Domingos Manuel Tavares
7.º ano (3.º ciclo)
HÁ, pelo menos hoje e entre nós, o hábito comum de
julgar todas as artes por dois processos diferentes de concepção: o clássico e o moderno.
Clássico, tudo o que é claro e apreendido ao primeiro golpe de vista, o
que é estruturado dentro de regras que têm sido postulados em
todas as gerações; o que é confuso, diferente, emaranhado, mostrando
pouco, é moderno.
O teatro não foge à regra: uma peça montada com cenários
piramidais (em forma de pirâmide), jogo mímico diferente,
iluminações em tons dilacerantes e efeitos de todas as cores, estupendo, fantástico, arrebatador, é essa tal maluqueira dos meninos
das cidades onde, porventura, ainda há companhias dramáticas. Do
outro lado as peçazinhas muito bem ditas e escritas com intuição,
dos que se aferram
numa pertinaz relutância pelo inovador, discordando dos artifícios e
métodos das correntes actuais.
Se, até certo ponto, é possível não atropelar esta diferenciação
para não ferir gostos, não o é quando se a toma como base de um
processo crítico de qualquer arte.
Houve sempre diferentes correntes teatrais e em todas houve bons e
maus valores, tal como o teatro de agora pode ser bom ou mau (e é
erro fazer-se juízo por um exemplo).
Claro que como espectáculo será o moderno, o único aceitável,
porque, utilizando a experiência de todas as correntes passadas,
atinge novos meios de expressão ou técnica, tornando-se mais completo, sendo, além disso, mais de acordo com a sensibilidade com um
dos nossos dias.
É por isso que mesmo uma obra de Sófocles ou de Shakespeare, para
falar de dois génios de uma expressão humana que ultrapassam o
tempo, pode ser representada dentro das novas correntes estéticas
com o maior êxito.
O que é diferente no teatro de hoje é a maneira como
/
18 /
são utilizados e conduzidos os diferentes elementos cénicos. O
encenador que respeita o espírito do texto, para ser conforme com a
criação artística do autor é, depois disso, um
novo artista criador, que utiliza a forma, o movimento, a luz, o
som, a cor, para dar vida a uma obra literária e a uma ideia.
Secundado pelo actor, que dentro da sua criação de espectáculo
dá-lhe a personagem que lhe é inerente, chega ao chamado Teatro
Moderno.
Temos pois que o bom Teatro para a nossa sociedade não é mais do
que representar um texto de qualquer idade de uma problemática
actual para ser compreendido e sentido pelo público a que se
destina, utilizando processos para tornar mais completa e perfeita
a representação, provocando
uma reacção emocional no público que o leve a pensar em si mesmo. |