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Figura 12: Potes do azeite e
sertã para empilhamento das seiras a prensar. Lagar de Canelas de
Baixo, concelho de Arouca. Legenda: 1-arco de ferro
2-aduelas 3-asa do pote 4-sertã
5-balaústes 6-travessa 7-bico da
sertã 8-cano de esgoto 9-cano central.
A zona de empilhamento das seiras
(ou zona de
enseiramento, como também é chamada em alguns locais) é
constituída por um amplo recipiente de granito - a chamada sertã
(vejam-se as figuras 10, 11 e 12) -, situado por debaixo da vara e
entre a parede e os balaústes. É aqui que se vão empilhando as
seiras com a massa, para depois serem prensadas, libertando-se o
azeite. É aqui, igualmente, que se dá as caldas, em número de duas,
perfazendo-se, portanto,
um total de três prensagens.
O azeite, por acção da prensagem,
escorre para os
potes, onde, por decantação, se separa das águas
quentes que o ajudaram a separar-se da massa. Mais precisamente,
estamos na presença de um sistema primitivo de decantação,
tecnologicamente afastadíssimo das modernas centrifugadoras para o
azeite. Este sistema, documentado pela figura 12, é constituído por
um conjunto de dois potes geminados, ligados entre si. O primeiro, o
pote n.º 1, é o de recepção da mistura azeite-água que escorre da
sertã. Aqui é recolhida a mistura que imediatamente começa o seu
processo de decantação, separando-se a água do azeite na sua maior
parte. Por sua vez, a água, eventualmente ainda misturada com alguns
restos de azeite, passa para o pote n.º 2, onde esse processo se
conclui.
Atente-se no pormenor dos tubos 8 e
9, na figura 12. Não é por acaso que eles apresentam a situação e
inclinação documentadas pela gravura. A saída do pote n.º 1
situa-se a um nível baixo, para que só a água, eventualmente com
alguns restos de azeite, possa passar ao recipiente n.º 2; a entrada
no pote n.º 2 fica a um nível superior. O tubo de esgoto, n.º 8 da
figura 12, apresenta a sua saída, no pote n.º 2, a um nível muito
baixo, junto à base do recipiente, por ele saindo unicamente a água
e ficando, à superfície, restos de azeite que tenham ainda passado
misturados na água. São bastante elucidativas, a este respeito, as
palavras do informador, que passamos a transcrever:
«Tem dois potes ligados um ao outro. São ligados
por estes canos (8 e 9). A água caiu aqui; e o azeite fica e a água
sai do fundo do primeiro pote e bem ò cimo deste. Alguns olhos que
bem misturados na água sai outra bez do fundo deste e é que sai p'ra
fora. (...) Conforme sai [da sertã], a água sai dacolá... a água e
o azeite tudo misturado e depois é que depura aqui. O azeite é
tirado c'uma medida, uma medida de litro ou de dois litros. Bai-se
tirando, tirando, até chegar à água. Depois... e depois ò resto,
sabe, tudo o qui é e entrega ò freguês.»