1) Agricultura
A produção agrícola é a principal fonte de riqueza de Timor,
que ainda está longe de atingir o seu pleno desenvolvimento,
devendo considerar-se na sua fase inicial. Primeiro, foi um
longo período de lutas que proibiu a portugueses e indígenas
outra cultura que não fosse a das armas. Depois, o
primitivismo da população, as dificuldades provenientes da
situação isolada da ilha tem prejudicado muito o esforço,
deveras titânico, de muitos governadores, que, apesar de tudo,
conseguiram resultados suficientes para se ter a certeza de que as fontes
principais da riqueza timorense estão nas suas possibilidades
agrícolas. Por isso, hoje, a palavra de ordem é cultivar, e
cultivar sempre mais. Dentro deste plano criou-se,
recentemente, uma repartição /
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técnica encarregada de orientar e defender este movimento que
aspira a alcançar o objectivo ideal da auto-suficiência.
Através da história agrícola da ilha as
duas espécies principais, na produção e no valor, têm sido o
sândalo e o café, marcando até duas épocas na vida daquela
terra. O sândalo
chegou a ser a única fonte de receita, exportado em grandes
quantidades, quando ainda tinha um preço de especiaria. Hoje
esta madeira, praticamente, não representa nada para a
economia da ilha, não só porque o seu valor já não é o mesmo,
mas também porque as devastações de antigos comerciantes quase
extinguiu ali esta espécie florestal.
O café está, hoje, espalhado por toda a ilha, havendo,
contudo, regiões onde a sua cultura poderá
ser introduzida, desde que se lhe prepare o ambiente
próprio. Os grandes cafezais encontram-se nos reinos de Oeste:
Ermera, Hatolia, Letofoho, Atsabe, etc. Além destas regiões,
onde é cultivado em grande escala, existem pequenas
plantações, espalhadas por toda a parte, pertencentes aos
nativos, podendo
afirmar-se que o grande cultor do café em Timor
é o indígena, indo vendê-lo, depois, aos exportadores ou aos
chineses. Estes, segundo o seu costume, procuram adquiri-lo
pelo mais baixo preço e, por isso, estão fixadas as praças das
transacções do café, no interior, afim de que as autoridades
possam exercer a necessária fiscalização, em defesa. dos interesses
indígenas.
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Tanto as sociedades agrícolas de europeus, como outras
entidades particulares, procuram, quase exclusivamente, a
cultura do café, a única que, até aqui, garante lucros
apreciáveis. Entre todas, avulta a «Sociedade Agrícola Pátria
e Trabalho» que possui
as melhores plantações, e à qual Timor deve uma
grande parte do seu movimento comercial. Depois da reocupação,
o governo estabeleceu um crédito agrícola de que europeus e
indígenas se aproveitaram para se dedicarem à vida rural e, em
alguns casos, com resultados excelentes e até fora da
expectativa.
Cultivam-se em Timor quatro espécies de café: arábica,
libéria, robusta e moca, o mais apreciado
de todos. Estas variedades foram introduzidas com
o fim de aproveitar as altitudes e regiões propícias a cada
uma das espécies. O mais divulgado, porém,
é o café arábica.
Macassar e Sorabaia, devido à pouca distância de Timor, vinham
sendo os mercados mais vantajosos para a colocação do café
timorense, o melhor
cotado, por sua qualidade e preparação. Agora, com
a inauguração das carreiras marítimas entre Portugal e as
províncias do Oriente, é de supor que a sua exportação para a
Metrópole passe a ser regulada em maior escala.
Vai ganhando terreno também a cultura do algodão e da
borracha. O algodão é cultivado pelos indígenas, desde há
muito, para a confecção de seus grosseiros panos. Com a
importação de melhores /
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sementes e processos mais aperfeiçoados de cultura, em hortas
comunais dos reinos, sob a orientação das autoridades, tem-se
conseguido uma produção melhor qualificada, com aceitação nos
mercados de fora. A grande maioria da população veste-se ainda
muito rudimentarmente, com indumentária reduzida à expressão
mais simples. Quando outros hábitos, mais polidos, tiverem
sido adoptados e os seus processos de tecelagem mais
perfeitos, talvez a cultura do algodão venha a ter certa
expansão.
Quanto à borracha, as suas plantações são ainda pouco
numerosas e de pequenas dimensões. As experiências feitas nas
granjas do Estado e de particulares deram bons resultados, e
pode dizer-se que esta planta poderá vir a ter em Timor lugar
de relevo, dado o valor do seu látex. O mesmo se pode dizer
de outras espécies, pouco divulgadas ainda, como são: o
cacau, o canela, etc.
O coqueiro é uma outra árvore com repercussão na economia
timorense, fornecendo à exportação boa quantidade de copra.
Timor não é de natureza a permitir grandes palmares e várias
tentativas, que se propunham a sua cultura em extensas
planícies, têm abortado. O indígena é quem se interessa mais
por esta árvore, pelo alimento que dela tira.. O tabaco, o
café, a arequeira e tantas outras árvores e plantas da flora
timorense provaram já a sua adaptação a Timor, mas a sua
cultura não se expandiu ainda.
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Dão-se também em Timor muitas árvores de fruto que apenas
indicaremos e que não representam grande valor económico, dada
a impossibilidade da sua exportação. Umas são espontâneas,
outras foram importadas. São estas as mais conhecidas:
jaqueira, mangueira, papaeiras de várias espécies, laranjeiras
e tangerineiras, abacateiro, jambotão, maracujá, pessegueiro,
nespereira, ameixoeira, etc.
A base da alimentação indígena é o milho e o arroz, para os
mais afortunados, pelo que a sua cultura é intensa. O arroz é
cultivado em terrenos secos e em várzeas. Nos mercados aparecem também com
abundância e cultivados pelos, indígenas: inhames, batatas,
batata doce, feijão, abóbora, ervilha, fava, amendoim,
mandioca, etc.
Uma outra. fonte de riqueza em Timor são as suas preciosas e
variadas madeiras. As árvores são apeadas, sem método e num
sistema de devastação que tem empobrecido a floresta da ilha.
As queimadas, contra as quais tanto se tem dito e legislado, são outro flagelo da arborização, mas o indígena não
se corrige, pois é o seu método de adubar as terras.
Como se vê, as possibilidades agrícolas são muitas e,
consequentemente, o seu lugar na economia da terra é
primordial. Carecem no entanto de método, direcção e maior desenvolvimento.
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2) Indústria
A indústria timorense é muito limitada e primitiva. Um dos espectáculos mais curiosos da paisagem timorense
são as árvores, em determinados pontos da ilha, carregadas de
enormes colmeias de que os indígenas extraem o mel e a cera,
que é exportada, principalmente, para Macau. Esta é decerto a
indústria mais rica de Timor, obra das abelhas, mais que dos
nativos. Quanto ao mais, tecelagem, cerâmica, ourivesaria e
vários outros artefactos, como trabalhos em rota, palha,
tartaruga, etc., não representam valor apreciável na economia
da terra.
Tem-se dito e escrito muito sobre as riquezas
do
subsolo timorense, que poderiam ser a base de qualquer
indústria, mas as quantidades provenientes da exploração não
têm sido apreciáveis. A pecuária ocupa, apenas, um modesto
lugar na economia interna de Timor. Produtos de exportação, em
escala apreciável, são o café, a copra, a cera, alguma
borracha e pouco algodão.
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3) Vias de comunicação
Actualmente, Timor possui vias de comunicação terrestres,
marítimas e aéreas, para seu serviço interno. As vias de comunicação terrestres são mantidas através
das suas estradas pelo serviço de camionagem e. por filas de
cavalos, que transportam /
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do interior os produtos destinados ao consumo dos bazares ou à
exportação. As estradas, umas dão passagem a carros, durante
todo o ano; outras, cortadas pelas chuvas, são praticáveis só
durante o tempo seco. O cavalo, chegando a toda a parte e em
qualquer época do ano, continua indispensável na vida do
indígena.
Como transportes marítimos, o governo adquiriu ainda há pouco,
um pequeno barco, «D. Aleixo», que faz o serviço de cabotagem,
recebendo em portos fundeáveis as mercadorias que os indígenas
trazem do interior. Existiu, entre Macau e Timor, uma carreira
marítima, mantida pelo barco «S. Rafael» da companhia SOTA. A
carreira parece estar em vias de se extinguir ou talvez
modificar, devido ao pouco interesse com que tem sido
orientada. Díli é também porto de escala dos barcos da
companhia K. L. M.,
que percorrem aquelas ilhas.
Quanto aos serviços aéreos, passou uma época de excessivo
movimento, dadas as circunstâncias de então; hoje existe um
serviço oficial para transporte do correio de Cupão para Díli,
realizando-se outros voos só quando o serviço os justifique.
A vida económica de Timor tem andado amarrada a um círculo vicioso que ainda não foi possível quebrar.
Aquela terra não se lança na produção, porque não tem
possibilidades de exportação, por falta de transportes; e
estes desinteressam-se, por / 47 /
não haver carga. As novas comunicações entre Timor e a
Metrópole não resolvem, logo de princípio, todas as
dificuldades, mas acabam com o ponto morto que paralisa o
movimento da vida económica daquela província. |