PUBLICA o Arquivo do Distrito de Aveiro,
n.º 40, a páginas 243 e seguintes, um extenso artigo, póstumo, de FRANCISCO DE MOURA COUTINHO, intitulado «Casa
Solar da Oliveirinha».
Para falar dos antepassados do falecido conselheiro José Luciano de
Castro, jurisconsulto e derradeiro primaz do partido progressista,
trouxe à baila vários Morgados de Pigeiros, seus irmãos e gentes que com
o deles caldearam seus sangues. Tinha que ser assim mesmo.
Falou de Salvador da Rocha Tavares Pereira Corte Real, mas não anotou o
que dele diz a Biblioteca Lusitana, vol. 3º, pág. 658 da sua última
edição. Pois valia a pena, por não ter sido ele um morgado qualquer,
bronco, analfabeto, empertigado. Frequentou na Universidade de Coimbra,
saído do Colégio dos Jesuítas, no Porto, os estudos do direito
pontifício, que não concluiu por falecimento de seu pai, Manuel Tavares
da Rocha casado com D. Maria Ana de Matos Soares da Fonseca, Morgado de
Pigeiros, que veio a ser por demanda ganha. Da sua actividade
intelectual deixou um trabalho: «−Genealogia da Nobreza da Comarca da
Feira, e Província de Entre-Douro, e Minho, onde se trata historicamente os
principios della e dos Infanções em particular−». Faleceu em 5 de
Dezembro de 1748 e jaz na sua Capela de Pigeiros, panteão da família.
Casado com D. Ana Maria de Sousa Vareiro e Ávila, segundo uns
apontamentos que me deu o ex.mo senhor Conde de Fijô, foi pai de
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filhos, mas só tenho conhecimento de 8
que foram:
Manuel Alberto, que foi o Morgado;
Dionísio Caetano, abade de Folgosa, na comarca da Maia e que faleceu em 25 de Abril de 1783;
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José Bernardo, na religião de S. Bento frei José de Santana Tavares e
que foi abade de S. Romão de Neiva;
João Carlos, abade de Pigeiros;
António Caetano, freire de Avis e Prior de Penela;
Francisco Joaquim,
Sargento-Mor da Vila da Feira;
Mariana Josefa Crisóstoma, que teve
casamento contratado com o Morgado de Pereira, Cristóvão Babo Machado
Pereira de Bulhões;
Paula Ana Joaquina, nascida em 13 de Maio de 1726,
casada com António Lourenço Forjaz.
O sexto filho de Salvador de Matos, Francisco Joaquim Tavares Corte
Real, teve de sua mulher, D. Violante Luísa Pereira de Castro Guedes
Pinto, senhora da Casa de Fijô,
teve, disse, oito filhos, sendo um deles o que interessa recordar:
João de Castro da Rocha Tavares Pereira Corte Real, Sargento-Mor de Ovar,
que o foi de 1785 a 97 e Capitão-Mor
da Vila da Feira, Juiz Almoxarife dos Direitos Reais, casado
com sua prima D. Antónia Luísa Angélica de Matos, de
Beduído, filha de Manuel Sérgio da Rocha Pinto Coelho de
Azevedo e de D. Maria Teresa Sofia de Figueiredo, teve os seguintes
filhos:
António de Castro Correia, ou Curveira, Corte Real,
casado com D. Emília de Jesus Lobo Caldas;
Dr. João de Castro Tavares Corte Real, de quem nos
ocuparemos;
Francisco Joaquim de Castro Pereira Corte Real, casado
na Oliveirinha.
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O Dr. João de Castro, fidalgo de cota de armas
−
(carta
de 20 de Fevereiro de 1825) bacharel em direito e Juiz de Fora em
Oeiras, casou com D. Máxima de Castro Corte Real,
filha de José António da Cunha e de D. Angélica Rosa da Cunha, natural
de Lisboa.
Deste consórcio, aos seis de Maio de 1823, nasceu ao Arco do Bandeira,
na capital, João de Castro Pereira Corte Real.
Seu pai, acérrimo miguelista, só veio para a Vila da
Feira, sua terra natal, embarcando no iate «Salvador», a 15 de Dezembro
de 1834, chegando a Fijô a 25, quando os liberais ditavam as leis ao
país. Advogou, fixando-se mais tarde,
no Lugar de Campos da mesma Vila, e faleceu no Porto,
em 8 de Maio de 1857, sendo depois trazido para Ovar.
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João de Castro casou na Igreja da Feira em 12 de Fevereiro de 1842, com D. Rita Augusta de Sequeira Monterroso
e veio viver
para Ovar, nesse ano ainda, fixando-se na Quinta da Devesa, na Rua da
Fonte, pois em 5 de Outubro requereu à Câmara para ser domiciliado,
neste concelho.
Por sua mulher, ligou-se à família do então Vigário de
Ovar, Joaquim de Sequeira Monterroso e Melo, personagem pouco simpática
aos colegas e à maioria dos seus paroquianos, pelo seu feitio pessoal,
pelo pouco cuidado que punha, sem interesse algum, nas coisas da Igreja
e ainda por se ter metido na política, o que o levou a exilar-se. Este
Vigário, que sucedera imediatamente a seu Tio, o João de Sequeira, era
bem a antítese deste, que era cuidadoso, conciliador, desinteressado e a
cujos desvelos, iniciativa e trabalhos os pobres devem o hospital.
A senhora D. Rita era filha de Gonçalo de Sequeira Monterroso e Melo,
irmão e sobrinho dos Vigários já nomeados e de sua mulher D. Catarina Josefa de Morais Botelho
e Castro; neta paterna de José de Sequeira
Monterrosos e
Melo, Sargento-Mor da Feira por Carta de 24 de Novembro
de 1775, por desistência de seu pai, António de Sequeira Vasconcelos
Monterroso, e de D. Francisca Rita de Morais e Melo e irmã de José Maria
de Sequeira Monterrosos e Melo, que casou em Ovar, com D. Augusta
Elvira de Oliveira Cardoso, filha do Dr. Serafim de Oliveira Cardoso, pessoa grada da Vila, e de D. Maria Cândida Luísa Pinto Brandão Pereira
Baldaia, que vinha, por seu pai, dos Pintos de Paramos e, por sua mãe,
dos Baldaias de Cabanões.
João de Castro, que fora com o padre Manuel Gomes Coentro, este, mais
tarde, muito da intimidade da família do estadista José Luciano, e
director do Asilo D. Maria Pia, em Lisboa, e que faleceu em 7 de
Fevereiro de 1911, sendo sepultado em Ovar três dias depois, João de
Castro, dizíamos, que fora um dos empreiteiros da construção do lanço do
Caminho de Ferro Coimbra-Gaia, metera-se na política local, obedecendo
à sina da família. Isto em falas de cotio, quer dizer, muito à puridade,
que se encafuou numa camisa de onze varas.
Cireneu, mais do que isso, conselheiro e guia, esteve a seu lado e
sobreviveu-lhe, o cirurgião JOÃO FREDERICO TEIXEIRA DE PINHO, o autor das
Memórias e Datas, trabalho ainda hoje
procurado e muito decalcado por quantos pretendem saber e dizer alguma
coisa do passado desta terra de Ulvar-Var ou Ovar, pessoa muito
inteligente e culta, de carácter nitidamente autoritário a queimar-se por dois amores: o da sua
terra e o da sua pessoa.
João de Castro foi pela primeira vez presidente da Câmara no ano de 1858
e nesse lugar se conservou até o
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de 1865, sucedendo-lhe em 66 o seu figadal inimigo político,
Dr. Manuel d'Oliveira Arala e Costa. A luta entre ambos foi séria. Para
o derrubar, o Dr. Arala deitou mão de vários meios, acabando por
promover uma manifestação de todas as Companhas de pesca do Furadouro,
manifestação que
impressionou tão vivamente João de Castro, que veio a
falecer pouco depois, a 29 de Janeiro de 1866, com quarenta
e quatro anos de idade.
João de Castro, quando presidente da Câmara, encontrou, entre outros, dois problemas sérios:
A construção de uma estrada para o Furadouro, pois todo o tráfego
era
feito por um caminho de pé-posto através da mata e pelo areal.
O aproveitamento inteligente da Mata Municipal ou Estrumada, que vinha a
ser, «desde tempos imemoriais» logradoiro público e encargo camarário.
Para resolver o primeiro era preciso coragem, por não haver dinheiro.
Para o segundo eram precisos inteligência,
senso prático, larga visão e também ousadia, por haver de
topar irremediavelmente com a rotina e de fugir a ser vítima
de ódios políticos e interesses que não perdoam. Assim,
para conseguir dinheiro para a Estrada, em sessão de 28 de
Abril de 1864, a Câmara resolveu contrair um empréstimo de doze contos e
seiscentos mil réis, esperando poder pagá-lo com o aumento de receitas
obtidas à custa da imposição
de 80 réis em cada carro e 20 réis em cada cavalgadura que
percorressem a referida Estrada. Levantou-se celeuma infernal. Pela Junta do Distrito de Aveiro foi o Administrador chamado a
dar seu parecer.
O problema da Mata com a área de 24 quilómetros aproximadamente, era mais delicado e por isso mais grave.
Reputava-se o seu valor em 400 contos e rendia apenas,
anualmente, 210 mil réis de pinhas, agulhas e pinheiros caídos e a
sua guarda custava à Câmara 292$400 reis. Procurava-se dar um remédio
a esta prodigalidade, para lhe não dar o nome próprio e para isso
pensou-se dividir a Mata em certo número de talhões, que se venderiam e
semeariam anualmente, de forma que resultasse a prática de sempre haver
duas receitas a arrecadar:
−
a de pinheiros de corte e a de mondas e
matos.
Então, ardeu Tróia. Esta resolução que parece primária,
intuitiva, ao alcance de um míope intelectual, provocou o levantamento
popular quando a Câmara com a autoridade administrativa se dispunha, no
local, a proceder à venda do
primeiro talhão de pinheiros. Capitaneava essa gente, disposta a tudo, o próprio doutor Arala, que mais tarde
−
tudo
se paga neste mundo!
−
por causa dela havia de sofrer enxovalhos e arruaças.
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35 /
João de Castro foi pai de três filhos:
D. Maria Augusta, com geração, de que se falará;
D. Angelina, que casou com o capitão de artilharia
Ângelo Gustavo Ribeiro Câmara, de quem houve um filha
chamada Ema;
Frederico de Castro Corte Real, capitão de artilharia, que foi casado
com D. Isabel Nobre da Veiga, da Casa da Vinha, em Penafiel, havendo
dela três filhos:
Frederico de Castro Nobre da Veiga Corte Real, funcionário das Obras Públicas;
D. Maria do Carmo, religiosa doroteia; e
João de Castro Nobre da Veiga.
D. Maria Augusta casou com o escrivão de Fazenda Fortunato Ferreira Vidal, natural de Vagos e que morreu em Ovar em
Fevereiro de 1878. Este era já viúvo de D. Maria Emília Rangel de
Quadros, de quem lhe ficou um filho, o poeta Reinaldo Oudinot, que
tendo abandonado a profissão de farmacêutico, morreu Inspector Primário
do Porto.
Do segundo casamento houve Fortunato Vidal dois
filhos:
Uma menina, que faleceu muitíssimo nova;
José, farmacêutico e Inspector Escolar em Oliveira de
Azeméis.
José de Castro Sequeira Vidal, que nasceu em 1 de Agosto de 1874 e
faleceu no Furadouro em 19 de Agosto de 1920, casou com a Senhora D.
Sofia Pinto de Oliveira Vaz de Castro Vidal, uma das filhas do
capitalista e vereador da Câmara de Ovar, Manuel Martins de Oliveira Vaz
e de sua esposa D. Angelina de Oliveira Pinto. Por sua Mãe, tem a
Senhora D. Sofia na sua ascendência nada menos do que dois médicos, que
exerceram clínica nesta terra. E por descendência o clínico local, Sr.
Dr. João Baptista Nunes da Silva, seu sobrinho.
Seu avô, João Inácio Pinto Teixeira da Cunha, frequentou a Universidade
desde 1819-20 a 22-23, sendo filho do Dr. Teotónio Pinto da Cunha,
médico do partido e morador no Largo de S. Tomé com sua esposa D. Ana
Margarida de Jesus, esta filha do Dr. João Teixeira de Pinho Coelho,
médico também e de D. Maria Rosa de Sousa, moradores
na Rua da Praça.
José Vidal foi pai de três filhos:
Uma menina que morreu muito criança;
Manuel Fortunato, comerciante no Brasil;
José de Castro, proprietário no Congo Belga e casado
recentemente.
Esta é a família, residente em Ovar, de cepa dos Pigeiros.
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BRASÃO
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Escudo esquartelado. Primeiro quartel: Cortes Reais, que são, em campo
vermelho e em duas palas, seis costas firmadas no escudo. Chefe de
prata com cruz vermelha de S. Jorge e brica diferencial em azul com
farpão de ouro. Segundo quartel: Tavares: em campo de ouro, cinco
estrelas
vermelhas de seis pontas em aspa. Terceiro quartel: Pereiras: em campo
vermelho, cruz florida vazia de campo. Quarto quartel: Castros: em
campo de prata seis arruelas de azul, postas em duas palas. Sobre o
escudo, elmo aberto de prata
guarnecido de ouro. |
Paquife dos metais e cores das armas.
Os Cortes Reais têm por timbre braço de prata com lança em riste de
haste áurea, terminada por ferro de prata e bandeira também de prata,
farpada e carregada coma cruz vermelha de S. Jorge.
ZAGALO DOS SANTOS |