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Vejamos o que
acontece na gíria informática. Que palavra empregamos quando
pretendemos comprimir um ficheiro, para gastar menos espaço no
disco duro? Não será «zipar»? |
«Zipar» não tem mais
direito à vida que ciclar. Zipar é uma palavra formada a partir do nome
de um programa de compressão de ficheiros, do mesmo modo que obtivemos
ciclar a partir do nome de um utilíssimo, economicíssimo e não poluente
meio de transporte. E a palavra zipar não é filha única da lei do menor
esforço e da economia da comunicação. Por exemplo, os nossos irmãos,
do outro lado do Atlântico, usam palavrões destes aos montões: arjar,
scanar, etc. E, quando ligamos o computador, não dizemos também
inicializar em vez de iniciar?
Mas
estamos já a ciclar por outras esferas, que nada têm a ver com o
ciclismo. Poderia, se quisesse, mas não quero, porque é de um desporto
saudável que estamos a falar, poderia apresentar-vos uma fiada de
palavras técnicas, criadas «à la minuta» por aqueles que fazem a
língua, tão comprida como aquelas linguiças enfiadas em cordão que se
vendem em alguns talhos.
Não
senhor! Não é isso que estão a pensar! Não estou nem a falar de
línguas afiadas, que as há, e bem compridas, nem tão pouco dos
gramáticos e dos linguistas. Estou a falar de nós próprios. Sim, de
nós próprios! Somos nós que fazemos a língua que falamos. Somos nós,
no dia a dia, que vamos fazendo e refazendo a língua que empregamos. Um
empurrão daqui, um empurrão dacolá, e a língua vai evoluindo, vai-se
modificando aos poucos, quando batemos, por exemplo, um papinho bem
gostoso com os amigos. Altera-se com a mesma facilidade com que pedalamos
para ciclar pelos vastos espaços planos da região aveirense. Ou será
melhor dizer da região ilhavense? Talvez não. Não soa bem dizer «Ria
de Ílhavo»! Fica melhor «Ria de Aveiro»! Mas não desçamos agora a
pormenores sem importância!
Voltemos
ao nosso transporte, tão económico, tão ecológico, tão silencioso,
tão arejado, com que nos deliciamos nos dias quentes de Verão.
Dizia
eu, lá mais para trás, que um dos meus passatempos predilectos era o
ciclismo. De facto, é gosto que me nasceu em garoto. Germinou quando era
ainda muito pequeno. Nasceu precisamente naquele dia em que me prometeram
uma bicicleta que nunca vi. Foi precisamente nesse dia. Já não me lembro
se de tarde ou de manhã. Mas que foi nesse preciso momento que começou o
meu gosto pelas pedaladas, disso não tenho a menor dúvida.
Sem
dinheiro para bicicletas e sem ninguém que me oferecesse uma, tivemos que
recorrer às nossas capacidades de improvisação. E passei do eu para o
nós, porque a situação não era só minha. Era minha e também dos meus
companheiros de brincadeira. Como é que fazíamos para poder ciclar, de
vez em quando, pelas ruas da vila, pelas ruas de Espinho, onde então
vivíamos? >>> |