Nunca podemos imaginar
O que seria a esperança a haver
Depois do tempo nos ter deixado
Esquecidos algures numa curva da vida
Onde tudo, aí se consumiu,
Ardendo com ferocidade,
No imparável e virtual fogo
Que não consome as memórias,
Amontoando-as sobre outras já desfeitas, e
Transformando cores e paisagens
Em densa e asfixiante nostalgia,
Mutilando aquilo que tu e eu
Pensámos e tomámos como infalível,
Como duradoiro ou imutável
Até ao fim de um tempo,
E nem sequer pensamos
Que esse tempo, afinal,
Nunca viria a ser o nosso.

Em cada grão desta romã
Esquecida no pomar da vida,
A nossa pacífica união,
Este doce e quente abraço,
Que vai desmaterializando
A arquitectura que ainda alimenta
A imortalidade que só existe na vivência,
Que tu e eu jamais esqueceremos
E nunca apagará as nossas sombras
Ora cristalizadas no fulgurante rubor
Dos amadurecidos grãos desta romã.