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1882-1932

Bodas de Oiro
da
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro


CONVIDADO, para colaborar, no número único da Revista de Homenagem, dedicada à prestante Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro, em comemoração das suas bodas de Oiro, não pude esquivar-me a tão honrosa distinção, por razões várias e muito especialmente por ser um grande admirador de tão prestimosas colectividades. Em 27 de Janeiro de 1882, um grupo de cidadãos aveirenses, dos quais ainda vivem Manuel Homem Cristo, Fernando Cristo, Anselmo Ferreira, António Marques de Almeida, João Bernardo Ribeiro, Luís Benjamin e João Nunes da Maia, deliberou fundar uma corporação de Bombeiros, à qual foi dada o nome, salvo erro, que ainda hoje tem: Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Aveiro! Foi há 50 anos tomada esta resolução, reveladora de grandes sentimentos de bondade, de interesse e de defesa pelo próximo e não só por si próprios! Que dizer pois, de tão nobre ideia que foi posta em prática sob os melhores auspícios?! Que pensar de uma Associação de Bombeiros Voluntários, que tem a grata ventura de festejar as suas bodas de oiro?! Há que dizer o que a justiça lhe impõe. Há que pensar sinceramente alguma coisa de superior a todas as vaidades terrenas e ambições insofridas! Há que viver um pouco espiritualmente, honrando uma Associação benemérita e glorificando os seus decididos fundadores; temos de abandonar por um pouco, também, todos os interesses materiais, que à vida nos prendem profundamente!

É na verdade consolador, para aqueles que num momento de bem intencionadas ideias, tiveram a felicidade de fundar uma Associação tão útil, assistir à comemoração do seu cinquentenário! Quantas dores têm sido aliviadas pelos Bombeiros Velhos, (assim mais conhecidos)? Quantas desgraças têm sido minoradas e até evitadas? Quantos serviços úteis têm sido prestados? E entretanto que recebem eles? Que têm eles recebido?! — Acaso têm eles ligado aos seus serviços o interesse material? Não! Apenas têm recebido a gratidão, o reconhecimento e a admiração! E por vezes, porque não dizê-lo?! — nem isso!

Mas apesar de tal, o que felizmente não é vulgar, a alma do Bombeiro é boa, grande e generosa! No seu coração não se albergam maus sentimentos! Apenas o domina, nas horas incertas e devastadoras do fogo, com o mais completo desprezo pela vida... o amor do próximo, a vida do seu semelhante, os haveres dos seus concidadãos! Belo exemplo de humanidade e inesquecível prova de abnegação! Porque não olhar com admiração para os Bombeiros, muito especialmente quando eles são voluntários, pois, como todos os demais Bombeiros, sacrificam as suas próprias vidas em prol das alheias... apenas com o desejo / 14 / ardente de praticar uma obra meritória?! Honremos pois, os nossos Bombeiros Velhos, abraçando-os no dia das suas Bodas de Oiro! Curvemo-nos respeitosos perante a memória do que foi o seu 1.º comandante, o distinto oficial de marinha, Francisco Augusto da Fonseca Regala, e bem assim da daqueles que à sua corporação se dedicaram de corpo e alma! Felicitemos todos os membros desta gloriosa agremiação, na pessoa do seu actual 1.º comandante — Sr. Isaías Augusto de Albuquerque — espírito bondoso e activo, conhecedor profundo do «métier», carácter bem formado e disciplinador, assim como o seu decidido colaborador e 2.º comandante — Sr. Firmino Fernandes.

 

 

 
 

Dr. Joaquim de Melo Freitas
(Antigo Comandante dos Bombeiros

 

João Bernardo Ribeiro Júnior
(Antigo Comandante dos Bombeiros

 

São grandes estes homens, cujas obras enchem de luz o meio moral em que vivem e constituem o mais grandioso legado da humanidade.

A cidade de Aveiro, honrando estes seus dignos filhos e dedicados servidores, paga uma grande dívida de gratidão e oferece à veneração das gerações os protótipos das mais belas manifestações da humanidade, salientando esse sentimento brilhante, sublime, que electriza os corações, que arrebata as almas, que comove as multidões como um choque mágico, que é o amor do próximo! Sentimento grande, na verdade, profundo, capaz de feitos maravilhosos, admirável nas suas múltiplas manifestações, vasto e compreensivo como o seu próprio objecto e sempre cheio de abnegação e sacrifício! — Glorifiquemos pois estes elementos valorosos da sociedade em que vivem, cercando-os, de uma atmosfera de carinho, admiração e respeito!

Aveiro — Janeiro 1932.

M. Marques da Silva

Acesso a Memórias de Aveiro.Cimo da páginaPágina anteriorPágina seguinte