EM diferentes números do
Arquivo referi-me eu a alguns interessantes monumentos de
arqueologia pré-histórica e a diversas obras de arte, tais como:
dólmens, insculturas, pontes, minas, etc.
Além de tudo isto e de suas
lendas e serras, cascatas, penedias e deslumbrantes panoramas, outras
obras, objectos e monumentos dignos de nota possui este concelho de
Sever do Vouga.
Em templos e objectos de
culto algo de notável possui esta região de tradições gloriosas e
paisagens encantadoras.
Assim, a igreja paroquial da
freguesia das Talhadas notabiliza-se pela elegância, amplitude e
preciosas obras de talha.
Alguém entendido no assunto
chamou-lhe «monumento nacional».
Os seus cinco altares,
mormente o altar-mor, são de valor incontestável. Diz-nos a tradição que
essa valiosa oferta, de talha dourada, de muito trabalho e antiguidade,
viera de Braga.
Já que falei no seu templo
sempre direi que a freguesia das Talhadas, sita num planalto de
bastantes metros de altitude, num local varrido pelos ventos, descoberto
e saudável, se notabiliza também pelo seu clima, pelos seus panoramas,
pelas suas serranias e pela grandiosidade das suas penedias.
Esta povoação, embora não
possua edifícios nobres que nos levantem o pensamento acima da vida
campesina, tem no seu próprio centro dois interessantes e tradicionais
penedos que deram o nome à freguesia.
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Assim, Talhadas tira o seu
nome das pedras talhadas ou partidas que se erguem no meio do povo como
um grande livro aberto, à distância, uma da outra, da largura da estrada
que lhe passa de permeio.
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As pedras talhadas que deram o
nome ao lugar |
Há 350 anos era a dita
freguesia conhecida pela denominação de Pedras Talhadas por causa
desses penedos.
Pelo andar dos tempos perdeu
o primitivo nome para só ficar Talhadas.
Além da paroquial das
Talhadas, digno se torna de menção o espaçoso templo da freguesia de
Rocas.
Com a sua tristeza
monástica, abundância de imagens e tecto de pintura antiga representando
os Martírios de Jesus, a igreja de Rocas do Vouga apresenta o aspecto
dos grandes templos portugueses. Entre outros, possui este templo um
objecto de culto de reconhecido valor.
É a sua cruz processional.
Foi há pouco fotografada para as colunas desta revista e sabemos que em
breve aqui será reproduzida e comentada.
Essa cruz de prata
singulariza-se pela sua arte e antiguidade. É uma preciosa relíquia
artística que alguns coleccionadores de objectos antigos têm querido
comprar por algumas dezenas de milhares de escudos.
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Mas não é só a cruz de Rocas
a pedir uma referência.
Merece algumas palavras uma
Custódia de prata dourada da freguesia de Cedrim. É um autêntico objecto
de valor, que já figurou, como a cruz de Rocas, em exposições
distritais.
Os seus habitantes
orgulham-se em possuir a rica alfaia. É que nessa Custódia há elegância
e arte, valor e bom gosto.
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De aspecto agradável se
descortina no adro da igreja da Vila de Sever um lindo cruzeiro, cuja
fotografia aqui se reproduz hoje.
Há já bastantes anos que,
numa pequena revista, dele fiz menção nos seguintes termos:
«Um monumento que
agradavelmente tem impressionado os visitantes desta terra é o magnífico
cruzeiro que numa altura de 28 palmos se levanta para os céus, entre
dois ciprestes que, dia e noite, num santo retiro lhe fazem companhia. O
cruzeiro é formado por uma só coluna em forma de espiral, encimada por
um grupo de anjos, sobre que se ergue a cruz, belamente burilada.
«É uma pedra que o artista
transformou num monumento como outros que dia a dia são descritos em
revistas de grande fôlego.»
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Cruzeiro de Sever do Vouga |
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E que dizer da igreja de Pessegueiro?
É um templo amplo, duma só
nave, em bom estado de conservação, com uma elegante torre da qual
pendem três sinos e um relógio.
Tem algumas obras de pintura
de bastante valor, telas que honram a arte nacional.
Artistas que as têm
observado encontram-nas perfeitas e de muito merecimento. São quadros
dos apóstolos, uns; outros, em ponto mais pequeno, representam os Passos
de Jesus.
E mais?
Podia ainda mencionar coisas
várias de nomeada neste concelho, tais como o Castelo de Cedrim,
penedias formidáveis de granito, mamoas diversas, monumentos megalíticos
a atestar a antiguidade de povoações várias e planaltos soberbos onde a
vista se perde por serranias, campos e planícies, mas para não ocupar
muito espaço ao Arquivo, ficaremos por aqui.
Pessegueiro do Vouga − Maio
− 1939.
ABADE JOSÉ LUCIANO LOBO |