Fernando Pessoa - uma Biografia para quê? |
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"A minha alma gira em torno da minha obra literária - boa ou má, que seja, ou que possa ser.
Tudo o mais na vida tem para mim interesse secundário."
Fernando Pessoa - Cartas de Amor |
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Os poetas não têm biografia. A sua obra é a sua biografia. Pessoa, que duvidou sempre da realidade deste mundo, aprovaria sem vacilar que se fosse directamente aos seus poemas, esquecendo os incidentes e acidentes da sua existência terrestre. Nada na sua vida é surpreendente - nada, excepto os seus poemas. Não creio que o seu " caso", há que resignarmo-nos a empregar esta antipática palavra, os explique; creio que, à luz dos seus poemas, o seu " caso" deixa de sê-lo. O seu segredo, para mais, está escrito no seu nome: Pessoa quer dizer personagem e vem de personna, a máscara dos actores romanos. Máscara, personagem de ficção, ninguém: Pessoa. A sua história poderia reduzir-se à viagem entre a irrealidade da sua vida quotidiana e a realidade das suas ficções. Estas ficções são os poetas Alberto
Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e, sobretudo, ele mesmo, Fernando Pessoa. Assim, não é inútil recordar os factos mais salientes da sua vida, na condição de se saber que se trata das pegadas de uma sombra. O verdadeiro Pessoa é outro.
Octávio Paz, Fernando Pessoa, o Desconhecido de Si
Mesmo.
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Fernando Pessoa fotografado por Severiano Braga |
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Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em 13 de Julho de 1888, no largo de S. Carlos, filho de Joaquim de Seabra Pessoa e de Maria Madalena Pinheiro Nogueira. Do pai herdou a insatisfação e da mãe o gosto pela leitura e pela escrita. Teve uma infância feliz, normal, educado pela mãe, excelente pedagoga. Aos 8 meses já se interessava pelas letras do alfabeto e aos 4 anos começou a escrever. O seu pai morre em 13 de Julho de 1893. A sua mãe conhece o comandante João Miguel Rosa, com quem se vem a casar em 30 de Dezembro de 1895, por procuração, pois o noivo tinha sido nomeado cônsul de Portugal em
Durban, na África do Sul, onde já se instalara. |
Fernando Pessoa ao colo da mãe. |
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Em 1896, parte para a África do Sul com a sua mãe e começa a primeira grande fase da sua vida. Depois de ter feito a sua escolaridade primária, entra no liceu (High School ) de
Durban, onde obtém resultados brilhantes, ganhando diversos prémios. Frequenta também a Escola de Comércio, em regime
nocturno, e prepara o exame de aptidão à Universidade. Continua a escrever poemas em Inglês, acentuando a sua vocação literária.
Em 1905, regressa definitivamente a Lisboa. Inscreve-se na Faculdade de Letras, onde termina um ano sem grande interesse. Acentua-se o seu isolamento e a sua depressão.
Em 1912, participa na revista A Águia,
órgão da Renascença Portuguesa.
O ano de 1914 é o ano triunfal da sua vida. Em 8 de março nasce o seu "mestre" Alberto Caeiro e, em oposição a ele, escreve o seu famoso poema interseccionista, "Chuva Oblíqua". Nascem depois os discípulos de Alberto
Caeiro: Álvaro de Campos e Ricardo Reis. Descreve-se como um "histero-neurasténico".
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Fernando Pessoa com 7 anos
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Em 1915 prepara, com um grupo de amigos
o lançamento de uma revista literária, intitulada Orpheu, que se tornará o
órgão do Modernismo e abalará a mentalidade do seu tempo.
Em 1917, publica o primeiro e único número da revista Portugal Futurista, contendo o Ultimatum de Álvaro de Campos entre outros textos.
Em 1918, dois acontecimentos afectam-no profundamente: a morte do pintor Souza Cardoso, o maior pintor do seu tempo, e o assassínio de Sidónio Pais, em quem via o salvador da Pátria.
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Em 1925 morre a sua mãe, o que lhe provoca um enorme desgosto de que nunca mais recuperará. Continua a
escrever, sobretudo os poemas que mais tarde publicará com o nome de
mensagem. Trabalha também na feitura do Livro de Desassossego, de que publicará fragmentos e deixará completo.
Cada vez mais doente, cada vez mais só, incapaz de deixar a aguardente, morre em 30 de Novembro de 1935.
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Em Durban com a irmã.
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