A
Inquisição foi um tribunal religioso, que existiu em Portugal, entre
1536 e 1821. D. João III foi o monarca responsável pela sua instauração,
e, ao fazê-lo, teve como intuito a uniformidade religiosa do Reino e o
controlo das práticas comportamentais. No topo da hierarquia
inquisitorial estava o Conselho Geral do Santo Ofício, sedeado em
Lisboa, que tinha sob a sua alçada quatro tribunais distritais (Coimbra,
Évora, Goa e Lisboa).
Na
década de 80 do século XX, António Borges Coelho apontava Arraiolos como
uma das localidades onde o tribunal de Évora prendeu mais cristãos-novos
(os judeus que se converteram ao catolicismo), daquelas onde o tribunal
tinha jurisdição, a par de Vila Viçosa e Beja, por exemplo. Os cristãos
novos foram o principal enfoque da actividade inquisitorial. A nossa
investigação veio corroborar os dados globais, apontados por Borges
Coelho, permitindo um maior conhecimento do assunto.
Os
grandes momentos de punição religiosa, incidida pela Inquisição em
Arraiolos, ocorreram no século XVII, mais precisamente nas décadas de 30
e 70. Em ambos, a repressão recaiu sobre os cristãos-novos, acusados de
práticas desviantes das católicas. O número de crimes de outra natureza
foi bastante inferior.
No
primeiro momento, em que se efectuou um número considerável de prisões,
a Inquisição contava com o apoio do reitor da Matriz, o padre Gil
Ribeiro Coelho. Era a ele que o tribunal remetia os mandados de prisão,
com sequestro dos bens dos sentenciados.
Após
a prisão, os réus eram encaminhados para o tribunal de Évora, por
familiares do Santo Ofício. Estes agentes, que não eram eclesiásticos,
como acontecia com a maior parte dos cargos da hierarquia inquisitorial,
e tinham como principal função a prisão dos indivíduos. Na maioria dos
casos, os réus abjuravam publicamente os seus crimes, prometendo não
voltar a incorrer em práticas judaizantes.
Em
Março de 1672, vários indivíduos se apresentaram no tribunal alentejano
alegando as suas culpas de judaísmo.
Tendo
declarado voluntariamente as suas culpas, a Inquisição era mais
condescendente, pelo que as penas dos réus foram, sobretudo,
espirituais. Em 1678, o tribunal eborense prevenia que Arraiolos «he
terra onde os mais dos moradores são cristãos novos, e assim será
conveniente ter mais familiares”; alerta este reforçado cinco anos
depois, ao referir ser “terra de muitos cristãos novos, e estarem muitos
presos, e apresentados».
A
repressão incidiu mais sobre as mulheres do que sobre os homens. Nestes
últimos, ao nível das ocupações, encontramos, com maior destaque,
sapateiros, ferreiros e almocreves.