Voltar de novo a estudar
PÁGINA 1
O Ensino Recorrente
Prof. João Paulo

 

PÁGINA 2
Dois castigos sem ter de quê
Prof. H. J. C. O.

 


PÁGINA 3
Dia da Poesia
Entrevista a Teresa Castro
Profª Paula Tribuzi

 

 

PÁGINA 4 
A família há alguns anos
Odete Nogueira, 12º Turma E

 


PÁGINA 5
Voltar de novo a estudar?
A. Alberto Teixeira, 12º M

 


PÁGINA 6
Avaliação do Ensino Recorrente
Profs. Cristina Campizes e João Paulo

 

 

PÁGINA 7
Dia da África

 

PÁGINA 8
Literatura Africana em Língua Portuguesa
Nilton Garrido Sec. Turma SA

 

 

PÁGINA 9
O Movimento da Negritude
Nilton Garrido Sec. Turma SA

 

 

PÁGINA 10
Poetas da Casa

 

 

PÁGINA 11
Televisão - Janela aberta para o mundo?
Trabalho de grupo Sec.

 

 

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Hora do Recreio

Era Setembro. O sol ia desmaiando por detrás do morro, procurando o refúgio no ninho que fica para além do meu olhar! Parti... para trás ficou o lar...

No autocarro, sento-me sozinho por entre as gentes que no labutar da vida regressam à calma efémera da lareira, ou buscam na noite a companhia das suas aventuras. Uns e outros indiferentes à minha presença...

O transporte já rola e na minha cabeça vão desfilando imagens dum passado já distante: meninos sentadinhos nas carteiras, as batas brancas ou azuis, o tinteiro, a sebenta, a sacola, o giz, o quadro, a pedra, a disciplinadora régua...

Lembro-me do primeiro dia em que, com as lágrimas no rosto e o coração a palpitar, entrei na escola primária.

Recordo o velho livro da 4ª classe, que falava sobre o Gonçalo a caminho da escola. Era assim a primeira quadra:

Olhem, lá vai o Gonçalo

A caminho da escola, além;

Vamos depressa apanhá-lo,

Vamos com ele também.

Surge-me ainda a parábola do filho pródigo que regressa a casa, após ausência prolongada.

No desenrolar deste mar de recordações, desaguo no largo fronteiriço à escola. Um misto de sentimento confuso invade a minha alma. Vontade, medo, ansiedade, curiosidade, turbilham o meu espirito.

Avanço! Os portões abrem-se de par em par, como os braços de uma Mãe que, silenciosamente, aguarda o regresso do filho que um dia partiu...

Ela afaga-me nos seus braços, senta-me no seu regaço. Reparei que, maternalmente, uma lágrima se desprendeu do seu rosto.

Confesso que senti vontade de chorar... Mas, alguém, inconsciente, me ensinou que é feio um homem chorar. Ah! Quem me dera ser menino...

Silenciosamente, passei pelo barulho dos “putos”. Olhei de soslaio a constituição da minha turma. Não conhecia ninguém... Tudo desconhecido!

Acerquei-me da sala 18. A porta estava fechada, ostentando a lista com os nomes dos alunos. No número 1, o meu nome. Algo tão particular, tão meu, estava ali exposto aos olhos mais desconhecidos. E logo o primeiro! Outros foram chegando. Religiosamente, todos voltavam a confirmar a presença do nome. Alguns, talvez os mais cépticos, colocavam mesmo o indicador sobre o nome, garantindo assim uma certeza inabalável. Lembrei-me que seriam discípulos de S. Tomé.

Pouco depois, a senhora empregada abriu a porta. Atabalhoadamente, as carteiras foram ocupadas, fazendo-me de novo lembrar quando pela primeira vez entrei na escola primária.

Sobrou uma! A minha, ali mesmo em frente da secretária do professor.

Disfarçadamente, “inspeccionei” a turma. Era um misto de “jovens” e alguns mais “velhos”, mas, certamente, todos jovens de espírito.

Sentei-me. Aproveitando algum silêncio, analisei a minha carteira. Verifiquei que tinha alguns corações desenhados e trespassados pela seta do Cupido. Imaginei pertencer a alguém que, não arranjando coragem para se declarar, resolveu deixar naquela carteira a marca indelével do seu amor. Talvez a pessoa amada leia a mensagem e...

Chegou o Professor. Maquinalmente, levantei-me. O meu gesto somente foi seguido pelos mais “velhos”. Os outros, os mais “jovens”, permaneceram imóveis na cadeira. Foi então que reparei que muita coisa havia mudado na minha ausência. Tomei consciência que 18 anos são uma vida.

Lembrei-me do soneto de Camões: “ Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”.

A aula começou. O professor indicou o livro, o programa. Estabeleceu metas, traçou caminhos. Fez a apresentação.

Senti que na minha frente estava um grande mestre. Vi nos seus olhos, o brilho, que só os predestinados conseguem emitir.

Naquele momento, recordei o malogrado professor poeta, Sebastião da Gama, citando uma pequena frase do seu “Diário”: “Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho... sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei...”

Que palavras lindas, que apresentação ímpar!

Fiquei feliz por ainda haver professores assim.

Na minha frente, estava um companheiro, cujo programa principal era a humildade e o amor pelos seus alunos. Citando Agostinho da Silva, estava ali um mestre.

Absorvido pela aula, fui interrompido pelo toque “estridente” de um objecto a que chamam de “campainha”. Num ápice, todos se precipitaram para fora da sala. Calmamente, levantei-me e saí. Cá fora a “passarada” debandava debaixo dum céu já estrelado.

No regresso ao lar, a minha ânsia era enorme, a minha alegria incontrolável. Senti-me novamente menino, lembrando-me do dia em que cheguei a casa e disse à minha Mãe: “Mamã, eu já sei ler”.

Ao chegar a casa, esperava-me a minha Mulher, com a minha filha nos braços que, não resistindo ao cansaço, se deixou abraçar pelos tentáculos de Morfeu.

Dorme bem querida filha... e continua os teus estudos, para que mais tarde não tenhas que “voltar de novo a estudar”.

Amanhã, ao acordares, conto-te a minha aventura no regresso à escola, 18 anos após a ter abandonado.

E para concluir este meu simples artigo, cito aquele provérbio por todos conhecido, mas que nem sempre é cumprido... “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”.

António Alberto Teixeira, 12º M, n.º 1

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