António Alfredo Almeida
1.´º prémio (2.º ciclo)
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Avançaram durante aproximadamente meia hora sem
que fossem pressentidos pelo inimigo devido ao acidentado
do terreno e ao grande emaranhado de árvores e arbustos.
Pela vigia da cúpula, Michel observa o horizonte. O revólver não lhe sai da mão, para que não haja surpresas. De
repente abaixa-se, rebusca qualquer coisa dentro de um saco
de lona, e retira um objecto arredondado com uns sete centímetros de
comprimento e adapta-o ao cano do revólver. É
um silenciador, mais uma invenção para a guerra. Volta a
olhar pela vigia e qual o seu espanto ao ver dois soldados
inimigos a apontar uma «basooka» ao tanque. Um só tiro
bastava para o fazer voar em estilhas e com ele, os dois ocupantes.
Calma e friamente, Michel aponta o revólver por uma
frincha da cúpula e dispara dois tiros seguidos. Os dois soldados balançam-se tragicamente nas pernas, com os olhos abertos num
olhar de espanto e um rito de dor nos lábios
entreabertos; segundos depois tombam mortos. Aqueles dois
estalos de rolha de garrafa ao saltar «pop», «pop», foram o
suficiente para enviar dois alemães desta para melhor. O revólver e o silenciador, fizeram a sua obra: morte...
silenciosa.. .
– Henry, diz Michel, dois a menos!
– Bravo! E sem barulho, hem? Veremos se
continuamos assim...
Esse dia passa sem mais incidentes. Dir-se-ia que o
inimigo abandonara o campo de batalha... Mas os dois amigos
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não se fiam. Vê-se melhor um pela frente do que urna dúzia por
trás...
– Que dizes, Michel? Paramos aqui
? Não podemos seguir de noite!
– Encosta o «bicho» aí, a uma árvore. Cobre-se
com ramos e nós ficamos lá fora.
– Lá fora? Ora essa?! E para quê?
– Olha qu'esta?! Essa nem parece tua! Supõe que
algum cão danado se resolve a dar uma dentada numa pata
do «bicho» connosco lá dentro! Vê lá o que te aconteceria...
Um tiro de «basaooka» e os amigos Henry e Michel sepultados nas planícies da Alemanha.
– Grande ideia! Bem, vamos a isto, já está encostado à
árvore. Toca a cobri-lo!
Os dois soldados saltam para fora do tanque. As
machadas trabalham num ritmo alucinante, manejadas pelos braços fortes dos dois amigos. Um quarto de hora depois, estava
o tanque coberto. Michel vai lá dentro buscar mantas para
que possam dormir mais confortavelmente, mas não as
encontra. Tinham sido tiradas de lá e eles não tinham reparado nisso. Agora têm de dormir no chão. Só uns simples
coletes de coiro lhes servem de agasalho. Deitam-se os dois
no áspero, duro, pedregoso e frio solo da Alemanha, a menos
de uma légua das tropas avançadas do inimigo.
Duas horas depois, Michel abre um olho, depois outro,
olha para o lugar onde devia estar Henry e não o vê! Que se
teria passado? Levanta-se de um salto e corre para o
tanque. Qual o seu espanto ao ver o amigo sentado numa
«lagarta» com os olhos cerrados como que adormecido, e a
pistola-metralhadora sobre as pernas cruzadas à oriental.
Mas não. Henry não dorme. Está atento e muito atento.
Quando Michel já está próximo dele, salta de repente
para o chão e aponta-lhe a arma.
– Calma, sou eu, diz Michel.
– Por pouco apanhavas uma rajada. E matava o meu
melhor amigo...
– Deixemos isso. Vai tu agora descansar que eu faço
guarda.
– Bem, então até já!
– Bons sonhos, Henry!
E tomando a arma que o tenente lhe estendia, subiu
para a «lagarta», sentou-se e pô-la sobre os joelhos. Fechou
os olhos e encostou-se indolentemente ao «bicho».
Já despontava no horizonte o astro-rei, quando Henry
acordou e, olhando em direcção ao sítio onde estava o tanque,
/ 16 / vê-o já descoberto. apenas com alguns ramos que lhe cobriam a
parte superior. Levanta-se, faz alguns exercícios para
desentorpecer os músculos, esfrega as mãos e encaminha-se para
Michel que nesse momento aparecia por detrás da máquina.
– Então? Houve alguma novidade?
– Não, nada.
– Estou a ver que já começaste o dia, hem?
– Há bocadito. Tenho estado a tirar alguns ramos.
Podemos partir.
– Vamos lá tirar o resto.
– Não, aqueles ficam!
– Para quê? Não são precisos para nada!
– Ah! Não? Vão ajudar-nos, e muito!
– Ajudar-nos? Não sei como... hummm... Ah! Já sei! Para o
esconder mais depressa.
– Pois claro! Assim, se aparecer alguém, basta deixá-lo encostado a
uma árvore. E, pelo vistos, o arvoredo aqui é denso e vai ajudar-nos bastante. Não vai ser fácil descobrirem
-nos.
– Bem, vamos lá! Volta para a cúpula; veremos se tens de desrolhar
mais alguma garrafinha! É preciso mais cuidado agora, que estamos
a aproximar-nos desses cães danados.
E lá vão os dois, de novo, metidos naquela máquina infernal que
haveria de enviar muitos alemães para melhor vida.
Já se descortinam aqui e além as tendas do inimigo... Henry faz o
tanque seguir sempre junto das árvores para, se necessário, poder escondê-lo rapidamente.
As primeiras linhas, conseguiram eles passar sem novidade. Mas, ao
internarem-se mais num pequeno bosque, deparam com uma patrulha
inimiga que os olha com ar de poucos amigos.
– Atira-lhe, Michel! –
grita Henry, que vai ao volante. E de novo saltam as rolhas... |