Ezequiel Arteiro, Palavras que eu canto,  1ª ed., Aveiro, O Nosso Jornal - Portucel, 1984, 96 pp.

Lágrimas de saudade

 

Ó terra de Santa Eulália,
Lindo berço onde nasci!
Embora viva distante.
Nunca me esqueço de ti. 

Nunca esqueço as amizades
Que em Beiriz deixei ficar...
Se lá vou matar saudades.
Regresso sempre a chorar...

Indo a Beiriz, vou à igreja,
— Quem sabe se choro ao vê-Ia?
Passam-se anos sem que a veja,
Mas nunca posso esquecê-Ia!

Tenho a imagem do retábulo
Gravada no coração:
— Mostra Jesus. triunfante,
Na gloriosa ascenção!...

Embora eu seja feliz
E resida em Portugal,
Muito me lembra Beiriz
Nesta quadra de Natal.

Tenho impressão que até ouço
O seu sino a repicar
Enquanto o senhor Abade
Dá o Menino a beijar.

Linda igreja de Beiriz,
Altar do meu casamento!
Sentir-me-ei tão feliz
Quando for rezar lá dentro!... 

Na entrada, verei que ao lado
Tem a pia baptismal
Onde em 'nino fui lavado
Do pecado original.

                    *

Dia vinte e seis de Maio!
— Não sei como hei-de passá-lo
Sem poder ir a Beiriz

À festa de S. Gonçalo...

Os meus olhos, nesse dia,
Serão duas fontes d'águal...
Que Deus me dê valentia,
p'ra vencer tão forte mágoa.

Tomarei, indo a Beiriz,
Jesus em forma de pão
No mesmo altar em que fiz
A primeira comunhão.

Não volto sem que lá reze
O Pai-Nosso, Avé-Maria,
Que é o fruto da catequese
Que aprendi na sacristia.

Fui a Beiriz e jurei
Voltar lá quando pudesse
Porque a terra onde se nasce,
Não sei porquê, nunca esquece.

Entrei na igreja? — Que lindal...
Confesso que até supus
Tratar-se do Céu aberto!...

Lá dentro estava Jesus.

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