Emília Gomes de Carvalho
O
vento rodopia sem parar,
Varrendo o pó sombrio das estradas;
Folhas secas, tombando desmaiadas,
Murmuram orações, a soluçar...
O céu vai-se cobrindo de brancura!
Canções se ouvem ao longe, magoadas,
Pairando sobre as ondas revoltadas
Co'os ferozes caprichos da ventura.
Outono! Outono! A doce nostalgia
Que a lua, pouco a pouco enfraquecida,
Vem trazer à minh'alma dolorida,
É como meiga e terna sinfonia
Que, entrando de mansinho no meu ser,
Suaviza as loucuras do passado,
Aviva um sonho lindo desterrado
Há muito, entre as brumas do esquecer....
Outono! Tens p'ra mim belos encantos;
Suave melodia que entontece,
Mágico enlevo que desaparece
Por entre a infinidade dos teus cantos!
No coração me lanças meiga dor
Daquele sonho louco, mas ardente...
E já que dele foste confidente,
Sê sempre meu amigo e protector.
LANA |