do absolutismo.

a) O Reverendo Pároco, com o titulo de Cura, era de apresentação do Reitor da freguesia de Avanca (26).

b) Pela fertilidade do solo de Loureiro que produz mais que bastante para o sustento dos seus habitantes, passaram a meeiros, eclesiasticamente, à Avanca e Loureiro, em pensão de frutos e dinheiro, os seguintes lugares de Loureiro:

− Igreja (Loureiro), Louredo, Ervedal, Rua Nova, Arrota, Chão de Além, Contumil, Coxo, Feital, Forno, Freixo, Graciosa, Lumieira, Macieira, Minhoteira, Outeiro, Pinhal, Póvoa, Quintã, Tonce, Valverde e Vidigueira.

c) Passaram também a meeiros a UI e Loureiro, nas mesmas condições dos anteriores, mais os seguintes lugares de Loureiro:

− Adães, Avenal e SobraI.  / 20 /

2.º − A Igreja de Loureiro no Padroado Real, durante o regímen do constitucionalismo, desde os principios do século XIX.

a) Pelo Decreto de 5 de Agosto de 1833 ficou a Igreja de Loureiro do Padroado Real.

b) Pelas portarias do Governo de 20 de Junho de 1851 e 28 de Agosto de 1852, e Decreto do Bispo do Porto − Dom Jerónimo José da Costa Rebelo, de 6 de Setembro de 1852, deixaram de ser meeiros a Avanca os lugares de Loureiro, acima referidos, tendo assim voltado, civil e eclesiasticamente, à posse legítima e definitiva de Loureiro (27).

c) Pelo Decreto do Governo, de 20 de Junho de 1903, e Provisão do Bispo diocesano, de 22 de Dezembro, do mesmo ano, foram desanexados da freguesia de Loureiro os seus lugares de Adães, Avenal e Sobral, meeiros a UI e acima nomeados, e incorporados definitivamente na freguesia de Santa Maria de Ul.

Segue a transcrição do Decreto do Governo:

− «Tendo subido à Minha Real Presença a representação em que alguns moradores dos lugares do Sobral, Adães e Avenal, meeiros eclesiasticamente das freguesias de Santa Maria de UI e S. Joõo de Loureiro, concelho de Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, diocese do Porto, pedem a anexação, in totum, para os efeitos eclesiásticos, à Primeira daquelas freguesias; Mostrando-se do respectivo processo que a providência reclamada, tendente a fazer cessar uma anomalia de que resultam graves inconvenientes, é de grande vantagem para o bem estar espiritual e comodidade temporal dos habitantes dos ditos lugares que ficam mais próximos da paróquia de UI, sem que daí resulte prejuízo para a freguesia de S. João de Loureiro; Considerando que os sobreditos lugares, com outros da primeira das aludidas freguesias, constituem já para os efeitos administrativos uma paróquia civil; Conformando-Me com os pareceres das superiores auctoridades, eclesiástica e administrativa, e com a consulta unânime do Supremo Tribunal Administrativo; e Usando da autorização concedida na Carta de Lei, de quatro de Junho de mil oito centos e cincoenta e nove e no artigo terceiro, parágrafo quarto, número três do Código Administrativo: Hei por bem determinar que pelos meios competentes se proceda, para os efeitos eclesiásticos, a desanexação dos lugares do Sobral, Adães e Avenal, da freguesia de S. João de Loureiro, de que eram meeiros e à sua completa anexação à de Santa Maria de UI, ambas do concelho de Oliveira de Azeméis, / 21 / distrito de Aveiro, diocese do Porto, de modo a ficarem constituindo paróquia independente aqueles lugares e os que já pertenciam no todo à freguesia de UI.

O Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e de Justiça o tenha assim entendido e faça executar. Paço em 20 de Junho de mil novecentos e três. Rei. Artur Alberto de Campos Henriques. Está conforme. Direcção Geral dos Negócios Eclesiásticos em 20 de Julho de 19O3. − Miguel Maria Cândido.»

Transcrição da Provisão do Bispo do Porto:

«D. António José de Sousa Barroso, por mercê de Deus e da Santa Sé Apostólica, Bispo do Porto, Prelado Assistente ao Sólio Pontifício, do Conselho de Sua Magestade Fidelissima, Par do Reino, etc.

Fazemos saber que, pela Secretaria de Estado dos Negócios Eclesiásticos e 2.ª Repartição, nos foi dirigido um ofício em data de 20 de Julho de 19O3, remetendo-nos por cópia o Decreto de 20 de Junho do corrente ano, cujo teor dum e doutro é pela forma seguinte:

Oficio, «Ex.mo e Rev.mo Snr.: Tenho a honra de enviar a V. Ex.ª, para seu conhecimento e devidos efeitos, a inclusa cópia conforme ao Decreto, de 20 de Junho último, pelo qual foi determinado que pelos meios competentes se proceda para os efeitos eclesiásticos à desanexação dos logares do Sobral, Adães e Avenal da freguesia de S. João de Loureiro, de que eram meeiros, e à sua completa anexação à de Santa Maria de UI, ambas do Concelho de Oliveira de Azemeis, distrito de Aveiro, dessa Diocese, de modo a ficarem constituindo paróquia independente aqueles lugares e os que já pertenciam no todo à freguesia de UI. Deus Guarde a V. Ex.ª. − Direcção Geral dos Negócios Eclesiásticos em 20 de Julho de 1903. Ex.mo e Rev.mo Snr. Bispo da Diocese do Porto, Miguel Maria Candido.»

Decreto. Já supra transcrito.

Em virtude dos documentos transcritos:

Havemos por bem determinar que do dia primeiro de Janeiro próximo em diante todos os fogos dos lugares do Sobraol, Adães e Avenal que, até ao presente, eram meeiros entre as freguesias de Santa Maria de UI e S. João de Loureiro, concelho de Oliveira de Azemeis, ficarão pertencendo para os efeitos eclesiásticos, total, única e, exclusivamente à freguesia de Santa Maria de UI, pelo que retiramos e cassamos ao Reverendo Pároco presente ou futuro, colado ou encomendado, de / 22 / Loureiro, toda e qualquer jurisdição paroquial que sobre os ditos fogos tem exercido, e a transferimos toda para o Reverendo Pároco de UI, ficando em tudo o mais subsistindo os anteriores limites entre as duas freguesias.

Esta Nossa Provisão, depois de registada, será remetida ao Reverendo Vigário da Vara do 4.º Distrito da Feira para dar imediato conhecimento aos dois Reverendos Párocos, e com o  visto a entregará ao Reverendo Pároco de Loureiro para a registar no livro competente e com preferência no das Actas das Sessões da Junta, na primeira das quais a apresentará para conhecimento da mesma Junta. − Este Reverendo Pároco, com a nota de assim ter cumprido, entregará a Provisão antes do dia primeiro de Janeiro ao Rev.do Pároco de Ul, o qual, procedendo do mesmo modo que o de Loureiro, a arquivará no cartório da sua paróquia.

Dada no Porto e Paço Episcopal, sob Nosso Sinal e Selo de Nossas Armas aos 22 de Dezembro de 19O3.

+ Antonio, Bispo do Porto.»


IV

Reconstrução da velha Igreja e sua descrição depois de reconstruída.

A velha Igreja de Loureiro já ameaçava ruína nos fins do século XIX e, cada vez mais, no começo do século XX.

Era de urgente necessidade a construção de uma nova Igreja no mesmo local da velha, já danificada pelo tempo.

E o povo dê Loureiro, de crença firme e com verdadeiro amor à sua terra, acolheu com entusiasmo a ideia da construção de uma outra Igreja.

E daí a organização de uma Comissão de entre os paroquianos sob a presidência do zeloso Abade para angariar donativos para o custeio da obra empreendida e delineada pela mesma Comissão.

E assim:

a) Antes da reconstrução. Os habitantes da freguesia, de acordo e com autorização do seu Abade-Reverendo Manuel da Silva Laranjeira, deliberaram demolir a velha Igreja e, a seguir, reconstruí-la com a necessária segurança, amplitude e maior grandeza, como convinha à honra da terra, Assim cumpriram.

E, para o seu fim alvejado, a Comissão promoveu Cortejos de Oferendas que devem ser considerados «Cortejos de Amor de Deus». Revestiram esses Cortejos grandiosidade e religiosidade do bom povo de Loureiro para com a / 23 / sua Igreja − Casa de Deus, onde os fiéis se reúnem para tributarem homenagem a Deus e louvores a seus santos.

Nesses Cortejos tomaram parte bastantes carros alegóricos que despertaram brio e entusiasmo não somente nos moradores da freguesia, mas também no das terras vizinhas e próximas.

b) Reconstrução. Principiaram as escavações para os alicerces da nova Igreja em 18 de Setembro de 1924 e, depois de reedificada, foi aberta ao culto em 24 de Junho de 1929(28).

Este empreendimento, levado a efeito, só manifestou que os habitantes de Loureiro, com o seu generoso e ilustrado Abade, tem gravado no seu coração a ideia de Deus e os nobres sentimentos da Religião Católica.

E deste modo foram obedecidas e respeitadas as ordens do Reverendo Abade em benefício da Igreja e honra da freguesia de Loureiro.

c) Descrição depois de reconstruída. A Igreja de Loureiro com o seu frontispício revestido de azulejos de relevo, incluindo a fachada da torre em toda a sua altura, é grande e de aspecto imponente no seu conjunto. E o interior da mesma, modelado pelo estilo de D. João V, desperta devoção, e infunde respeito pela sua grandiosidade.

Chamam a atenção:

1) A Capela-mor, iluminada por quatro janelas (duas de cada lado) que inclui:

a) Altar dourado com Sacrário dourado.

b) Camarim com um Painel, representando o Orago − S. João Baptista a baptizar Cristo. À direita do Camarim está colocada a Imagem do Orago e, à esquerda, a de S. António.

c) Quatro janelas (duas de cada lado) como já se advertiu.

d) Porta que dá para a sacristia da Igreja, do lado sul.

2) O Interior do Corpo da Igreja que põe à vista:

a) Seis janelas (três de cada lado).

b) Dois Altares colaterais: À direita, um com as Imagens de Nossa Senhora e de Santa Teresa: e à esquerda, outro com as Imagens de S. José, Senhora de Fátima e S. Filomena.

c) Dois Altares laterais: Um, do lado do Evangelho com a Imagem do Senhor Crucificado, que é de vulto; / 24 / outro, à esquerda com as Imagens do Coração de Jesus, S. Sebastião e Santa Luzia.

d) Um coro e dois púlpitos.

e) Portas: A principal ao fundo da Igreja, e a travessa do lado norte.

f) As paredes em volta da Igreja, incluindo a Capela-mor, revestidas de azulejos, também de relevo, até metro e meio de altura.

3) Dependências da Igreja, a seguir à Sacristia, no sentido poente:

a) Casa da cera.

b) Casa das Associações de devoção e beneficência.


NOTA. − Essas dependências comunicam com o interior da Igreja − cada uma por sua porta e, com as mesmas, por portas interiores. A sacristia e a Casa das Associações tem cada uma a sua porta para o exterior, e também a Sua janela. É na sacristia da Igreja onde se guardam as vestimentas sacerdotais e as alfaias da Igreja.


NOTA APENDICULAR

No Livro das Visitações Pastorais da frequesia de Loureiro, desde 1698 a 1870, encontram-se censuras dos Visitadores diocesanos às faltas dos comendadores, ou administradores perpétuos, temporários, ou usufrutuários, da Igreja de Loureiro e de suas Capelas, no provimento das necessidades desta Igreja e Capelas, a que eram obrigados para decência das mesmas. E, a seguir a essas censuras, lêem-se as ordens terminantes ao Reverendo Pároco para oficiar ao respectivo beneficiado, participando as faltas e a necessidade de as remediar em prazo determinado sob pena de pesadas multas para a Sé e Meirinho, e ainda de sequestro nos seus bens.

A avaliar pelas censuras, determinações e ordens desses Visitadores, deduz-se que os comendadores, ou outros beneficiados com os mesmos encargos, pouco ou nada se interessavam com as supraditas necessidades, mas apenas com a recepção das rendas em frutos, pensões e outros direitos ou bens.

Era esse o espírito da época, bem pouco propício para a Igreja, e nada para os seus párocos.

E assim, o Reverendo Pároco tinha de viver contristado por ver a Igreja e Capelas da sua freguesia em deplorável estado por culpa dos beneficiados que comiam as rendas da Igreja sem consciência e sem vergonha! / 25 /

Comprovam o facto, além de outras, a Visitação a seguir transcrita:

«Visitação da Igreja de São João de Loureiro em 27 de Setembro de 1698.

O D.or Carlos da Rocha Pereira, Cónego prebendado na Sé do Porto e Visitador no espiritual e temporal desta Comarca da Feira pelo Il.mo Senhor Bispo Dom Frei José de Santa Maria...

Faço saber que visitando a Igreja de São João de Loureiro, no espiritual e temporal, em presença do Reverendo Pároco e maior parte dos fregueses, ordenei o seguinte...

Achei por vista de olhos necessitar-se muito de um Retábulo na Capela-mor; e é tão antiga esta necessidade, como são as repetidas Visitas em que se tem mandado fazer, sendo que as Rendas sempre foram em augmento, e as obras á Igreja necessarias em diminuição, pelo que mando se satisfaça com o dito Retabulo, sob pena de vinte mil reis para Sé e Meirinho dentro em um ano, os quaes se haverão pelos frutos desta Comenda, para que o Reverendo Pároco, sob pena de obediencia, notifique ao Rendeiro principal desta Comenda, para que logo avise ao Comendador com o treslado deste Capitolo para dar satisfação, na forma que se lhe tem mandado, pela fabrica não ser suficiente para a dita obra, e com certidão desta diligencia que atenderá ao pé desta Visitação.

Se, depois de feito o aviso a dois meses, se não der principio á dita obra, o Reverendo Pároco faça sequestro, em termo, na mão do Rendeiro desta freguesia em quantia suficiente para a dita obra, e remeterá certidão ao Reverendo Promotor da Justiça para requerer execução da pena e se mandar fazer o dito Retabulo por conta da dita renda.

O Reverendo Pároco leia e publique e passe certidão − tudo na forma do estilo.

São João de Loureiro, 27 de Setembro de 1698,

E eu Pantalião da Silva Vasconcelos, notario Ajudante e Secretario da Visitação a escrevi.

Carlos da Rocha Pereira». (L.º das Visitações Pastoraes de Loureiro, págs. 7, v., e 8). / 26 /


CAPÍTULO TERCEIRO

DAS CAPELAS DE LOUREIRO, SUA SITUAÇÃO
E MODIFICAÇÕES NO DECORRER DOS ANOS

1.ª)

A de Nossa Senhora da Lumieira

«Da milagrosa Imagem de Nossa Senhora da Lumieira, na freguesia de São João de Loureiro.

O Santuário de Nossa Senhora da Lumieira está situado em distância de dois tiros de espingarda da Paroquial Igreja de São João de Loureiro, que é anexa à freguesia de Avanca: e é tão antigo este Santuário que pelos anos de mil seiscentos e oitenta, pouco mais ou menos, se acharam uns Estatutos de uma Irmandade de Clérigos, que neles há, donde se viu que já haviam sido reformados, e deles constava o foram haverá quinhentos anos, ou quinhentos e tantos, e ainda hoje persevera a mesma Irmandade na referida Casa da Senhora. Porém, como esta Ermida era tão antiga, estava tão danificada que se temia que, qualquer dia, cairia de todo: o que vendo em Visita o Ilustríssimo bispo do Porto, o Snr. Dom Fernando Corrêa de Lacerda, mandou que os fregueses de São João de Loureiro, aos quais pertencia, a reedificassem e, não o querendo fazer, se demolisse e arrazasse. Em observância deste mandado do ilustríssimo Bispo, o Reitor que era naquele tempo da freguesia de Avanca, Francisco Guedes de Sousa, instou com os fregueses que quisessem reedificar a Casa da Senhora e que, para isso, ele lhe daria alguma ajuda, o que não pôde acabar com eles. E, nestes termos, lhes disse: «Que a Ermida senão havia de arruinar e arrazar no seu tempo: que desistissem dela e que ele a reedificaria á sua custa», o que eles alegremente aceitaram (mas tudo isto foi maravilha da Senhora, porque nunca fariam cousa que luzisse). À vista desta desistência, mandou o Reitor fazer novamente com toda a perfeição e grandeza, como ao presente se está vendo, porque é uma formosa Igreja com Capela-mor e três Altares, púlpito, duas Sacristias, caixões de pau preto e grade − tudo bronzeado; e deu para a Irmandade todo o necessário por uma só vez somente e os Irmãos dela, que hão-de ser duzentos Eclesiásticos a lhe fazerem, todos os anos, um Ofício por sua alma. A Imagem da Senhora é de vulto e terá quatro para cinco palmos de estatura: não tem vestidos, nem lhe eram precisos por ser de / 27 / perfeitíssima escultura de pedra: e é a mesma da fundação. porque não consta que houvesse outra: não se sabe se apareceu, ou se se mandou fazer. Também não consta quem fosse o primeiro que mandou fazer a primeira Casa da Senhora, nem do motivo que houve para ali lhe dedicarem aquele Santuário. Está muito bem estofada e recolhida em um nicho do Retábulo e fechada com vidraça, porque em tudo mostrou o tal Reitor, a generosidade do seu ânimo e grandeza da sua devoção: e assim é esta Santíssima Imagem muito venerada: está na Capela-mor: nos dois Altares colaterais está em um, São Francisco e, no outro, São José. Tem este Santuário três portas com a principal, e um grande tabuleiro com três escadas em esquadria: tudo se vê obrado com grande perfeição e asseio e não pequena grandeza.

Tem também a Senhora um grande rocio ao redor da sua casa com muitos arvoredos de várias árvores e, nesta, grande praça, há todos os meses feira a seis de cada mês e, fora desta hão mais duas no ano − uma na primeira oitava, da Páscoa, e outra em quatorze de Setembro, aonde correm mercadores de todo o Reino; e para estas feiras mandou fazer o Reitor, por seu zelo e devoção da Senhora, uns alpendres para os mercadores se recolherem com suas fazendas, de que paga cada um seiscentos reis por cada feira, que renderão cada ano vinte cinco mil reis pouco mais ou menos; e os estercos das feiras se recolhem para estercar uma quinta que o Reitor mandou tapar pegada à Ermida da Senhora, aonde têm umas casas nobres e pombal, e toda é murada em altura de dez palmos, e tinha já para ela encanada uma água que já entrava dentro, a qual, com a sua morte, se não acabou, e está o cano, já hoje, danificado.

Deixou o mesmo Reitor na referida Igreja da Senhora uma missa quotidiana e, para esse efeito, lhe avinculou todos os seus bens de raiz que possuía que são estes da Ermida, e outra quinta que possui a na freguesia de Avanca que rende em dinheiro, cada ano, trinta e cinco mil reis, e umas escrituras de pão de renda; e, por sua morte, deixou por Administrador dela a seu sobrinho Pedro Teixeira Cabral de Azevedo, de Vila Real, e a missa se continua.

Obra esta Senhora muitas e grandes maravilhas, e assim é muito frequentado aquele Santuário pelos seus devotos que a vão buscar e pedir-lhe o remédio de seus trabalhos e necessidades; e, no dia da sua festividade é muito grande o concurso de gente, e então vão muitos a pagar-lhe os seus votos e promessas e outros a oferecer-lhe o que podem. E assim é muito o que estas cousas rendem ao Pároco.

Desta Senhora nos deu notícia o Pároco de Avanca que existe ao presente, que não nos declarou e o fez por intervenção de um Cónego do Convento de Grijó. (Santuário / 28 / Mariano de Frei AGOSTINHO DE SANTA MARIA. Livro V, título XI, pág. 525). Lisboa, 1716.»

NOTA. − Numa cópia idêntica, escrita no Livro das Visitações Pastorais de Loureiro, págs. 267 e 268, lê-se no final da mesma: «E mais nada constava do dito Livro, que fielmente copiei. Serém, 18 de Novembro de 1820. Frei Matias das Dores. E eu Agostinho António Tavares, actual Cura desta freguesia de São João de Loureiro, o lancei neste Livro para memória desta fundação, e para se saber qual é o Vínculo desta Capela, e quem são os possuidores dele que actualmente é o Morgado de São João da Madeira.

 

2.ª)

Capela de Santo António da Graciosa com sua Nota Histórica

a) Sua edificação. No princípio do século XVII, como é de crer, foi edificada a Capela de S. António na povoação da Graciosa e, no dia da sua inauguração, transferida para a mesma, a Imagem de Santo António, da antiga Ermida do lugar de Tonce.

b) Suas imagens. Esta Capela tem só um Altar com a Imagem de Santo António, de pedra, de um metro de altura e a de São Pedro, do lado esquerdo, e a do Coração de Jesus entre as duas.

Na parte lateral, à esquerda, vê-se outra pequena Imagem de Santo António também de pedra, e a da Senhora da Conceição, de barro. Tem quatro frestas (duas de cada lado), e do lado direito uma sacristia com janela, e uma porta de saída.

Foi mandada reedificar no ano de 1789, e prover de vestimentas e outras alfaias para a celebração do Santo Sacrifício da Missa (29).

Nota Histórica. O Santuário primitivo de Santo António, da freguesia de Loureiro, foi uma Ermida, da invocação do mesmo Santo, no lugar de Tonce, que esteve aberta ao culto, desde tempos recuados, até ao seu abandono nos meados do século XVIII. É de crer que essa Ermida tivesse sido fundada a impetração dos progenitores de Aldonça Esteves, dona de Tonce, os quais, além de nobres Cavaleiros da Ordem militar de Cristo, foram também senhores de Tonce. E isto no reinado de D. Sancho lI, quando, da canonização de Santo António em 1232, no Pontificado de Gregório IX. Esta suposição deduz-se do facto de, já nessa época, ter o povo grande fé e devoção nos altos merecimentos do imortal taumaturgo português. / 29 /

Fazem referência à primitiva instituição da Ermida de Santo António e sua estabilidade no lugar de Tonce até aos meados do século XVII:

a) Catálogo dos Bispos do Porto por D. RODRIGO DA CUNHA, de 1623 (II Parte), pág. 387.

b) Anacrisis Historial por MANUEL PEREIRA NOVAIS, de 1690 (II Parte), vol. IV, pág. 201.

c) Corografia Portuguesa do P.e ANTÓNIO DE CARVALHO DA COSTA, de 1707, pág. 169.


3.ª)

Capela de N.ª Senhora da Esperança da Quintã

A Capela de N.ª Senhora da Esperança, outrora Ermida, está situada em lugar vistoso, denominado Quintã, com frente para um caminho, pouco transitável. Próximo da Capela, vê-se erecto um Cruzeiro de pedra com a data de 1910, para as procissões religiosas.

Esclarecimentos necessários e oportunos.

a) Imagem de N.ª Senhora da Esperança coectânea da de Santo António na primitiva Ermida de Tonce.

Quando da inauguração da medieva Ermida de Tonce, com a invocação de Santo António, nos meados do século XIII, também na ocasião foi colocada na mesma Ermida, em Altar próprio, a Imagem de Nossa Senhora da Esperança.

b) As Imagens de Santo António e de N.ª Senhora da Esperança, transferidas da Ermida de Tonce para novas Ermidas de sua invocação.

Apesar da transferência da Imagem de Santo António da sua primitiva Ermida de Tonce para a sua nova Ermida no lugar da Graciosa, nos meados do século XVII, a Imagem de N.ª Senhora da Esperança continuou na Ermida de Tonce com o título de N.ª Senhora da Esperança, de Tonce(30); até à sua transferência definitiva para nova Ermida, de sua invocação, mandada edificar no lugar da Quintã no primeiro quartel do século XIX, e inaugurada com a celebração da primeira Missa, no dia 23 de Setembro de 1821, mediante um Breve Pontifício conseguido pelo Reitor de Lordelo, Reverendo Boaventura José de Brito (31)

c) Reforma da Ermida da Quintã e sequente descrição.

Como a Ermida da Quintã fosse acanhada, um devoto / 30 / de N.ª Senhora da Esperança, de nome Custódio José dos Santos Coimbra, mandou reformá-la à sua custa no ano de 1906, tendo ficado, desde esse ano, transformada em Capela, com a mesma invocação.

O mesmo devoto, para educação e instrução religiosas, avivar a fé e aumentar a devoção dos fiéis, mandou ainda acrescentar um púlpito e coro, fazer abertura de uma porta, do lado esquerdo para sacristia, a qual ainda não tem porta por capricho tolo do dono do terreno pegado à Capela, em não ceder terreno para a construção da necessária sacristia.

Mais outros melhoramentos:

Mandou pintar no frontal da banqueta do Altar, da mesma Capela, as seguintes imagens:

− A de Santo António, segurando uma cruz com a mão direita;

− A de Santa Ana, apertando um ramo de flores com a mão direita;

− A de Santo Amaro, discípulo de S. Bento, empunhando um báculo com a mão esquerda, e com a direita livre para espargir bênçãos pelos monges beneditinos a seu cuidado.

Esta Capela rústica foi construída, no lugar da Quintã, por iniciativa e sentimentos religiosos dos habitantes do mesmo lugar que a dedicaram à excelsa Mãe de Deus com o título de «Nossa Senhora da Esperança».

NOTA. O supra mencionado nome − Quintã, povoação de hoje, teve, em tempos recuados, as denominações de «quimtam de João Dipres» e de «quinta», como consta de documentos autênticos.

E assim:

− Faz referência à primeira − um «Manuscrito da Torre do Tombo, publicado no Archivo Historico Português, vol. VI, n.º 7 − Julho de 1908, que diz: «...Aldea de Loureiro e sua freguesia, 49 (visinhos), com a quimtam de João Dipres».

− Faz referência a segunda denominação − o Livro das Visitações Pastoraes de Loureiro, pago 140, que diz: «Aos vinte e tres de Setembro de mil oito centos vinte e hum se celebrou a primeira Missa em hum Oratorio na Quinta chamado do Ribeiro sita na Rua nova desta freguesia de São João de Loureiro por hum Breve, que para isso alcançou o Reverendo Reitor de Lordelo − Boaventura José de Brito. Do qual fiz este Assento que assinei.

Loureiro, era ut supra. O Cura Agostinho Antonio Tavares».

Do exposto vê-se:

a) «Quimtam de João Dipres» foi, nesse tempo (1537) uma grande quinta, como indica o próprio termo − quimtam por quintão − gr'ande quinta, e seu senhorio − João Dipres, que era certamente estrangeiro.

Um dos escultores do altar mor da Sé Velha de Coimbra, gótico, era justamente um João de Ypres. Até que ponto as duas personagens podem coincidir, não ê fácil, por enquanto, verificar-se.

b) Antes do século XIX, não existiu, em Loureiro, povoação com o nome de Quintã. Nesse tempo o local da Quintã, depois povoação, era uma propriedade rústica com casa de habitação denominada quinta, então uma parte do lugar da Rua Nova.

E a quinta, a que se alude, com novas edificações nos tempos contemporâneos, constituiu um agregado de casas, de proprietários diversos, tendo assim formado uma povoação que tomou o nome de Quintã.  / 31 /


CAPÍTULO QUARTO

DA DISTRIBUIÇÃO DE PODERES COM SUBORDINAÇÃO DE AUTORIDADE, QUER NA IGREJA QUER NA POLÍTICA, REFERENTE À FREGUESIA DE LOUREIRO

Sua submissão e subordinação às Instituições Eclesiástico-diocesanas e sujeição às Instituições Politico-administrativas. − Sua população. Seus melhoramentos.

Uma digressão. Enquanto a humanidade existir, haverá sempre governantes e governados, superiores com súbditos e subordinados e, como consequência evidente e inevitável para o bem comum, autoridade com direito de se fazer obedecer e respeitar para ter a sujeição, submissão e subordinação dos povos dentro das normas e prescrições dimanadas do Poder legislativo que tem o cuidado da comunidade. De contrário, seria impossível a vida do homem sobre a Terra, tanto no espiritual como no temporal.

I

A Igreja de Loureiro, da jurisdição do Bispo do Porto, a que sempre tem estado submetida e subordinada.

1.º − A freguesia de Loureiro na hierarquia eclesiásttca:

a) O Bispo do Porto, para o bom governo da Diocese, além da sua cúria episcopal, conserva delegados seus nos distritos eclesiásticos denominados comarcas eclesiásticas (hoje vigairarias). A Igreja de Loureiro foi da Comarca eclesiástica da Feira(32) desde tempos remotos até aos princípios do século XX, e actualmente é da Vigairaria de Oliveira de Azeméis.

b) Os párocos de Loureiro tinham o título de Curas, e eram de nomeação do Bispo, quando encomendados; e de apresentação do Reitor de Avanca, quando para a colação, precedendo sempre informação do Bispo sobre a idoneidade do opositor.

c) Relação dos nomes dos Curas de Loureiro no tempo do Padroado do Reitor de Avanca.

Em 1689 − Manuel Gomes.

Em 1701 − João de Barros Nogueira.

Em 1702 − António Pinheiro Enes.  / 32 /

Em 1703 − Manuel Gomes.

Em 1705 − Manuel Dias Antão.

Em 1707 − Manuel Soares.

Em 1710 − Manuel Marques Rodrigues.

Em 1723 − Fernando Pereira de Pinho.

Em 1730 − Gabriel Dias de São Francisco.

Em 1734 − Marçal Gomes de Carvalho.

Em 1744 − Manuel de Almeida Valente.

Em 1746 − António Correia Alves.

Em 1752 − Manuel da Silva Pereira.

Em 1756 − Manuel Soares dos Anjos.

Em 1769 − José Pinto Ferreira.

Em 1772 − Manuel José da Silva Figueiredo.

Em 1780 − Joaquim da Silva.

Em 1807 − Manuel da Silva Costa.

Em 1817 − Agostinho António Tavares.

Em 1840 − Manuel José da Silva Soares.


d) Relação dos nomes dos Párocos de Loureiro no tempo do Padroado Real.

Francisco Joaquim da Costa (colado).

Francisco José Nunes (encomendado).

António de Oliveira Amaral (colado).

Serafim Leite da Silva (encomendado).

Manuel Marques Capeleiro (encomendado).

Joaquim Manuel Marques de Pinho (colado).

Manuel da Silva Laranjeira (actual pároco encomendado).


2.º − A freguesia de Loureiro na política:

a) Pertenceu a freguesia de S. João de Loureiro ao antiquíssimo Concelho de Bemposta, que, de princípio, foi da comarca da Feira, a seguir, da de Esgueira e, actualmente, da de Oliveira de Azeméis. Nos tempos longe idos, compreendia onze freguesias, incluindo a de Loureiro, tais eram(33): Loureiro, Bedoído, Avanca, Pereira (S. Viel), Madail, Pindelo, Souto, S. Félix, Espargo, Gandra, Cabanões. Assim o confirma o «Registo das çidades, vilas e logares que ha em a comarqua da Estremadura» feito por ordem do rei (D. João III) em 1527, que diz: «... Aldea de Loureiro e sua fregesia, 49 (visinhos ou fogos), com a quimtam de João Dipres» (34), como já se notou. / 33 / [Vol. XV - N.º 57 - 1949]

b) Extinto o Concelho de Bemposta por Decreto de 24 de Setembro de 1855, passou Loureiro, desde então, para o Concelho de Oliveira de Azeméis, criado por Alvará de 5 de Janeiro de 1779, passado em nome da Rainha D. Maria I (a Piedosa).

E assim. Loureiro teve de acatar e considerar não só o Decreto do Bispo do Porto referente à sua Igreja, mas também a Reforma Política Administrativa dimanada do Governo.

Em tempo. O lugar de Contumil, de Loureiro, foi abrangido pelo Foral de Bemposta e Figueiredo, outorgado em Lisboa pelo Rei D. Manuel I, a 15 de Agosto de 1514. Esse Foral mencionava, então, os casais e foreiros de Contumil(35).

II

Sua população.

Números estatísticos (36)
 

 
ANO FOGOS ALMAS
1527 49
1623 49 324
1707 210
1788 502 1608
1864 502 2192
1878 502 2283
1900 502 2668
1918 709 2200
1928 700 2900
1938 716 3000
1947 746 3200
 

III

Seus melhoramentos.

A terra de Loureiro, pela sua importância, possui e goza bastantes melhoramentos.

São eles:

1.º − Mercantis (feiras e mercado).

Para transacções mercantis em Loureiro realizam-se, desde séculos, feiras e mercado em local e dias determinados. / 34 / Esse local é a povoação da Lumieira, e os dias como segue:

a) Mercado mensal no dia 6 de cada mês, não sendo dia santo de Preceito.

b) Feira anual na Oitava da Páscoa (Feira da Lumieira da Páscoa).

c) Feira anual de 14 de Setembro (Feira dos Poldrões) (37).

NOTA − O dia 6 de cada mês, ainda que coincidisse com dia santo de Preceito, foi sempre o dia do mercado até ao ano de 1690. Nesse ano de 1690, o Visitador Diocesano, na sua Visita Pastoral à Igreja de S. João de Loureiro no dia 24 de Maio, determinou que, quando o dia 6 coincidisse com dia santo de preceito, fosse transferido o mercado para o dia, ou dias imediatos que não fossem dias santos de preceito (38). E esta determinação, desde esse dia, tem sido cumprida religiosamente.

Mais: A feira anual, de 14 de Setembro, em Lumieira de Loureiro, teve de começo o nome de «Feira dos Poldrões», por o artigo mais importante, que nela se mercadeja, serem potros ou poldros. Porém o povo feirante, na sua inconsciência deturpou a expressão Poldrões para Perdões, como seja crivel haver ali uma Feira de Perdões!

Uma Feira de Perdões na terra de Loureiro não deixaria de ter a sua graça!!! Irribus!


2.º − Industriais.

Conta a freguesia de Loureiro dois estabelecimentos fabris, de onde deriva a produção dos meios necessários para a vida dos seus proprietários e operários.

São eles:

a) Fábrica de curtumes. Foi criada no ano de 1925 por Joaquim Maria de Oliveira, que continua actualmente seu director. Emprega 20 operários, e fabrica especialmente − acamurçados, atanados, carneiras, pelicas, seleiro, solas, etc.

b) Fábrica de serração de madeira. Foi criada em 1942 por Amadeu Soares de Amorim e seu irmão António Soares de Amorim que, passados três anos, cedeu àquele a sua cota parte. Teve o seu início, oficial, em 20 de Janeiro de 1943. Conta 9 operários, mas pode dar trabalho a 17. É seu único proprietário e director o supradito Amadeu Soares de Amorim.

 

3.º − Correio.

Para o serviço de correspondência pública e particular:

a) Estação do correio com telefone no lugar de Lumieira.

b) Caixa postal nos lugares seguintes: Contumil, Macieira, Outeiro, Pinhal, Tonce, Vidigueira e Loureiro. / 35 /

4.º − Escolas primárias oficiais.

Para o ensino das crianças − tanto no intelectual como no moral:

a) Na povoação da Lumieira − uma do sexo masculino e outra do feminino.

b) − Na povoação de Contumil − uma para os dois sexos (Escola mista).


5.º − Registo Civil (posto de)

Este Posto tem por fim registar os factos mais importantes da vida do povo da terra, como sejam − nascimentos, casamentos e óbitos. Desde a sua criação até ao presente, tem exercido o cargo de Ajudante − António Rodrigues de Pinho, professor primário da freguesia. Está o Posto situado no lugar da Rua Nova.

 

6.º − Artísticos (Filarmónica).

Algumas pessoas de Loureiro, apreciadoras de música e amigas da sua terra, querendo mais um outro melhoramento para a sua freguesia, sugeriram a instituição de uma filarmónica. E esta sua ideia causou viva sensação nos habitantes de Loureiro pela importância do novo melhoramento que logo aplaudiram sem divergências de opinião.

E daí:

a) − A criação da Filarmónica em o ano de 1899, tendo por organizadores − João Valente Queirós, Manuel Alves de Oliveira Figueiredo e Manuel Maria Gonçalves, sob a direcção de Manuel Pedro, de Pardilhó, seu primeiro Instrutor e Regente.

b) A sua estreia no dia 6 de Janeiro, do ano seguinte, tendo ido percorrer os lugares da freguesia a dar a cada uma das suas Casas as Boas Entradas do Novo Ano e as Boas Entradas da Nova Filarmónica para adquirir donativos para pagamento do seu instrumental.

Conta actualmente 28 componentes.

Actualmente é seu Regente − José Rodrigues de Pinho, de Válega.


CAPÍTULO QUINTO

DE PERSONAGENS DE LOUREIRO

Conta a freguesia de Loureiro dois Homens notáveis − um, como Bispo no último quartel do século XVIII; outro, como Estadista na primeira metade do século XX. / 36 /

Seguem os nomes:

1.º − D. FREI CAETANO BRANDÃO, professo da Terceira Ordem da Penitência, no Colégio de S. Pedro, em Coimbra.


Formou-se em Teologia na Universidade de Coimbra. Pelo seu carácter elevado, prestígio moral e intelectual, foi eleito Bispo do Pará em 17j82, e Arcebispo de Braga em 1789.

/ 37 /

Passou a sua vida na prática da Religião e da Caridade, exortando o povo ao cumprimento dos seus deveres, tanto na Igreja como fora dela.

E assim dão testemunho da sua fé, piedade e devoção, a sua actuação religiosa, escritos e benemerências, a seguir transcritas (39):

a) Quando Religioso e Sacerdote:

− Leitor (Mestre) de Teologia em Évora;

− Orador sagrado de grande nomeada.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

b) Quando Bispo do Pará:

− Pastoral sobre a educação das crianças;

− Circulares e avisos pastorais;

− Instruções aos visitadores diocesanos e ao clero;

− Fundação, edificação e dotação de um hospital destinado a doentes pobres, mediante esmolas conseguidas a seu pedido.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

c) Quando Arcebispo de Braga:

− Pastoral contra as máximas do filosofismo francês;

− Instituição de três escolas para meninas aprenderem a fiar e costurar em roupas brancas;

− Fundação do Seminário dos Órfãos de S. Caetano.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Advertência. Na casa onde nasceu Caetano Brandão, a Junta da Freguesia deve mandar colocar uma lápide evocativa com a seguinte inscrição:

«In Nomine Domini.

Nesta casa nasceu, em 11 de Setembro

de 1740, Caetano Brandão que

foi Bispo do Pará, e depois Arcebispo de Braga, onde faleceu.

Homenagem
da
Junta da Freguesia de Loureiro
1949»


2.º − Conselheiro ALBINO SOARES PINTO DOS REIS.

− Cursou a Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito.

Amigo da sua terra de Loureiro e do seu concelho, tem defendido sempre os interesses da mesma terra e concelho e contribuído com a sua influência política para os seus progressos. / 38 / Pelo seu prestígio pessoal e político tem sido levado a exercer os seguintes cargos públicos:

− Presidente da Câmara de Oliveira de Azeméis;

− Governador Civil de Coimbra;

− Juiz do Supremo Tribunal Administrativo;

− Ministro do Interior;

− Presidente da Assembleia Nacional.


NOTA FINAL

Para não avolumar este breve estudo sobre Loureiro não demos maior desenvolvimento à biografia de D. Frei Caetano Brandão, mas lembramos ao leitor curioso as Memórias da Vida do Venerando Arcebispo D. Frei Caetano Brandão por ANTÓNIO CAETANO DO AMARAL, onde encontrará a história da vida desse grande Arcebispo que foi, como o seu predecessor D. Frei Bartolomeu dos Mártires, honra da Pátria e glória da Igreja. Dessa obra ê extraída a gravura que acima reproduzimos.

P.e JOÃO DOMINGUES AREDE

_________________________________________

(1) Portug. M. Hist. - Dipl. et Chartae. Doc. CLXVII.

 

(2) lbidem, pág. 291, em nota. 

(3) − De caminho ladeado de casas. CÂNDIDO DE FIGUEIREDO, «Novo Dic.º, vol II, pág. 639.

(4) Tentativa, já citada, vol. II, pág. 252. «Novo Dic.º» de CÂNDIDO DE FIGUEIREDO, vol. I, pág. 189.

(5)Abade do Baçal, Mem. Arq. Hist. de Bragança, tomo X, pág. 109.  

(6)Tentativa, já citada, vol. II, pág. 51.

(7)Ibidem, voI. II, pág. 123.

(8)Mem. Arq. Hist. de Bragança, já. citadas, tomo X, pág. 117. 

(9) Ibidem, vol. II, pág. 280.  

(10)Dicionário, já citado, vol. lI, pág. 283.

(11)Tentativa, etc., vol. lI, pág. 33.

(12)Doc. n.º CLXVII. Vol. I, Diplom. et Chartae, pág. 103.

(13)A Raça Germânica compreendia os seguintes Povos: Vândalos, Suevos, Alemães, Borguinhões, Francos, Saxões, Anglos, Hérulos, Lombardos, Godos, Dinamarqueses.

(14)Cos − abreviatura de Cum eis (praesentibus).

(15)A vila Tanuz (Tonce) devia ter sido urbana que não rústica ou frutuária, e possuidora de palacete habitado por senhorio. Isto deduz-se do facto das pessoas nobres, adiante nomeadas, terem sido senhoras de Tonce.

(16)Tentativa Etimológico-toponimica, já citada, voI. II, pag. 263.   

(17)Meirínho-mor − magistrado judicial que protegia a Igreja e Mosteiros. Hist. da Igreja em Portugal, de FORTUNATO DE ALMEIDA, vol. I, pág. 226.

(18) − Os Cavaleiros eram obrigados a proteger os peregrinos que demandavam os Santos Lugares (Terra Santa) e combater os infiéis.

(19) Livro Preto de Grijó, folhas 19, citado no Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. IX, pág. 51.

(20) Tentativa, já citada, Vol. II, pág. 309.

(21) Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. lI, pág. 72.  

(22) Bula do Papa Leão X − «Dudum certis ex causis» de 7 de Agosto de 1520.  

(23) Hist. da Igreja em Portugal, já citada, livro 2, pág. 170, que menciona a espécie de rendas que recebia a Ordem militar de Cristo, lá possuidora dos bens da Ordem do Templo, desde o ano de 1319, sendo de presumir que o supradito casal continuasse a pagar à Ordem militar de Cristo renda igual à da Ordem do Templo, que era preciso, nessa época, para ocorrer às enormes despesas da descoberta e conquista das costas de África empreendidas pelo Infante D. Henrique, filho de el-rei D. João I. 

(24) Censual do Cabido da Sé do Porto, pág. 547.   

(25) − Hist. da Igreja em Portugal, tomo 2, pág. 615.  

(26) Descrição da Cidade do Porto, por AGOSTINHO R. DA COSTA, pág.139.   

(27) L.º das Visitações Pastorais de Loureiro, arquivado na residência do Abade da mesma freguesia, pág. 165. 

(28) Livro das Visitações, já citado, pág. 273.

(29) L.º das Visitações Pastorais, já citado, a pág. 120.

(30) Livro das Visitações Pastoraes de Loureiro, págs. 64 e 107, vols. referentes aos anos de 1746 e 1779.

(31) Ibidem, pág. 146.

(32) L.º das Visitações Pastorais de Loureiro, pág. 16 e seguintes.

(33) Arquivo do Distrito de Aveiro, vol. XII, pág. 277.

(34)) Manuscrito da Torre do Tombo, publicado no Arquivo Histórico Português, vol. VI, n.º 7 − Julho de 1908, Arquivo do Distrito de Aveiro, Vol. XIV, pág. 136.

(35) Anaes do Município de Oliveira de Azeméis, pág. 318

(36) Anais, já citados, págs. 156 e 315; Catálogo dos Bispos do Porto, pág.387; Corografia Portuguesa do P.e AGOSTINHO REBELO DA COSTA, pág. 169; Descrição da Cidade do Porto, pág. 129, e Livros do Registo paroquial desde o ano de 19I8 a 1947.

(37) Poldrões − gado novo da espécie cavalar: potro. (Do latim rústico − pottrum).

(38) Livro das Visitações Pastoraes, já citado, pág. 1, verso.

(39)Tomo IV, Parte IV da Hist. da Igreja em Portugal, já citada, págs. 87, 362, 363, 364 e 365.

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