farol n.º 22 - mil novecentos e sessenta e seis ♦ sessenta e sete, págs. 12 e 13.

INTERVALO  POÉTICO

Celeste Almeida

Que frio gelado nos percorre
O pensamento, a alma, o coração,
Pela saudade eterna de quem morre.

Novembro...
Macabro palco de amagura,
Impiedosa lembrança que ficou
De uma vida curta e sempre dura.

Novembro...
Súplica da terra ao céu se faz,
Vozes conjuntas às dos anjos
Imploram «que descansem em paz!»

Novembro...
Crisântemos e cera em comunhão,
Orações, lágrimas, desespero,
A vida e a morte em união.

Ana Maria da Silva Valente

Mãe. Não sentes o perfume das flores do campo, daquelas que surgem brancas, puras entre a erva verde? Não vês borboletas, aqui e ali. pousando, voando, passando velozes, fugindo p'ra longe daqui? E o Sol? Não vês que se inclina para beijar as flores, para sentir o perfume que eu sinto também? Não ouves o cantar misterioso dos ramos das árvores que, todas felizes, balouçam, balouçam, dançam, dançam, ao som da brisa que passa ligeira, tocando flauta? Flores campesinas, ervas humildes, árvores gigantes.

Dançai, dançai ao som da flauta da brisa ligeira. Mãe. Não ouves, não vês? Mãe. se tu não ouves, não vês, aquilo que eu ouço, aquilo que eu vejo, então tu morreste?!... Morreste... Deixaste-me só. como as flores do campo, perdidas na erva verde. Mas porque partiste? Não vês que eu serei diferente de todas: elas, sorridentes, viçosas, bailando ao som da brisa que passa ligeira, tocando flauta; eu, murcha, morta, chorando por ti que não ouves essa música, que não me vês a mim.

Celeste Almeida

Absorta, exausta de dor e amargura,
Frágil como flor mimosa e delicada
Que precisa dos cuidados de uma alma apaixonada
Caminho errante no deserto da vida.

Procuro oásis, a mão amiga,
A felicidade que foge num suspiro
E como perfume de rosa que eu aspiro
Nada mais fica que a imagem da saudade.

Quero viver!
Vem até mim calma da Primavera,
Calor amigo de Verão,
Poesia doce e serena de Outono,
Morram trevas do inferno,
Quero novo ritmo na minha canção.

08-06-2018