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Introdução e conceito de ortografia. Períodos da
ortografia portuguesa (breve história). Erros mais frequentes em
textos escritos. Palavras, sílabas e acentos tónicos. Os sons da
fala humana. Ênclise, próclise e acentos especiais. As notações
léxicas e suas funções. Os sinais de pontuação e sua utilização.
Trabalhos práticos. |
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INTRODUÇÃO E CONCEITO DE ORTOGRAFIA
Através dos tempos, a correcção na elaboração das mensagens,
especialmente na comunicação escrita, foi sempre um elemento importante
para uma boa comunicação, para uma comunicação isenta de ruído. Para
reduzir as probabilidades de ruído, o homem criou uma série de sinais e
de regras que todos pudessem seguir, ciente de que uma má interpretação
poderia ser susceptível de criar uma situação de conflito, a ponto de
poder semear a discórdia entre os homens.
Apesar dos tempos modernos, em que
os meios de comunicação se diversificaram e desenvolveram, a ponto da
imagem obter tanto ou mais impacto que a própria palavra, mesmo assim
estas regras não perderam a sua validade e importância; pelo contrário,
esquecidas como andam e sendo a língua tão maltratada pelos nossos meios
de difusão
─ imprensa, rádio e televisão
─,
mais urgente se torna a chamada de atenção para essas regras.
Não é a primeira vez que em jornais,
onde erros graves vêm frequentemente a público, se chama a atenção para
os erros cometidos em conversas diárias, difundidas na rádio e na T. V.,
com figuras da cena política e social do País. Frequentes vezes se
criticam os erros cometidos pelos locutores da rádio e da televisão,
inclusive nos noticiários difundidos. Se culpas cabem a esses locutores,
não serão eles os únicos responsáveis. É certo que quem está à frente de
um microfone ou de uma câmara de televisão deverá ter um mínimo
obrigatório de cultura geral e, sobretudo, de conhecimentos da língua
que fala, para evitar erros. No entanto, uma boa parte da culpa caberá
também a quem redige os textos para os noticiários ou para outros
programas e os dá a ler a um locutor.
Mas este grassar de erros não se
limita à rádio e à televisão. Infelizmente, é praga corrente na nossa
imprensa diária e periódica. E não nos referimos à vulgar gralha
tipográfica. Esta é bicho corrente nas nossas publicações e nem sempre
fácil de eliminar. Mesmo com uma boa equipa a efectuar a revisão das
provas
─
o que por vezes parece ser prática pouco corrente
─, há sempre uma gralha que escapa. O
problema torna-se grave quando surgem erros resultantes da ignorância ou
do pouco cuidado com que se realiza o trabalho. Ainda há relativamente
pouco tempo, numa enciclopédia destinada à juventude, traduzida de uma
versão espanhola, se apresentava como título de um artigo, em letras bem
gordas, "As estrelas candentes", empregando «candentes» em vez de
«cadentes».
Como dizia alguém num artigo
jornalístico[1],
«nunca houve em Portugal tanto jornal e revista, tanta rádio, tantos
oradores
─
e tantos erros de pronúncia, de ortografia, de morfossintaxe».
Impõe-se, portanto, reduzir a ameaça
que paira sobre o futuro de uma língua, impõe-se que quem a transmita
aos outros conheça minimamente as suas regras essenciais para uma
comunicação correcta. É a esse conjunto de normas ou regras, que devem
ser conhecidas de todos, que se dá o nome de ortografia. Embora
não seja o suficiente, pois outros conhecimentos são também
necessários, contribuem, no entanto, para uma correcta comunicação.
A ortografia de um idioma é o
resultado de uma convenção, cujo objectivo é o de estabelecer uma
uniformidade gráfica no registo dos sons[2].
Enquanto a língua francesa é essencialmente etimológica e a espanhola é
fonética, o português foi sofrendo, ao longo dos séculos, diversas
alterações, frequentemente bastante diferentes das normas actuais e do
padrão ideal.
Considera-se como padrão ideal a
norma que faz corresponder a cada representação gráfica sempre o mesmo
som e a cada som apenas uma representação gráfica.
No português, devido à grande
diversidade e complexidade de sons e ainda ao facto da procura em
manter, nas diferentes áreas onde é falado, uma unidade gráfica, a
ortografia torna-se bastante complicada, tendo sofrido alterações ao
longo dos tempos.
Na história da ortografia
portuguesa, podem-se distinguir três períodos: 1º - período fonético;
2º - período etimológico; 3º - período das reformas ortográficas.
PERÍODO FONÉTICO
Este período corresponde à época do
português arcaico. É um período em que a uniformidade gráfica está longe
de existir. Nos primórdios da língua portuguesa, surgem palavras novas
que não existiam no latim e cujos sons eram diferentes. Os escrivães,
perante a necessidade de registar essas palavras, efectuavam-no segundo
critérios pessoais, donde resulta uma grande variedade de grafias para a
mesma palavra. Não é necessário consultarmos documentos de carácter
jurídico para nos darmos conta dessa multiplicidade de registos.
Consultando textos de cunho literário referentes ao período da lírica
medieval trovadoresca, encontraremos, por exemplo, grafias como muyto
e muito, home e homen, i e ihi,
mha senhor e mia senhor, ham e han, etc..
Os sons palatais [lh] e [nh] eram
representados em português por li, l, ll e ni,
n e nn. Só em 1255, no reinado de D. Afonso III, são
impostas as grafias de origem provençal lh e nh que ainda
hoje se mantêm.
PERÍODO ETIMOLÓGICO
Durante este período, que antes deveria ser designado por
pseudo-etimológico, verifica-se uma tendência para afastar a escrita da
pronúncia, para a fazer regressar à sua origem. Esta tendência vai-se
verificar, sobretudo, em obras traduzidas do Latim e atinge o seu maior
vigor durante o Renascimento.
Surgem neste período os grupos
ch, ph, rh, th, y em palavras
portuguesas de origem grega. É o caso de grafias como eschola,
phrase, pharmácia, theatro, rhetorico,
estylo.
Abundam nesta época grafias de
acordo com o étimo latino, levando ao aparecimento dos grupos ct,
gm, gn, mn, mpt, como por exemplo em
fructo, somno, prompto, etc..
Emprega-se muitas vezes o z
em vez do s, como, por exemplo, nos vocábulos mez,
portuguez.
A implantação da ortografia
etimológica originou diversas polémicas entre os gramáticos, acabando
por se impor em 1734, com a defesa de João de Morais Madureyra Feyjó, na
sua Ortographia ou arte de escrever e pronunciar com acerto a língua
portugueza.
PERÍODO DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS
Este período inicia-se em 1911, com a nomeação pelo Governo português de
uma comissão de filólogos, de entre os quais se destaca Gonçalves Viana.
Até então, a ortografia portuguesa continuava complicada e
frequentemente sujeita ao arbítrio de cada um. Assim, e tendo em conta
que o português é falado em vários continentes, procurou-se estabelecer
um acordo que tivesse em conta as características da língua portuguesa
em Portugal e no Brasil.
Em 1916, é implantada oficialmente a
Nova Ortografia, resultante do trabalho da comissão nomeada cinco
anos antes, e, em 1917, ligeiramente alterada.
Como no Brasil a implantação da Nova
Ortografia não se tivesse verificado, em 1930, o problema volta a ser
abordado nesse país, sendo, em 1931, assinado novo acordo com Portugal.
Em 1940, publica-se em Portugal um
Vocabulário Ortográfico, organizado por Rebelo Gonçalves. Em
1943, surge no Brasil o Pequeno Vocabulário Ortográfico da
Academia Brasileira de Letras. Verifica-se que entre estes dois
trabalhos existem pequenas divergências. Para resolver esse problema das
divergências, é nomeada nova comissão, chegando-se finalmente à
assinatura, entre Portugal e o Brasil, do Acordo Ortográfico
Luso-Brasileiro, em 10 de Agosto de 1945.
Nos finais da década de 1980, o
problema da simplificação e uniformização ortográfica volta a um
primeiro plano. Ao contrário dos acordos anteriores, que apenas tiveram
em conta as características da língua portuguesa em Portugal e no
Brasil, em 1986, o grupo de trabalho constituído para a elaboração do
projecto do novo acordo teve em conta os novos países de expressão
portuguesa
─
as ex-colónias portuguesas
─
particularmente os novos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOPS).
Desse grupo de trabalho resultou o
Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990), aprovado em
Lisboa, em 12 de Outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa,
Academia Brasileira de Letras e delegações de Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe e com a adesão de uma
delegação de observadores da Galiza. Este novo acordo foi aprovado na
Assembleia da República,em 4 de Outubro de 1991, devendo entrar em vigor
em 1 de Janeiro de 1994[3].
Concluindo, teremos de seguir as
normas adoptadas oficialmente em Agosto de 1945, as únicas que por
enquanto se encontram em vigor, com pequenas alterações ocorridas
durante a década de 1970[4],
que simplificaram a utilização dos sinais de pontuação, até à entrada em
vigor do novo acordo em 1 de Janeiro de 1994, «após depositados os
instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da
República Portuguesa».
ERROS MAIS FREQUENTES
Se
para uma correcta comunicação escrita teremos de ter em conta toda uma
série de factores, tais como objectivos do texto, destinatários e
expressão das ideias, um dos aspectos que não deve ser descurado é o da
correcção ortográfica. Além de prejudicar a qualidade da mensagem, o
erro pode marcar socialmente aquele que o comete. E, no domínio da
incorrecção, vários aspectos têm de ser levados em conta: o vocabulário,
que poderá não ser o mais adequado, a construção da frase, que pode
tornar difícil de entender a ideia expressa, e a incorrecção gramatical,
englobando nesta última quer os erros de concordância, quer os que
constituem infracção ao código ortográfico.
Tomando como base de recolha um
conjunto de setenta e seis provas de frequência realizadas num curso de
nível superior, procurámos efectuar uma análise da frequência de erros
cometidos estritamente ao nível da correcção ortográfica. Face à
diversidade de erros, agrupámo-los segundo diferentes tipos. Não
considerámos o número de vezes que uma mesma incorrecção é cometida por
um aluno, mas sim o número de alunos que comete incorrecções. Igualmente
não considerámos a incorrecção quando ocasional, mas apenas quando
cometida com certa frequência por um aluno.
Tivemos em conta diversos aspectos.
Considerámos como deficiência a falta de clareza ou a redacção menos
correcta da frase, que englobámos sob a designação "Redacção".
Distinguimos, separadamente, o erro de concordância ou sintaxe, que
registámos sob a designação "Sintaxe".
No domínio da ortografia, a
variedade de erros é grande. Considerámos independentemente a classe dos
verbos, separando os erros a nível das conjugações pronominais das
restantes. Deste modo, considerámos, de um lado, os erros resultantes da
confusão dos tempos (por exemplo, entre as terceiras pessoas do plural
do pretérito perfeito e do futuro); do outro, os erros resultantes da
confusão com a conjugação pronominal como, por exemplo, "anda-mos" por
"andamos".
Ainda no domínio da ortografia, considerámos os aspectos: "Ortografia-palavras mal escritas" e erros a
nível da translineação; considerámos separadamente o problema da
acentuação das palavras, colocando, de um lado, a falta de acentuação ou
a acentuação incorrecta por troca de acentos ou por troca do lugar dos
acentos e, do outro, a falta de acentos ou má colocação do acento nos
ditongos; finalmente, registámos os erros ao nível da pontuação.
Ao todo, reduzimos as deficiências
detectadas a nove aspectos, que transcrevemos no quadro com a indicação
do número de alunos que apresentaram incorrecção e a respectiva
percentagem:
|
Incorrecções
cometidas |
N.º de alunos |
percentagem |
redacção de frases
ortografia – palavras mal escritas
ortografia – confusão de tempos
ortografia – conjugação pronominal
ortografia – translineação
acentuação – falta, troca
acentuação – ditongos
estrutura sintáctica/concordância
deficiente pontuação |
20
37
3
4
3
51
41
19
45 |
26,3
48,7
3,9
5,3
3,9
67,1
53,9
25,0
59,2 |
|
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Figura 20:
Quadro com as percentagens de incorrecções cometidas em frequências
de um curso de nível superior. |
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Num total de 76 provas observadas,
39 alunos cometeram erros de ortografia, o que equivale a 51,3 %, 63
cometeram erros de acentuação, perfazendo 82,9 %, 45 pontuaram
deficientemente (59,2 %), 20 redigiram frases com incorrecção (26,3 %) e
19 cometeram erros de sintaxe (25). As maiores percentagens
verificaram-se nos domínios da ORTOGRAFIA, ACENTUAÇÃO e PONTUAÇÃO,
respectivamente com 51,3 %, 82,9 % e 59,2 %. Confrontem-se os quadros
apresentados nos gráficos das figuras 21 e 22. O gráfico da figura
22 mostra-nos os totais com as respectivas
percentagens, algumas delas excessivamente elevadas, se tivermos em
conta o grau de ensino.
Figura 21: Gráfico com os totais de
incorrecções registadas.
Figura 22: Gráfico com os totais e as
percentagens de deficiências detectadas.
Neste capítulo, iremos abordar dois
aspectos importantes e facilmente corrigíveis por todos os que utilizam
o código escrito. Referimo-nos aos problemas da acentuação e pontuação,
para os quais basta o conhecimento de um determinado número de regras e
alguns trabalhos práticos de aplicação como, por exemplo, retirar
toda a acentuação ou toda a pontuação de um texto correctamente escrito
e, em seguida, procurar reconstituí-lo.
Relativamente ao problema da
ortografia, a sua correcção torna-se mais difícil, embora não seja
impossível, sendo bastante útil uma reflexão atenta sobre os erros
cometidos. As restantes deficiências, a nível da redacção e da sintaxe,
exigem um tipo de trabalho diferente. A primeira
─
a nível da redacção
─
poderá ser eliminada com base numa reflexão sobre os diferentes tipos de
textos susceptíveis de ser produzidos, seus objectivos específicos e
estrutura e, em seguida, com uma fase de produção a partir de situações
concretas, reais ou imaginadas; a segunda
─
a nível da sintaxe
─
poderá ser corrigida reflectindo-se sobre as estruturas da língua e
tipos de desvios relativamente à norma gramatical[5].
PALAVRAS, SÍLABAS E ACENTOS TÓNICOS
Para que as regras da acentuação possam ser entendidas e correctamente
aplicadas, é importante uma correcta noção da estrutura das palavras.
Quando pronunciamos uma palavra,
damo-nos conta de que ela é constituída por uma cadeia sonora formada
por pequenos segmentos, por sua vez constituídos por fonemas ou sons.
Por exemplo, o vocábulo automóvel é por nós pronunciado não
separando cada um dos fonemas (aquilo que em linguagem vulgar designamos
por letras),
a - u - t - o - m - ó - v
- e - l
mas juntando-os de acordo com o
esquema
au - to
- mó - vel.
Quer isto dizer que a pronúncia de
uma palavra se faz mediante a leitura de unidades mínimas a que damos o
nome de sílabas. As sílabas podem ser constituídas por um
conjunto formado por:
a) - uma consoante mais uma vogal,
um ditongo ou um tritongo;
b) - um conjunto formado apenas por
uma vogal, ditongo ou tritongo.
a) - pé
pou - co
U - ru - guai
b) - é
eu
uau!
Podemos, assim, definir sílaba
como uma unidade mínima imediata em que se divide a palavra e que é
pronunciada de uma só vez, isto é, mediante uma só expiração.
As sílabas podem ser consideradas
também abertas ou fechadas. Serão abertas se terminam por
vogal e fechadas se terminam por consoante. Observem-se os exemplos:
sílabas abertas: a - pa - ga - do
a - ma - do
be - lo
sílabas fechadas:
par - tir
pas - tor
per - der
Uma palavra pode ser constituída por
uma só ou por várias sílabas. Assim, quanto ao número de sílabas, as
palavras podem-se classificar em[6]:
monossílabos – eu
pé
tu
paz
pau
fim
dissílabos
– café regra aula livro bola
trissílabos
– caneca vinheta estação tristeza
polissílabos
– tristemente otorrinolaringologista
São monossílabos (mono=um, uma) os
vocábulos que apenas têm uma sílaba. São dissílabos (di=dois, duas) os
que apresentam duas sílabas. São trissílabos (tri=três) os que têm três
sílabas. A partir de quatro, os vocábulos são considerados polissílabos
(poli=muito, muitas).
Quando as palavras apresentam mais
do que uma sílaba, ao pronunciá-las, poderemos verificar que nem todas
as sílabas se pronunciam com a mesma intensidade. Por exemplo, na
sequência seguinte, verificamos que as sílabas registadas a letra mais
escura se pronunciam com maior intensidade:
Palavras mal
registadas são palavras erradas.
As
sílabas na sua pronúncia podem
adquirir, acusticamente, diversos aspectos, na medida em que os sons
da fala humana podem variar quanto à intensidade, quanto ao
tom, ao timbre e à quantidade
(veja-se o esquema da figura 23).
Figura
23: Quadro com os quatro aspectos a considerar relativamente aos
sons da fala humana.
Para nós, agora, interessa-nos
considerar apenas a intensidade com que as sílabas são pronunciadas. Em
todas as palavras, salvo casos especiais[7],
os acentos tónicos recaem na primeira, segunda ou terceira sílaba a
contar do fim. Significa isto que em todas as palavras existe
obrigatoriamente uma sílaba tónica, que se pronuncia com maior
intensidade. As restantes, pronunciadas com menor intensidade, são as
chamadas sílabas átonas. Assim, podemos considerar dois tipos de
sílabas:
tónicas – pronunciadas com
maior intensidade
átonas – pronunciadas com
menor intensidade.
Quanto à posição da sílaba tónica,
as palavras podem-se classificar em:
● oxítonas - acentuadas na última sílaba: canapé; café;
rapaz; bilhar; comunicação;
chá
●
paroxítonas
- acentuadas na penúltima sílaba: lado; bola;
escola; acidente
●
proparoxítonas
- acentuadas na antepenúltima sílaba: oxítona;
público; gramática; sólido; oblíquo; médico
As palavras oxítonas, paroxítonas e
proparoxítonas são também tradicionalmente conhecidas pelas designações,
respectivamente, agudas, graves e esdrúxulas. Convirá também nunca
esquecer que a contagem das sílabas se efectua sempre a partir do fim
das palavras.
Relativamente aos monossílabos,
convém notar que os há que se pronunciam de modo tão fraco, que têm de
se apoiar noutras palavras. Assim, efectua-se a distinção entre
monossílabos átonos, os que se pronunciam de modo tão fraco, que, na
frase, têm de se apoiar no acento tónico da palavra vizinha (ex.: Diga-me
qual o preço da carne), e os monossílabos tónicos,
os que são emitidos fortemente, não precisando do apoio de outras
palavras (ex.: flor, pé).
PALAVRAS FREQUENTEMENTE MAL
PRONUNCIADAS
Há
uma série de vocábulos que, frequentemente, são submetidos a erros de
pronúncia e que convém conhecer. A fim de se evitar esse erro, a que se
dá o nome de silabada, apresenta-se uma listagem extraída de uma
gramática da língua portuguesa com esses vocábulos (vejam-se os quadros
das figuras 24 e 25).
Figura
24: Quadro com a relação de palavras que podem suscitar dúvidas de
pronúncia.
Figura
25: Observações relativas ao quadro 24.
ÊNCLISE/PRÓCLISE
E ACENTOS ESPECIAIS
Além dos aspectos já abordados, importa ainda referir o caso das
palavras enclíticas e dos acentos de insistência, afectivo e
intelectual.
Quando uma palavra não tem
acentuação própria, dependendo do acento da palavra próxima, formando
com ela um todo fonético, dizemos que essa é uma palavra enclítica.
Uma vez que estas se podem ligar à palavra que está antes ou depois,
poderemos considerar duas formas de ênclise. Assim, as palavras
enclíticas podem ser proclíticas e apoclíticas. Se estão após a palavra a que estão
sujeitas, chamam-se apoclíticas. É o caso das formas átonas dos
pronomes pessoais na conjugação pronominal: amam-se; podes
adormecê-lo contando-lhe histórias. Se estão antes da
palavra a que estão sujeitas, chamam-se palavras proclíticas. É o
caso das preposições e dos artigos: a criança ouve a
cantiga de embalar.
Além dos acentos normais das
palavras, podemos considerar o chamado acento de insistência,
resultante de uma determinada elocução, tendo em vista realçar uma
determinada palavra ou conferir-lhe uma determinada emotividade. Assim
sendo, podemos considerar dois tipos de acento de insistência: o
intelectual e o afectivo.
Se se procura transmitir uma
determinada emoção, uma certa afectividade à palavra, introduzimos-lhe
uma acentuação de carácter afectivo, emotivo. O acento intelectual é
desprovido de qualquer emotividade; apenas pretende realçar um
determinado conceito.
Como se distingue, na prática, o
acento afectivo do intelectual?
O acento intelectual recai sempre na
primeira sílaba da palavra que queremos destacar.
Ex.: A sua atitude é IMperdoável.
O acento afectivo pode recair na
primeira ou na segunda sílaba. Se a palavra começa por consoante, recai
na primeira; se por vogal, recai na segunda. De uma maneira geral, o
ouvido é sensível as estas diferenças de entoação, já que o acento
afectivo é, normalmente, mais prolongado.
OS SINAIS ORTOGRÁFICOS OU NOTAÇÕES LÉXICAS
Na
língua portuguesa escrita, em território português, utilizamos um
conjunto de notações léxicas a que normalmente damos o nome de sinais
ortográficos. São elas o acento grave [ ` ], o acento agudo [ ´ ],
o acento circunflexo [ ^ ], o til [ ~ ], o apóstrofo [ ' ],
a cedilha [ ç ] e o hífen [ ‑ ]. Existe ainda o trema [ ¨ ],
que só está em vigor na ortografia brasileira e serve para desfazer o
hiato.
De uma maneira geral, os erros mais
frequentes no domínio da acentuação resultam da confusão entre os
acentos grave e agudo e da sua inadequada utilização. Assim sendo,
convirá saber qual a função de cada um dos acentos e conhecer algumas
regras práticas.
ACENTO GRAVE [ ` ]
Este acento deixou praticamente de se usar no português. Apenas surge
para marcar a crase da preposição a com as formas do feminino do
artigo definido e com os pronomes demonstrativos.
exs.: Ela presta atenção à(s) aula(s) mas eles assistiram àquele(s) jogo(s).
ACENTO AGUDO [ ´ ]
Este acento é empregado para assinalar as vogais tónicas fechadas i
e u e as vogais tónicas abertas e semi‑abertas a, e,
o. Há, no entanto, relativamente ao emprego deste acento, uma
série de regras que convirá conhecer (ver mais adiante).
exs.: aí, físico, açúcar, baú,
fúnebre, há, pé, pó, amável, tivésseis, herói
ACENTO CIRCUNFLEXO [ ^ ]
Este acento é empregado para indicar o timbre semifechado das vogais
tónicas a, e, o.
Exs.: câmara, cântaro, hispânico, mês, dêem, êxodo, fêmea,
pôs, cômputo
TIL [ ~ ]
Este acento emprega‑se para indicar a nasalidade das vogais a e
o. Coloca‑se sempre sobre a vogal tónica. Nos ditongos nasais, o
acento tem de se colocar, obrigatoriamente, sobre a primeira
vogal do ditongo.
Exs.: mãe, maçã, pão, sermões, discussões, cão, cães, alemã, romã, grão
APÓSTROFO [ ' ]
O apóstrofo surge frequentemente nos
versos para assinalar a supressão de um fonema, normalmente uma vogal, e
em registos escritos da fala popular ou em palavras compostas ligadas
pela preposição de.
Exs.: 'tá bem! São só cinco c'roas. Galinha‑d'água
CEDILHA [ ç ]
A cedilha é colocada debaixo do c
antes de a, o e u.
Exs.: maçada, praça, caça, maciço, moço, almoço, açúcar, muçulmano
HÍFEN [ ‑ ]
O
hífen, na língua portuguesa, apresenta três funções distintas:
1º ‑ Permite a formação de novas palavras, quer
por meio de composição, quer de derivação;
2º ‑ É utilizado nas
diferentes conjugações pronominais bem como na ligação de formas
pronominais enclíticas ao advérbio eis;
3º
‑ É utilizado na translineação.
Dada, pois, a sua importância, há
todo um conjunto de regras importantes que convirá reter.
Nas palavras compostas, bem
como nas locuções e encadeamentos vocabulares, poderemos considerar os
seguintes casos:
● 1º ‑ O hífen é utilizado
nas palavras formadas por justaposição cujos elementos, sejam eles de
natureza nominal, adjectival, numeral ou verbal, mantêm a sua própria
acentuação.
exs.: arco‑íris, couve‑flor,
decreto‑lei, médico‑cirurgião, tenente‑coronel, alcaide‑mor,
amor‑perfeito, euro‑asiático, luso‑brasileiro, histórico‑geográfico, guarda‑chuva, conta‑gotas, sul‑africano, norte‑americano,
primeiro‑ministro, finca‑pé, primeiro‑sargento, azul‑escuro, etc.
● 2º ‑ Emprega‑se o hífen nos
topónimos compostos iniciados pelos adjectivos grão/grã, por
forma verbal ou com os elementos ligados por artigo.
exs.: Grã‑Bretanha, Grão‑Pará,
Quebra‑Costas, Trinca‑Fortes, Albergaria‑a‑Velha, Montemor‑o‑Novo,
Trás‑os‑Montes, Entre‑os‑Rios.
Excepções: Há topónimos que não seguem esta regra,
como é o caso de Cabo Verde, Castelo Branco, América do Sul, Freixo de
Espada à Cinta, Belo Horizonte, etc.
● 3º ‑ Emprega‑se o hífen nas palavras
compostas que designam espécies botânicas ou zoológicas, ligadas ou não
por preposição ou outros elementos.
exs.: couve‑flor, bem‑me‑quer (o
mesmo que malmequer ou margarida), andorinha‑do‑mar, erva‑doce,
feijão‑verde, fava‑rica, ervilha‑de‑cheiro, formiga‑branca, cobra‑capelo, cobra‑d'água, etc.
● 4º ‑ Emprega‑se o hífen nos
compostos com os elementos sem, além, aquém,
recém.
exs.: recém‑casado, além‑fronteiras, além‑mar, recém‑nascido, sem‑cerimónia,
sem‑vergonha, aquém‑fronteiras, sem‑número
● 5º ‑ Emprega‑se o hífen com
os advérbios bem e mal, sendo de notar as seguintes
regras:
─
com mal, usa‑se o hífen quando o elemento seguinte começa por
vogal ou H.
exs.: mal‑humorado, mal‑educado
(cfr. com malcriado), mal‑estar
─
com bem, usa‑se o hífen quando o elemento seguinte tem autonomia
e a pronúncia o requer.
exs.: bem‑aventurança, bem‑criado,
bem‑falante, bem‑visto
NOTA: Há casos em que bem aparece
aglutinado, como nos exemplos: benfazejo, benfeitor, benfeito,
benquerença, etc.
● 6º ‑ Emprega‑se o hífen em ligações
ocasionais de duas ou mais palavras, como por exemplo:
Liberdade‑Igualdade‑Fraternidade ligação rodoviária Lisboa‑Coimbra‑Porto
● 7º ‑ Embora geralmente o
hífen não seja utilizado em locuções, sejam elas de que tipo for
(substantivas, adjectivas, pronominais, etc), há alguns casos
consagrados pelo uso, tais como:
água‑de‑colónia, cor‑de‑rosa,
mais‑que‑perfeito, arco‑da‑velha, pé‑de‑meia
Nas palavras derivadas (por
prefixação, recomposição ou sufixação, apesar do elevado número de
prefixos e das formações por recomposição com elementos não autónomos ou
falsos prefixos, de origem grega e latina[8],
apenas se emprega o hífen nos seguintes casos:
● 1º ‑ Nas formações em que o segundo
elemento começa por H.
exs.: anti‑higiénico, pré‑história,
super‑homem, neo‑helénico, pan‑helénico, sub‑hepático
Excepções: com os prefixos des‑ e in‑,
quando o segundo elemento perdeu o H inicial, não se usa o hífen:
desumano, desumidificador, inábil, inumano, etc.
● 2º ‑ Nas formações em que o
prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o
segundo elemento.
exs.: contra‑almirante,
auto‑observação, micro‑onda
Excepções: com o prefixo co‑, este
aglutina‑se geralmente ao segundo elemento, mesmo quando iniciado pela
vogal o: coordenar, cooperante, cooperativa, etc.
● 3º ‑ Com os prefixos
circum‑ e pan‑, quando o elemento seguinte começa por
vogal, m, n ou h.
exs.: circum‑escolar, circum‑navegação, pan‑africano, pan‑negritude,
circum‑murado
● 4º ‑ Com os prefixos
hiper‑, inter‑, super‑, quando seguidos de h
ou r.
exs.: inter‑resistente,
super‑herói, super‑revista
● 5º ‑ Com os prefixos
pós‑, pré‑, pró‑, quando têm significado e acentos
próprios.
exs.: pré‑diluviano,
pós‑diluviano, pós‑graduação, pós‑tónico, pró‑popular,
pró‑africano, pró‑europeu, pré‑natal
● 6º ‑ Com os prefixos ex‑
(com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota‑, soto‑,
vice‑ e vizo‑.
exs.: ex‑almirante, ex‑marido, ex‑presidente,
sota‑piloto, vice‑rei, vice‑presidente, vizo‑rei.
Atendendo a que é já prática
corrente em termos técnicos e científicos a eliminação do hífen em
vários casos, o novo acordo ortográfico, a entrar em vigor a partir de 1
de Janeiro de 1994, considera que não se deverá empregar o hífen:
a) ‑ «Nas formações em que o prefixo
ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r
ou s, devendo estas consoantes duplicar‑se, prática já
generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico
e técnico» como é o caso, por exemplo, das palavras antirreligioso,
antissemita, infrassom, minissaia, biossatélite,
microssistema, microrradiografia, etc.
b) ‑ «Nas formações em que o prefixo
ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por vogal
diferente», prática esta já corrente para os termos técnicos e
científicos, como, por exemplo, nas palavras antiaéreo,
extraescolar, aeroespacial, autoestrada,
agroindustrial, autoaprendizagem, etc.
O hífen emprega‑se também:
● 1º ‑ Com as conjugações
pronominais: amá‑lo‑ei, escreve‑o, dá‑se
● 2º ‑ Relativamente às formas
monossilábicas do presente do indicativo do verbo haver
seguido de preposição, a grafia actual faz‑se com o emprego do hífen:
hei‑de; há‑de; hás‑de; hão‑de. No entanto,
a partir de 1994, o hífen deixará de ser empregue com essas formas do
verbo haver, passando a grafia a ser: hei de; há
de; hás de, hão de.
● 3º ‑ Na ligação de formas
pronominais enclíticas ao advérbio eis e nas combinações de formas
pronominais do tipo no‑lo, quando em posição proclítica.
ei‑lo,
ei‑las, eis‑me, desejo que no‑las enviem...
Na
translineação, o hífen permite separar as sílabas das palavras
quando estas já não cabem e é preciso mudar de linha. Frequentemente a
palavra é mal separada ou, então, na dúvida, para evitar o erro,
escreve‑se na margem, com prejuízo da apresentação do próprio texto.
Com a utilização cada vez mais
frequente do computador no processamento de textos, inclusive na edição
electrónica de jornais, é corrente encontrarmos em textos impressos
erros graves, como o de cortar uma sílaba ao meio, no estilo dos
exemplos: no‑//sso; fil‑//hos; son‑ //hos, advog‑//ado.
A grande regra básica, que teremos
de respeitar, é a de que NUNCA se deve cortar uma sílaba ao meio.
Os elementos que constituem a sílaba são inseparáveis. Assim, quando uma
palavra não cabe e é necessário efectuar a mudança de linha mediante a
utilização do hífen, teremos de respeitar as seguintes regras de
silabação:
Separam‑se na translineação:
● 1º ‑ As consoantes dobradas:
os‑//so car‑//ro
● 2º ‑ Os grupos de consoantes
pertencentes a sílabas diferentes:
adop‑//tar diafrag‑//ma oc‑//cipital
ad‑//mirável ad‑//jec‑//tivo ri‑//tmo
● 3º ‑ Os grupos de vogais
pertencentes a sílabas diferentes:
co‑//operativo sa‑//ú‑//de
mi‑//ú‑//do ra‑//i‑//nha
● 4º ‑ Nas palavras compostas por
justaposição ou nas formas verbais referentes à conjugação pronominal,
quando o hífen fica no final da linha, terá obrigatoriamente de se
repetir no começo da seguinte:
amá‑//‑lo couve‑//‑flor
grão‑de‑//‑bico comprá‑//‑lo lava‑//‑se
● 5º ‑ Não se separam os ditongos nem
os tritongos:
pa‑//péisvai‑//dosoPara‑//guai
● 6º ‑ Não se separam os grupos
átonos finais ‑ia, ‑ie, ‑io, ‑oa, ‑ue,
‑uo:
Pá‑//lio
con‑//tí‑//nuoro‑//ma‑//ria
Observações: Embora o sistema ortográfico o
permita, não se deve escrever no princípio ou no fim da linha
uma só vogal. Será também preferível evitar a partição de vocábulos como
água, aí, aqui, baú, rua, daí, etc.. Convirá também que vocábulos como
abrasar, aguentar, equidade, agradar, ortografia, etc., sejam apenas
divididos nas sílabas indicadas:
abra‑//sar equi‑//da‑//de
aguen‑//tar agra‑//dar or‑//to‑//gra‑//fia
REGRAS DE ACENTUAÇÃO[9]
Relativamente à utilização do acento grave, vimos já que, à excepção do
caso indicado, este deixou praticamente de se usar no português.
Restam‑nos, pois, algumas regras importantes relativas essencialmente à
utilização do acento agudo, mas também do acento circunflexo, que a
seguir transcrevemos.
PALAVRAS
PROPAROXÍTONAS
Todas as palavras proparoxítonas são
obrigatoriamente acentuadas:
● a) ‑ Usa‑se o acento agudo se na
sílaba tónica se encontra a vogal a aberta, as vogais e ou
o semi‑abertas, i ou u:
árabe tépido
cómico límpido
túnica
● b) ‑ Usa‑se o acento circunflexo se
a vogal tónica for fechada:
câmara
lâmpada
pêndulo
fôlego
PALAVRAS OXÍTONAS
● 1º ‑ Acentuam‑se as palavras
oxítonas terminadas em a, e, o ou ditongo aberto ou
semi‑aberto seguido ou não de s:
má boné herói lençóis anéis
avó pó bacharéis rouxinóis chapéu
● 2º ‑ Acentuam‑se as oxítonas
terminadas em ‑em e ‑ens desde que tenham mais de uma
sílaba:
Santarém armazém
armazéns alguém também
● 3º ‑ Acentuam‑se com circunflexo
(^) as oxítonas terminadas em a, e e o
fechados:avôportuguês
PALAVRAS PAROXÍTONAS
● 1º ‑ Acentuam‑se as palavras
paroxítonas terminadas em ‑l, ‑n, ‑r ou ‑x:
fácil abdómen fémur Fénix túnel
amável têxtil útil açúcar tórax
● 2º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas
terminadas em ‑i, ‑u, ‑is, ‑us, vogal nasal
ou ditongo:
júri Vénus órfã amáveis lápis
íris ténis bênção bónus vírus
● 3º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas
cuja sílaba tónica é um ditongo oral[10]:
heróico clarabóia
tipóia gibóia
● 4º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas no
caso das palavras homógrafas, aplicando‑se a mesma regra para o caso das
oxítonas homógrafas[11]:
pára/para pôde/pode
amámos/amamos pêlo/pelo
têm/tem retêm/retém
provêm/provém quê/que pôr/por
● 5º ‑ Acentuam‑se as paroxítonas
terminadas em ‑um, ‑uns:
álbum álbuns
● 6º ‑ Quando o i ou u
tónicos não formam ditongo, são assinalados com acento agudo para
desfazer o hiato, quer a palavra seja oxítona ou paroxítona:
aí cafeína balaústre faísca
egoísta saúde heroína juízo viúvo
EXCEPÇÃO: Se o i ou u forem seguidos
de l, m, n, r, z, que não iniciam
sílaba, ou de nh, não levam acento:
moinho rainha ventoinha paul
Raul ruim demiurgo juiz
________________________________
[1] –
Veja-se o artigo de Arnaldo SARAIVA, Na pátria da língua
portuguesa, publicado no "Jornal de Notícias" de 3 de Dezembro
de 1989, pág. 64.
[2] –
Veja-se outra definição de ortografia, que transcrevemos:
«Grafia
(ou ortografia) é a "técnica para usar a linguagem como comunicação
escrita. Um desenho convencional reporta-se às formas da língua,
constituindo a grafia por ideogramas, ou a elementos da fonação,
constituindo a grafia fónica. Em português, como nas demais línguas
ocidentais, desde o grego antigo, a grafia é fónica na base de
letras, complementadas pelos diacríticos [sinais gráficos que
conferem às letras ou grupos de letras um valor sonoro próprio, a
que damos o nome de acentos] e pelos sinais de pontuação.
[3] –
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) foi
aprovado em Lisboa em 12 de Outubro de 1990, assinado em Lisboa a 16
de Dezembro de 1990 e aprovado na Assembleia da República em 4 de
Junho de 1991, tendo sido publicado no Diário da República Nº 193, I
Série-A, em 23 de Agosto de 1991, pp. 4370-4388.
[4] –
Em
6 de Fevereiro de 1973, pelo Decreto-Lei nº 32/73, «são eliminados da
ortografia oficial portuguesa os acentos circunflexos e os acentos
graves com que se assinalam as sílabas subtónicas dos
vocábulos derivados com o sufixo MENTE e com os sufixos iniciados
por Z.»
[5] –
Recorde-se tudo quanto foi dito no capítulo II, relativamente aos
planos ou estruturas dos textos, bem como aos articuladores do
discurso e diferentes técnicas na exposição das ideias (pp. 50-71).
[6] –
Há
gramáticas que consideram os polissílabos a partir de três sílabas.
Consideramos, no entanto, mais rigorosa a classificação tradicional, que
só considera polissílabos as palavras com quatro ou mais sílabas. O
porquê desta preferência é fácil de concluir. Se dissermos que dada
palavra é um polissílabo, ficaremos sem saber quantas sílabas tem. Mas
se dissermos que essa mesma palavra é um trissílabo, imediatamente
ficaremos a saber, com precisão, como é a palavra.
[7] –
No
caso das conjugações pronominais, acontece, por vezes, que o acento
tónico recua uma sílaba em relação ao normal. Por exemplo, em
"amávamos", a sílaba tónica situa-se na antepenúltima sílaba (a terceira
sílaba a contar do fim da palavra); é uma palavra proparoxítona (ou
esdrúxula). No caso de "nós amávamo-nos", há um
recuo para a quarta sílaba a contar do fim. Dizemos que esta palavra
é bisesdrúxula. O mesmo acontece no seguinte exemplo:
"Façam-se-lhes as vontades e ...". Com a junção dos pronomes átonos
à forma verbal, obteve-se uma palavra composta em que o acento recai
na quarta sílaba a contar do fim.
[8] –
Exemplos de prefixos e elementos de origem grega e latina:
[9] –
Nestas páginas apenas estão indicadas as regras mais importantes.
Convirá notar que, em certos casos, há pequenas divergências de
acentuação entre Portugal e o Brasil, facto que levou a algumas
alterações pontuais no novo Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, anteriormente referido, com o objectivo de
uniformizar o Português nos dois lados do Atlântico. Para um estudo
mais aprofundado desta matéria, aconselha‑se a consulta de uma
gramática ou mesmo de um prontuário ortográfico e, sobretudo, o seu
estudo complementar com a consulta do citado acordo. A título
exemplificativo, indicamos a obra de Celso CUNHA e de Lindley
CINTRA, Nova Gramática do Português Contemporâneo, edições Sá
da Costa, 2ª ed., Lisboa, 1984, pp. 63‑74. Deveremos desde já
acrescentar que as alterações introduzidas são mínimas e por nós
referidas neste trabalho.
[10] –
A
partir de Janeiro de 1994, deixarão de ser acentuados os ditongos ei e oi nas palavras paroxítonas, pelo que
palavras como as acima indicadas deixarão de ser acentuadas, o que
não deixa de ter uma certa lógica, tanto mais que actualmente já não
se acentuam palavras como comboio, dezoito, estroina, etc.,
cuja situação é rigorosamente idêntica.
[11] –
De
acordo com o novo acordo ortográfico de 1990, a partir de Janeiro de
1994, esta regra deixará de existir porque, constituindo as palavras
homógrafas pares «cujos elementos pertencem a classes gramaticais
diferentes, o contexto sintáctico permite distinguir claramente tais
homógrafas». Todavia, nem sempre esta clareza é assim tão evidente como
se afirma, pelo que o desaparecimento do acento, nestes casos, irá
tornar mais difícil a leitura imediata dos textos, obrigando a uma
prévia leitura de reflexão para apreensão do sentido, com consequente
dificuldade para uma correcta elocução das frases em situações de rápida
comunicação. De onde se conclui que, por vezes, certas regras enunciadas
por alguns filólogos, que alteram o que outros mais experientes
e reflectidos determinaram, não deveriam ser apresentadas sem uma
ponderada reflexão e auscultação da maioria dos falantes portugueses com
conhecimentos bem alicerçados das estruturas linguísticas portuguesas.
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