DESCOBRIMENTOS

Portugal e a Expansão Marítima

 

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Paralelamente ao interesse demonstrado nesta época pela expansão marítima, os portugueses não descuraram a cultura, nomeadamente a actividade musical e a prática instrumental. Obras da época referem a existência, em Lisboa, em 1551, de 20 charameleiros, 20 tangedores de tecla, 12 trombetas e 8 atabaleiros.

O próprio rei D. Manuel I (1495-1521), segundo nos conta o seu cronista Damião de Góis, «foi muito musico de vontade [...], Todolos Domingos e dias Sanctos janctava e ceava com musica de charamellas, saquabuxas, cornetas, arpas, tamborins e rabecas, e nas festas principaes com atabales, e trombetas, que todos em quanto comia, tangiam cada um per seu gyro; »

Em relação aos aspectos musicais da expansão, não nos parece que as culturas musicais exóticas dos povos com quem contactámos nos tenham grandemente influenciado: sabe-se que há um certo número de instrumentos musicais extra-europeus, cuja descrição aparece em narrativas de viagens, como o alaúde, os xilofones, tambores e trombetas usados pelos moçambicanos. Camões, em Os Lusíadas (canto V, LXIII ) refere:

          Cantigas pastoris, ou prosa ou rima,
          Na sua língua cantam, concertadas
          Co doce som das rústicas avenas,

quando Vasco da Gama desembarcou a leste do Cabo da Boa Esperança.

Sabe-se, também, que variados instrumentos militares serviam de fundo aos sons terríveis das guerras que então aí se travavam.

No entanto, e paradoxalmente, a música cerimonial ou a música religiosa orientais, para os ouvidos europeus, segundo Fernão Mendes Pinto, soavam tão mal como a música militar, mais parecendo «música do inferno, se lá há alguma» ...

Se, aparentemente, não foi muito agradável o nosso primeiro contacto com a música extra-europeia, qual terá sido o papel da música portuguesa junto dos povos recém-descobertos?

Desde cedo os navegadores portugueses utilizaram a música e a dança como primeiro meio de comunicação com essas culturas, assumindo aquela, também, um importante papel diplomático com

          «a oferta a soberanos africanos e asiáticos, por parte dos missionários, embaixadores e negociantes europeus, de órgãos e de cravos, instrumentos que possuíam a tripla atracção do seu mecanismo complexo, da sua decoração e dos sons que produziam. Estas ofertas eram acompanhadas do envio de músicos para tocarem estes instrumentos».

Acrescente-se, por outro lado, que, para além de instrumentos de carácter militar ou litúrgico, iam outros de carácter popular. Assim, e a título de exemplo, a expedição de Pedro Álvares Cabral, em 1500, com destino à Índia, levava a bordo trombetas, atabaques, tambores, tamborins, flautas e gaitas de foles.

Para finalizar, qual o papel da música na missionação das populações indígenas?

Foram sobretudo os jesuítas a servirem-se da música como veículo de catequização, certos de que  «a suavidade do canto fazia entrar nas almas a inteligência das coisas do céu». Organizavam-se procissões em que participavam os índios convertidos e que se metiam  pela selva dentro com os meninos índios (como símbolo de pureza de intenções ), cantando música religiosa, regressando seguidos por outros índios que se deixavam prender pela música e pelo cortejo.

Para melhor transmitirem a sua mensagem, os jesuítas recorriam à simbiose dos cantos indígenas com os cânticos cristãos, utilizando os nossos textos traduzidos em língua tupi e permitindo aos índios a utilização das suas danças nas procissões. 

A Companhia de Jesus estendeu a sua influência não só ao Brasil como também à África e ao Oriente, fazendo a catequização dos diferentes povos com o recurso à educação musical, mas respeitando a sua identidade cultural.

Ontem como hoje, é inegável a nossa capacidade de relacionamento com outras raças e culturas: espalhados por todo o mundo, acolhendo povos de todo o mundo, foram, sem dúvida, os portugueses do tempo das Descobertas os pioneiros deste tipo de contacto...  

 

Carlos Seixas. Clicar para aceder a esta página.

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alaúde atabaque cítara
cravo xilofone

Navegar é preciso, viver não é preciso...

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