JORNAL N.º 2

JUNHO 1989
25 ALUNOS


ESCOLA SECUNDÁRIA HOMEM CRISTO - AVEIRO
COLABORA NO ENRIQUECIMENTO DO TEU JORNAL

SUMÁRIO

 

Editorial

 

Nota de Abertura

 

Um conto de
Eça de
Queirós

 

Parábola
Reflexão
Hora de crime

 

Momento de
Poesia

 

Desporto
Baile de
finalistas

 

Passatempos

 

Fac-símile
da 1ª página

 
 
 











PARÁBOLA N.º 2

Era uma vez uma Escola!

Esta Escola, como tantas outras Escolas de tantas outras cidades em tantos outros países, era um edifício antigo com muitas salas grandes... altas... com muitas mesas e cadeiras. Lá à frente, nestas salas, a um canto, havia uma mesa maior com gavetas e também com uma cadeira. E havia um quadro preto. E uma porta... e janelas.., e às vezes um armário!

Nessas salas arrumavam-se os alunos, isto é, os meninos e as meninas, os jovens e as jovens... e os adultos também. Havia sempre também um professor em cada sala.

Quando havia alunos e professores havia aulas.

Os alunos nem sempre gostavam das aulas... nem dos professores... nem do que aprendiam!

Os professores também nem sempre gostavam das aulas.... nem dos alunos... nem do que ensinavam!

Os professores já tinham dado muitas aulas. Tinham estudado muito para dar aulas. Já tinham trabalhado em muitas Escolas como aquela. Algumas dessas Escolas eram longe da casa dos professores.... longe do marido ou da mulher dos professores... longe dos filhos dos professores.

Alguns professores vinham de longe para dar as aulas. Tinham que gastar mais dinheiro na viagem... no almoço, às vezes no jantar...

Mas os professores iam dando as aulas!

Os professores tinham que comprar livros para estudar para dar as aulas. Tinham que actualizar o que tinham aprendido... que fazer cursos de formação.

O dinheiro dos professores não chegava e eles iam sempre protestando - maior salário, melhores condições, menos alunos nas salas... Mas os professores iam dando as aulas!

O trabalho ia dia a dia piorando. O Ministro nunca fazia nenhuma vontade aos professores. O Ministério nem sequer “ligava” aos professores. Todos os preços iam subindo... os salários não subiam... Os professores continuavam a protestar. Mas os professores iam sempre dando as aulas!

Foram saindo reformas; foram-se alterando coisas no ensino.

Mas o Ministério não perguntou nunca nada aos professores. E os professores cada vez se iam zangando mais.

Tudo foi indo de mal a pior. Os professores queriam um estatuto de carreira que não tinham, queriam melhores condições, melhores salários. E o Ministro não havia meio de os ouvir.

Um dia... zás! Os professores zangaram-se mesmo. E fizeram uma greve. Uma greve a sério! Três dias de greve!

Mas nessa tal Escola havia uma Festa. Urna Festa nesses três dias! E não se fez Festa... porque os professores fizeram greve!

E alguns alunos zangaram-se! E com quem? Não, não foi com o Ministério, nem com o Ministro, nem com o sistema... foi com os professores! Com os professores!

Esqueceram-se que a Escola deles funcionava porque os Professores estavam lá, esqueceram-se que os Professores pediam melhores condições de vida, melhores condições de trabalho, melhores Escolas, melhor Ensino também para os alunos que estão na mesma Escola!

Os Professores ficaram espantados! Mas vão continuar a lutar até conseguirem o que querem!

E sempre que for preciso, os Professores vão parar novamente! Vão fazer greve! Os Professores vão conseguir! Porque só assim poderemos todos ter a Escola que sonhamos!

HELENA MARQUES


MOMENTO DE REFLEXÃO

QUAL O SENTIDO DA VIDA

Hoje, numa noite escura e fria, ao calor da lareira, reflicto sobre o que vai no Mundo, o que os jovens pensam e a razão por que tomam atitudes tão drásticas. Enfim, qual o sentido das suas vidas.

A droga, para mim e muitos que pensam como eu, é algo que destrói o ser humano, para ou­tros, no entanto, é algo que os faz sentir bem. Eu penso que ninguém, conscientemente, tem o direito de destruir algo que foi construído com muito amor e carinho — a sua existência. A vida é um poço de surpresas, é o próprio amor. É preciso estar atento, porque tudo começa e acaba repentinamente. No entanto, não existe uma definição específica, única e clara, de amor. Já Camões o define de uma forma complexa. Diz ele que «Amor é fogo que arde e não se vê, é ferida que dói e não se sente...». 

Presentemente, muitos jovens não sentem esse amor, não têm gosto pela vida. É preciso ajudar os jovens a encontrar a verdadeira harmonia e felicidade. Muitos jovens, cuja vida não tem nenhum sentido, destroem-se dia a dia e cada vez mais. É o caso do João.

João era um rapaz cuja solidão o ameaçava. Sentia-se triste, rejeitado e sozinho. Os seus pais viviam problemas constantes. Os seus olhos estavam marcados, “mudavam de cor” quando alguém falava deste assunto.

João, não tendo encontrado nenhum sentido para a sua vida, começou a drogar-se aos dez anos. Assim, deixou de sofrer tanto, porque a droga o fechava interiormente, impedindo-o de conviver tão abertamente com os pais. Mas, quando o efeito da droga passava, voltava a sentir-se mal, angustiado, sem nenhuma razão para viver.

Numa noite como esta, cansou-se de tudo e de todos e suicidou-se. Era uma noite fria e escura. Não existiam estrelas de amor. A Lua, voltada para ele, reflectia e esforçava-se por lhe mostrar qual o caminho certo, Mas João estava cego. Não a viu, porque o seu coração estava cansado de viver.

Todos juntos, temos de nos esforçar para minimizar estas situações. Hoje, não vejo o céu cheio de estrelas; está escuro e frio, mas o meu coração está cheio de amor.

Carla Sofia Correia, N.º 9. Turma C, 11º Ano


MEIA NOITE, HORA DE CRIME

O inverno estava tenebroso. A Lua, larga e congelada como uma bola de neve, brilhava sinistramente. Sob a ténue claridade das estrelas, a floresta, vasta e cinzenta, adquiria um aspecto fantasmagórico.

O que estaria eu ali a fazer, envolto naquela escuridão enregelante? Não me lembrava de nada, a não ser de que estava perdido e terrivelmente assustado. Continuei a percorrer aquele caminho inclinado e escorregadio, sentindo que me estava a embrenhar cada vez mais naquela gélida floresta.

Depois de caminhar algum tempo, deparei com uma casa de madeira, isolada e provavelmente abandonada. Fiquei indeciso, sem saber o que fazer. Decidi finalmente aproximar-me. De súbito, lembrei-me que tinha uma caixa de fósforos no bolso. Acendi um. A chama pintou de dourado tudo aquilo que me rodeava, Avancei então. Ao abrir a porta, fiquei petrificado com o que vi. Várias cabeças de pessoas estavam dispostas sobre uma mesa. Horrorizado, soltei um grito estridente!

O que se passou a seguir foi muito rápido: dois vultos saídos de não sei de onde agarraram-me, amordaçaram-me, ataram-me pés e mãos e atiraram-me para uma arrumação. Estava aterrorizado, sem saber o que fazer. Parecia que eles estavam a falar de mim. Pus-me à escuta e eis o que ouvi:

- Temos de nos livrar do empecilho do garoto... à meia-noite... não pode escapar. Descobriu o nosso refúgio. Viu as cabeças de cera que roubámos do museu. Se o deixamos fugir, estamos tramados!

Devo ter desmaiado, porque, momentos depois, senti que alguém me empurrava. Pensei se já seria meia-noite. Um calafrio percorreu-me a coluna. Ouvi alguém dizer:

- Filho...  Acorda!

Não queria acreditar no que escutava! O que estaria a minha mãe a fazer ali? Teria ido procurar-me e tê-la-iam também capturado? Voltei a ser abanado e perguntei:

- já é meia-noite?

Pareceu-me que a minha mãe se estava a rir. Então ela disse-me:

- Meia-noite?! É já meio-dia. Estiveste a ver o filme da noite, não foi, meu malandreco?

Abri então os olhos e vi que estava no meu quarto e a minha mãe inclinada, a tentar tirar-me da cama. Afinal, não passara de um pesadelo!

A partir desse dia, prometi a mim mesmo que nunca mais assistiria aos filmes de terror na televisão!

Ana Silva, N.º 2, 8º H.


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