José T. Barreto
(7.° ano)
«...E porque a Nação é antes de mais
uma herança moral, é aos portugueses como pais que compete mobilizar
a juventude para que aceite e continue o património que desejamos
transmitir-lhe...»
Adriano Moreira
A
mártir província de
Angola, parcela do
nosso Ultramar, tem sido nos últimos meses palco
ensanguentado onde mãos sujas jogam (ou pretendem jogar) as suas
obscuras ambições.
Bandos de criminosos orientados
por estrangeiros que
se intitulam «libertadores do oprimido povo angolano» e
«patriotas de Angola» e que provas irrefutáveis mostram
que nada mais são do que capatazes de Moscovo, financiados
por países comunistas ou sob tutela do comunismo internacional, dão
largas aos seus instintos e acompanham os seus crimes – violação, trucidação,
torturas de toda a espécie, destruição de populações – das mais
inconcebíveis manifestações de primitivismo cruento e grosseiro;
isto para não
falar nos incêndios, devastações de aldeias indígenas, destruição de pontes, obstrução
de estradas e outras formas de
acção terrorista.
Em face destas brutais
realidades, tem de considerar-se verdadeiramente notável a acção das Forças Armadas
Portuguesas. O Exército Português não se tem restringido, aliás, ao
campo militar; desenvolve também uma notável e extremamente delicada
acção psico-social. Consiste esta em,
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mediante o contacto com as populações indígenas, estabelecer com elas laços de amizade, captando a sua confiança
abalada por uma propaganda dissolvente, garantindo-lhes condições de
segurança e apresentando-lhes a verdade dos
factos distorcida por astutos feiticeiros cuja influência é notável. Com o Exército colaboram a Marinha e a Força
Aérea e ainda grande número de colonos experimentados no
mato bem como a grande maioria da população negra, sobretudo bailundos, que os criminosos em vão têm tentado aliciar.
É este o aspecto que tem tomado a luta em Angola. Não obstante
dominado em grande parte o flagelo e refreado
o ímpeto dos assaltantes, excitados por promessas fictícias,
o perigo não passou ainda e a situação não está totalmente
saneada. E Angola, a martirizada mas heróica Angola, continua a ocupar o primeiro plano das atenções de todos os
Portugueses.
Descoberta por Diogo Cão em 1482, Angola foi urna entre tantas
terras que os Portugueses, em benefício de toda a Humanidade,
arrancaram à ignorância e à vida selvagem. Nesta acção, a gloriosa
e inspirada acção dos Descobrimentos quinhentistas, os nossos objectivos
transcenderam sempre os meros interesses materiais. A par dos contactos
comerciais estabelecidos, travámos contacto pacífico
com as populações nativas, através do qual foi possível a
difusão do ideal cristão de igualdade perante Deus, sem distinções de raça ou cor. A nossa acção traduz-se ainda noutras
realidades: a criação de laços de solidariedade desinteressada, a formação de sociedades multirraciais, com
penetração mútua de culturas, factos que tornaram possível
uma unificação espiritual. Como consequência natural, e finalmente, resultou a integração económica, social e política
de todas as populações na mesma entidade política unitária.
Estes os frutos desse extraordinário empreendimento
encetado há quase cinco séculos, e que grande parte do Mundo teima em não querer ver ou finge ignorar.
Aliás, numa época em que tudo se mede em potenciais
técnicos e económicos e em que a nota dominante nas relações entre as Nações
– mesmo entre as que têm um património cultural comum a defender – é um feroz materialismo,
é realmente difícil de conceber, de alcançar em toda a sua amplitude, a realidade da acção civilizadora ultramarina de
Portugal. Nesta empresa os nossos horizontes foram sempre muito
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– ocupando
muitas vezes o primeiro lugar – um outro mais elevado e
particularmente difícil: a acção missionária, espiritual e
cultural.
A nossa acção não pode, pela disparidade de
princípios orientadores, ser confundida com a acção ultramarina
realizada três séculos mais tarde, por alturas da revolução
industrial e resultante da necessidade criada às potências
industrializadas de recorrer ao local-origem das matérias
primas. Aí exerceram, pois, a sua acção, com a preocupação
primeira (ou única?) de obter vantagens económicas.
Não poderemos, pois, situar-nos no mesmo plano
dessas Nações. O nosso génio missionário deu à nossa colonização um carácter
sui generis – esta, a verdade que uma
visita honestamente feita ao Ultramar Português torna
evidente.
Conscientes dela, continuemos a responder com um
não categórico e bem firme a todo esse Mundo cego, que
pretende levar-nos a um entreguismo fácil, indigno da nossa
tradição ultramarina, indigno da nossa História.
Nunca na nossa longa e gloriosa vida de Nação
Independente nos faltou a coragem para enfrentar vitoriosamente
as mais graves situações criadas por um destino exigente;
pelo contrário, esses momentos decisivos fizeram brilhar
verdadeiros heróis, um escol que escreveu as mais belas páginas duma História, e que soube imprimir no seu povo um
sentimento forte e indomável: o orgulho de ser Português.
Saibamos, pois, nesta hora decisiva, responder com a
coragem e sacrifício que o momento nos impõe; assumir a
responsabilidade que o nosso dever de Portugueses nos exige, tomando a parte que nos cabe na salvaguarda da
Pátria-Mãe em perigo, e mantendo heróica e sem mácula a nossa História.
Temos sobre os ombros o peso dum milénio de
cultura e civilização e a responsabilidade das nossas heróicas
tradições.
A nossa luta, a da juventude de menos de vinte anos,
não se trava por enquanto no campo de batalha, nem é esse
o único meio de lutar. Por isso mesmo, não nos podemos ficar na cómoda situação de indiferença e passividade. A nossa acção
é bem cá dentro, onde a salvaguarda da causa nacional é uma necessidade não menos premente que na frente
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de batalha. Lutemos, pois, pela conservação dos tradicionais valores morais e espirituais do Portugal que amanhã
nos será entregue, derrubando com veemência o cepticismo
orgulhoso, a indiferença e a vergonhosa campanha de boatos e infundadas mentiras, enfim, todo esse sistema de
subversão interna que tem vindo a ser desenvolvido não sabemos por quem, pretendendo desmoralizar a opinião pública,
infelizmente pouco preparada para esses ataques, e actuando
muito especialmente junto dos jovens. A nossa missão é,
portanto, bem árdua, exigindo um espírito convenientemente
esclarecido e sem dúvidas. Assim, o nosso dever será cumprido totalmente, com absoluta consciência e noção das
responsabilidades, e com o acréscimo de energias que um Ideal
bem vincado nos fornece. E se porventura nos falta o desejado apoio moral de grande parte da Humanidade,
confiemos na comprovada solidariedade do Povo Português, esse
Povo enorme e esforçado, espalhado pelo vasto e querido Mundo
Português; um Povo pobre e pequeno em número,
mas grande pela sua alma e pelo seu arreigado patriotismo,
que tantas lições tem dado ao Mundo!...
Tenhamos fé em Deus que, pela sua omnisciência e
omnipotência, julgará a nossa causa com toda a verdade
que ela contém, e peçamos-Lhe êxito total para a luta em
que, pela Pátria em perigo, nos empenhámos.
Linóleo de José T.
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