NATUREZA
DA DISCIPLINA
SUA
INTEGRAÇÃO NO CURRÍCULO DESTA ESCOLA
A
disciplina que vou desenhar é, no meu entender, um
contributo forte para o aluno se tornar um bom cidadão.
Constata-se que as novas gerações, são possuidoras de
características predestinadas à necessidade desta formação
como fundamental para a sua educação e desenvolvimento
global.
Qualquer
Sistema de Ensino tem os seus princípios de classificação.
Os princípios políticos que definem a linha genérica
ideológica, que pela sua razão histórica determina os valores
dos conteúdos e seus modelos, os princípios morais e
culturais que definem a linha comportamental nas atitudes
a funcionar na aprendizagem, e os princípios intelectuais
que definem as consequentes competências cognitivas
desses modelos. Destes princípios de classificação irão
surgir:
- o modelo administrativo;
- a recorrência financeira;
- a estrutura de organização;
- os programas de estudos;
- o perfil dos professores.
Como
a sociedade está em constante mutação nos seus valores,
nas suas atitudes e nos seus conhecimentos, acontece que,
quando todas as estruturas começam a funcionar em
engrenagem, as lógicas reformativas aparecem com as suas
próprias "lógicas":
- O passado interfere
directamente no presente e no futuro;
- A Educação não é uma actividade só e
meramente intelectual;
- A Educação nunca está isolada de envolvimentos
sociais, políticos, morais, culturais e geográficos;
- Para fundamentar o "saber" é necessária
a "transmissão".
DURAÇÕES
ORDINÁRIAS
Ao
constatar com o que, nesta Escola, se tem feito sobre
"O Teatro na Educação", é deveras importante,
não só "jogar" verbalmente com todos os dados
que irei apresentar, mas também dar a conhecer que as
preocupações de hoje também já foram as de ontem, e
que não é tão inovadoramente revolucionário qualquer
tipo de aparato em querer-se legitimar O Teatro na
Educação. Ou os tempos não mudaram assim tanto, ou
os conceitos não evoluiram, ou os tempos mudaram mesmo ao
evoluirem conceitos.
Tal
como já foi descrito no capítulo anterior, depois de
todo o meu trajecto como professor anterior a 1989, caio,
repentinamente e por força de circunstâncias várias, na
Escola Secundária José Estêvão. Com algumas intenções
de inovar uma postura docente, executei um Projecto, que
foi elaborado em consonância com todos os organismos
envolventes à docência. Consistia, essencialmente, em
abrir a Escola à Comunidade, e abrir na Escola um espaço
dinamizador de contactos e conhecimentos com o Teatro.
Para
esse Projecto, tive os apoios já nomeados. Em 1989, onde
se via, colocar um professor contratado ( ao abrigo do
Decreto Lei 178/89 de 27 de Maio que assim o exigia, mas
importava a concordância da escola), sem possuir
formalmente as condições necessárias para o Ensino
Secundário, para exercer funções docentes
extra-curriculares com horário completo? E o apoio que
chegava de todos os lados, não foi, no mínimo, estranho?
Sem dúvida que, colado à coragem de muita gente, houve
consciência da importância e pertinência pedagógica da
área contemplada, até porque mais tarde, em 1992, se
verificava a sua contemplação no Complemento de Formação
Técnica do Ensino Secundário. Afinal, a nossa Escola não
estava equivocada.
ANÁLISE
DE CONCEITOS
FILOSOFIAS
DA EDUCAÇÃO
Não
podemos esquecer que a Lei de Bases do Sistema Educativo
foi aprovada por todas as forças políticas do nosso país.
As preocupações da referida Lei começam com a definição
do Sistema Educativo no disposto do seu Artigo 1º; os
princípios gerais, no Artigo 2º, mais propriamente no
ponto 3 em que é explícito o que deve ser a prática da
Educação; o Artigo 3º
diz-nos como deve ser a Organização do Sistema; o
Artigo 9º indica os objectivos no Ensino Secundário; o
Artigo 30º define os princípios gerais na Formação de
Professores; o Artigo 31º confere e define a Formação
Inicial e Própria dos Professores do Ensino Secundário;
o Artigo 33º define a Qualificação para Funções
Educativas; o Artigo 36º explicita os princípios gerais
da Carreira Docente e o Artigo 47º define o contexto do
Desenvolvimento Curricular.
Portanto:
A- Define preocupações que ultrapassam qualquer
Subjugação a Opções Políticas;
B- Prevê a Leccionação de Disciplinas como a de Oficina
de Expressão Dramática/Oficina de Artes Performativas/Oficina
de Teatro, com toda a legitimidade;
C- Justifica a Categoria de Leccionação para a
Docência e o direito à Progressão na Carreira Docente;
D- Justifica a criação da Disciplina como Oferta
de Escola, e a sua leccionação a Docentes com
Habilitações Próprias.
Dado
que na Reforma Curricular o Decreto Lei nº 286/89 de 29
de Agosto afirma, em conformidade com o Artigo nº 5 da
L.B.S.E., que podem existir, no Ensino Secundário,
Disciplinas de Oferta de Escola como a de Oficina de
Expressão Dramática. Para tal, deverão existir Docentes
Qualificados. O Decreto-Lei nº 43/89 de 3 de Fevereiro dá
às Escolas autonomia responsável em propostas e anseios
próprios e locais sobre as suas actividades educativas.
Para o exercício da autonomia, as Escolas foram
interpeladas pelo M.E. sobre as estruturas de apoio
educativo que possuíam para a abertura da Disciplina de
Oficina de Expressão Dramática. O M.E. analisou as
propostas de cada Escola e, dado que em algumas o M.E.
achou exemplares todas as estruturas envolventes à
disciplina, deu autorização da sua abertura, respondendo
em conformidade com o mesmo Decreto-Lei. Este conjunto de
apoios legais corroboram a minha posição, em
conformidade com a Comissão da Reforma do Sistema
Educativo, no campo do fomento da criatividade e da inovação,
ao delinear o modelo de Escola para a vida de qualidade
cultural em termos de recursos humanos. Acha-se necessário
um Professor/Agente de Cultura, se for homem de cultura
como o Professor Científico, Prático, Técnico, Artífice
e Artista -
condições sine qua non - Professor
Agente Cultural/Professor Animador, sem descorar uma Formação
de Nível Superior, para garantir um conjunto de competências
mínimas gerais que procurem assegurar o rigor
inter-pessoal do Processo Pedagógico, com prática
Profissional reconhecida na Área Artística do Teatro na
Educação e com Formação Pedagógica. Portanto, não é
de admirar que, na Reforma em vigor, verifiquemos uma
clara tentativa de autonomia pedagógica local, quando,
nas Opções da Componente de Formação Específica, a
Escola pode criar a sua própria disciplina. Antes, com a
Disciplina de Oficina de Expressão Dramática, para
responder às exigências claras do Ministério da Educação,
foram recrutados alguns Professores tanto com experiência
no terreno, como na especialidade ( sempre Professores
Provisórios com contrato anual ), e também Docentes que
devido à sua integração no Sistema Educativo não
estavam sujeitos a qualquer concurso, e cujos critérios
de selecção dependiam exclusivamente da responsabilidade
dos Conselhos Directivos/Executivos das Escolas onde a Disciplina é ministrada. Verificou-se que
a Docência desta Disciplina foi sistematicamente atribuída
a profissionais de Teatro e a Professores de outras
Disciplinas que, embora simpatizantes das Actividades
Teatrais na Escola, não possuiam a devida Formação
Pedagógica-Didáctica Curricular específica, na Área
Disciplinar em causa. A Expressão Dramática e Teatro na
Educação no Ensino Secundário é, na opinião da Comissão
da Reforma do Sistema Educativo, uma trave-mestra do
processo curricular na promoção do sucesso escolar e
educativo. A sua existência tem sentido integrador da
aquisição educativa, tem dimensão participativa nas
actividades educativas e é formação ideal para a educação
permanente. A sua selecção criterial de matéria
curricular esteve, desde o começo da sua leccionação,
de acordo com toda a legislação vigente, mas sem a
adequada atenção aos Professores que leccionavam a
Disciplina de O.E.D., mesmo quando a referida Comissão se
pronunciava a favor do rigor na orientação e na formação
de Docentes Especializados.
Não há razão legal, para que a Disciplina de OFICINA
DE TEATRO não se crie como OFERTA DA NOSSA ESCOLA
no Ensino Secundário porque, se há Habilitações
criadas e definidas para o devido efeito, como o diz o
Despacho 243/ME/96 o qual contempla oficialmente o C.E.S.E.
de Expressão Dramática E Criação Teatral na Educação
da Escola Superior de Educação do Porto, com "razão
de ser e função válida", e eu ser portador dessas
habilitações, será lógico que se aceite
a sua abertura.
ESCOLA
SECUNDÁRIA JOSÉ ESTÊVÃO
DO
ONTEM AO HOJE
De
1926 a 1973, esta Escola publicou a revista
"LABOR"- (inicialmente "Revista de Educação,
Ensino e Extensão Cultural", e depois "Revista
do Ensino Liceal"). A "LABOR" foi, sem dúvida,
um espaço de intervenção dos docentes, um espaço de
afirmação de cultura pedagógica e profissional. O seu
reacordar, pela mão do Dr. Arsélio Martins, deu espaço
a que se fizessem estudos à "LABOR", nos quais
se encontram inquietações actualizadíssimas na sua essência.
A Dra. Alice Pinho fez um brilhante trabalho em que nos
apresenta alguns pensamentos de "outros
tempos?"- pág. 96. Afinal, em 1952, ao mesmo tempo
que a NATO reunia em Lisboa, em que os conservadores
dominavam a política inglesa, em que houve algumas alterações
de alguns aspectos no Estatuto do Ensino Liceal (Dec.
38.812 - Julho 1952), em que a Fundação Calouste
Gulbenkian estava nos seus primeiros anos de Intervenção
Cultural, discutia-se e reflectia-se sobre o valor social
e pedagógico do Teatro no Ensino como nos escreve Maria
do Céu Novais Faria, Professora do Liceu D. Manuel II em
Janeiro de 1952 na "LABOR" nº 118. Em Fevereiro
do mesmo ano, "LABOR" nº 119, José Pereira
Tavares deixa transparecer a marginalidade que o Teatro na
Educação vivia, mas assumindo categoricamente a sua
importância social, lembrando-nos o Teatro que se fazia
desde 1920, ao mesmo tempo das ditaduras portuguesas com
as suas censuras e confusões, com extinções e
reaberturas de Escolas Normais. É interessantíssimo
como, novamente Maria do Céu Novais Faria na
"LABOR" 120 - Março de 1952, nas entrelinhas do
que escreveu, se percebe a grande preocupação no querer
primeiro fazer o "Homem", depois o "Sábio",
atribuições educacionais dadas exclusivamente ao Teatro.
Também levanta questões sobre a grande importância dos
Dramaturgos e Dramaturgistas, da existência de Técnicos
Especializados nos assuntos do Teatro efectivados às
Escolas, e do ridículo embaraço que era a separação
dos sexos nas Escolas.
Felizmente,
muito trabalho se fez ao longo destes anos, muita história
foi feita desde então. Refiro, novamente, o meu trabalho
nesta Escola desde 1989. O Projecto Riscos & Ecos, ao
promover valores relacionados com os conhecimentos que
cada um tem sobre si, desenvolve capacidades e atitudes
para um saber ser e estar como cidadão construtivo. Já
realizou 35 trabalhos apresentados em 22 localidades
diferentes. Participou em 8 E.N.T.E.s e contou, ao longo
destes anos, com a frequência de 294 alunos, até hoje.
"Estar" na escola obriga-nos a não ficarmos sós
no seu espaço, obriga-nos a criar ligações de acção
recíproca entre a escola e a comunidade. O teatro é um
meio expressivo/artístico excelente para que uma
diversidade de valores e realidades entrem na escola. Falo
de um espaço laboratorial onde se experimenta o controle
de emoções, onde a confiança anda de mãos dadas com a
coragem, onde a imaginação implode e explode, onde a
interpretação dos mundos de cada um tomam forma e se
realizam. É compreensível a "apreensão" que
se tem ao constatarmos as práticas do teatro na escola.
Experimentar, descobrir e inovar, são intervenções que,
neste caso, levam à comunhão do jovem consigo e com os
outros, com a oportunidade de viver totalmente, e isto
pode ser incomodativo para uma concepção de escola que
normalmente se centra num ensino de conhecimentos certos e
imutáveis. Mas nesta escola sempre se abriram espaços,
de alguma maneira motores de reformulação e que logo
implicaram a responsabilização de toda a escola.
O teatro sempre pretendeu ser mais um espaço,
ajudar nesse sentido como forma privilegiada, como escola
dentro de outra escola sem esquecer as suas ligações
entre si, onde seja processo de descoberta do eu e do
outro, onde seja processo de crescimento.
Desde
1992, a Disciplina de Componente de Formação Técnica -
Oficina de Expressão Dramática, com todas as turmas que
se foram formando, até hoje, o programa foi sempre
cumprido, tendo resultado 38 apresentações de trabalhos,
tanto na Escola como noutros espaços, tanto isoladamente
como em parceria com outras disciplinas.
|