A divisão administrativa de Timor tem variado, conforme as
disposições dos governos locais, extinguindo-se ou criando-se circunscrições, à mercê
dos acontecimentos. Há quem defenda uma divisão baseada na
diversidade linguística das regiões. Semelhante divisão não
deixaria de ter os seus inconvenientes também, mesmo porque as
velhas circunscrições não renunciam, facilmente, à sua
categoria, apelando para a tradição, que é de boa política
respeitar.
Actualmente Timor divide-se em um concelho, Díli, e sete
circunscrições civis: Lautem, Baucau, Manatuto, Viqueque, Suro,
Ermera e Bobonaro, que, por sua vez, se dividem em vários
postos. Os principais centros populacionais são: Díli,
capital; Los
PaIos, Fuiloro, Lautem, Baucau, Manatuto, Soíbada, /
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Liquiçá, Maubara, Ermera, Hatolia, Aileu, Ainaro,
Bobonaro e Ocussi.
Sob o aspecto eclesiástico, forma uma diocese, e
judicialmente, constitui uma comarca, dependente da relação de
Goa. Funcionam ali outros serviços públicos, tais como:
Militares, Saúde e Higiene, Ensino, Obras Públicas, Correios e
Telégrafos, Aéreos, Fazenda, Câmara Municipal, etc.
Recentemente criou-se a Repartição Técnica de
Agricultura, Veterinária e Indústria Animal, que muito
contribuirá para o desenvolvimento das riquezas básicas de
Timor.
1) Situação actual
O governo de Timor não deve oferecer dificuldades especiais
numa situação normal. A índole indígena, a sua fidelidade,
auxiliam em muito a acção das autoridades. Presentemente,
circunstâncias várias alteraram o ambiente. Aquela terra
sofreu duas ocupações, com todas as suas consequências perniciosas. As devastações materiais poderão ser reparadas com
orçamentos, mais ou menos generosos,
mas os efeitos duma catástrofe no ânimo do indígena
atingem-lhe, por vezes, a índole e os sentimentos, cuja terapêutica é sempre melindrosa. Timor vive uma
fase de recuperação material e moral. A
força de ânimo para vencer as dificuldades que surgem e que
naquela terra tomam proporções insuperáveis, a
responsabilidade numa empresa que, / 50 /
descuidada, pode afectar-lhe o destino reclamam funcionários
administrativos, especialmente, aptos e bem dotados.
Acrescentemos ainda o facto de se ter dado na vida indígena
uma transição brusca, na sua economia, nos seus hábitos e nas
suas aspirações. Um pico de arroz que antes da guerra custava
30$00, hoje não se vende por menos de 130$00; muitos
indígenas que se ufanavam da sua lipa e baju, agora
apresentam-se calçados e rigorosamente vestidos de calça e
casaco; rapazes das escolas, que voltavam com mais
conhecimentos à vida agrícola das suas terras, presentemente,
atropelam-se na capital ou nas vilas, à espera de um lugar
qualquer nos serviços do Estado. Colocar as coisas no seus
devidos lugares, evitar que o nível de vida se estabilize numa
situação fictícia, impedir que ela possa recuar,
desairosamente, são problemas que seria injusto considerar
isentos de soluções espinhosas.
Outros factores mais intervieram na modificação que Timor
sofreu e que importa não esquecer. O
indígena suportou a presença de outras gentes, no uso e abuso
da sua força; muitos, refugiados na Austrália, viram novas
terras e coisas grandiosas, que não deixarão de comentar e
interpretar, a seu modo. Além disso, a situação política dos
arredores modificando-se, profundamente. Atendendo à índole
esfíngica do indígena, será necessária grande profundidade de
inteligência, para descobrir os reflexos /
52 /
destas circunstâncias e muita leveza de tacto, para intervir.
Todos estes problemas são escolhos que em Timor tornam
particularmente ingrata a acção administrativa, no momento
presente.
2) Missões Católicas
Timor é uma terra de missões, elevada a diocese em 1940. A
importância que a obra da evangelização teve e tem ainda na
história de Timor exige que se lhe faça uma referência
especial.
A Diocese consta de uma paróquia, em Díli, e doze
circunscrições eclesiásticas, divididas em sessenta e duas
estações missionárias. Em cada circunscrição reside, pelo
menos, um missionário, encarregado da necessária assistência
aos cristãos e da
conversão dos gentios. As estações missionárias são
também visitadas, frequentemente, pelos respectivos
missionários, afim de que mesmo distanciados, possam manter
viva a prática religiosa. Nestas estações missionárias reside
um ou mais catequistas, encarregados da primeira instrução
religiosa a ministrar aos catecúmenos. Deste modo, pode
dizer-se
que a ocupação missionária, longe de estar completa, chega já
a todos os pontos da ilha.
O número dos cristãos é de 48.764, com um movimento de
conversões que anda à roda de 10.000 /
53 /
por ano, após a guerra. O pessoal missionário que trabalha
nestas cristandades é o seguinte:
|
Sacerdotes seculares
.......................................... |
26 |
|
|
Sacerdotes salazianos
........................................ |
5 |
|
|
Coadjutores salazianos
....................................... |
5 |
|
|
Irmãs canossianas
................................................ |
25 |
|
|
Pessoal auxiliar
..................................................... |
215 |
|
A maior parte das igrejas e capelas foram destruídas,
durante a guerra, pelo invasor. Muitas foram já levantadas de
novo, mas grande parte do serviço religioso é feito ainda em
edifícios provisórios.
A obra das missões é sustentada, praticamente, pelo governo,
com dotações, tanto quanto possível, generosas. O movimento
crescente de conversões que se vem registando, depois da
guerra, está nas tradições daqueles povos que se habituaram a
beber nos fundamentos da fé cristã a nobreza do seu
patriotismo.
3) Instrução
O ensino em Timor tem passado por vicissitudes várias; umas
vezes, dotado com grande número de escolas, em que os frades
até ensinavam latim; outras, reduzido a uma só, em Díli, e na
qual se ensinava a ler e escrever, somente.
/
54 /
Hoje, a instrução, entre os indígenas, está ainda na sua
primeira fase, prejudicada por vários factores, até há pouco:
regime escolar deficiente, programas inadequados, objectivos
erróneos.
A maior parte das escolas funcionavam como semi-internatos. Os
alunos ausentavam-se, frequentemente, para irem buscar a suas
casas, em aldeias distantes, géneros para o seu sustento.
Nestas caminhadas perdiam grande parte do tempo, com prejuízo
evidente para o seu aproveitamento, havendo exemplos de
rapazes que pareciam dispostos a envelhecer nas primeiras
letras.
Durante muito tempo estiveram em prática os programas de
ensino, adoptados na Metrópole, facilitando-se aos alunos o
grau de instrução permitido pelos quadros escolares locais. Os
rapazes decoravam os nomes de todas as figuras da nossa
história, mas ignoravam tudo quanto nela lhes dizia respeito.
O diploma de exame desejavam-no, como chave de qualquer
repartição pública, com uma vaga para mais um. Muitos rapazes
com o seu curso primário passeavam-se, indolentes, pelas ruas
da cidade ou das vilas, porque lhes repugnava voltar à sua
antiga vida agrícola e os serviços do Estado não podiam
dar entrada a toda a gente.
Resolveu-se então, e muito bem, dar outra orientação ao
ensino. Modificou-se o regime das escolas, e alteraram-se os
programas. O objectivo primário e geral da instrução, no
momento presente, é proporcionar a todos o conhecimento das primeiras
/
55 / letras, dentro duma formação rural, pois as grandes esperanças
de Timor estão depositadas nas suas possibilidades agrícolas.
Deste modo, os alunos serão preparados para continuar, com
gosto, nos seus povoados, um modo de vida: que é o seu, mas em
nível melhorado.
Seria, no entanto, injusto negar-se aos rapazes,
intelectualmente bem dotados, o direito a uma instrução em
grau superior. Estes poderão continuar os seus estudos em
escolas de ensino primário ou nos colégios. Com esta mesma
finalidade funciona, até ao V ano, um colégio-liceu para
europeus e indígenas com as necessárias aptidões.
O ensino para um e outro sexo está entregue à Diocese, excepto
o ministrado no Colégio-Liceu e na Escola Municipal de Díli. O
pessoal empregado nas escolas e colégios diocesanos é de 88
pessoas, entre sacerdotes, religiosas canossianas e
professores indígenas. O número de alunos, referente ao ano de
1951, era de 3.387 e as alunas somavam 640. Os
estabelecimentos são os seguintes:
Um Seminário menor
Uma escola para preparação de Professores-catequistas
Colégios masculinos
..........................................................................
3
Colégios femininos
.............................................................................
2
Escolas masculinas
............................................................................
8
Escolas femininas
...............................................................................
4
Internatos rurais
................................................................................ 16
/
56 / O Governo enviou à Metrópole alguns rapazes timorenses, filhos
de famílias que na última guerra provaram, até ao sacrifício,
a sua dedicação a Portugal, nomeadamente, dois netos do
heróico Dom Aleixo. Já desde tempos muito recuados, era
preocupação dos governadores a educação especial dos futuros
régulos. É certo que uma das maiores revoltas foi planeada por
um antigo aluno das escolas, D. Boaventura, mas em
compensação, temos autoridades indígenas, educadas igualmente
nos vários estabelecimentos de ensino e que se têm portado distintamente na fidelidade à Pátria. Parece-nos ser de
considerar a educação própria destes rapazes, e quando for
possível, com estágios na Metrópole ou, pelo menos, com o
estímulo de uma visita.
Permitimo-nos aqui uma nota referente ao elemento europeu. Os portugueses existentes em Timor não devem
ser muitos e, na quase sua totalidade, funcionários ou
colonos. Uns e outros vivem espalhados pelo interior e mesmo
Díli não se pode considerar um centro de população portuguesa
muito denso. Isto explica, até certo ponto, o facto de naquela
terra não existir qualquer associação cultural: uma biblioteca
pública, um grupo musical, etc. Várias tentativas para lançar
um jornal de interesse local têm abortado. Publica-se,
actualmente, uma revistazinha eclesiástica que se apresentou mensal e já
passou a trimestral. Tudo isto se explica pelas condições do
meio, mas deve ser possível fazer vingar ali também qualquer
modalidade de recreio para / 57 /
o espírito. Os nossos missionários, as nossas autoridades, que
são em outras partes os autores das melhores obras sobre a
vida indígena, em Timor não se dedicam a estas lides. E
contudo, os seus trabalhos seriam de sumo interesse para os
nossos estudos ultramarinos e de certo proveito para Timor,
pois dá-Io-iam a conhecer melhor. |