Artur de Sá, Timor, Sociedade de Geografia de Lisboa. Semana do Ultramar, 1952, 84 págs.

Capítulo III

Descrição Económica

1) Agricultura

A produção agrícola é a principal fonte de riqueza de Timor, que ainda está longe de atingir o seu pleno desenvolvimento, devendo considerar-se na sua fase inicial. Primeiro, foi um longo período de lutas que proibiu a portugueses e indígenas outra cultura que não fosse a das armas. Depois, o primitivismo da população, as dificuldades provenientes da situação isolada da ilha tem prejudicado muito o esforço, deveras titânico, de muitos governadores, que, apesar de tudo, conseguiram resultados suficientes para se ter a certeza de que as fontes principais da riqueza timorense estão nas suas possibilidades agrícolas. Por isso, hoje, a palavra de ordem é cultivar, e cultivar sempre mais. Dentro deste plano criou-se, recentemente, uma repartição / 41 / técnica encarregada de orientar e defender este movimento que aspira a alcançar o objectivo ideal da auto-suficiência.

Através da história agrícola da ilha as duas espécies principais, na produção e no valor, têm sido o sândalo e o café, marcando até duas épocas na vida daquela terra. O sândalo chegou a ser a única fonte de receita, exportado em grandes quantidades, quando ainda tinha um preço de especiaria. Hoje esta madeira, praticamente, não representa nada para a economia da ilha, não só porque o seu valor já não é o mesmo, mas também porque as devastações de antigos comerciantes quase extinguiu ali esta espécie florestal.

O café está, hoje, espalhado por toda a ilha, havendo, contudo, regiões onde a sua cultura poderá ser introduzida, desde que se lhe prepare o ambiente próprio. Os grandes cafezais encontram-se nos reinos de Oeste: Ermera, Hatolia, Letofoho, Atsabe, etc. Além destas regiões, onde é cultivado em grande escala, existem pequenas plantações, espalhadas por toda a parte, pertencentes aos nativos, podendo afirmar-se que o grande cultor do café em Timor é o indígena, indo vendê-lo, depois, aos exportadores ou aos chineses. Estes, segundo o seu costume, procuram adquiri-lo pelo mais baixo preço e, por isso, estão fixadas as praças das transacções do café, no interior, afim de que as autoridades possam exercer a necessária fiscalização, em defesa. dos interesses indígenas.
 

/ 42 / Tanto as sociedades agrícolas de europeus, como outras entidades particulares, procuram, quase exclusivamente, a cultura do café, a única que, até aqui, garante lucros apreciáveis. Entre todas, avulta a «Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho» que possui as melhores plantações, e à qual Timor deve uma grande parte do seu movimento comercial. Depois da reocupação, o governo estabeleceu um crédito agrícola de que europeus e indígenas se aproveitaram para se dedicarem à vida rural e, em alguns casos, com resultados excelentes e até fora da expectativa.

Cultivam-se em Timor quatro espécies de café: arábica, libéria, robusta e moca, o mais apreciado de todos. Estas variedades foram introduzidas com o fim de aproveitar as altitudes e regiões propícias a cada uma das espécies. O mais divulgado, porém, é o café arábica.

Macassar e Sorabaia, devido à pouca distância de Timor, vinham sendo os mercados mais vantajosos para a colocação do café timorense, o melhor cotado, por sua qualidade e preparação. Agora, com a inauguração das carreiras marítimas entre Portugal e as províncias do Oriente, é de supor que a sua exportação para a Metrópole passe a ser regulada em maior escala.

Vai ganhando terreno também a cultura do algodão e da borracha. O algodão é cultivado pelos indígenas, desde há muito, para a confecção de seus grosseiros panos. Com a importação de melhores / 43 / sementes e processos mais aperfeiçoados de cultura, em hortas comunais dos reinos, sob a orientação das autoridades, tem-se conseguido uma produção melhor qualificada, com aceitação nos mercados de fora. A grande maioria da população veste-se ainda muito rudimentarmente, com indumentária reduzida à expressão mais simples. Quando outros hábitos, mais polidos, tiverem sido adoptados e os seus processos de tecelagem mais perfeitos, talvez a cultura do algodão venha a ter certa expansão.

Quanto à borracha, as suas plantações são ainda pouco numerosas e de pequenas dimensões. As experiências feitas nas granjas do Estado e de particulares deram bons resultados, e pode dizer-se que esta planta poderá vir a ter em Timor lugar de relevo, dado o valor do seu látex. O mesmo se pode dizer de outras espécies, pouco divulgadas ainda, como são: o cacau, o canela, etc.

O coqueiro é uma outra árvore com repercussão na economia timorense, fornecendo à exportação boa quantidade de copra. Timor não é de natureza a permitir grandes palmares e várias tentativas, que se propunham a sua cultura em extensas planícies, têm abortado. O indígena é quem se interessa mais por esta árvore, pelo alimento que dela tira.. O tabaco, o café, a arequeira e tantas outras árvores e plantas da flora timorense provaram já a sua adaptação a Timor, mas a sua cultura não se expandiu ainda.

 
Imagem 8, inserida na página 44.



/ 45 / Dão-se também em Timor muitas árvores de fruto que apenas indicaremos e que não representam grande valor económico, dada a impossibilidade da sua exportação. Umas são espontâneas, outras foram importadas. São estas as mais conhecidas: jaqueira, mangueira, papaeiras de várias espécies, laranjeiras e tangerineiras, abacateiro, jambotão, maracujá, pessegueiro, nespereira, ameixoeira, etc.

A base da alimentação indígena é o milho e o arroz, para os mais afortunados, pelo que a sua cultura é intensa. O arroz é cultivado em terrenos secos e em várzeas. Nos mercados aparecem também com abundância e cultivados pelos, indígenas: inhames, batatas, batata doce, feijão, abóbora, ervilha, fava, amendoim, mandioca, etc.

Uma outra. fonte de riqueza em Timor são as suas preciosas e variadas madeiras. As árvores são apeadas, sem método e num sistema de devastação que tem empobrecido a floresta da ilha. As queimadas, contra as quais tanto se tem dito e legislado, são outro flagelo da arborização, mas o indígena não se corrige, pois é o seu método de adubar as terras.

Como se vê, as possibilidades agrícolas são muitas e, consequentemente, o seu lugar na economia da terra é primordial. Carecem no entanto de método, direcção e maior desenvolvimento.

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2) Indústria

A indústria timorense é muito limitada e primitiva. Um dos espectáculos mais curiosos da paisagem timorense são as árvores, em determinados pontos da ilha, carregadas de enormes colmeias de que os indígenas extraem o mel e a cera, que é exportada, principalmente, para Macau. Esta é decerto a indústria mais rica de Timor, obra das abelhas, mais que dos nativos. Quanto ao mais, tecelagem, cerâmica, ourivesaria e vários outros artefactos, como trabalhos em rota, palha, tartaruga, etc., não representam valor apreciável na economia da terra.

Tem-se dito e escrito muito sobre as riquezas do subsolo timorense, que poderiam ser a base de qualquer indústria, mas as quantidades provenientes da exploração não têm sido apreciáveis. A pecuária ocupa, apenas, um modesto lugar na economia interna de Timor. Produtos de exportação, em escala apreciável, são o café, a copra, a cera, alguma borracha e pouco algodão.

 

Imagem 9, inserida na página 44.


3) Vias de comunicação

Actualmente, Timor possui vias de comunicação terrestres, marítimas e aéreas, para seu serviço interno. As vias de comunicação terrestres são mantidas através das suas estradas pelo serviço de camionagem e. por filas de cavalos, que transportam / 47 / do interior os produtos destinados ao consumo dos bazares ou à exportação. As estradas, umas dão passagem a carros, durante todo o ano; outras, cortadas pelas chuvas, são praticáveis só durante o tempo seco. O cavalo, chegando a toda a parte e em qualquer época do ano, continua indispensável na vida do indígena.

Como transportes marítimos, o governo adquiriu ainda há pouco, um pequeno barco, «D. Aleixo», que faz o serviço de cabotagem, recebendo em portos fundeáveis as mercadorias que os indígenas trazem do interior. Existiu, entre Macau e Timor, uma carreira marítima, mantida pelo barco «S. Rafael» da companhia SOTA. A carreira parece estar em vias de se extinguir ou talvez modificar, devido ao pouco interesse com que tem sido orientada. Díli é também porto de escala dos barcos da companhia K. L. M., que percorrem aquelas ilhas.

Quanto aos serviços aéreos, passou uma época de excessivo movimento, dadas as circunstâncias de então; hoje existe um serviço oficial para transporte do correio de Cupão para Díli, realizando-se outros voos só quando o serviço os justifique.

A vida económica de Timor tem andado amarrada a um círculo vicioso que ainda não foi possível quebrar. Aquela terra não se lança na produção, porque não tem possibilidades de exportação, por falta de transportes; e estes desinteressam-se, por / 47 / não haver carga. As novas comunicações entre Timor e a Metrópole não resolvem, logo de princípio, todas as dificuldades, mas acabam com o ponto morto que paralisa o movimento da vida económica daquela província.

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18-06-2015