Maria Teresa Silva
(4.° ano)
ANOITECIA! Todos a postos escutavam o menor
ruído. As armas eram freneticamente seguras
ou por mãos calejadas de rudes moços do campo ou bem tratadas e esguias de rapazes, uns quase
médicos outros advogados, que foram obrigados
a trocar a capa e a batina pela farda de soldado. Assim, fraternalmente unida, sem preconceitos de raça ou credos, esta
juventude cheia de vigor enfrentava com ânimo o perigo.
De dentes cerrados, ouvidos à escuta, estes jovens heróis
nada temiam. De um momento para o outro podia surgir o
inimigo ou mesmo talvez a morte, A tudo estavam expostos
e ainda o menor tormento seria, quem sabe, embarcarem
para a eternidade.
O vento assobiava raivoso! De quando em quando o
pior funesto das aves nocturnas. Por ali perto, um leão, rei
daquelas localidades rugia enfurecido. Ouvia-se o estalar
dos ramos secos sob as pesadas patas das feras.
Era aterrador!
Eis que de repente atroa os ares o cantar sinistro das
balas. Santo Deus! Estavam numa armadilha! Mas não
deixariam de lutar. Como poderia o desânimo penetrar nas
almas corajosas e decididas como destes jovens heróis?
Não! Custasse o que custasse, mesmo a própria vida,
defenderiam a Pátria, com o vivo entusiasmo, próprio da gente
moça. Seguindo o exemplo dos nossos nobres antepassados
arriscariam tudo em defesa das cores da nossa Bandeira.
Continuava o diabólico zumbir da metralha como se
fora uma toada de morte. Da boca de cada um, subia ao
Céu uma prece, implorando a Deus o Seu Divino auxílio.
Aninhados e protegidos pelo espesso matagal os nossos homens empenhavam-se em distribuir a morte no campo inimigo. De
crenças esquisitas os terroristas não temiam a
morte. Mas muito menos os nossos que se atiravam com a
fúria dos leões, peito feito às balas, em defesa de um ideal:
Pátria. Ouviam-se por vezes gemidos de dor, mas a luta continuava. Antes morrerem do que serem vencidos!
Só mais tarde, quando a escuridão começou a ser
substituída pela ténue claridade da manhã, é que deixou de se
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ouvir a terrível sinfonia. Os terroristas desapareceram no
emaranhado dos matos, tão misteriosamente como haviam
surgido. Os nossos, hirtos, de faces enrugadas, olhavam
atónitos o quadro: manchas de sangue na areia, prostrados
no chão os feridos contorciam-se de sofrimento. Depois de
prestados os possíveis socorros aos feridos, regressaram com a alma
enlutada por aqueles que haviam perdido a vida no feroz com bate,
mas em paz com as consciências pela satisfação do dever cumprido.
O sol tinha por fim vencido as trevas e iluminava a
floresta em toda a sua magnificência. O vento tinha acalmado! O silêncio que envolvia a imensa selva era apenas
interrompido pelos pesados passos dos soldados que regressavam após dura peleja.
Primeiro as trevas, a escuridão, a luta, depois o sol
radioso. Também para Portugal, depois da hora da luta, virá
a Glória do Triunfo. |