Luís Seabra Lopes
*
Nos dias de hoje, quase todos os
distritos têm universidades, ou pelo menos
institutos politécnicos. Não são poucos os distritos
que têm várias instituições de ensino superior, umas
públicas, outras privadas. Relativamente às escolas
secundárias, que sucedem aos antigos liceus, cada
concelho tem pelo menos uma. Longe vai o tempo em
que cada distrito tinha apenas um liceu. Havia em
todo o pais menos liceus do que hoje há
universidades! Era o tempo em que a taxa de
analfabetismo rondava os 95% e em que poucos eram os
que chegavam a frequentar a única universidade
existente, a de Coimbra. Os liceus eram, assim,
escolas muito prestigiadas, o mesmo se podendo dizer
dos seus professores. Neste contexto, vale a pena
resgatar a memória de um bairradino que esteve
directamente envolvido na fundação do Liceu Nacional
de Aveiro, em meados do século XIX. Passo a relatar
o pouco que descobri sobre ele, também com o
objectivo de aguçar a
curiosidade de outros estudiosos.
1. Dados biográficos
A pessoa em causa nasceu no lugar do Carquejo,
freguesia de Barrô, actual concelho
de Águeda, por volta de 1810, vindo a assinar Manuel
Joaquim de Oliveira Santos. Era filho de José de
Oliveira Rodrigues dos Santos, capitão da companhia
de ordenanças do Couto de Barrô durante muitos anos,
e de sua mulher Mariana Joaquina Rosa.
Manuel Joaquim de Oliveira Santos aparece na
documentação como professor e como bacharel. A sua
passagem pela Universidade de Coimbra está bem
documentada, sendo aí conhecido como Manuel Joaquim
de Oliveira. Nas Aulas Menores do Colégio das Artes,
encontrei registo de matrículas em Gramática Grega e
Aritmética, Geometria e Geografia. Seguiu depois o
curso de Teologia a partir de 1825, obtendo o grau
de bacharel em 1830 e a formatura em 1831. Manuel
Joaquim de Oliveira era portanto bacharel formado em
Teologia, mas não encontrei registo de ordenação
sacerdotal nem, tão pouco, encontrei qualquer
indicação de que tenha sido sacerdote. Ao ser
padrinho de crianças de São João da Azenha (f.
Sangalhos, c. Anadia) em 1834-1835, é referido como
bacharel Manuel Joaquim de Oliveira e dado como
morador no Carquejo. Contudo, a sua carreira
profissional e a evolução da política de educação do
reino rapidamente o levariam a estabelecer-se em
Aveiro como professor do ensino secundário.
Com efeito, por Decreto de Passos Manuel de
1836/11/17, o poder central determinou a instituição
do ensino liceal em Portugal, seguindo o modelo
francês(1). Cada capital de distrito deveria ter um
liceu. Nos anos seguintes, embora em ritmo lento,
foram
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sendo instalados liceus em diversas capitais
distritais. Neste contexto reformista, o mais antigo
documento de que tenho conhecimento relativo à
instalação do ensino secundário no
distrito de Aveiro é precisamente a carta de mercê
régia datada de 1841/08/21, pela qual
Manuel Joaquim de Oliveira Santos (é aqui que a
aparece pela primeira vez com o apelido Santos) foi
provido no cargo de Professor Proprietário e
Vitalício da cadeira de Retórica e Poética da cidade
e distrito administrativo de Aveiro (2). Terá ficado a
auferir um ordenado anual de 560$000 réis (3). Este
importante documento não tem sido citado na
literatura relativa à história do ensino secundário
em Aveiro. Note-se que em 1841 ainda não estava
criado o liceu de Aveiro, situação aliás comum à
maior parte dos restantes distritos. No entanto,
como se vê, o ensino secundário no distrito de
Aveiro já dava os primeiros passos.
Novo impulso à implementação do sistema liceal é
dado pelo governo de Costa Cabral, através do
Decreto de 1844/09/20, o qual estipulava a
instalação de liceus em todas as capitais de
distrito administrativo e/ou diocese. O mesmo
decreto estipulava ainda que o curso dos liceus
teria seis cadeiras que normalmente seriam
leccionadas por apenas três professores em cada
liceu, cabendo duas cadeiras a cada um.
Os mais antigos documentos internos do Liceu
Nacional de Aveiro são duas actas do Conselho do
Liceu (assembleia dos professores) relativas à
instalação do liceu. Na primeira acta, datada de
1851/07/14, sendo necessário proceder «aos exames
dos preparatórios dos ordinandos, que pelos exames
no Lyceu desta cidade tiverem de se habilitar para
requerer licença para a ordenação» (4), considerava-se
o liceu «interinamente instalado». Na segunda acta,
datada de 1851/10/20, seguindo directiva da portaria
do Conselho Superior de Instrução Pública de
1851/09/27, declarou-se «definitivamente constituído
o referido Liceu Nacional desta cidade».
Pelos livros de exames se vê que os três professores
do liceu nacional de Aveiro eram João de Moura
Coutinho de Almeida de Eça, Luís Cipriano Coelho de
Magalhães (pai do famoso parlamentar José Estêvão
Coelho de Magalhães) e o nosso Manuel Joaquim de
Oliveira Santos. São precisamente estes três
professores que assinam as referidas actas do
Conselho relativas à instalação do liceu. Nessas
actas das primeiras reuniões, Oliveira Santos, que
era professor de Retórica, aparece como Secretário
do Liceu, por ser o «professor mais moderno». Em
1854-1856, quando Oliveira Santos exercia
interinamente o cargo de Reitor do Liceu, determinou
o Conselho do Liceu «que se procedesse á confeção de
um regulamento para este liceu».
Fig. 1 – Assinatura do Prof. Manuel Joaquim de
Oliveira Santos,
em 1851, no auto de instalação do Liceu Nacional de
Aveiro
Em 1856, parece que Oliveira Santos enfrentava
problemas de saúde: «no caso que o
professor de Rhetorica não fosse à regencia da
cadeira por impedimento de saúde, a fosse reger
interinamente o
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professor das cadeiras 1ª e 2ª» (5). Em 1859, sofria
de «padecimentos graves e incuráveis», estando por
isso impedido de continuar a exercer o lugar de
Professor de Retórica. Assim, por carta de mercê
régia datada de 1859/05/31, foi-lhe concedida a
aposentação. Passavam nessa altura 18 anos sobre a
sua nomeação para professor proprietário da cadeira
de Retórica e Poética do distrito de Aveiro e
contavam-se «quinze anos de bom e efectivo serviço
no magistério», tendo-lhe sido concedida uma pensão
anual de 140$000 réis (6).
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Fig. 2 – Antigo edifício do Liceu
Nacional de Aveiro. Nos primeiros anos, o liceu
funcionou em
instalações emprestadas ou arrendadas, primeiro no
Paço Episcopal, depois em edifícios particulares,
depois no convento de Santo António. Pedida pelo
deputado José Estêvão Coelho de Magalhães na
sessão parlamentar de 1853/07/16, a construção de um
edifício próprio para o Liceu Nacional de Aveiro
viria a ser ordenada por portaria de Fontes Pereira
de Melo datada de 1855/03/05. O novo
edifício viria a ser inaugurado em 1860/02/15, ou
seja, alguns meses depois de se ter aposentado o
Bacharel Manuel Joaquim de Oliveira Santos (Tavares,
1937; Tavares 1951; Carvalho, 2003). O antigo
edifício do liceu alberga actualmente a Escola
Secundária Homem Cristo. O velho liceu tem
continuidade na Escola Secundária José Estêvão,
instalada em outro local da cidade. |
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Oliveira Santos morreu em 1866/11/26, aos 56 anos de
idade, na Rua do Espírito Santo, freguesia de Nossa
Senhora da Glória de Aveiro, onde morava. O registo
do óbito refere-se-lhe nestes termos: «um indivíduo
do sexo masculino, por nome Manuel Joaquim d'Oliveira Santos, solteiro, professor de rhetorica
no lyceu de Aveiro, filho legitimo de Joze
d'Oliveira Rodrigues dos
Santos, lavrador, e de Mariana Joaquina Roza,
naturais do logar do Carquejo, freguezia de Barrô,
onde o
finado foi baptizado. Não fez testamento e foi
sepultado no cemitério público desta cidade».
O número seguinte d'O Campeão das Províncias,
histórico jornal aveirense, dá a
noticia: «Entregou a alma ao creador ante-hontem o
Sr. Bacharel Manoel Joaquim d'Oliveira Sanctos,
professor de rhetorica do lyceu d'Aveiro, a qual
regeu até o anno de 1859, em que foi aposentado. Há
annos que se achava entrevado, soffrendo os effeitos
d'uma terrível moléstia. Cultivara a intelligencia
com
aproveitamento, pois eram muitos os seus
conhecimentos scientificos, e fôra ornamento do
lyceu d'Aveiro» (7).
2. Raízes familiares
De entre os vários apelidos da sua ascendência mais
próxima, o nosso personagem
escolheu usar os apelidos Oliveira e Santos, que
remetem para tradições familiares radicadas na
freguesia de Sangalhos (c. Anadia) desde o século XVII. Talvez tenha interesse deixar aqui um breve
registo dessas origens familiares. Os dados aqui
apresentados complementam o estudo anteriormente
publicado sobre a família Oliveira Santos Pato, de
São João da
Azenha, Sangalhos (8).
2.1. Oliveira
Como referido acima, Manuel Joaquim de Oliveira
Santos começou por usar apenas
o apelido Oliveira, nomeadamente enquanto estudante
de Teologia, em Coimbra. O apelido remete para uma
tradição de várias gerações de sacerdotes, como se
verá em seguida. O costado Oliveira tem a sua origem
em Oliveira do Bairro, foi casar em Sangalhos. A
sucessão de gerações é a seguinte:
1. Manuel de Oliveira Salvinho, n.
~ 1660, natural de
Oliveira do Bairro, filho de João Migueis, ou João
de Oliveira, e sua mulher Madalena Antónia, naturais
e moradores em Oliveira do Bairro, e neto paterno de
António de Oliveira, de Oliveira do Bairro, c.
1684/03/07 c/ Isabel Dias, de Sangalhos, filha de
André Dias e Domingas Jorge, naturais e moradores em
Sangalhos. Tiveram pelo menos os seguintes filhos:
– Pe. Manuel de Oliveira, n. 1686 (b. 1686/10/13,
sendo padrinho outro Manuel de Oliveira, de Coimbra,
e madrinha Maria, filha de António Fernandes Maio),
frequentou o curso de Cânones na Universidade de
Coimbra, obtendo o grau de bacharel em 1712/06/06 e
a formatura em 1712/06/21. Foi reitor da igreja de
São Tomé de Penalva de Alva, lugar que ocupou por
volta de 1715, e comissário do Santo Ofício por
provisão de 1723/07/309.
– Ana de Oliveira, que segue.
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101 /
2. Ana de Oliveira c. 1721/01/26 c/ António Moreira
da Costa, também conhecido como António Francisco
Moreira, natural do lugar da Fogueira, freguesia de
Sangalhos, filho de Manuel Francisco Lincho (ou
Manuel Francisco o Lincho) e de Maria Francisca. Os
noivos eram parentes no quarto grau de
consanguinidade. Foram testemunhas do casamento João
Dias, da Vila, António Fernandes, de Saima, e o
Alferes Manuel de Santiago, da Fogueira. Tiveram
pelo menos os seguintes filhos:
– Pe. Nicolau Caetano de Oliveira, n. 1722 (b.
1722/02/01, sendo padrinho o Cap. Nicolau Rodrigues
e madrinha Maria, solteira, filha de Manuel de
Oliveira, portanto tia materna), frequentou o curso
de Cânones na Universidade de Coimbra, obtendo o
grau de bacharel em 1743/06/14 (10). Deverá ainda ter
tirado a formatura em Cânones, pois encontrei
registo de matrícula para o ano lectivo de
1743/1744. Foi cura da freguesia de São Vicente de
Sangalhos e mais tarde vigário perpétuo de Nossa
Senhora do Ó de Reveles, bispado de Coirnbra.
– João Moreira da Costa, que segue.
3. João Moreira da Costa, n. 1723 (b. 1723/06/24,
sendo padrinho André, solteiro, filho de Manuel
Francisco Lincho e, portanto, tio paterno do
baptizado, e madrinha Maria Dias, mulher de António
Francisco), c. c. Maria Teresa da Conceição, de São
João da Azenha, freguesia de Sangalhos, filha de
Manuel Rodrigues, da Pedra do Couto, e de Francisca
da Conceição, de São João da Azenha. Entre outros,
tiveram os seguintes filhos:
–
Pe Nicolau António de Oliveira, n. 1753/05/26,
baptizado como "Nicolau Caetano" em 1753/06/13,
sendo padrinho o Pe Nicolau Caetano de Oliveira,
cura da freguesia de Sangalhos e seu tio paterno, e
madrinha Maria Teresa, filha de António Moreira da
Costa, sua tia paterna. Nicolau António vivia com
seu tio na freguesia de Nossa Senhora do Ó de
Reveles, onde este era vigário. Por ocasião da
ordenação sacerdotal, o tio dotou o sobrinho com o
património necessário, por escritura datada de
1778/02/18 11.
– Maria Josefa de Oliveira, c. c. Capo José Rodrigues
dos Santos Pato (ver abaixo). São
os avós paternos do Bacharel Manuel Joaquim de
Oliveira Santos.
2.1. Santos Pato
Apenas ao estabelecer-se em A veiro por volta de
1840, o bacharel Manuel Joaquim
de Oliveira acrescentou o apelido Santos ao seu
nome. É este o apelido da sua varonia, tal como se
documenta em São João da Azenha, freguesia de
Sangalhos, desde o século XVII. A família
anteriormente usara o apelido Pato e viria também a
usar a composição Santos Pato. A sucessão de
gerações é a seguinte:
1. Manuel dos Santos, n. 1635, natural e morador na
Azenha, filho de Pedro Jorge Pato e sua mulher
Antónia Dias. Foi b. 1635/10/08, sendo padrinho
Diogo Francisco, da Azenha,
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e madrinha Ana, mulher de Manuel Dias, da Póvoa do
Salgueiro. Casou em. 1658/06/03 c/ Isabel Fernandes,
da Azenha, filha de Domingos Fernandes e de sua
mulher Maria Domingues e neta paterna de Jorge
Afonso do Canto, de Sangalhos do Paço. Os óbitos de
Manuel dos Santos e sua mulher estão datados de
1702/10/29 e 1700/09/07, respectivamente. Entre
outros filhos tiveram os seguintes:
– Manuel Fernandes, b. 1659/04/02, e. 1696/08/10 c/
Isabel Francisca, da Azenha, filha de Domingos João
e Maria Francisca. Numa inquirição de genere,
realizada no âmbito do processo de ordenação
sacerdotal de um neto, consta que «erão dos
principais lavradores, dos principais desta
freguezia, que nella servirão os Carregos honrozos
da mesma, tanto no concelho como na igreja» (12). e.g.
– Matias dos Santos, que segue.
2. Matias dos Santos, n. 1670 (b. 1670/03/02, sendo
padrinho Manuel Domingues, tio materno, e madrinha
Leonor Ferreira, filha de André Francisco), e.
1700/11/24 c/ Ana Francisca, n. ~ 1680, da Azenha,
filha de Domingos João o Sirando e Maria Francisca,
que eram já sogros de Manuel Fernandes, irmão de
Matias. Entre outros, tiveram os seguintes filhos:
– Pe Manuel dos Santos, n. 1702 (b. 1702/09/03,
sendo padrinho João Rodrigues, de Sangalhos, e
madrinha Isabel Francisca, da Azenha), bacharel em
Cânones pela Universidade de Coimbra. Sobre a sua
passagem pela Universidade, encontrei registo da
matrícula em Instituta em 1722 e em Cânones em 1723,
1724 e 1725. Assim, terá obtido o grau de bacharel
em 1726 ordenando-se em seguida sacerdote. Era
clérigo do hábito de São Pedro. Costumava assinar os
assentos de baptismo de São João da Azenha, onde
morava. Teve em sua vida três quartas partes do
moinho do mesmo lugar, pertencendo a restante quarta
parte à família Pinto Ferreira de Vasconcelos, de
Mogofores. O Pe Manuel dos Santos faleceu com
testamento em 1767/12/16, mas o registo diz que «não recebeo sacramento algum por morrer de repente».
–
Antónia Maria dos Santos, c. c. Manuel Ferreira de
Almeida, natural de Aguada de Baixo, filho de
Domingos de Almeida e de Maria Ferreira. São pais do
Bacharel José de Almeida dos Santos, bacharel
formado em medicina pela Universidade de Coimbra e
Médico do Partido em Águeda, avós maternos do
Bacharel José dos Santos Pinheiro, etc.
– João dos Santos, que segue.
3. João dos Santos, n. 1713 (b. 1713/04/10, sendo
padrinho Manuel Fernandes, tio paterno, e madrinha
Sebastiana Francisca, mulher de António Ferreira
Madeira, da Póvoa de São João), c. c. Isabel
Rodrigues João, de Aguada de Baixo, filha de Pedro
Rodrigues e Isabel João. Tiveram os seguintes
filhos:
Cap. José Rodrigues dos Santos Pato, que segue.
– Ana Rosa, n. 1748/04/02, b. 1748/04/09, s.m.n.
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4. Cap. José Rodrigues dos Santos Pato, n.
1749/05/03 (b. 1749/05/12, sendo padrinho o Pe
Manuel dos Santos, tio paterno, e madrinha Inocência
Ferreira, ambos de São João da Azenha),
o.1819/06/15, c. 1775/08/02 c/ Maria Josefa de
Oliveira, também natural de São João da Azenha,
mencionada acima, b. 1755/10/14, o. 1820/12/15. José
Rodrigues dos Santos Pato foi grande proprietário em
São João da Azenha, capitão de ordenanças de Avelãs
do Caminho, cargo que ocupou a partir de 1794/10/23
(13), e Juiz Ordinário de Sangalhos, e exerceu também
o ofício de cirurgião. Teve com sua mulher os
seguintes filhos:
–
Cap. José de Oliveira Rodrigues dos Santos, que
segue.
– Cap. Joaquim Rodrigues de Oliveira Santos, b.
1781/07/16, c.s.g.
– Maria Rosa Emília de Oliveira,
b. 1784/08/30, e.s.g.
– Alferes Julião Caetano Rodrigues da Costa, b.
1786/06/24, pai do Pe. Adriano
Rodrigues Pereira.
– Manuel Rodrigues de Oliveira dos Santos Pato,
cirurgião, Comissário da paróquia de Sangalhos na
vereação da Câmara Municipal de Oliveira do Bairro,
Juiz
Ordinário Substituto do conselho de São Lourenço do
Bairro, Juiz Eleito de Sangalhos, etc, c. c. sua
prima Joaquina Inácia de Almeida. São pais do Pe
João António dos Santos Pato, prior de Pinheiro da
Bemposta, avós maternos de António Duarte Sereno,
Visconde de Bustos, etc.
–
António Rodrigues Nicolau Caetano Pato, c. c.
Angélica Clara da Costa Abrantes, c.g.
– Joaquina Maria Carolina de Oliveira, b.
1793/04/16, c.sg.
– João Rodrigues de Oliveira dos Santos Pato,
c. c.
Isabel Maria de Jesus, e.g.
– Agostinho Rodrigues
dos Santos Pato, b. 1797/10/16, solteiro, s.g..
4. Cap. José de Oliveira Rodrigues dos Santos, n.
1778 (b. 1778/12/15, sendo padrinho o Padre Nicolau
António de Oliveira, seu tio materno, e madrinha Joana Rita de Bourbon, da Quinta da Graciosa).
Apareceu já como alferes de ordenanças num registo
de baptismo
datado de 1799/12/31. Em 1801/01/30, ocupou o cargo
de capitão de ordenanças do Couto de Barrô, que
incluía Aguada de Baixo, cargo este vago por morte
do Capo Manuel Rodrigues de Morais (14). Em 1815,
aparece como capitão da terceira companhia de
ordenanças da capitania-mor de Sangalhos, que
deveria portanto ser a de Barrô (15). Em 1830/02/16,
após quase 30 anos de serviço, e aos 52 anos de
idade, foi dispensado do posto de capitão da
terceira companhia (16), tendo sido substituído pelo
Cap. Francisco de Queiroz Côrte-Real e Nápoles (17). O
Cap. José de Oliveira Rodrigues dos Santos morou no Carquejo, Barrô, com sua mulher Mariana Joaquina
Rosa, n. ~ 1782 (morreu com 80 anos, o.
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104 /
1862/01/15), dali natural, filha de João Francisco
Rossa, natural de Repolão, Oliveira do Bairro, e de
Maria Ferreira Carreira, natural de Aguada de Baixo.
Tiveram os seguintes filhos:
– Bacharel Manuel Joaquim de Oliveira Santos, o
personagem central do presente
artigo.
– António Joaquim de Oliveira Santos, ou António dos
Santos de Oliveira, morador no Carquejo. Em
1862/05/18, preparando-se o restauro da igreja
paroquial de Barrô, a Junta de Paróquia, reunida com
os principais lavradores na residência paroquial,
nomeou para a angariação de fundos uma comissão
formada por
António Joaquim de Oliveira Santos, Joaquim José
Pereira (pinto) e José Agostinho Gomes da Silva (18).
– Adriano de Oliveira Rodrigues dos Santos, ou
Adriano dos Santos de Oliveira, morador no Carquejo,
foi presidente da junta de paróquia de Barrô (19); em
1864, era
vogal da mesma junta (20).
– Maria dos Santos, moradora no Carquejo, s.m.n.
– Pe Albino de Oliveira Rodrigues dos Santos, n.
1819/08/18. Era afilhado do Dr.
Joaquim Gabriel Soares da Graça. O seu processo de
ordenação sacerdotal está datado de 1842-1844 (21).
Foi coadjutor e prior de São Vicente de Sangalhos.
Por carta de mercê régia, foi em 1859/09/28 nomeado
Professor Vitalício da Cadeira de Ensino Primário da
freguesia de Sangalhos (22). Era por isso conhecido
como "Senhor Padre Mestre", facto lembrado na
tradição até ao presente. Foi também presidente da
junta de paróquia de Sangalhos no biénio de
1866/1867. Morreu em Sangalhos em 1890, tendo o seu
património sido objecto de inventário (23). A consulta
ao inventário revela que o Padre Mestre era detentor
de uma fortuna considerável, avaliada em 8353$250
réis, que incluía 241 entradas na lista dos bens
imóveis. Foi única herdeira deste património Maria
Luísa, demente, sobrinha do inventariado, por ser
filha da irmã que se segue.
– Luísa Rosa Rodrigues de Jesus, ou Luísa Joaquina
Rosa de Jesus, c. c. Joaquim Marques Mira, de Barrô,
filho de Manuel Marques Mira o Serrano, e Maria
Francisca de Jesus, ou Maria Marques Cunha. Foram
pais do Pe António Marques
Mira, ordenado em 1863 (24) e de Maria Luísa, referida
acima. O Pe António Marques Mira morreu antes de
seus pais, pois Maria Luísa era, já nessa altura, a
única filha sobrevivente.
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105 /
A família Oliveira Rodrigues dos Santos foi uma das
principais da freguesia de Barrô no século XIx. No
entanto, no último quartel desse século deixam de
aparecer, talvez por não terem deixado descendência.
Essa possibilidade é aliás sugerida pelo facto de o
Padre Mestre, falecido em 1890, ter tido como única
herdeira uma sobrinha demente. O extravio de boa
parte dos registos paroquiais da freguesia de Barrô
relativos ao século XIX
dificulta o estudo do problema. O certo é que esta
antiga família está hoje completamente
esquecida. Apesar de tudo, uma monografia do
concelho de Águeda ainda refere o Capo José de
Oliveira Rodrigues dos Santos, bem como o seu filho
Pe Albino de Oliveira Rodrigues dos Santos e o seu
neto Pe António Marques Mira (25), mas não o bacharel
Manuel Joaquim de Oliveira Santos. Uma monografia de Barrô, de publicação recente, ignora por completo
esta família, embora reproduza em facsimile alguns
documentos que a ela se referem (26).
Bibliografia
Almanack, 1831 = Almanack das Ordenanças referido ao
1º de Janeiro de 1831, Impressão de
Manuel José da Cruz, Lisboa, 1831.
Almanak, 1815 = Almanak das Ordenanças no Anno de
1815, Impressão Régia, Lisboa, 1815.
Borrego, N.G.P.
(2006) As Ordenanças e as Milícias. Subsídios para o
seu Estudo, Guarda-Mor.
Carvalho, A. M. (2003) «Liceu José Estêvão – Aveiro»,
Liceus de Portugal.
Histórias, Arquivos,
Memórias, A. Nóvoa & AT. Santa Clara (coord.),
Edições ASA, p. 75-95.
Fernandes, J. C (2004) Barrô ao Longo dos Séculos,
Associação Barroense de Recreio, Cultura e
Assistência.
Ladeira, F. D. (1982) Município de Águeda, Ed. do
Autor, 2 volumes. Nenhum dos volumes
apresenta data de edição, mas o autor informa no
volume lI, p. 39 e 41, que ambos
foram entregues na tipografia em 1982.
Madureira dos Santos, H. (1957-1968) Catálogo dos
decretos do extinto Conselho de Guerra na parte
não publicada pelo General Cláudio de Chaby
(Separata do Boletim do Arquivo Histórico Militar),
7 volumes.
Nóvoa, A., D. Barroso & J. Ramos do Ó (2003) «O Todo
Poderoso Império do Meio», Liceus de Portugal. Histórias, Arquivos, Memórias, A. Nóvoa & AT. Santa Clara (coord.),
Edições ASA, p. 17-73.
Pires de Lima, J. H. (1959-1976) «O Distrito de
Aveiro nas Habilitações do Santo Ofício», Arquivo do Distrito de Aveiro, vols. 25-42.
Seabra Lopes, L. (2004) «A Família Santos Pato em
São João da Azenha nos Séculos XVI a
XX», Aqua Nativa, nº 27, Associação Cultural de
Anadia, p. 51-72.
Tavares, J. P (1937) «História do Liceu de
Aveiro», Arquivo do Distrito de Aveiro, voI. 3, p. 47-64,137-150, 221-231 e 273-280.
Tavares, J. P. (1951) 1851 – Liceu Nacional de Aveiro
– 1951: Livro Comemorativo do 1° Centenário,
separata de Labor, nº 115, Outubro de 1951.
__________________________
* – Tem desenvolvido investigação
histórica nas áreas
da metrologia histórica portuguesa, história e
arqueologia regionais, histórica local e genealogia.
É Professor Auxiliar no Departamento de Electrónica,
Telecomunicações e Informática da Universidade de
Aveiro.
(1) – Nóvoa et al., 2003; Tavares, 1937; Tavares 1951;
Carvalho, 2003.
(2) – Arquivo Nacional da Torre do Tombo (=ANTT),
Registo Geral de Mercês, Dona Maria II, liv.16,
fl.119-119v.
(3) – Isso mesmo parece deduzir-se da seguinte passagem
da carta de mercê: «Foi admittido pela portaria do
Ministério da Fazenda, em treze do corrente mez de
Agosto, a satisfazer cento e quarenta mil reis de
direitos de mercê pelo desconto da quarta
parte do seu ordenado».
(4) – Tratava-se das ordenações de diáconos e
subdiáconos.
(5) – Determina-se nessa ocasião «que nunca, quando se
desse o caso de impedimento de algum professor, fosse convidado algum
estranho para a regência de
suas aulas sem primeiramente terem sido consultados
os professores para se saber se alguém a quer reger,
e só depois das respostas negativas destes podia ter
lugar o convite ou aceitação a estranhos».
(6) – ANTT, Registo Geral de Mercês, Dom Pedra V,
liv.15, fl.233v
(7) – "O Campeão das Províncias",
XVIº Anno, nº 1500,
quarta-feira, 1866/11/28.
(8) – Seabra Lopes, 2004.
(9) – ANTT, Santo Ofício, Manuel, m. 87, n° 1653 (Hugo
Pires de Lima, 1959-1976, Letra M, nº 337)
(10) – Ver no AUC a respectiva certidão de frequência e
actos.
(11) – Arquivo da Universidade de Coimbra (= AUC),
Ordenações Sacerdotais, Nicolau António de Oliveira,
1777-1778.
(12) – AVC, Ordenações Sacerdotais, Cartas Vicente de
Paiva, Saima, Sangalhos, 1792-1794.
(13) – Borrego, 2006, p. 257.
(14) – Borrego, 2006, p. 255.
(15) – Almanak, 1815, p. 45. Ver também Madureira dos
Santos, 1957-1968, voI. VII, p. 441.
(16) – Madureira
dos Santos, 1957-1968, voI. VII, p. 441.
(17) – Almanack, 1831, p. 74.
(18) – Fernandes, 2004, p. 70-71.
(19) – Fernandes, 2004, p. 320.
(20) – Fernandes, 2004, p. 72 e 77.
(21) – AUC, Ordenações Sacerdotais, Albino de Oliveira
dos Santos Pato, Barrô, 1842-1844.
(22) – ANTI, Registo Geral de Mercês, D. Pedro V, liv.13,
fl.268v-270v.
(23) – Arquivo Distrital de Aveiro, Inventário de bens
realizado por óbito do Pe Albino de Oliveira
Rodrigues dos Santos, morador em Sangalhos, Anadia.
(24) – AUC, Ordenações Sacerdotais, António Marques
Mira, Barrô, 1863.
(25) – Ladeira, 1982, p. 219-220 (n° 34, 37, 54, 55). O
cap. José de Oliveira Rodrigues dos Santos aparecia
também como José dos Santos Oliveira, o que levou o Pe Ladeira a admitir que fossem irmãos, hipótese
sem fundamento.
(26) – Fernandes, 2004. |