QUISERAM os organizadores
de algumas publicações, comemorativas dos Centenários, ilustrar as suas páginas com notas de história local. O resultado foi,
quase
sempre, autêntico desastre. Vulgarizaram-se, às vezes
em segunda ou terceira mão, as fantasias de PINHO LEAL e de outros
autores que só podem consultar-se em permanente desconfiança.
Quando se há-de renunciar definitivamente a encontrar a certidão de
idade das nossas vilas. e aldeias? Quando deixaremos de ler frases como esta:
− Não se sabe ao certo quem fundou esta freguesia, mas supõe-se que
foram os fenícios ou os túrdulos, mil e tantos anos antes de Cristo!?
Quando resolverão os curiosos, desconhecedores de arquivos, de aproveitar
ao menos os materiais que vão aparecendo em publicações sérias como este
Arquivo do Distrito de Aveiro? É verdadeira lástima o que se
forneceu a números
especiais de jornais e revistas, como história de povoações da nossa
Beira-Mar.
Feito este «aviso aos incautos», passemos a outra prevenção a respeito
do Catálogo das Igrejas, publicado por FORTUNATO DE ALMEIDA, em apêndice
ao tomo II da sua História da Igreja
em Portugal.
É conhecida a história desse Catálogo. Por bula dada em
Avinhâo a 23 de Maio de 1320, o Papa João XXII concedeu por três anos a
D. Dinis, para subsídio da guerra contra os mouros, a décima parte das
rendas eclesiásticas do reino, com excepção das pertencentes à Ordem do
Hospital. Tendo-se procedido, para tal efeito, à avaliação dos
rendimentos de todas as igrejas e mosteiros, ficou elaborado o primeiro
catálogo de freguesias, com a sua distribuição por dioceses, extensivo a
todo o país.
/ 285 /
No século XVIII, o brigadeiro MANUEL DA MAIA, guarda-mor
da Torre do Tombo, deu-se ao cuidado de traduzir esse catálogo, que
constava do «livro número vinte e um do armário segundo do arquivo da
basílica de Santa Maria, escrito em pergaminho de letra antiga, na
língua latina». Mas, «por mais clareza», resolveu «dar a cada um dos
lugares o verdadeiro vocábulo com que hoje se denominam», e só para os
desconhecidos «guardou a mesma pronúncia com que naquele tempo se
denominavam». O trabalho de MANUEL DA MAIA, datado de 11 de Janeiro de
1746, conserva-se na secção de reservados da Biblioteca Nacional, n.º
179 da Colecção Pombalina.
FORTUNATO DE ALMEIDA teve conhecimento dele, talvez através do livro «Diocese
e Distrito da Guarda», publicado em
1902 por JOSÉ OSÓRIO DA GAMA E CASTRO, onde vem reproduzida a parte que
interessava a este autor. Tomando, porém, a iniciativa de o incluir na sua obra, procurou acomodar
mais uma
vez «às formas actuais» os nomes próprios que lhe pareceram fáceis de
identificar.
Destas acomodações,
agravadas ainda com erros de cópia, resultaram complicadas charadas
geográficas. Quem reconhecerá, por exemplo,
o mosteiro de Grijó com o nome de Eulonte, má leitura de Ecclesiole, ou
a igreja do Olival com o de Ovar, errónea identificação de Ulvar?
Foi pena que FORTUNATO DE ALMEIDA não tivesse conhecido o livro
original, que se conserva no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, vindo
do cartório da Sé de Coimbra.
Vejamos, para amostra, o que se refere às igrejas da Terra
de Santa Maria, deixando aos curiosos o cuidado de o confrontarem com a
versão publicada por aquele autor, que continuará a ser, mau grado
nosso, a única conhecida e reconhecida por muitos organizadores de
monografias locais.
Numeram-se as verbas, para facilitar as referências, e desdobram-se as
abreviaturas. Até o número II, é a folha 2 do original; de 12 a 48,
folha 2 v.; de 49 em diante, folha 3. A diligência dos avaliadores
começou a 7 de Novembro de 1320.
TERRA SANCTE MARIE
1. Ecclesiam Sancti Felicitis ad duzentas libras.
2. Ecclesiam Sancte Marie de Feaães ad sexaginta libras.
3. Ecclesiam de Canidello et Freimuça ad ducentas et viginti libras.
4. Ecclesiam Sancti Jacobi de Sparago ad triginta libras.
5. Ecclesiam de Oluaria et de Leceães ad quadraginta et quinque libras.
6. Ecclesiam de Vilar de Andorini ad sexaginta libras.
/ 286 /
7. Ecclesiam Sancti Petri de Paradiso ad quinquaginta et quinque libras.
8. Ecclesiam de Xazelo ad viginti et quinque libras.
9. Ecclesiam de Vila Coua de VI ad quinquaginta libras.
10. Monasterium de Pedroso ad duo millia libras.
11. Ecclesiam Sancti Tirssi de Paramhos ad sexaginta libras.
12. Ecclesiam de Uluar ad octuaginta libras.
13. Ecclesiam Sancte Marie de Sendim ad quinquaginta libras.
14. Ecclesiam de Ascariz ad centum sexaginta libras.
15. Ecclesiam de Lobom ad centum libras.
16. Ecclesiam de Peieiros ad quadraginta libras.
17. Ecclesiam de Cesar ad quadraginta libras.
18. Ecclesiam de Maceeira de Sarna ad duodecim libras et decem soldis.
19. Monasterium de Cucuiaães ad quingentas libras.
20. Capellania dicti Monasterij ad decem et octo libras et decem soldis.
21. Ecclesiam de Purgilhi ad triginta libras.
22. Ecclesiam Sancte Marie de Pijndello ad centum libras.
23. Ecclesiam Sancte Marie de Valle ad quadraginta libras.
24. Ecclesiam de Guisandi ad sexdecim libras.
25. Ecclesiam de Villa Maiori ad triginta quinque libras.
26. Ecclesiam de Villa Plana Sanrraa ad quinquaginta libras.
27. Ecclesiam de Nogueira de Clauo ad sexaginta libras.
28. Ecclesiam de Moozellos ad viginti et quinque libras.
29. Ecclesiam de Arcuzello ad octuaginta libras.
30. Ecclesiam Sancti Michaellis de Mato ad quadraginta libras.
31. Monasterium de Villa Coua ad centum sexaginta et quinque libras.
32. Ecclesiam de Vallega ad centum et quinquaginta libras.
33. Ecclesiam Sancti Georgij ad quadraginta libras.
34. Ecclesiam Sancti Martini de Anta ad quadraginta libras.
35. Ecclesiam Sancte Marine de Cortegaca ad viginti libras.
36. Ecclesiam de Fermedo ad viginti libras.
37. Ecclesiam de Scapaães ad sexaginta et quinque libras;
38. Ecclesiam de Loureiro ad quadraginta et quinque libras.
39. Ecclesiam Sancti Vincentii de Pereira ad centum libras.
40. Ecclesiam de Siluade ad septuaginta libras.
41. Ecclesiam de Canellis ad octuaginta libras.
42. Ecclesiam Sancte Marine de Auãca ad septuaginta libras.
43. Ecclesiam de Sesmunde ad triginta libras.
44. Ecclesiam de Paacoo de Brandam ad triginta et quinque libras.
45. Ecclesiam de Feira ad octuaginta libras.
46. Ecclesiam de Fornos ad sexaginta libras.
47. Ecclesiam Sancti Johannis de Veer ad septuaginta libras.
48. Ecclesiam de Juyam ad quinquaginta et quinque libras.
/ 287 /
49. Ecclesiam de Ulueira ad septuaginta et quinque libras.
50. Ecclesiam de Madail ad decem libras.
51. Ecclesiam Sancte Marie de UI ad quadraginta libras.
52. Ecclesiam de Lourosa ad sexaginta libras.
53. Ecclesiam Sancti Felicis ad quadraginta libras.
54. Ecclesiam de Guitim ad triginta libras.
55. Ecclesiam Sancti Mametis de Gandara ad viginti et quinque libras.
56. Ecclesiam de Souto ad septuaginta libras.
57. Ecclesiam de Beduido ad ducentas et triginta libras.
58. Comendooriam de Cabomonte ad trecentas et octuaginta libras.
59. Ecclesiam de Valadares ad centum libras.
60. Ecclesiam de Manhuci ad sexaginta libras.
61. Ecclesiam de Olleiros ad quadraginta libras.
62. Ecclesiam de Cabanoes ad quinquaginta libras.
63. Monasterium Ecclesiole ad tres millia libras exceptis ecclesiis quas
habet in diocesi Colinbriensi.
64. Ecclesiam de Mafamude ad quinquaginta libras.
65. Ecclesiam Sancte Marine ad quatuorcentas libras.
66. Ecclesiam de Milheiroos et de Guayati ad centum viginti libras.
67. Ecclesiam de Hermeriz ad septuaginta libras.
68. Ecclesiam de Leuer ad centum libras.
69. Ecclesiam de Nogueira de Regedoira ad triginta libras.
70. Ecclesiam de Auictis ad septuaginta libras.
71. Ecclesiam de Belpelhares ad quinquaginta libras.
72. Ecclesiam de Canedo et de Sancto Vincentio anexe decanatui.
73. Capellania de Canedo ad quindecim libras.
74. Ecclesiam de Sangueedo ad quadraginta quinque libras.
75, Ecclesiam de Faiões ad centum et triginta libras.
76. Ecclesiam de Romariz ad nonaginta libras.
77. Ecclesiam de Duabus Ecclesijs ad quindecim libras.
78. Ecclesiam Sancti Johannis de Madeira ad octuaginta libras.
79. Ecclesiam de Lamis ad quinquaginta libras.
80. Ecclesiam de Maladas ad decem libras.
81. Ecclesiam de Petrosino annexa Monasterii Ecclessiole.
82. Ecclesiam de Maceeda et de Rio Meyam hospitalis.
83. Ecclesiam Sancti Martini de Argoncilhi Monasterii Ecclesiole.
84. Ecclesiam de Crasto et de Sirgueiros hermitagia de Pedroso.
Além deste catálogo temos para os séculos XIII e XIV as listas de
freguesias da Terra de Santa Maria que se podem organizar sobre as
inquirições de D. Afonso lI, D. Afonso III e
/ 288 /
D. Dinis, e a que vem no Censual do Cabido da Sé do Porto. A
identificação dos nomes é relativamente fácil; mas, para evitar qualquer
dúvida, aqui a deixamos pela ordem do catálogo:
S. Félix da Marinha (chamada antigamente S. Félix de Cerzedo), Fiães,
Canidelo e Madalena (chamada outrora Santa Maria Madalena de Freimuça), Espargo,
Oliveira de Azeméis e
Lações, Vilar de Andorinho, Vilar do Paraíso, Seixezelo, S. Tiago de
Riba-Ul, mosteiro de Pedroso, Paramos, Olival, Sandim, Escariz, Lobão,
Pigeiros, Cegar, Macieira de Sarnes, mosteiro de Cucujães, Mosteiró
(chamada outrora Prozelhe), Pindelo, Vale, Guisande, Vila Maior, Vila
Chã (S. Roque), Nogueira do Cravo, Morzelos, Arcozelo, S. Miguel do
Mato, mosteiro de Vila Cova (na freguesia de Sandim), Válega, S. Jorge
de CaldeIas, Anta, Cortegaça, Fermedo, Escapães, Loureiro, S. Vicente de
Pereira, Silvalde, Canelas, Avanca, Sermonde, Paços de Brandão, Vila da
Feira, Fornos, S. João de Ver, Geão, Oliveira do Douro, Madaíl, UI,
Lourosa, Sanfins da Feira, Guetim, S. Mamede da Gândara (extinta,
incorporada em Anta), Souto, Beduído (Estarreja), comenda de Cabomonte
(na freguesia de Souto), Valadares, Arrifana (chamada antigamente Manhouce), Oleiros, Cabanões (Ovar),
mosteiro de Grijó, Mafamude, Santa Marinha (Vila Nova de. Gaia),
Milheirós de Poiares e Gaiate, Esmoriz, Lever,
Nogueira da Regedoura, Avintes, Gulpelhares, Canedo, Sanguedo, Fajões,
Romariz, Duas Igrejas, S. João da Madeira, Lamas, Meladas (hoje simples
lugar de Mozelos), Perosinho, Maceda e Rio-Meão (falta Arada que também
pertencia à Ordem do Hospital) Argoncilhe, Crasto e Sirgueiros
(lugares da freguesia
de Perosinho).
PADRE MIGUEL DE OLIVEIRA
|