UMA
das mais notáveis construções da época castreja no distrito de Aveiro,
é a de Arões, no concelho de Vale de Cambra, em plena serra.
Ocupa o alto do monte
denominado Chão de Carvalho, passando-lhe na base,
pelo nascente, o caminho pedregoso e selvático que conduz da serra do Arestal e concelho de Sever do Vouga à Costa da Castanheira e Albergaria
das Cabras.
Quem transitar na nova estrada de Cambra a S. Pedro do Sul distingue
facilmente o monte de Chão de Carvalho, de forma grosseiramente
trapezoidal, sobressaindo do vale acidentado que, passado o alto de
Currais, se estende até ao fosso do rio Teixeira.
Deixando-se a estrada nacional, e transpostas a ribeira e a povoação de
Arões, alguns quilómetros andados, encontra-se o monte que é íngreme e
alpestre e de subida fatigante.
No alto depara-se-nos o resto da muralha: um longo amontoado de pedras
soltas cingindo o planalto em grande extensão, com o aspecto típico dos velhos castros e citânias.
No povo conserva-se a tradição da
porta do Sol, a nascente,
do pomar dos moiros, etc.
O murado é bem visível em alguns centos de metros, perdendo-se a sul-oeste.
Não encontrei vestígios de edificações de habitação, sendo possível que
existam sob o mato. Pareceu-me, porém, muito desnudado o monte, sendo
pouco crível que se encontrem ali alicerces importantes de obras
domésticas como em Briteiros, e Santa Luzia, de Viana do Castelo, ou em Romariz da Feira.
Dado o adiantado da hora e o cansaço em que me encontrava, pois vinha de
volta da visita à cascata da Mizarela, não me foi possível fazer
trabalhos de escavação nem de minuciosa pesquisa.
Encontrei minúsculos fragmentos de vidro e de cerâmica de pasta rude,
mas nem a menor prova de romanização, o que de resto me tem sucedido em
outros castros dos altos serranos, sendo de admitir o seu abandono ou
conquista sem novo repovoamento ou nova utilização militar defensiva.
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283 / O aro da muralha, porem, demonstra que o castro
foi de
importância, pois a obra de entrincheiramento ainda visível é de
invulgar comprimento e a superfície defendida, de grande área.
A parte elevada, a nascente, deve ter formado um reduto. A parte mais
alta do monte, a sul-poente, não pôde ser visitada por mim, mas não
aparenta restos de construções.
O castro do Chão de Carvalho é um dos monumentos da nossa
pré e
proto-história: bem possivelmente se terão ali refugiado os povos das cercanias no decurso das lutas com
o romano.
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ARÕES - CAMBRA
Castro do Chão de Carvalho visto da estrada nacional |
Saudemo-lo! Está ali uma estrofe da epopeia dos nativos da Ibéria, da
epopeia desses pobres mas valentíssimos bárbaros, nossos antepassados,
que, agarrados ao solo pátrio e tão firmes na sua defesa como as
penedias dos seus montes, fizeram frente, durante duzentos anos, à
invasão do latino super-civilizado que na Península sofreu
desconcertantes reveses, apesar do renome dos seus generais e da
formidável técnica do seu combate!
ALBERTO SOUTO
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