Intentamos dar na parte I um resumo das principais obras
de THOMAS MANN, agrupando-as em períodos evolutivos; a II é uma
interpretação dessa evolução; na parte III, apresentamos duas traduções,
uma de um conto do primeiro período e outra de um escrito do último
período, procurando assim abranger, com modestos exemplos, toda a obra,
nos seus dois aspectos fundamentais: o novelístico e o ensaístico.
É difícil resistir à tentação de identificar passos da
vida de MANN com a sua obra, e isto por duas razões: 1.º – pela força
com que se impõe a presença da sua pessoa (THOMAS MANN morreu ainda em
1955); 2.º – por o Autor não ser parco em auto-interpretações. THOMAS
MANN repetiu algumas vezes por outras palavras o que resumiu, já em
1911, em versos do "Gesange vom Kindchen": – "War nicht Leben
und Werk mir immer eines gewesen?
(...) Aber Leben und Werk, – ich wussts niemals zu scheiden"
[Aufbau Verlag, (Berlin, 1956), p. 638].
Isto é: como GOETHE, também MANN considerou as próprias obras como
"fragmentos
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de uma grande confissão"...
Quase sempre aceitámos a sua interpretação das próprias
obras; mas é evidente que um autor não pode ser o seu melhor crítico e,
considerar uma obra como espelho de uma personalidade é coisa atraente
sobretudo para os principiantes da crítica literária, – como nós –,
sempre mais inclinados a explorar questões extra-literárias... Trata-se
de um problema dificílimo de resolver. E, neste caso, como dissemos,
sobretudo porque MANN está ainda "demasiado vivo" e a sua pessoa muito
dada a questões de ordem não literária. O tempo precisa de passar e
velar por completo o homem, deixando apenas a descoberto a obra do
artista.
Mas, seja como for, o certo é que nunca se poderá isolar
MANN – o homem e o artista – da atmosfera de decadência da burguesia, da
"dualidade de existência" (em que ele vive a juventude), do movimento de
ideias que se renovam e bruxuleiam ainda incertas.
No ano de 1875 (cinco lustros antes do despontar do novo
século) nascem R. M. RILKE e THOMAS MANN; H. von HOFMANNSTHAL nasce um
ano antes e H. HESSE, em 1877. É a viragem para uma nova época, de onde
partem directrizes, por vezes divergentes, para o futuro. Não se pode,
evidentemente, separar MANN deste complexo histórico-filosófico-social.
E só devagar ele se vai adaptando à realidade nascente,
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apressada pelas duas catástrofes mundiais, mas aceite sempre com uma
certa nostalgia pela "guten alten Zeit"...
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Nota – AS CITAÇÕES EM ALEMÃO APRESENTAM OS CASOS EXIGIDOS
PELO CONTEXTO PORTUGUÊS. TAMBÉM OS GÉNEROS SÃO OS DAS PALAVRAS ALEMÃS. |