Manuel Alte da Veiga, Um critério para a Educação?, Braga, 2004.


5 – Modos de «admirar» a educação

 

              «A admiração [thaumázein] que deixa suspenso o homem

 que crê saber perfeitamente aquilo de que se ocupa,

quando um certo dia descobre que aquilo que julga saber melhor

 é, no fundo, desconhecido, ignorado» (Zubiri, 1963, 39).

 

 

5.1 Teorias e Filosofia da Educação

Não será demasiado pretensioso teorizar uma "área" tão dispersa, tão abrangente e tão dependente de outras áreas, e cujo corpo nuclear é ele próprio destituído de consenso? Na impossibilidade de um estudo exaustivo sobre as várias posições a este respeito, arriscamos uma colheita breve mas pelo menos sugestiva e, atendendo à qualidade dos intervenientes, representativa. Por trás dela, e por trás do afã em discutir se estamos a tratar com teorias, “fundamentalidades”, técnicas, suspeita-se a característica nuclear da filosofia da educação como área.

O uso de «teoria» no plural já levanta, só por si, uma questão fundamental, a elucidar de algum modo no último capítulo. A um primeiro olhar, parece que se põe de lado a teoria como visão geral unificante. Contudo, a unicidade e originalidade da pessoa humana, ao debruçar-se sobre esse conceito, recupera nesse acto de olhar perturbado e extasiado pela unidade do ser, a riqueza que só pode existir como sujeito (temos como ponto de referência o actor-pessoa, mas seria interessante, em filosofia da educação, aprofundar o tema schopenaueriano do «mundo como vontade e representação», ou «a posição do homem no mundo» segundo Max Scheler). Parece oportuno citar Ricoeur (1955, 69-71) sobre «A história da filosofia e a unidade do verdadeiro»: «Pressentimos que é este Uno que unifica em uma história as singularidades filosóficas e faz desta única história uma philosophia perennis. Contudo o acesso a este Uno faz-se pelo debate entre diversas filosofias». Continua dizendo que o Uno não coincide com nenhuma filosofia nem sequer com a identidade de afirmações comum às várias filosofias: é a «esperança ontológica» de «estar na verdade» (diferente de «ter a verdade») correspondente ao meu acto que deseja a «abertura» própria do ser. Este desejo de abertura significa que «as múltiplas singularidades filosóficas – Platão, Descartes, Espinosa – são a priori acessíveis uma à outra, que todo o diálogo é possível a priori, porque o ser é este acto que, precedendo e fundamentando toda a possibilidade de questionar, funda a mutualidade das mais singulares intenções filosóficas».

 


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