Henrique J. C. de Oliveira

I - REFLEXÕES CICLÍSTICAS E NÃO SÓ...
ou
DA DIALÉCTICA AMOROSA ENTRE UM MIÚDO E UMA BICICLETA

Ciclismo

Um dos meus passatempos preferidos para os tempos livres, especialmente quando estou em férias, é o ciclismo. Gosto de ciclar por aqui e por acolá, sentindo o malandreco do vento nos dias de calor.

Malandreco só às vezes! Apenas quando resolve não ajudar. Quando o apanhamos de frente, pedalamos, pedalamos, e quase não avançamos. O malandreco opõe-se. Empurra-nos para trás e o esforço é redobrado. Mas quando temos a sorte de o apanhar de costas, nas planuras gafanhoas, até parece que ganhamos asas.

Por falar em asas, até que nem seria mal pensado! Aliás, tanto não digo. Umas asas era capaz de ser demasiado. Ainda me acontecia alguma desgraça. Asas só para Ícaro. E, segundo reza a História, saiu-lhe cara a brincadeira!

Mas já me lembrei que uma espécie de vela, daquelas no estilo do «wind surf», era capaz de dar um certo jeito. Com o vento de feição, talvez conseguisse alcançar uma bolina de fazer inveja às quatro rodas.

Ciclar é um desporto agradável. Agradável e económico, apesar das dúvidas que me está a gerar. Será que ciclar é possível? Será que este desporto existe?

Bem, do desporto de andar de bicicleta não tenho qualquer dúvida! O que agora me está a fazer uma certa confusão é a palavra com que baptizei o meu desporto preferido de férias grandes, se é que ainda há férias grandes!

Também não me parece que bicicletar seja melhor que ciclar. É complicado de mais para o meu gosto. E então, se andássemos em três rodas, teríamos uma pior situação. Como um veículo de três rodas é um triciclo, teríamos de dizer tricicletar. Estão a ver a complicação? Se para o desporto de andar de bicicleta dizemos ciclismo, por que razão não aproveitar as duas rodas da bicicleta, perdão, as duas sílabas da palavra, para passarmos todos a cicletar? Sim, apenas duas sílabas, porque cicletar também não fica bem, além de que gasta muito mais energia fónica!

Se ciclar não existe, a verdade é que isto já não é verdade, porque, efectivamente, até existe. Não vem nos dicionários. Já por lá andei a ciclar à procura dela, e nada! Mas que existe, existe! E a prova é que está aqui. Já existe pelo menos desde há uns minutos, quando me saiu da caneta e se foi escarrapachar no suporte em que vou alinhavando as palavras.

A propósito, será que vale a pena estarmos para aqui com tantos pruridos linguísticos só por causa de uma palavra que até dá jeito? Não estamos nós constantemente a criar novas palavras? Não estamos já inundados de palavrões que não vêm, por enquanto, nos dicionários? Querem alguns exemplos bem concretos e com cheirinho a electrónica, a «chipes», a computadores?    >>>

 

 

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