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EM POUCAS LINHAS

O amor do próximo, a dedicação do homem pelo homem, individual ou colectivamente, deriva da Lei Suprema e do seu Autor; e transcende da lei natural, em todas as sociedades, em todas as gerações, através do tempo e do espaço, com as suas respectivas sanções mais ou menos impressivas e altruístas. É da história da humanidade; — é da psicologia das multidões, antiga, da idade média, moderna, contemporânea; e se é licito, no caso, discernir sobre o futuro, sê-lo há sempre.

 

 
 

Manuel Gonçalves Moreira
(Antigo Comandante dos Bombeiros)

 

Nos tempos actuais, porém, o pregão desse sentimento, dessa dedicação, tem-se derramado profunda e abundantemente, atingindo fórmulas as mais variadas de aplicação e prática, — a distância, todavia, considerável... das palavras, dos discursos, dos entusiasmos febris de ocasião, de seita, ou partido. — É também da história; da observação quotidiana; e, em suma, da perfeição ou imperfeição relativa que podem atingir os homens e as associações.

Quantum lenta solent inter viburna cupressi!

Nesta ordem de ideias (utilizando uma frase lapidar, consagrada, da região), merecem especial simpatia, respeito e gratidão os exemplos e as lições que nos dão aqueles que, com sacrifício das suas comodidades, e risco da própria vida, se dedicam heróica e destemidamente à causa pública, à salvação da vida e dos haveres de seus semelhantes, em lances aflitivos e angustiosos.

Na nossa terra, felizmente, temos desses exemplares a impor-se à consideração e simpatia dos seus concidadãos.

Além doutras agremiações, as duas companhias de Voluntários de que se vangloria a cidade ocupam lugar eminente; — e a mais antiga, a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários, tem a sua manifesta e honrosa primazia.

Fundada em 1882, progredindo sempre em conhecimentos da sua técnica, e tirocínio ordenado e discreto dos seus trabalhos, aumento e aperfeiçoamento do seu material, administração e orientação, não se esquecendo ainda da causa dos pobres, desvalidos e doentes, merece que os aveirenses a festejem no 50.º aniversário da sua fundação, e lhe rendam o merecido preito, associando-se às suas festas.

Em testemunho do elevado apreço em que tenho o amor ao próximo, individual e colectivo, e da obrigação e dever que todos temos de nos amarmos e de nos auxiliarmos mutuamente, segundo os ditames do Evangelho, — o livro da Eterna Sabedoria, e a voz do coração — acedendo ao convite obsequioso e popular, — é que traço estas linhas, e as entrego, de bom grado, a quem mas pediu, o Sr. Manuel José da Costa Guimarães, muito digno secretário da Direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro.

16/1/1932

P.e R. Vieira

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