| 
          
            |   | 
              
                | 
                
                Onde obter a informação: serviços de documentação; meios de 
                comunicação social; livros técnicos, obras de vulgarização e 
                manuais escolares; bibliotecas públicas e privadas; dicionários 
                e enciclopédias; meios informáticos. Algumas regras para 
                pesquisa da informação. Como organizar/arquivar a informação. 
                Saber ouvir e tomar notas. A leitura e sua classificação 
                tipológica. Condições para uma boa leitura. A leitura rápida. A 
                leitura em  voz alta. O plano ou estrutura dos textos. O resumo. |  |   |  
        
        A 
        LEITURA E SUA CLASSIFICAÇÃO TIPOLÓGICA
 
        
        Apesar de grande  número de informações ser actualmente veiculado 
        através dos meios de comunicação social, pela televisão, pelo cinema e 
        pela rádio, ou seja, através da imagem e da palavra oral, a verdade é 
        que a leitura continua o grande meio de obtenção de informações. Se o 
        acontecimento televisionado é mais cativante e a ele prestamos mais 
        facilmente atenção, o facto é que a leitura do mesmo acontecimento 
        através dos jornais constitui um complemento importante e permite uma 
        maior informação. A notícia apresentada através do pequeno ecrã é 
        irreversivelmente fugaz e, ao mais pequeno imprevisto, arriscamo-nos a 
        perder pormenores importantes sobre o assunto.  Uma pessoa ao lado que 
        nos interrompa, um ruído súbito, e lá se vão aqueles pormenores 
        importantes aos quais deveríamos ter prestado atenção, sem a 
        possibilidade de os revermos. A menos que tenhamos o cuidado de gravar a 
        informação em vídeo. Mas se a mesma notícia está presente no jornal, 
        além de geralmente mais completa, de um maior desenvolvimento até ao 
        pormenor quando o acontecimento é de elevada importância, o risco de 
        perdermos pormenores, importantes ou não, praticamente não existe. 
        Poderemos ler e reler a notícia quantas vezes quisermos ou forem 
        precisas, captando tudo até ao mais ínfimo detalhe, se isso nos 
        interessar.   E se, por qualquer motivo, somos interrompidos, ou se 
        algum aspecto nos escapa motivado por alguma dificuldade de compreensão 
        do código linguístico, poderemos interromper a leitura, consultar alguém 
        ou o dicionário e retomá-la mais tarde. 
        
        A 
        informação escrita não é fugaz. Ela está ali permanentemente, à nossa 
        disposição, fixa no suporte material de que é feito o jornal ou revista, 
        sempre disponível para a leitura.  E se é de grande interesse, poderemos 
        mesmo  destacá-la, recortá-la e guardá-la no nosso sistema de arquivo, 
        para, em qualquer altura, sempre que necessário, poder voltar a prestar-nos 
        os seus serviços. 
        
        De 
        tudo isto se conclui, quer queiramos quer não, que a leitura é ainda dos 
        melhores meios, senão o melhor, de aumentarmos a nossa cultura. Daí que 
        leituras numerosas e regulares se tornem indispensáveis para um 
        enriquecimento da nossa cultura e da nossa personalidade, além de que, 
        nas nossas actividades profissionais, continuam ainda a ser a única e 
        melhor maneira de recebermos informações. 
        
        De 
        acordo com trabalhos especializados, a leitura é a prática de maior 
        importância no estudo, preenchendo em determinadas áreas do conhecimento 
        cerca de 90 % do tempo de estudo privado. É o que acontece, por exemplo, 
        com a Literatura e a História. 
        [1] 
        
        Ainda 
        segundo esses  mesmos trabalhos, existem diferentes  espécies de leitura. 
        Embora seja discutível e possivelmente incompleta, poderemos elaborar 
        uma classificação tipológica das leituras, tendo em conta dois 
        aspectos: 
        ●
        
        
        1º - o meio fisiológico predominantemente utilizado;    
        ●
        
        
        2º - a intencionalidade da leitura. 
        
        Tendo 
        em conta a intervenção fisiológica predominante, poderemos considerar 
        três tipos de leitura:  leitura vocal, em voz alta;  leitura subvocal ou 
        subvocalizada, em voz baixa;  leitura visual. 
        
        Estes 
        três tipos dividem-se, por sua vez, em subtipos, presentes no quadro da 
        figura 5. 
          
            |  |  
            | Figura 5: 
            Quadro com os tipos de leitura, tendo em conta a intervenção 
            fisiológica (a voz e o olhar ou apenas o olhar). |  
        
        Tendo 
        em conta a intencionalidade que preside à leitura, podemos encontrar 
        diferentes classificações.   
        
        Harry Maddox, na obra já citada, página 106, 
        apresenta-nos sete tipos diferentes, que passamos a apresentar: 
        
        1º 
        - leitura para dominar a informação e o conteúdo, que se 
        caracteriza por ser cuidadosa, lenta e repetida; 
        
        2º 
        - leitura para explorar, folheando atentamente um livro para 
        obtenção de uma visão geral; 
        
        3º 
        - leitura de revisão, para recordar ou consolidar informações ou 
        conhecimentos já adquiridos; 
        
        4º 
        - leitura de pesquisa, para procurar determinadas informações ou 
        respostas a perguntas específicas; 
        
        5º 
        - leitura crítica, para formulação de juízos de valor sobre um 
        livro, um artigo, etc.; 
        
        6º 
        - leitura de distracção; 
        
        7º 
        - leitura de revisão linguística, tendo em conta a correcção de 
        deficiências na exposição das ideias: pontuação, ortografia, estilo, 
        redacção das frases, etc. 
        
        No 
        trabalho já citado de João David Pinto Correia, página 69, é-nos 
        apresentada outra classificação da leitura, tendo em conta a 
        intencionalidade da leitura realizada, dividida em apenas quatro 
        aspectos: 
        
        1º 
        - Leitura de intenção artística, como é o caso, por exemplo, da 
        declamação de um poema; 
        
        2º 
        - Leitura de apreciação estético-literária; 
        
        3º 
        - Leitura de análise ou de estudo, que se pode socorrer dos tipos 
        de leitura indicados no quadro da figura 5; 
        
        4º 
        - Leitura de compreensão informativa, que pode ser, segundo o 
        Autor, predominantemente rápida mas, em certos passos do texto, semi-selectiva 
        ou mesmo integral. 
        
        Dos 
        quatro últimos tipos de leitura, aquele que é aplicado com mais 
        frequência é o de compreensão informativa. É o que sucede quando temos 
        de tomar conhecimento de relatos, artigos, ensaios, relatórios, notícias, 
        etc. 
          
        
        CONDIÇÕES PARA UMA BOA LEITURA 
        
        Apesar dos vários tipos de  leitura 
        apresentados nas páginas anteriores, limitaremos a nossa análise a dois 
        tipos apenas:   à leitura rápida e à leitura em voz alta. 
        
        Para 
        qualquer um destes tipos de leitura, como aliás para todos os restantes, 
        há um conjunto de condições indispensáveis sem as quais a pesquisa e a 
        descodificação da informação não poderá verificar-se. Essas condições 
        têm a ver com os aspectos fisiológicos, psicológicos e 
        psicolinguísticos. 
        
        Fisiologicamente, 
        uma boa leitura dependerá, em primeiro lugar, das condições de visão da 
        pessoa que lê, mas poderá também depender das boas condições do aparelho 
        fonador, bem como do domínio de técnicas específicas para o caso da 
        leitura em voz alta para outras pessoas, tendo em vista a modalidade e 
        os objectivos a alcançar. 
        
        Psicologicamente, 
        a leitura dependerá essencialmente de quatro factores: da motivação ou 
        interesse por ela suscitado, da atenção, geralmente relacionada com o 
        interesse, da sensibilidade e da capacidade de memorização. 
        
        Mas 
        para uma boa leitura, com uma adequada descodificação e registo dos 
        conteúdos, torna-se necessário um conjunto de requisitos de ordem 
        psicolinguística: conhecimento do sistema linguístico utilizado, 
        sensibilização para o conjunto de elementos auxiliares da língua (por 
        exemplo, conhecimento dos sinais de pontuação), conhecimento do 
        vocabulário empregue e capacidade de apreensão da globalidade da 
        mensagem. 
          
        
        A 
        LEITURA RÁPIDA 
        
        Actualmente, face à elevada quantidade de meios de   informação e ao 
        reduzido tempo de que dispomos,  torna-se cada vez mais necessária a 
        aquisição  da capacidade de leitura rápida, competência cada vez mais 
        necessária na actividade profissional dos tempos modernos. Este tipo de 
        leitura é essencialmente útil quando se torna necessário apreender uma 
        elevada quantidade de informação em pouco tempo. Pressupõe, como é 
        lógico, boas condições de natureza fisiológica, psicolinguística e 
        psicológica, bem como o domínio de algumas técnicas, variáveis de acordo 
        com o tipo de leitura que se pretende fazer. 
        
        Embora ultrapasse um pouco o âmbito deste trabalho e 
        apesar de haver um razoável número de obras especializadas sobre este 
        tipo de leitura[2], 
        convirá reflectir um pouco sobre o assunto. 
        
        A 
        primeira etapa, antes de efectuarmos a leitura rápida, consistirá em 
        fazer um inventário dos tipos de leitura e objectivos inerentes a cada 
        um. Se temos de aprofundar os nossos conhecimentos sobre determinada 
        matéria, não será pela leitura rápida que conseguiremos fazê-lo. Mas 
        através dela, numa primeira fase  
        
        
        ─ 
        a fase de pesquisa
        ─,  
        poderemos seleccionar e classificar aquilo que apresenta maior ou menor 
        interesse para os objectivos em vista. 
        
        A 
        leitura rápida torna-se particularmente útil quando pretendemos abranger 
        um leque amplo de informações como ponto de partida para um eventual 
        aprofundamento das mesmas. 
        
        Suponhamos que pretendemos saber o que os jornais do dia apresentam 
        sobre determinado acontecimento que tem para nós uma certa importância. 
        Relativamente aos jornais, poderemos considerar três fases de leitura 
        importante. 
        
        ●
        Na primeira fase, folheamos cada jornal, prestando 
        atenção apenas aos títulos e imagens, de modo a verificarmos até que 
        ponto apresentam informação com eventual interesse. Nesta primeira fase, 
        haverá já uma primeira triagem, separando-se os jornais com alguma 
        informação eventualmente útil daqueles que nada apresentam com 
        interesse. 
        
        ●
        Na segunda fase, iremos prestar uma maior atenção aos jornais 
        seleccionados. A nossa atenção  irá centrar-se com maior profundidade 
        nos títulos e no "lead", havendo uma nova selecção, mais rigorosa, dos 
        artigos com interesse. 
        
        ●
        A terceira e última fase será destinada à leitura completa das notícias 
        ou artigos que merecem  a nossa leitura atenta e reflectida.  E se se dá 
        mesmo o caso de determinados artigos apresentarem  para nós interesse em 
        termos de futuro, deveremos destacá-los e arquivá-los no ficheiro 
        respectivo. 
        
        Tendo 
        em conta a leitura do jornal, François Richaudeau, na obra anteriormente 
        citada, apresenta-nos um plano com diferentes etapas para a sua leitura: 
        
                              
        Primeira fase: 
        
        ●
        1 - Relance rápido por todo o jornal, tendo em conta os 
        títulos - 2 minutos. 
        
        ●
        2 - Leitura da notícia mais importante - 2 minutos. 
        
        ●
        3 - Leitura do editorial - 1 minuto. 
        
                              
        Segunda fase
        ─ 
        interesses gerais: 
        
        ●
        4 - Leitura das páginas interiores: 3 artigos no máximo - 
        3 minutos. 
        
        ●
        5 - Selecção de outros 5 artigos - 2 minutos. 
        
                              
        Terceira fase
        ─ 
        interesses particulares: 
        
        ●
        6 - Leitura do essencial das informações financeiras - 3 
        minutos. 
        
        ●
        7 - Leitura rápida dos resultados desportivos - 2 minutos 
        
        O 
        total da leitura de um jornal, seguindo este esquema, não ocupa mais do 
        que 15 minutos. 
        
        Poder-se-á 
        dizer que este esquema não é o mais adequado a todos nós, tendo em conta 
        os interesses individuais; mas a verdade é que é um modelo, a partir do 
        qual poderemos elaborar o nosso próprio esquema de leitura, adequando-o 
        aos interesses inerentes à actividade de cada um. 
        
        Se se 
        trata de tomar um rápido conhecimento do conteúdo de um livro, poderemos 
        adoptar a mesma técnica de leitura rápida para uma apreensão global do 
        seu conteúdo, tendo em vista uma selecção em função dos nossos 
        interesses. A primeira leitura que deveremos fazer será, logicamente, a 
        do sumário ou do índice, o que irá permitir-nos obter uma ideia do 
        conteúdo de cada capítulo, facilitando-nos a selecção. Será conveniente 
        efectuar também uma leitura do prefácio ou da introdução, bem como da 
        conclusão. 
        
        Se a 
        obra consultada se nos afigura apresentar informações com interesse, 
        então convirá, na fase seguinte, efectuar a leitura rápida do capítulo 
        ou capítulos seleccionados, podendo, a partir daqui, adoptar-se uma 
        leitura integral lenta ou semi-selectiva, em função do grau de interesse. 
        
        Tendo 
        em vista facilitar a prática deste tipo de leitura, que consideramos 
        vantajosa como meio de selecção da informação (aquilo que nos livros 
        especializados sobre o assunto é designado por «skimming» ou «écremage»), 
        apresentamos algumas regras práticas. No entanto, antes de 
        passarmos a transcrever essas regras, convirá frisar que a leitura 
        rápida nunca poderá dispensar uma leitura atenta, completa e reflectida 
        de certos textos. Vejamos então algumas regras conducentes a melhorar a 
        leitura rápida: 
        
        1 -
        Evitar a leitura palavra a palavra - está provado que a nossa 
        vista não se desloca linearmente, mas vai dando pequenos saltos, 
        captando de cada vez blocos completos de texto. 
        
        2 - Evitar articular enquanto se lê - a nossa vista é muito mais 
        rápida que os nossos órgãos articulatórios. Podemos ler utilizando 
        apenas a mente e dispensando totalmente a articulação. 
        
        3 -
        Reduzir o número de pontos de fixação - embora a vista se 
        desloque seguindo a linha escrita, da esquerda para a direita e de cima 
        para baixo, o seu movimento não é linear, mas vai dando, como acima 
        dissemos, pequenos saltos. Assim, para acelerar a leitura, é vantajoso 
        reduzir o número de pontos de fixação. 
        
        4 - 
        Como regra importante, há que ter em conta o seguinte: se ler 
        depressa é vantajoso, mais importante é compreender e reter o essencial 
        da informação. Daí que será este último aspecto que deveremos considerar 
        como importante e com o qual nos deveremos preocupar. Por outro lado, a 
        velocidade da leitura depende de múltiplos factores, tais como a 
        extensão das linhas de  escrita, a dimensão dos caracteres, o 
        espaçamento das linhas, o estilo em que o texto está escrito, o nível de 
        língua utilizado, o cansaço, o interesse suscitado pela leitura, etc. 
          
        
        Sugestão de trabalho 2 
        1- 
        Antes de começar a ler os textos transcritos, 
        extraídos da página de um jornal diário, consulte o seu relógio e 
        registe a hora numa folha de papel. Para facilidade de leitura, amplie 
        os recortes do jornal clicando sobre eles. 
        2 - 
        Inicie a leitura e, uma vez concluída, consulte novamente o relógio, 
        registe a hora e veja quanto tempo demorou. 
        3 - 
        Procure após a leitura responder às questões, de preferência por escrito 
        e sem olhar para o texto, a fim de verificar se conseguiu captar as 
        informações nele contidas.   
        As 
        questões encontram-se imediatamente a seguir ao texto. Apesar de algumas 
        serem extremamente simples, mesmo assim não deixe de procurar  dar-lhes 
        resposta. 
        
         
 
        
         
        
        
        QUESTÕES:
 
        Sem 
        consultar o texto, procure responder às seguintes questões: 
        1 -   
        O que motivou a primeira notícia? 
        2 -   
        A que região diz respeito? 
        3 -   
        De que modo é iniciada a notícia? 
        4 -   
        Poder-se-á estabelecer uma relação de afectividade entre o sujeito 
        enunciador do discurso e o objecto que o motivou? 
        5 -   
        Que elemento do texto permitiu chegar à conclusão da pergunta anterior? 
        6 -   
        Como considera o Autor da notícia a linha a que faz referência? 
        7 -   
        Qual a sua situação actual? 
        8 -   
        Como se mostram os ferroviários perante essa situação? 
        9 -   
        Que pedem os ferroviários? 
        10 -  
        De que modo se realizou o convívio? 
        11 -  
        Quantos ferroviários estiveram presentes? 
        12 -  
        Como se chama o orador? 
        13 -  
        Preste atenção ao fragmento: «é (...) necessário que olhem para nós, não 
        como velhos do Restelo, mas sim como pedras básicas e importantes de 
        todo um passado que importa continue a ser tomado como básico e 
        indispensável para a construção do futuro que se avizinha.»   
         
        13.1- 
        O excerto revelará alguma cultura por parte do orador? 
        13.2- 
        Qual o elemento que nos permite chegar a uma conclusão sobre o assunto? 
        13.3- 
        Onde foi ele buscar a referência? 
        13.4- 
        Qual a sua significação? 
        14 -  
        No recorte do jornal transcrito haverá outras notícias? 
        14.1- 
        Quantas? 
        15 -  
        Que factos são nelas referidos? 
        16 -  
        De entre as restantes notícias menores, qual deverá ter maior interesse 
        para a maioria dos leitores? 
        4 -   
        Retome o texto e as respostas que deu às questões. Procure verificar 
        qual a percentagem de respostas que acertou e consulte a tabela: 
        0
        ─ 
        24 % 
        - Excessivamente fraco. Necessita de fazer vários exercícios deste 
        género, de modo a treinar a sua capacidade de leitura e retenção da 
        informação. 
        25
        ─ 
        49 % 
        - Fraco. Consegue captar algumas ideias, mas o seu nível é ainda 
        insuficiente. Siga os conselhos da alínea anterior. 
        50
        ─ 
        74 % 
        - Apresenta um nível médio. Pode melhorar as suas capacidades com algum 
        treino. 
        75
        ─ 
        94 % 
        - A sua capacidade de leitura e retenção é bastante boa e tanto melhor 
        quanto mais reduzido for o tempo em que o consiga fazer. 
        95
        ─ 
        100 % 
        - A sua capacidade de leitura e retenção é excepcional, especialmente se 
        o consegue com  reduzido tempo de leitura. 
          
        Se 
        quiser desenvolver a sua capacidade de leitura rápida, procure dedicar 
        todos os dias 10 a 20 minutos a actividades deste género.  Comece por 
        artigos curtos, por exemplo, artigos jornalísticos, de preferência  
        daqueles que aparecem em semanários e revistas.   Sobretudo, lembre-se 
        que a velocidade de leitura é variável: livros técnicos exigem uma 
        leitura mais lenta; textos literários ou histórias de leitura agradável 
        lêem-se mais depressa. Há actualmente programas informáticos concebidos 
        especialmente para o treino e desenvolvimento da capacidade de leitura 
        rápida. 
           
        
        A 
        LEITURA EM VOZ ALTA 
        
        Em várias ocasiões e, por vezes,   quando menos o 
        esperamos, somos obrigados a enfrentar uma audiência para expormos 
        determinado tema, para animarmos uma reunião de confraternização, um 
        convívio, para divulgarmos um novo produto, etc. Na nossa mente surge de 
        imediato uma, se não várias preocupações:  conseguirei expor aquilo 
        que pretendo? Irão aceitar ou compreender as minhas ideias? Serei 
        devidamente escutado? E que irão pensar de mim? 
        
        São 
        estas preocupações lógicas e comuns a todos quantos passam por uma 
        situação deste género. Se tal não sucede, o que será difícil verificar-se, 
        ou é porque já se tem muita experiência em situações similares, um bom 
        conhecimento e domínio das suas próprias competências comunicativas, ou, 
        o que será lamentável, uma grande dose de inconsciência. 
        
        Antes 
        de enfrentarmos uma situação de comunicação perante uma audiência, há 
        que reflectir sobre diferentes aspectos. Trata-se de uma situação com 
        carácter artístico, da declamação de um poema, da leitura de um texto 
        literário, sendo o objectivo o de entreter e cultivar um público 
        assistente? Trata-se de uma situação de comunicação com carácter 
        profissional, da apresentação de um relato, de uma demonstração, de uma 
        exposição didáctica? Trata-se de um discurso de carácter político, de 
        uma palestra, de um debate? E quem são os receptores, que tipo de 
        audiência iremos ter de enfrentar? E o local e os meios de que dispomos 
        para a apresentação do tema? 
        
        Há, 
        pois, toda uma série de problemas importantes que teremos de equacionar, 
        começando por uma planificação e uma preparação e reflexão cuidada sobre 
        todos os aspectos. 
        
        De 
        uma maneira geral, podemos considerar quatro etapas importantes até ao 
        momento da apresentação, com a leitura em voz alta do trabalho realizado: 
        
        ● 
        
        1ª etapa - escolha do tema e registo de língua adaptado à 
        natureza da mensagem, do auditor e dos objectivos[3]. 
        ●
        
        
        2ª etapa - planificação e realização da mensagem, com 
        momentos vários e sucessivos, respectivamente: recolha das informações e 
        elaboração do plano ou esquema de desenvolvimento. 
        ●
        
        
        3ª etapa - codificação da mensagem, ou seja, elaboração 
        de todo o texto de acordo com o plano previamente estabelecido e tendo 
        em conta as normas da competência linguística, as técnicas de 
        argumentação, o nível da audiência, os meios materiais disponíveis 
        (condições acústicas da sala, meios audiovisuais disponíveis, etc.) e os 
        objectivos. 
        ●
        
        
        4ª etapa - Revisão e prática de leitura. 
        ●
        
        
        5ª etapa - apresentação perante um auditório de todo o 
        trabalho realizado. 
        
         Embora 
        todas as etapas sejam importantes, é na última que vai culminar todo o 
        trabalho. Para que ele alcance o pleno sucesso, há que ter em conta, 
        nesta última etapa, três imperativos fundamentais:  a audibilidade,  
        a clareza e a vivacidade da exposição. Para que estes três 
        requisitos se verifiquem, é necessário articular correctamente as 
        palavras, falando num ritmo adequado àquilo que se está a transmitir, 
        evitando um tom monocórdico, procurando imprimir ao discurso vivacidade 
        e expressividade.  Torna-se indispensável ter uma noção correcta do 
        valor dos sinais de pontuação, que constituem valioso auxiliar durante a 
        leitura. Além de nos indicarem as pausas, permitem-nos identificar os 
        diferentes tipos de frase, aos quais correspondem entoações específicas[4]. 
        
          Há 
        igualmente toda a vantagem em ir prestando atenção ao público. Olhar 
        fixamente para o ar ou para qualquer lugar da sala, como quem procura 
        algures a inspiração, é muito pouco vantajoso e impossibilita o orador 
        de prestar atenção às reacções daqueles que o escutam. 
        
        Importante, e necessário também, é variar o ritmo e a entoação, de 
        acordo com o tipo de texto que se lê e de acordo com os conteúdos. Nas 
        situações normais de comunicação, ora falamos mais depressa, ora mais 
        lentamente e, por vezes mesmo, com hesitações. Quando queremos destacar 
        uma ideia importante, destacamos uma palavra ou uma frase pronunciando-a 
        com mais intensidade ou mais pausadamente e, por vezes até, chegamos a pô-la em evidência destacando as sílabas. 
        
        A 
        comunicação nas situações normais caracteriza-se pela grande variedade 
        de ritmos, entoações e pausas, de acordo com as funções da linguagem. 
        Ora, se efectuamos a leitura de um texto, seja ele nosso ou de autor 
        alheio, e sobretudo se se trata de um texto com carácter literário, 
        deveremos prestar atenção às intenções do Autor, aos momentos de ironia, 
        aos momentos de humor, às descrições, à efusão lírica[5], 
        aos diálogos. 
          
        
        Sugestão de trabalho 3 
        1 - 
        Procure alguns textos de géneros  diferentes:  um poema, um excerto 
        de um discurso,  uma notícia de um jornal, uma pequena narrativa. 
        2
        - 
        Leia-os em silêncio, procurando captar-lhes as ideias. 
        3
        - Procure lê-los em voz alta, pensando na situação de quem ouve. Procure 
        tornar a sua leitura clara, audível e interessante. Se possível, procure 
        efectuar esta actividade em grupo, com pessoas da sua confiança, pedindo-lhes 
        que o escutem e, sinceramente, efectuem a respectiva crítica. 
        NOTA: 
        Como alternativa, poderá utilizar um gravador. Leia os textos ao 
        microfone, rebobine e escute aquilo que leu com "ouvidos críticos". 
        Procure descobrir onde falhou, e encontrar a respectiva causa. 
        Se 
        tem dificuldade em encontrar textos, efectue a leitura dos três 
        exemplares que a seguir lhe apresentamos. 
        Texto 
        1: 
        
        Piloto sofre acidente 
        
        O PILOTO irlandês Martin Donnelly sofreu ontem fractura da perna 
        esquerda e comoção cerebral, em consequência do despiste do seu 
        Lotus-Lamborghini na primeira sessão de treinos do Grande Prémio de 
        Espanha, em Jerez de la Frontera. O porta-voz da equipa anglo-italiana, James Penrose, garantiu que Donnelly não corre perigo de vida. Três 
        semanas depois do violento acidente do Lotus de Derek Warwick, no Grande 
        Prémio de Itália, também o carro de Donnelly se partiu em duas partes, 
        depois de embater nos "railes" de protecção da curva Enzo Ferrari, a 
        cerca de 250 quilómetros horários. 
        
        O brasileiro Ayrton Senna, em McLaren-Honda, obteve o melhor tempo dos 
        treinos, quase um décimo de segundo menos que o seu colega de equipa 
        Gerhard Berger. 
        
        Extraído do jornal Expresso nº 935, de 29 de Setembro de 1990. 
          
        texto 
        2: 
        
        Apelo do general de Gaulle 
        - 18 de Junho de 1940[6] 
        
        Os chefes que, desde há bastantes anos, estão à frente dos exércitos 
        franceses, formaram um governo. 
        
        Este governo, alegando a derrota dos nossos exércitos, estabeleceu 
        relações com o inimigo para cessar o combate. 
        
        De facto, nós fomos, nós estamos esmagados pela força mecânica, 
        terrestre e aérea do inimigo. 
        
        Infinitamente mais do que o seu número, são os carros de  assalto, os 
        aviões, a táctica dos Alemães que nos fazem recuar. Foram os carros de 
        assalto, os aviões, a táctica dos Alemães que surpreenderam  os nossos 
        chefes ao ponto de os levar à situação em que hoje se encontram. 
         
        
        Mas está dita a última palavra? A esperança deve desaparecer? A derrota 
        é definitiva? Não! 
        
        Acreditai-me, a mim que vos falo com conhecimento de causa e vos digo 
        que nada está perdido para a França. Os mesmos meios que nos venceram 
        poderão um dia dar a  vitória. 
        
        Porque a França não está só!  Ela não está só! Ela não está só! Ela tem 
        um vasto Império atrás de si. Ela pode fazer um bloco com o Império 
        britânico que domina o mar e continua a luta. Ela pode, tal como a 
        Inglaterra, utilizar sem limites a imensa indústria dos Estados Unidos. 
        
        Esta guerra não está limitada ao território infeliz do nosso País. Esta 
        guerra não está limitada pela batalha da França. Esta guerra é uma 
        guerra mundial. Todas as faltas, todos os atrasos, todos os sofrimentos, 
        não impedem que haja, no universo, todos os meios necessários para 
        esmagar um dia os nossos inimigos. Fulminados hoje pela força mecânica, 
        poderemos vencer amanhã por uma força mecânica superior. O destino do 
        mundo está aí. 
        
        Eu, general De Gaulle, actualmente em Londres, convido os oficiais e os 
        soldados franceses que se encontram em território britânico ou que aí 
        vierem a encontrar-se, com armas ou sem armas, convido os engenheiros e 
        os operários especializados das indústrias de armamento que se encontrem 
        em território britânico ou que aí vierem a encontrar-se, a porem-se em 
        contacto comigo. 
        
        Aconteça o que acontecer, a chama da resistência francesa não deve 
        extinguir-se e nem se extinguirá. 
        
        Amanhã, como hoje, falarei na Rádio de Londres. 
        
        CHARLES DE GAULLE, Discours et messages, tomo 1, Livraria Plon, 
        1970, pp. 3-4. 
          
          
        Texto 
        3: 
        
        Sermão de Santo António 
        
        Vos estis sal terrae 
        
         Mat. V, 13 
        
        Vós, diz Cristo, Senhor Nosso, falando com os pregadores, sois o sal da 
        terra: e chama-lhe sal da terra porque quer que façam na terra o que faz 
        o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção; mas quando a terra se vê 
        tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que tem ofício de 
        sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o 
        sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal 
        não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a 
        terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina 
        que lhe dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga e os 
        pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa 
        salgar e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem que fazer o 
        que dizem; ou é porque o sal não salga e os pregadores se pregam a si e 
        não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar e os ouvintes, em 
        vez de servir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade? 
        Ainda mal. 
        
        Suposto, pois, que, ou o sal não salgue ou a terra se não deixe salgar, 
        que se há-de fazer a este sal e que se há-de fazer a esta terra? O que 
        se há-de fazer ao sal que não salga, Cristo o disse logo: Quod si sal 
        evanuerit, in quo salietur? Ad nihilum valet ultra, nisi ut mittatur 
        foras et conculcetur ab hominibus. «Se o sal perder a substância e a 
        virtude e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há-de 
        fazer é lançá-lo fora como inútil para que seja pisado de todos». Quem 
        se atrevera a dizer tal cousa se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assi 
        como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a 
        cabeça que o pregador que ensina e faz o que deve; assi é merecedor de 
        todo o desprezo e de ser metido debaixo dos pés o que com a palavra ou 
        com a vida prega o contrário. 
        
        Isto é o que se deve fazer ao sal que não salga. E à terra que se não 
        deixa salgar, que se lhe há-de fazer? Este ponto não resolveu Cristo 
        Senhor Nosso, no Evangelho; mas temos sobre ele a resolução do nosso 
        grande português Santo António, que hoje celebramos, e a mais galharda e 
        gloriosa resolução que nenhum santo tomou. 
        
        Pregava Santo António em Itália, na cidade de Arimino, contra os 
        hereges, que nela eram muitos; e como erros de entendimento são 
        dificultosos de arrancar, não só não fazia fruto o santo, mas chegou o 
        povo a se levantar contra ele, e faltou pouco para que lhe não tirassem 
        a vida. Que faria neste caso o ânimo generoso do grande António? 
        Sacudiria o pó dos sapatos como Cristo aconselha em outro lugar? Mas 
        António com os pés descalços não podia fazer esta protestação; e uns pés 
        a que se não pegou nada da terra, não tinham que sacudir. Que faria 
        logo? Retirar-se-ia? Calar-se-ia? Dissimularia? Daria tempo ao tempo? 
        Isso ensinaria por ventura a prudência ou a covardia humana; mas o zelo 
        da glória divina, que ardia naquele peito, não se rendeu a semelhantes 
        partidos. Pois que fez? Mudou somente o púlpito e o auditório mas não 
        desistiu da doutrina. Deixa as praças e vai-se às praias; deixa a terra, 
        vai-se ao mar e começa a dizer a altas vozes: «Já que me não querem 
        ouvir os homens, ouçam-me os peixes». Oh maravilhas do Altíssimo! Oh 
        poderes do que criou o mar e a terra! Começam a ferver as ondas, começam 
        a concorrer os peixes, os grandes, os maiores, os pequenos, e postos 
        todos por sua ordem com as cabeças de fora da água, António pregava e 
        eles ouviam. 
        
         ..   ...   ...  ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...  
        ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ... 
          
        
        Quero hoje, à 
        imitação de Santo António, voltar-me da terra ao mar, e já que os homens 
        se não aproveitam, pregar aos peixes. O mar está tão perto que bem me 
        ouvirão. Os demais podem deixar o sermão, pois não é para eles. Maria, 
        quer dizer, Domina maris: Senhora do mar. E posto que o assunto 
        seja tão desusado, espero que me não falte a costumada graça. Avé 
        Maria. 
        
        Padre António Vieira,
        Sermão de Santo António. Pregado em S. Luís do Maranhão, em 1654, 
        três dias antes de se embarcar ocultamente para Lisboa, a solicitar 
        protecção para os índios.   |