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farol n.º 2 - mil novecentos e cinquenta e sete ♦ cinquenta e oito, pág. 11-14.

A obra de Carneiro Pacheco

F. DA CRUZ
(7.º ano)


SEM falar nos vastos serviços que Carneiro Pacheco prestou à Nação como professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, como Vice-Reitor da Universidade de Lisboa, como Embaixador de Portugal no estrangeiro, focaremos apenas algumas das suas realizações como ministro da Educação Nacional, realizações essas que nos estão mais ou menos ligadas e que por isso poderão tornar menos fastidioso o descritivo do trabalho.

Foi Carneiro Pacheco o homem de acção que não se limitava a estruturar plano, a idealizar processos ou a criticar programas. Ao mesmo tempo o seu espírito, ponderado e sereno, sonhava com «Portugal Renovado», por outro lado ele descia à acção, delineando objectivos concretos e traçando o caminho mais seguro para os atingir.

O seu espírito de observação e a visão clara que possuía das realidades, permitiram-lhe encarar os problemas de frente sem reservas nem reticências. Só deste modo conseguiu romper com a rotina, remodelando radicalmente o antigo e adaptando-o às novas exigências.

Todo este exaustivo trabalho, fê-lo sempre tendo em conta o seu sentido educativo e Cristão, a que, aliás, subordinou toda a sua actividade.

A reforma do ensino foi, sem dúvida alguma, o seu empreendimento central e aquele pelo qual o seu nome é mais conhecido.

A reforma não atingiu apenas o método do ensino então vigente, mas também a sua orientação, a sua estruturação geral e até, em certos pontos, os seus objectivos. / 12 /

Se não vejamos:

O velho método, segundo as suas próprias palavras, limitava-se a fazer «pequenos sábios, sem o mínimo cuidado pela educação da Juventude». Cuidava-se apenas da instrução do jovem sendo descurada a sua educação e formação.

E a mocidade, a quem não fora posta a evidência – a eficácia dos valores morais, e cuja consciência cívica e patriótica era quase inexistente, curvava-se, indecisa, ao sabor das primeiras aragens de teorias e credos doentios.

Carneiro Pacheco substituiu esta simples tarefa de instrução da Escola por uma missão mais elevada e mais nobre: a missão educativa, guiada segundo os mais puros e sadios princípios disciplinadores da moral Cristã.

Por outro lado aboliu o sistema velho e usado do «Magister dixit», criando as sessões culturais, as actividades circum-escolares, e acarinhando dum modo especial todas as iniciativas juvenis, com o fim de estimular os alunos e criar neles qualidades de trabalho, de iniciativa, de perspicácia, de observação, de auto-formação que todos possuem em potência mas que, regra geral, não têm ocasião de descobrir.

Na sua constante preocupação de simplificar esforços e dar ao ensino um carácter de maior unidade, criou o regime de livro único para as disciplinas essenciais dos liceus, medida cujo valor e utilidade nós reconhecemos.

Data igualmente do tempo em que exerceu o cargo de ministro da Educação Nacional, a inclusão da disciplina de Organização Política e Administrativa da Nação no programa do curso complementar liceal. O ensino secundário passou a chamar-se «liceal» e as «classes» que correspondiam ao que hoje se chama «anos» foram distribuídas por «ciclos».

Num outro plano, Carneiro Pacheco criou a Junta Nacional de Educação, o Conselho Permanente de Acção Educativa e o Instituto para a Alta Cultura, organismos que têm em vista não só a resolução de questões de interesse cultural, mas ainda actuar com estimulo, à investigação científica.

Mas se por um lado se preocupava em proporcionar à gente moça uma cultura intelectual e física que fossem as melhores garantias de um renascimento pátrio, por outro lado não esquecia que é preciso criar homens de amanhã que dêem às suas vidas / 13 / um sentido mais coerente, que compreendam a sua verdadeira situação de homens a cumprir uma missão mais alta e transcendente.

Foi de acordo com este pensamento, irrompendo por entre o emaranhado novelo de ideias e de princípios que entrechocavam e combatiam, que surgiu a ideia tão ousada como oportuna de colocar nas escolas, num lugar de destaque, um crucifixo sem ornatos nem enfeites. Um simples crucifixo...

«... Todos falavam na Fé e no Império, achavam bem nas caravelas a cruz de Cristo e nos aviões... mas o próprio Cristo não era por muitos confessado. Todos louvavam as missões católicas do Ultramar e a sua oficialização pelo Acto Colonial... mas Cristo havia de andar arredado das escolas da metrópole.

Todos reconheciam que o comunismo é o inimigo da civilização Cristã, mas não era erguida contra o comunismo a própria bandeira da civilização cristã: o Crucifixo».

E remata assim:

«Andaram os nossos antepassados a evangelizar o mundo com santidade e heroísmo e agora o Estado por actos e omissões andava a paganizar Portugal. E na gloriosa bandeira da nossa Pátria estão as cinco chagas de Cristo...»

Parece-nos ainda ouvir a sua voz repassada de religiosidade e patriotismo exclamar:

«– Excluir Deus da Escola é coisa abominável.

... Ela há-de ser a escola de portugueses, de portugueses na exaltação do amor pátrio, de portugueses no fortalecimento da coesão nacional, de portugueses no espírito de servir a Humanidade através da Nação.»

Uma das grandes obras do Professor Carneiro Pacheco, foi a fundação da Organização Nacional da Mocidade Portuguesa, destinada a «estimular o desenvolvimento físico, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina, e no culto do dever militar.»

Quando surge uma organização deste alcance aparecem sempre os descrentes a levantar dificuldades, alegando a inutilidade dos esforços empregados.

Também para esses cépticos, cegos para as realidades, a Mocidade, além do mais, é uma coisa escusada e supérflua.

/ 14 /

Carneiro Pacheco reconheceu que nem a Família, nem a Escola, nem a Igreja poderiam só por si e isoladamente, proporcionar ao jovem a aquisição duma consciência cívica, social e moral, a par de uma consciência nacional bem fundada nos princípios do Dever e da Honra.

«Consciência e unidade nacionais, hábitos de coesão e patriotismo militante, activa confiança nos destinos de Portugal, só poderão vincar-se bem na Juventude pela vida de uma organização em que ela caiba até aos mais longínquos confins do Império e que, em todos os seus graus e no seu espírito seja só Portuguesa.»

Essa organização foi criada por decreto-lei de 19 de Maio de 1936, com o nome de «MOCIDADE PORTUGUESA».

1936...

A Mocidade tem vinte e dois anos. Está jovem; corre-lhe fermente o sangue pelas veias, transborda vida do seu peito arfante!...

Quem fala em desfalecimentos?! Quem fala em frouxidão?!

... E a Mocidade, fiel à ordem do Chefe, o primeiro jovem do «Portugal Renovado» «canta» de lés a lés, num coro viril de vozes puras, em que também entram a do Infante e a de Nun' Álvares, a fé imperecível nos destinos da Pátria).

 

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04-06-2018