Marília Silvestre
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Quartel inaugurado por Bernardo Torres. |
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1. A propósito
de uma data: "1916"
O frontão do antigo Quartel dos Bombeiros
Voluntários, situado na Rua de Gustavo Ferreira
Pinto Basto, outrora Rua da Revolução, tem uma
inscrição bem visível: "C.M.A. – 1916".
Atravessei a espaçosa Praça do Marquês de Pombal a
cogitar na minha dúvida suscitada pela confrontação
daquela data com uma corrente da opinião(1) que
atribui à gerência do renomado Presidente da Câmara
– Dr. Lourenço Peixinho – a construção dos dois
quartéis de bombeiros imediatamente anteriores aos
actuais.
Como é possível, interrogava-me,
afirmar-se que a edificação deste imóvel, datado de
1916, seja da responsabilidade do referido Autarca,
se o mesmo iniciou o cargo em 1918?
2. Avaliando as fontes
Importava, pois, sobre o assunto, ver o que
declaravam os documentos:
Consultando actas e jornais, encontram-se, na
verdade, esclarecimentos
pertinentes:
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110 /
Em 1914 lavrava-se, em acta do órgão deliberativo
aveirense, breve referência "à venda do prédio onde
se encontra instalado o quartel dos Bombeiros
Voluntários da cidade, na rua 31 de Janeiro, a fim
de construir, em local mais apropriado, um novo edifício para o efeito."2
E sobre este objectivo, "O Democrata"3 informava:
«Vão
principiar dentro em pouco e com a maior actividade,
as obras do novo quartel destinado à antiga e
prestante Companhia dos Bombeiros Voluntários desta
cidade, pelo que o encarregado da construção já
começou a remover os respectivos materiais para o
sítio que lhe foi destinado, na Rua da Revolução,
próximo do comissariado da polícia.».
Face a estas notícias, pode imaginar-se o intenso
regozijo dos altruístas e prestimosos Bombeiros
perante tão almejada construção que começava e
prosseguiria sem detença.
Enquanto isto, em sessão extraordinária4 da
C.M.A.,
aludia-se às "obras do
quartel dos bombeiros" .
Era preciso saber esperar até que a edificação
chegasse ao seu termo.
E chegou! Por isso, o frontão tem a data de 1916.
Estava, pois, próxima a inauguração, que se
anunciava já no citado semanário, em
edição dos primórdios de 1917:
"Estão sendo distribuídos largos convites para a
festa que esta antiga Corporação Local leva a
efeito, no próximo domingo, comemorativa do seu aniversário e da inauguração da nova casa que vai
ocupar, propositadamente construída na Rua da
Revolução para nela se instalar."5
É compreensível que os aveirenses vibrassem de
genuíno entusiasmo com o ambiente festivo que
criavam e viviam quando a cidade era enriqueci da
com alguma imprescindível edificação pública,
naqueles tempos de minguados recursos económicos! E
os Bombeiros, que trabalhavam denodadamente, com
risco da própria vida, no meio da maior penúria de
material contra incêndios, eram dignos de todas as
manifestações de consideração e apoio.
Na semana subsequente, o Democrata6 referiria, em
retrospectiva, o
acontecimento inaugural, nestes termos: [...] "no
domingo, teve lugar, às 12 horas, a
posse do novo edifício, cuja chave foi entregue pelo
Sr. Bernardo Torres, presidente da Câmara, ao Sr.
Arnaldo Ribeiro, presidente da direcção dos
bombeiros, proferindo ambos breves alocuções
alusivas ao acto."
Será de todo o interesse esclarecer que o mandato de
Bernardo Torres decorreu de 1914 a 1917, tal como,
aliás, se pode confirmar em "Município de Aveiro"7
e em dois Livros de Actas das Sessões da Comissão
Executiva da Câmara Municipal de Aveiro8.
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3. O outro quartel de Bombeiros
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Quartel inaugurado pelo Dr. Lourenço Peixinho (*) |
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Volvidos poucos anos, "O Democrata", numa local
intitulada "Quartel de
bombeiros", noticia: «Realiza-se amanhã a entrega do novo quartel que a
Câmara fez construir, no Largo da Vera-Cruz, à
Companhia Voluntária de Salvação Pública Guilherme
Gomes
Fernandes, que por esse motivo promove vários
festejos e distribui um bodo a 100 pobres.»
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Com a mesma epígrafe, podia ler-se, sete dias
depois10: «Revestiu a maior solenidade a inauguração do
quartel mandado construir pela Câmara para a
Companhia Voluntária de Salvação Pública Guilherme
Gomes Fernandes, tendo-se realizado uma sessão em
que fizeram uso da palavra vários oradores, entre
eles o Comandante da Companhia, que fez a história
desta e consignou os valiosos serviços de protecção
e carinho dispensados pelo município à frente do
qual se encontra o prestimoso aveirense Sr. Dr.
Lourenço Peixinho.»
4. Conclusões
Foi, pois, ao Dr. Lourenço Peixinho que ficou a
dever-se o Quartel dos
Bombeiros Novos, anterior ao actual erguido no mesmo
terreno, defronte do Largo Maia Magalhães, na
freguesia da Vera-Cruz.
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112 / O velho e desactivado Quartel dos Bombeiros Velhos,
datado de 1916, foi, sem dúvida, mandado erigir, na
freguesia de Nossa Senhora da Glória, pela Câmara
Municipal a que presidia Bernardo Torres.
Assim se dá "A César o que é de César", pela
autenticidade dos factos.
Os Bombeiros de Aveiro, Novos e Velhos, bem como a
população em geral merecem saber a verdade.
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Há largos anos em desuso, esta bomba braçal está
exposta no Quartel dos Bombeiros Novos, |
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NOTAS
1 – Veja-se, como exemplo, "Aveiro e o seu progresso"
– Tavares, José – Arquivo do Distrito de Aveiro, vol.
XXV, pág. 59.
2 – Acta de 1/6/1914, constante do Livro
nº 29 das
Sessões da Câmara Municipal de Aveiro.
3 – O Democrata, n.º 363, de 26 /3/1915.
4 – Acta de 29 / 5 / 1916, constante do Livro
n.º 29
das Sessões da C.M.A..
5 - O Democrata, n.º 457,de26/ 1 / 1917.
6 – O Democrata, n.o458, de 2 / 2 /1917.
7 – "Município de Aveiro"
– 1893.1993 – Barros, Rui –
edição da Câmara Municipal de Aveiro – Outubro de
1995.
8 – Livro de Actas das Sessões da Comissão Executiva
da C.M.A. – 1914-1916. Esclarece-se que o outro
Livro de Actas compreende os anos de 1917-1926.
(*) Este documento fotográfico está inserido na pág.
49 de "Desenho de Pedra" – Edição e Propriedade da
Câmara
Municipal de Aveiro. (Nota - Pelas
viaturas estacionadas, é possível deduzir que a
fotografia terá sido obtida na década de 1950).
9 – O Democrata. n.º 729, de 10/6/1922.
10 – O
Democrata, n.º 730, de 17/6/1922.
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Duas imagens não incluídas na revista que nos
mostram o quartel dos Bombeiros Novos, em 2 de
Julho de 2012, vendo-se, na primeira, o
monumento de homenagem ao bombeiro. |
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