O
MOSTEIRO de Arouca, sobretudo se o considerarmos desde a reforma
cisterciense de D. Mafalda,
representa na investigação documental do Distrito de
Aveiro uma copiosa e inexplorada fonte.
Instituto que estabeleceu no 1.º quartel do século XIII aquela
segunda fase da sua organização, o Convento atraiu à sua fazenda,
pelos tempos adiante, avultado número de doações; circunstâncias
várias para isso concorreram, não sendo das menos ponderosas
a protecção régia de que sempre gozou; recordemos também
que o nome da santa filha de D. Sancho I e D. Dulce, figura primacial na história do Mosteiro, se conservou permanentemente no
fervor e devoção dos povos; ainda hoje à sua memória é venerada com
sinceridade e as gentes de muitas léguas em redor a invocam, em rogativa
de sobrenatural auxílio e amparo para seu desvalimento.
Compreende-se pois que no cartório da casa se
fossem acumulando documentos e que estes forneçam hoje ao historiador
da região pormenores preciosos para esquecidas identificações
topográficas, para o conhecimento da vida social, e para essas
mil particularidades de passadas eras que constituem o grande encanto da
História.
De harmonia com a orgânica dos arquivos monásticos do
nosso país, a par dos documentos originais foram-se organizando
cartulários onde eles se transcreveram e agruparam; várias
foram as tombações do Mosteiro, concorrendo para elas tanto o
o desenvolvimento da fazenda conventual como a dificuldade
crescente na leitura dos velhos diplomas, que iam sendo sucessivamente abandonados, ficando a valer por
eles as transcrições
modernas, mais compreensíveis dos cartorários e de mais
cómodo manuseio.
Como aconteceu em todos os organismos congéneres, grande
número dessas preciosidades diplomáticas se deve ter extraviado
/ 122 / no decurso dos séculos; alguma coisa, ainda assim, se conservava à data da extinção das Congregações religiosas, em 1834.
Não se conhecem grandes referências ao cartório de Arouca;
supomos até que o grande Mestre da Diplomática portuguesa,
JOÃO PEDRO RIBEIRO, só muito tarde o terá visitado; pelo
menos, não o inclui na lista de arquivos que apresenta nas
suas Observações históricas e criticas para servirem de memorias ao
sistema da diplomática portuguesa, e nem os seus dois
últimos biógrafos − o Sr. Dr. ANTÓNIO BAlÃO(1) e o Rev. Dr. ANTÓNIO FERREIRA PINTO(2), que relacionaram os cartórios por
ele
visitados, mencionam Arouca.
O acesso ao vale de Arouca, encerrado no fundo de montanhas, era pouco convidativo; talvez essa razão, de grande peso
na época, houvesse afastado JOÃO PEDRO RIBEIRO durante muito
tempo. Se não fora, mesmo, a citação e a cópia dos documentos N.º 5, N.º
7 e N.º 25 da gaveta 3, que se encontra nos códices N.º 636 e 705 da Biblioteca da Universidade de Coimbra, em
condições que fazem supor o conhecimento directo desses
diplomas por parte de JOÃO PEDRO RIBEIRO, bem como um outro
documento de Arouca, sem cota, da era de 989 (7 dos Idos de Setembro), no códice 639, diríamos com segurança que
ele não
visitara o Mosteiro.
Assim, se o fez, terá sido em data posterior a 1798, ano da
publicação das Observações. De toda a maneira fica sem explicação a falta de referências ao
Livro de D. Maior Martins e a
documentos dos séculos IX e X que no cartório existiam e que
recolheram à Torre do Tombo em 1858.
Conheceu o cartório ALEXANDRE HERCULANO, que visitou o
Mosteiro desde 21 a 23 de Julho de 1854; nos seus apontamentos de
viagem, tão lacónicos que muitas vezes uma única palavra assinala a sua passagem por determinada localidade, HERCULANO não esconde a admiração que a Natureza circundante
lhe inspirou e que o fez inscrever nos seus cadernos todas as
seguintes linhas:
«Tornea-se o monte e começa a decida para o Valle de
Arouca. A encosta e o valle igualam em belleza a Cintra, e
excedem-na na vastidão: a estrada segue por uma legoa
debaixo de arvoredos cerrados ou de pequenos campos
orlados de arvores e videiras e ouvindo-se a espaços o
cair das levadas que atravessam o caminho ou o ladeam.
Chegada ao mosteiro depois de anoitecer»... (pág. 284 e
285 da ed. de 1934).
/ 123 /
O interior do Mosteiro mereceu-lhe igualmente anotações;
mas já do cartório apenas diz: «Exame do archivo», e as impressões recolhidas têm de ser avaliadas pelo que três anos depois
se passou, ou seja em 1857.
A Portaria de 11 de Setembro, expedida ao Bispo de Lamego, mandava
entregar quantos documentos os emissários da
Academia das Ciências escolhessem; era a consequência da visita de
HERCULANO.
De Arouca foram então arrebanhados para Lisboa 664 preciosos pergaminhos, abrangendo o período que vai da Era de
921 (A. D. 883) até à de 1317 (A. D. 1279); entre esses pergaminhos iam 39 Bulas originais, o «testamento de D. Mafalda
encadernado em marroquim, metido n'uma bolça de seda», e o
processo da «Demanda entre D. Affonso 3.º e o Mosteiro
d'Arouca − Rolo de 20 varas e meio palmo».
Acompanhando os 664 pergaminhos, um magnífico cartulário mandado escrever pela Abadessa D. Maior Martins, de 87
folhas de pergaminho.
O P.e António Cardoso Pinto organizou minuciosa relação
de tudo, em duplicado, indicando a data e a cota de cada documento; o emissário de HERCULANO, AUGUSTO SOROMENHO, passou
recibo e abalou com tudo, caminho de Lisboa.
Possuo o duplicado dessa relação e dele copio o recibo de
SOROMENH0, autógrafo:
«Da Exma
Snr.ª D. Liberata Emilia de Meneses Athaide
e Vasconcellos, D. Abbadessa do Real Mosteiro d'Arouca:
Recebi os documentos constantes da Relação retro,
exceptuando o doc. N.º 6, do Maço 9, da Gaveta 3.ª; o
doc. N.º 10 do Maço 3.º da Gav. 4.ª; o doc. N.º 31, do
Maço 2.º da Gav. 5.ª; o doc. N.º 8, do maço 7.º da Gav. 5.ª;. o doc. N.º 9, do Maço 9.º da Gaveta
5.ª; e o doc. N.º 27
do Maço 5.º da Gav. 7.ª, que não appareceram no Cartorio.
Mosteiro d'Arouca, 1º de Maio de 1858.
Augusto Soromenho
Commissario da Academia Real das Sciencias de Lisboa.»
Começou então a dispersão do cartório, escolhendo os chamados Próprios Nacionais tudo o que podia servir para justificar
a cobrança de foros e para a administração dos bens de que o
Estado se apropriou, desinteressando-se do restante; as Repartições públicas começaram também a cobiçar parte do Mosteiro,
e pelas mercearias da vila foram aparecendo documentos do
cartório para embrulhos ao balcão.
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O Decreto de 10 de Maio de 1858 colocara Juiz de Direito na comarca de
Arouca o Dr. António José da Rocha, que aí prestou serviço até 4 de
Outubro desse mesmo ano.
Na sua saída da vila aquele magistrado trazia consigo uma caixa com
cerca de duas arrobas de documentos que salvara de destruição iminente e
encontrara já a gasto nas lojas; eram, quase todos, cadernos de cópias,
feitas no século XVIII e no imediato para novas tombações, que não
chegaram a ser encadernados em cartulários.
Lacunas que por vezes há de caderno para caderno revelam bem a desordem
em que tais documentos foram salvos.
Com esses cadernos vinha também o inventário acima referido, assinado
pelo agente de HERCULANO. Desconhecemos se na Torre do Tombo existe
relação idêntica, que deve ter acompanhado os pergaminhos; é documento
que merece publicação integral.
O Dr. António José da Rocha recolheu a caixa à sua casa
de família, em Ílhavo, correu a sua odisseia de magistrado pelo País
fora, e quando em 1883 se fixou em Lisboa, Juiz do
Supremo Tribunal de Justiça, era tarde para aproveitar em
estudos históricos os papéis do Mosteiro de Arouca que recolhera em
1858.
À morte dele, o seu sobrinho e herdeiro, Dr. Manuel Maria
da Rocha Madahil, manteve no mesmo canto do sótão, intacta, a caixa que
viera de Arouca. Em 1929 coube-me em herança a carunchosa caixa de papéis do Tio António, como na casa era conhecida; limpos e sacudidos
−
havia farta razão para isso! − agrupei-os procurando seriá-los e
entendê-los, aguardando ocasião oportuna para os publicar.
Aparecem agora os primeiros
desses magníficos documentos; consistem eles
no traslado duma certidão passada na Torre do
Tombo em 20 de Agosto de 1683, que abrange quatro antigas
doações, importantíssimas, de D. Afonso III; o cartorário em 1822,
Fr. Francisco de Paula, precisou duma pública-forma da certidão, e encarregou o notário da vila, que era Anselmo Soares
Moreira, de lha passar. Está datada de 21 de Junho e custou
985 reis.
Os originais destas doações estarão, possivelmente, em Lisboa, para onde se fizeram outras
incorporações além da de
SOROMENHO: 222 livros, 9 maços e 65 sacos com pergaminhos foram levados para a Biblioteca Nacional, daí transitando para o
Arquivo Nacional da Torre do Tombo em 1912(3).
A quem o paradeiro do cartório de Arouca possa interessar, indicamos ainda que em 1937, no desempenho de missão
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oficial, tomámos nota da existência de bastantes códices de lá no Arquivo da Direcção de Finanças, em Aveiro.
Convinha, evidentemente, reunir tudo num Arquivo distrital, e utilizar depois
esse material esplêndido para o conhecimento da região.
Veja o leitor como é interessante o teor do nosso traslado
e que grande número de elementos ele fornece.
PUBLICA FORMA
Dom
Pedro por Graça de Deos Principe de Portugal, e dos Algarves
d'aquem e dalem már, em Africa, e de Guiné e da Conquista navegaçaõ, Commercio da Ethiopia, Arabia, Percia, e da India &.ª Como Regente, e Governador dos ditos Reinos, e Senhorios; Faço saber que por parte da
Abadessa do Mosteiro de Arouca, foi appresentada ao Guarda mór da Torre
do Tombo huma Provizaõ feita em meu nome, e passada pela Chancellaria
nas Costas de huma sua Petiçaõ de que o treslado hé o seguinte
§ Diz a Madre Abbadessa do
Mosteiro de Arouca, da ordem de sam Bernardo; que a ella lhe hé necessaria huma Certidaõ da Torre do Tombo com
o theor de todas as Doaçoens, Previlegios, e Confirmaçoens, que se lhe
fizeraõ pelos Senhores Reijs deste Reino ao dito Convento. Pede a Vossa
Alteza lhe faça mercê mandar que o Guarda mór da Torre do Tombo lhe
passe a dita Certidaõ. E receberá Mercê.
Dom Pedro por Graça de Deos, Príncipe de Portugal, e dos Algarves,
d'aquem e dalem mar em Africa, e de Guiné. Como Regente, e Governador dos ditos Reinos e Senhorios. Mando a vós Guarda Mór da Torre do
Tombo, que deis á Madre Abbadessa do Convento de Arouca os treslados dos papeis de que na Sua Petiçaõ atras escrita faz mensaõ, o qual
treslado Se lhe dará na forma da Provizaõ passada para Se darem Semelhantes treslados. E pagou de novos direitos trinta reis que se
carregaraõ
ao Thezoureiro delles a folhas sete do Livro de Sua Receita.
O Príncipe Nosso Senhor o mandou pelos Doutores Joaõ Lampria de Vargas, e Lançarote Leitaõ de Noronha, ambos do Seu Concelho e Seus
Dezembargadores do Paço. Thomaz da Silva a fez em Lisboa a seis de
Julho de mil seiscentos e oitenta e tres. Pagou sessenta reis. Joaõ da
Costa Travaços a fez escrever. E em cumprimento da dita Provizaõ se buscaraõ os Livros da Torre do Tombo, e no Livro Primeiro do Registo
das Mercês, e Doaçoens d'EI Rei Dom Affonço o Terceiro, Conde de Bolonha a folhas dezasseis, está o Registo da Carta do theor seguinte
§ In nomine Domini nostri Jesu chrísti, Notum sit omnibus praesentibus
et
futuris quod cum inter nobilem virum Donum Rodericum froiaz et uxorem
Suam Donnam chamoam Gomecij ex una parte, et Maijorem Martini Abbatissam
et Conventum Monasterij de Arauca Cisterciensis ordinis ac diocesis
Lamecensis ex altere super tota haereditate quae in Regno Portugalia
fuit
quondam Donni Suerii Petri dicti Carnes in curía illustrissimi Domini
Alfonsis Dei gratia Regis Portugaliae et comitis Boloniae Coram eodem
Rege quaestio vertentur: tandem in ipsa curia per ipsum Regem adjudicata fuit tota
ipsa
haeredítas, quantum ad possessionem et proprietatem Supradictís
Abbatissae
et Conventui de Arouca; postquam Sententiam per dictum Regem et ejus
curiam promulgatam Supradictus Donnus Rodericus Froijas, et uxor Sua
Donna Chamoa de manu Abbatissae et conventus Monasterij Supradicti; receperunt Supradictam haereditatem toto suae vitae tempore possidendam;
excepta tota illa haereditate quae est in extrematura quam tunc Sibi
retinuerunt, et
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retinent Abbatissa et conventus Superius saepe dicti et Supradicti
Donnus Rodericus, et uxor Sua recognoverunt dominium Seu proprietatem, et
possessionem ejusdem haereditatis ad idem de Arauca Monasterium pertinere,
renuntiantes omnibus Cartis Si quas habent, et juribus et actionibus Si
quae sibi super eadem haereditate de jure Competunt vel de facto excepto
quod in sua
tantum vita, illam partem ejusdem haereditatis possideant ut superius
est expressu: promittentes insuper bona fide quod post mortem ipsorum
scilicet ejus
qui ex eis ambobus ultimo decesserit totam ipsam haereditatem eidiem
Monasterio de Arauca, Sine aliquo herede, et Sine aliqua Contraditione
facienda ab
aliquo qui bona ipsorum, vel partem bonorum alterius corum habuerint
libere
et in pace Limittant ut autem haec omnia firma, et immutata permaneant
supra-dictae partes sub pena mile aureorum a parte non obtemperante
parti
obtemperanti solvenda servare omnia et singula supradicta, et nunquam
ocasione aliqua contravenite bona fide Sibi in vicem promiserunt qua
saluta
paenna. Haec omnia et singula in suo sint Semper robore duratura, et de
hoc
partes fecerunt fieri tres Cartas per alphabetum divisas Sigillorum
Supradicti Domini Alfonsi Regis Portugaliae et Comittes Boloniae cujus
auctoritate hoc
actum fuit et supradictorum Domini Roderici Froijas et uxoris Sua Domnae
Chamoae et Supradicta Abbatissae ejus approbante Conventu cum Sigillum
proprium non habeatur, et Donni Sancij Abbatis de Salzeda, qui omnibus
supradictis interfuit munimine roborotatis quarum Cartarum media debet
in Monasterio fratrum predicatorum Colimbriensis in testimonium reservari et aliarum singulae penes partes. Ad hoc partes insuper addiderunt
quod si aliquo tempore inter eas Super iis quae acta Sunt aliqua dubictas orivetur et aliqua ipsarum parti cum Carta Sua amitterit Seu dolo vel modo
alio
occultaretur per cartam per aliam partem exhibitam et per illam quae in
Monasterio rescruatur tota dubictas Sapiatur. Haec acta Sunt in Civitate
Colimbriens nono Calendas Junij Era milesima dusentesima Sexagesima quarta
praesentibus supradicto Domino Alfonço Rege Portugaliae comites Boloniae,
Dono G. Garcia Alferes, Dono G. Martini maiordomo, Donno J. Joannis
chancellario − Donno Joanne de Avoino − Donno M. Suerij de Merloo − Donno Joanne Sueris Conelio
− et Donno Egea Laurenti supradicto − Regis
Consiliaris et privatis: Item Donno Fernando Egilis de Galecia Roderico
Petri de Spino Superjudice, et Petro Martini de Moozelos, et Magistro
V. Decano Portugalensi, et multis aliis clericis et Laices.
E assim mais no dito Livro a folhas vinte e uma verso está o Registo da
Carta do teor seguinte:
§ ln christi nomine et ejus gratia. Quoniam consuetudine quae pro lege
suscipitur et legis auctoritate didiscimus quod acta Regum et Principum
Scripto
comendari debeant ut Comendata ab hominum memoria non decidant et omnibus praeterita praesentialiter consistant secirco. Ego Alfonsus Dei
gratia Rex
Portugaliae et Comes Beloniae una Cum uxore mea Regina Dona Beatrice
illustris Regis Castellae et legionis filia motus spiratione Divina pro
remedio
anima mea et parentum meorum, dó et concedo vobis Dona Maijori Martini
Abbatissae et Conventui Monasterio de Arouca Cisterciensis ordinis et
omnibus Sucessoribus vestris in ipso Monasterio commorantibus, totam meam
terram de Arouca Cum omnibus meis Regalenguis, et cum omnibus terris cultis
et incultis et cum omni jure quod ego ibi habeo et homnibus ibidem commorantibus et omnia jura regalia quae ego ibi habeo et de jure habere debeo
in tota ipsa terra de Arouca cum omnibus terminis Suis novis et antiquis et
Cum omnibus pertinentiis Suis, et cum omnibus ingressibus, et egressibus
Suis et cum montibus fontibus pascuis et aquis et Cauto prefato Monasterio de
Arouca prefatum haereditamentum de terra d'Arauca cum quanto ego ibi habeo
et de jure habere debeo per terminos et Loca inferius assignata per quae
loca
et terminos praecipi erigere patrones im primo quomodo dividitur terra
Sanctae Mariae cum terminis de Arouca videlicet per mamoam de Escuriscata et deinde vadit ad mamoam de Vale caprae et sedit ibi una crux in
quadam petra facta et est petra nativa et deinde vadit ad Spicam quae
vocatur
/ 127 /
Lomba magna in ipso loco est unus patronus inter Soutello et Pouzafoles,
et deinde quomodo vadit per spicam montis usque ad fluuium d'Arda et
devidit cum Fermedo per venam ipsius fIuvis usque ad focem de Folgosino,
et deinde dividit cum Pavia de ipsa foce de Folgosino quomodo vadit ad
quotum quod vocatur de Gonçalvo Pelagii et ibi sedet unus Patronus, et
ipso patrono vadit ad capud de Ruida et est ibi in ipso Loco positus
unus Patronus et de ipso Loco vadit ad Saxum quod vocatur de Abeliis et
per ipsum Locum vadit ad stradam et deinde vadit ad porteIam de Cerquedello et Monsom et est ibi positus unus Patronus et per hic
dividitur Arouca com Sancto Martino de spinea et deinde vadit per spicam
montis usque ad quotum de Graleiros et demersit parum et est ibi positus
unus Patronus et per ipsum locum dividuntur termini de Paiva et de
Alvarenga, et de Arouca, et mando et Concedo quod termini de Arouca
dividantur cum terminis de Alvarenga
per ubi de jure debent dividi, et deinde usque ad terram de Alafoêns
dividuntur termini de Arouca quomodo vadit de Bouça de Guidino ad focem de Avitureira quae
vocatur de mancipiis et exit foris de ipso rivo et vadit
directe ad quotum de nabo et de ipso loco vadit ad montem magnum qui
vocatur de nabo qui est inter candahaal et cabreiros et d'mergit ad
portalam de Saxo terra de Alafoens et est ibi positus unus Patronus et
deinde quomodo vadat per spicam ipsius montis ad Campum planum de Canto,
et deinde quomodo
vadit ad illum Locum qui vocatur Aguzadeiro et deinde quomodo vadit ad
portelam de Antha, et est ibi positus unus Patronus, et inter ipsum
Patronum et pedram de Antha vadit strada et deinde vadit ad caput quod
vocatur do Seixal, et de ipso loco vadit ad caput de Geestoso Covo, et
sic dividit cum termino de Cambra et exit de ipso Geestoso Covo et vadit
ad Lazarias et deinde ad quotum de graleiro et deinde ad quotum de monte
calvo et deinde ad petram de Couto prope villam de Castineira, et sedet
ibi in una petra nativa una crux et deinde vadit ad rivum de Cahamã ad
portum qui vocatur de aruas, et deinde exiit et vadit ad seladam de
Cortinas, et sedet ibi unus Patronus et vadit inter ambos borrallaes et
sedet ibi unus Patronus et deinde vadit ad molinum de Cabanellas et
deinde vadit ad portelam de Chave et sedet ibi unus Patronus et deinde
vadit ad mamoam de cucuriscada ubi prius incepi. Do inquam vobis
praefatis Abbatissae et Conventui praefati Monasterii de Arouca et
omnibus Sucessoribus vestris praefatum haereditamentum et praefatum
Cautum per supradictas divisiones sicut superius est expressum quod
habeatis illos duos et omnes Sucessores vestri Deo servientes. ln
praefato Monasterio liberum quitum et abrasum ab omni jure regali et ab
hac die aufero illud a meo Dominio, et in vestrum Dominium et in vestram
potestatem illud tracto jure haereditario in perpetuum possidendum, et
hoc facio pro remedio animae meae et parentum meorum, et ut semper simus
participes in bonis et in orationibus quas Domino feceritis in praefato
Monasterio:
Siquis autem tam de meis propinquis, quam de Extraneis qui hanc donationem ficam et Cautum infringere attemptaverit vel in aliquo
diminuere
voluerit non Sit ei licitum Sed pro sola temptatione iram Dei
omnipotentis, et
beata virginis Mariae, et omnium Sanctorum incurrat, et maledictione meam
et omnium progenitorum meorum habeat in aeternum et in super pectet
nobis Sex mile solidos et Domino terrae vel qui vestram vocem dederitis
aliud tantum, Carta ista Donationes et Cauti nihilominus in suo robore
in perpetuum
valitura. Facta Carta Donationes et cauti apud Colimbriam vigesima die
octobris, Rege mandante, era milesima ducentesima Sexagesima quinta.
Domnus Gonsalvus Garciae Signifer Curiae − Domnus Egidius Martini,
Maijordomus Curiae Domnus Martinus Alfonsi, tenens, terram sanctae
Mariae − Domnus AIfonsus Lupi tenens terram de Souza − Domnus Didacus Lupi
tenens terram de Sexco − Domnus Andreas Fernandi tenens ripam
minij − Martinus Egidii tenens iras Serram − Gonsalvus Menendí tenens
Panoijas, Confirmant − Domnus Martinus Archiepiscopus Bracarensis − Domnus
Arias Episcopus olixomensis − Domnus Egias Episcopus Colimbriensis − Domnus
Julianus Episcopus Portugalencis − Domnus Martinus Episcopus Elborensis
− Domnus
Rodericus Episcopus Egitanensis − Domnus Matheus electus Vicensis − Domnus Egias Episcopus Lamecensis
− Confirmant Domnus Joanes de Avoijno
/ 128 /
− Menendus Suarii de Merloo − Joannes Suarii Conelino − Menendus Michaelis tenens Locum suprajudicis
− Lupus Roderici vice maijordomus. Joannes
Fernandi vice chancelarius − Domnus Stephanus Joannis chancelarius
Curiae − Dominicus
Petri notarius Curiae notavit −
E no mesmo Livro a folhas
vinte e duas, está o Registo de outra Carta do
teor seguinte
§ ln christi nomine, et ejus gratia quoniam Labilis est hominum memoria
et rerum turbae non sufficit inventum fuit scripturae remedium ut facta
mortalium firma fierent et ad posteros eorum testimonio servarentur.
Iccirco Ego Alfonsus Dei Gratia Rex Portugaliae, et comes Bolonare una
cum uxore meae Regina Dona Beatrice illustris Regis Castellae et
legionis filia divino zelo sucensus pro remedio animae meae et parentum
meorum do et concedo vobis Dona Maijor Martini, Abbatissae, et
conventui Monasterii de Arouca Cisterciensis ordinis, et omnibus
Sucessoribus vestris in ipso Monasterio Deo Servientibus Villas meas de
Antoana et de Avanca cum omnibus Regalenguis meis et cum omnibus
terris cultis et
incultis cum omnibus terminis novis, et antiquis et cum omnibus ingressibus et egressibus suis et cum omnibus montibus fontibus pascuis et
aquis et cum piscariis, et Cum omnibus pertinensiis suis et cum omnibus juribus quae ego habeo in predictis Villis et in hominibus
ibidem Commorantibus et de jure habere debeo et cauto praefato
Monasterio de Arouca praefatas Villas de Antoana, et de Avanca cum
quanto ibi habeo et de jure habere debeo per loca, et terminos inferius
nominatos per quae loca et terminos praecepi erigere Patronus. Im primo
quomodo incipit inter Sanctum Martinum et Antoanam Juncaria quomodo
intrat aqua de Juncaria in Antoana, et est ibi unus Patronus, et deinde
quomodo vadit ad cimorum de Sancto Martino et est in ipso loco unus
Patronus, et deinde quomodo vadit ad valles, et est ibi quidam marcus,
et deinde quomodo vadit ad mormoijrales, et est ibi unus Patronus, et
deinde quomodo vadit ad Laceiras, et est ibi unus Patronus et deinde
quomodo vadit ad Lombam de Laceiras, et deinde quomodo vadit mamoam
Coutadeiram et est ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit ad mamoam
de fontano de lobos et deinde quomodo vadit ad petram de foce de Crastello et est ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit per venam de
rivo de Antoana et exiit de rivo ubi intrat aqua de Centeaes, et deinde
quomodo vadit ad encruziladam de Mosteiroo et est ibi unus Patronus et
in ipsa Villa de Centeaes habens homines de Antoana haereditates de Lavoijra et in termine de Antoana habens homines de Centeaes
haereditates de Lavoijra quae haereditates sunt divisa, et ego mando, et
concedo quod de haereditatibus quae sunt in termino de Antoana faciant
de eis forum Abbatisse, et conventui Monasterij de Arouca, et non alteri
et de haereditatibus quae sunt in termino de Centeaes faciant mihi de
eis forum vel illi qui ipsam terram de me retinuerit, et deinde quomodo
vadit ad mamoas inter Antoana, et inter Centeaes, et inter Bidoido, et
est ibi unus Patronus, et deinde quomodo vadit ad outeirum de fravega,
et est ibi unus Patronus et deinde vadit ad marcum de Silveira et est
ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit ad cimam de Valle de Gane, et
est ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit ad stradam inter Avancam,
et Degarei et est ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit per valem
de Cane ad portum de Mosteiroo et transit ipsum rivum et vadit ad
outeijrum de fontanella et est ibi unus Patronus et deinde quomodo vadit
ad portum de fontanella, et vadit per venam et intrat in venam quae
vocatur de ovar, et de ViIla de Sancto Martino de Sarleu debent dare
annuatim de pane censuriado novem alqueires de tritico, et novem
Sesteiros de Cevada, et novem franganos, et de Cabanellas unam teigam de
tritico. Do Igitur vobis praedictis Abbatissae, et conventui de Arouca
cunctisque Sucessoribus vestris ibidem Domino Servientibus praedictas
Villas et Cauto eas vobis per supradictas divisiones sicut superius est
expraessum quod habeatis eas liberas quitas et abrasas ab omni jure
regali jure haereditario in perpetuum possidendas; et ab hac die in antea aufero eas a mea potestate, et a meo Dominio, et in
vestrum Dominium
et in vestram
/ 129 /
[Vol. lV - N.º 14 - 1938]
postestatem, eas traddo, et Concedo, et hoc facio vobis pro remedio
animae meae, et parentum meorum et ut semper habeatis me in bonis, et
orationibus in predicto Monasterio Deo feceritis specialiter
commendatum. Quicumque igitur vobis, et omnibus vestris sucessoribus
praedictam donationem et praedictum cautum integre observaverit
benedictionibus mei, et omnipotentis Dei repleatur. Si quis cautem tam
de meis propinquis quam de extraneis qui hanc donationes Cartam, et
cauti infringere attentaverit vel in aliquo diminuere voluerit, non sit
ei licitum sed pro sola temptatione iram Dei omnipotentis et Beatae
virginis Mariae, et omnium Sanctorum incurrat, et maleditionem meam et
omnium progenitorum meorum habeat in aeternum, et insuper pectet vobis
sex mile solidos, et Domino terrae vel cui vocem vestram dederitis
aliud tantum Carta ista Donationes, et cauti nihilominus in suo robore
in perpetuum duratura. Facta Carta Donationis et
cauti apud Colimbriam octavo Calendas Novembris. Rege mandante, Era
milesima ducentesima Sexagesima quinta − Domnus Gonçalvus Garcia
Signifer, curiae − Domnus Egidius Martini Maijordomus Curiae − Domnus
Martinus Alphonsi tenens terram Sanctae Mariae − Domnus Alphonsus Lupi,
tenens Sauzam − Domnus Didacus Lupi, tenens Lamecum − Domnus Andreas
Fernandi tenens Ripam Minii − Domnus Gonsalvus Ramijres tenens Barganciam
− Gonsalvus Menendi tenens Panoijas − Martinus Egidii tenens tras
serram − Confirmante − Domnus Martinus Archiepiscopus Bracharensis − Domnus
Arias Episcopus Vlisbonencis − Domnus Egeas Episcopus Colimbriensis −
Domnus Julianus Episcopus Portugalencis − Domnus Rodericus Episcopus
Egitanencis − Domnus Egeas Episcopus Lamecensis − Domnus Matheus Electus
Visensis − Domnus Martinus Episcopus Elborensis Confirmant − testes Domnus
Joannes de Avoijno − Domnus Menendus Suarij de Merloo − Domnus Egeas
Laurentij de Cuija − Joannes Suaris Conelius − Lupus Rodirice vice maijordomus
− Menendus Michaelis vice superjudex − Joannes Fernandi
vice chancellarius − testes, Domnus Stephanus Joannes, chancellarius,
Curiae − Dominicus Petri, Notarius Curiae scripsit
E assim mais no mesmo Livro a folhas cento e vinte e oito verso, está
Registada uma Carta de que outrosim o teor é o seguinte
§ Conúçuda causa seja a quantos esta Carta virem, que Como Contenda
fosse antro mui nobre Dom Affonço pela Graça de Deos Rei de Portugal, e
do Algarve da huma parte, e nós Moor Martins Abbadessa, e o Convento do
Mosteiro de Arouca da outra SobreIo Mosteiro de S. Salvador de
Bouças, e o herdamento de Bouças, e de Villar de Sando cú todas sás
pertenças de nossa boa vontade, e por perfeita do nosso Mosteiro
veemos aa tal aueença que El Rei nosso Senhor haja o Mosteiro e o
herdamento de Bouças e de Villar de Sando cõ todas sás pertenças, e Cõ
todos seus Direitos, e renunciamos a Carta, ou as cartas, ou estromentos
que forão dadas á Rainha Dona Mafalda sobrestes logares, e aquelles que
endo nos avemos, em tal maneira que se em algum logar aparecessem nem
nós nem as que vierem depós nos nom nos possamos dellas ajudar, e sejão
cassadas, e nom valhão nimigalha, e renunciamos a toda acçom e todo
Direito e todo preito que havíamos, ou poderíamos haver sobelos
davãditos logares, e prometemos a boa fé por nos, e pelas que vierem despos nós nunca vir contra este feito por ninhuma maneira, nem por
ninhuma Carreira de Direito, e que sobre esto nunca peçamos beneficio
de Restituçom. Em testemunho desta Cousa damos ende a nosso Senhor EI
Rei a Carta que ende havemos da Doaçom e as Cartas da Confirmaçom, do
Papa; e esta fazemos pelos herdamentos d'Antoaã, e davanca, e darouca, e
pelo Padroado da Igreja de Sancta Ovaia de Arouca, as quaes Cousas nos
El Rei deo, e Contou com todos seus Direitos e com todos seus termos, e
Com todas sás pertenças, e com quanto hi havia, e devia haver, e que
esto nom venha em duvida nos davãdita Abbadessa Sellamos esta Carta de
nosso sello em testemunho deste feito, e por que nós Convento davãdito
de costume da nossa ordem sello nom havemos a postura do Sello da nossa
Abbadesssa, e esta Carta Louvamos, e outorgamos. Dada em Arouca
/ 130 / primeiro dia de Novembro, e na era de mil e duzentos Sessenta e
Sinco annos
− E naõ diz mais nos Registos das ditas quatro cartas de que foi pedido
o treslado por parte da Abbadessa do Mosteiro de Arouca, que lhe mandei
dar em esta Com o Sello de minhas Armas, a que se dará tanta fé e credito
como ao Registo do mesmo Livro, de que foi tirada, e Com elle
Concertada. Dada em Lisboa a vinte de Agosto.
O Principe Nosso Senhor o mandou por Dom Antonio Alvares da Cunha, Seu
Trinchante, Senhor de Taboa, e Ouguella, Deputado da Junta dos
Trichitadores, Guarda Mór da Torre do Tombo. Francisco Ferreira de
Almeida a fez. Anno de mil seiscentos oitenta e tres, e vai escrita em
sete meias folhas de papel com esta = Pedro Semmedo Estaço a fez
escrever − Dom Antonio Alvares da Cunha − Lugar do Sello −
E nam continha mais o dito documento, que aqui fiz passar em publica
forma, e o tornei a entregar ao mesmo por quem me foi apresentado, em
cujo poder a elle me reporto; em fé do que me assigno de meus Signaes
publico, e razo, de que uso nesta Villa de Arouca, aos vinte e hum dias
do
mes de Junho, do anno de mil oito centos e vinte e dois annos. Eu
Anselmo
Suares Moreira que a sobrescreuj e asignej em publico e razo
(sinal do notário)
R.ce apropria
Fr. Fran.co de Paula Em ffe e
tto de verd.e
Carttor.º Anselmo Suares Mor.ª
São particularmente notáveis os elementos toponímicos e
as referências a monumentos pré-históricos contidas nos diplomas que publicamos em 2.º e 3.ª lugares, abrangendo uma região vastíssima que desce até Avanca e Antuã.
À arqueologia
do distrito muito convinha que algum investigador seguisse o
percurso marcado nos documentos e desse conta do que ainda hoje é
possível encontrar, volvidos sete séculos. Muitos problemas se esclareceriam, até de interesse geral.
A doação de 20 de Abril de 1227 foi já publicada nos dois
opúsculos seguintes: Foraes e doações regias − Arouca e o Fisco − Estudo historico-juridico por ADRIANO
CARLOS VAZ PINTO, Juiz
de Direito addido; Famalicão, Typographia Minerva, 1897; e Fóros do extincto Convento d'Arouca
− Razões justificativas da
sua estinccão, por um Foreiro; Aveiro, Minerva Central, 1898.
São, porém, espécies tão raras que nem a Biblioteca Nacional de Lisboa os pôde incluir no
seu catálogo de bibliografia
local portuguesa organizado pelo Sr. Dr. MESQUITA DE FIGUEIREDO.
Possuo-os a ambos na minha biblioteca, justamente estimados.
Dos restantes documentos não conheço publicação.
A. G. DA ROCHA MADAHIL
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