Tammy
Eu
era ainda bastante nova. Mas ela, ela era uma criança.
Contudo afeiçoei-me a ela. Ela era a amiga, a confidente e, quantas
vezes, ainda que mais nova, ela era o guia. Vivem o dia a dia os
problemas de tantos anos! Apesar de mais velha
era eu que mais frequentemente pedia: «ajuda-me». E ela vinha sempre, sorridente e amiga estender-me
a mão. E na mão que me
estendia estava sempre a certeza de poder sorrir de novo à vida. Ela
estava triste? Já nada me poderia dar prazer! Eu estava preocupada? Desenhavam-se-lhe duas rugas aos cantos da boca que já não sabia
sorrir. Acreditávamos que a amizade nunca morreria. E a nossa
crença não foi traída, porque a afeição não morreu.
Ontem vi-a. No olhar negro não havia luz. Na boca rosada não bailava
o sorriso a que me habituara. Olhou-me em silêncio, de fugida. Não
sei o que dizia o silêncio. Parecia-me triste. Eu também fiquei
calada muito embora tenha posto a amizade, que não morreu, no olhar
que lhe dirigi.
Ontem não nos encontrámos, não nos encontrámos com a plenitude do
encontro de alguns anos atrás. Não! Ontem cruzámo-nos apenas...
Mas, terá sido verdadeiro o encontro? Não terá sido um cruzar mais
demorado do que o de ontem? Não teriam sido silêncio como o de
ontem, silêncio triste, todas as palavras pronunciadas ao longo
desse encontro? Não sei, não sei.
A amizade não morreu, não morrerá! Mas... poderá ela resistir
ao
silêncio? Talvez. E se ela resistir, então sim, então encontrar-nos-emos plenamente, definitivamente, porque ontem
cruzámo-nos apenas. |