Amaro Neves *
Naturalmente, todas as obras e
projectos têm o seu princípio, a ideia base, por
mais simples que sejam. E, em regra, conhecem alguma
atribulação nos momentos do nascimento, sobretudo se
este envolve sectores e interfaces sociais, pelas
implicações diversas das teias políticas ou dos
grupos socio-profissionais em presença.
Neste particular, uma associação
de defesa do património, podendo parecer inócua, aos
tempos de hoje, arrastava à partida ideias novas não
só na amplitude dos valores a preservar, tanto de
ordem natural como cultural, como no vasto leque de
saberes que tal defesa exigia, colocando
implicitamente em questão um entendimento
de "património" e de posturas que, para esse tempo,
eram considerados como já ultrapassados, além de que
não era de modo nenhum aceitável como um exercício
profissional exclusivamente circunscrito aos museus
portugueses e seus técnicos ou ao saber arqueológico
e dos "monumentos nacionais", como então estavam
classificados.
Havia a consciência de que era importante alargar
horizontes no estudo, na valorização e na defesa dos
valores nacionais, mas também era igualmente
importante dar atenção aos valores regionais, quando
estes fossem representativos do ser e do viver das
comunidades, como alma do povo.
1. A ideia e a sua concretização
É verdade que, após o 25 de Abril de 1974, com a
instabilidade e as convulsões
que o país conheceu, quebrando-se elos de
autoridade, e até se refazerem novas formas e regras
de vida e respeito social, de cariz democrático,
muitos desmandos se
cometeram, inclusivamente obrigando milhares de
cidadãos a abandonar esta terra que era a sua
pátria. Foram, neste percurso, alguns anos de grande
agitação em Portugal e de constantes delapidações e
destruição do património nacional e regional, sem
responsabilidades assumidas por parte das
autoridades e dos poderes constituídos, por
debilidade do exercício da autoridade.
E assim, era visível o empobrecimento da nação,
saqueada e destruí da por indivíduos que surgiam a
coberto da fragilidade do poder ou por pessoas que,
sendo bem conhecedoras, nacionais ou estrangeiras,
aproveitavam a situação em beneficio próprio ou,
até, passando a fronteira com valores que eram
simplesmente portugueses... quantas vezes para
destinos duvidosos.
Neste contexto, angustiado, alguns grupos de
cidadãos, mais corajosos, insurgiam-se na imprensa
nacional contra estas situações, enquanto outros,
mais a nível regional e, em regra, identificados com
o ensino, "mais ligados à História, às Artes
tradicionais e à Arquitectura começavam a apelar ao
bom senso, interrogando "Quo
vadis, Portugal?" Encontrava-me, como professor
efectivo, na Escola Secundária de
/
8 / Águeda, e com os colegas de grupo
– o Américo B.
Figueira, a Esmeralda B. Figueira, o Deniz de
Ramos... (às vezes também outros) íamos comentando a
situação e constatando a urgência de formalizar um
"grupo de estudos" (eventualmente com
sede em Águeda)(1) cujos objectivos
assentariam na defesa e valorização e estudo dos
valores culturais da Região, sobretudo como acção
pedagógica a desenvolver nas comunidades, nas
escolas, nos organismos associativos, na imprensa".
É verdade que se partia de uma base claramente
idealista – dirão alguns – como
se fosse possível mudar ou converter o país a partir
de Águeda. Se tanto se não pensava, havia pelo menos
a ideia, conscientemente assumida, de que alguma
coisa se devia e podia fazer de positivo, neste
sentido, e era já um bom contributo, começando pelo
mundo que nos rodeava e, acima de tudo, passando a
"mensagem" aos alunos das escolas do ensino
secundário.
Durante o verão desse ano, porém, em resultado de
concurso nacional, fui colocado, como efectivo, no
Liceu de Aveiro, continuando a manter, no entanto,
uma ligação muito próxima com o "grupo de Águeda" e
alargando a minha colaboração no semanário "Litoral",
com temáticas afins do Património Cultural, enquanto
estabelecia novos contactos para que a ideia que
havia brotado a partir de Águeda, entre amigos e
colegas de trabalho, se solidificasse e desse
frutos.
Como caindo a sopa no mel, apareceu no placard do
Liceu Nacional de Aveiro o anúncio de um "Curso de
Dinamização para a Conservação do Património
Artístico e Cultural", promovido pela Secretaria de
Estado da Cultura que iria decorrer na primeira
quinzena de Setembro (1977), em Lisboa, para o qual
imediatamente me
inscrevi. Nele participei e colhi ensinamentos em
áreas de que jamais havia ouvido falar, com diversas
visitas guiadas a sítios e monumentos da área de
Lisboa, bem como fui estabelecendo conhecimentos
pessoais alargados mas identificados com as
problemáticas do seminário, com vista a novos
desenvolvimentos.
A partir daqui, cautelosamente e devidamente
programados (havia, ao tempo, uma apetência
revolucionária para tentar controlar estas acções),
começaram a realizar-se alguns "seminários
regionais", por Distritos (Viseu, Coimbra, Santarém,
Porto...) em
que participei, raramente acompanhado pelos
aveirenses mais sensibilizados, à excepção do I
Congresso Internacional para a Investigação e Defesa
do Património, que decorreu em Alcobaça (no final de
Maio de 1978), dentro das celebrações do 8°
Centenário da fundação do seu mosteiro cisterciense,
onde estiveram também os Drs Esmeralda Augusta e
Américo B. Figueira. Neste encontro se solidificaram
as relações com outros entusiastas destas
problemáticas (um pouco a nível nacional), entre
eles, por mais perto de Aveiro, os amigos de
Figueira da Foz (Dr.ª M. Adelaide Ribeiro e Dr. José
Azevedo) e de Viseu (Dr. Alberto Correia e, mais
tarde, Dr. João da Inês Vaz).
Foi aqui que, já com um grupo estabilizado de
aderentes para uma acção conjunta a desenvolver, se
assentou com os responsáveis da SEC num encontro
regional, ficando aqueles três elementos aveirenses
de funcionar como "comissão
/
9 /
organizadora" ou executiva(2) do seminário, enviando,
como tal e para o efeito, uma circular aos conselhos
directivos das escolas do Distrito.
E a verdade é que a Comissão Executiva organizou o
encontro, com a presença de cerca de quatro dezenas
de professores, o qual decorreu com entusiasmo e
acentuou a vontade regional de se organizar um
projecto comum. Como fundo da discussão sobre os
temas regionais, estava uma extraordinária colecção
de fotografias antigas que eram propriedade de
António Graça, exposição esta patente no salão nobre
do Museu(3).
Registe-se, no entanto que, no dia 8, quando se
esperava que os professores afluíssem ao Museu para
as sessões de trabalho – conforme tudo o que havia
sido combinado, fomos informados pelo Director que,
no espaço do "seu" Museu, não autorizava qualquer
reunião para discutir "Património Cultural" (o que
obrigou a recorrer aos bons ofícios da Presidente do
Conselho Directivo da Escola Secundária Homem
Cristo, Dr.ª M. Fernanda Neves, ali decorrendo as
sessões). No dia seguinte, porém, pressionado pela
Secretaria de Estado da Cultura, o Director abriu "a
casa" para a sessão de encerramento, agora com os
Drs. Rui Rasquilho e José Adragão presentes (na
qualidade de membros da SEC), moralizando assim os
elementos participantes.
Isto é, aquilo que parecia ser uma jornada pacífica
e ordeira de abertura de mentes para a Educação (era
um seminário para Professores!) e de colaboração à
valorização do Património, acabou por ser um
encontro de tensão e, de uma certa forma, face a
certos comportamentos, um cerrar fileiras contra
alguns "senhores" que se pensavam donos da Cultura
da região, mesmo residindo fora desta(4).
A sensibilização, no entanto, deu seus frutos e,
desde logo, essas dezenas de professores espalhados
pelo Distrito começaram a ser contactados, pelos
membros da Comissão Executiva, em função das
sensibilidades, nomeadamente para participarem em
encontros regionais. Entretanto, participei,
reforçando conhecimentos e conhecendo novas
experiências, em mais um curso de verão em Lisboa
(1978), promovido e coordenado pela SEC,
definindo-se aí os encontros que se sucederiam no
Porto, em Santarém, em Viseu e em Coimbra, no final
deste ano ou na primavera do ano seguinte. Nos dois
últimos, também estive presente, com outros
elementos de Aveiro, dando-se aí conta de progressos
alcançados na nossa região.
/
10 /
De regresso dessas acções, dava informação aos
interessados, cada vez mais organizados e
participantes em reuniões calendarizadas, dispondo
das instalações da Escola Secundária Homem Cristo.
Para aqui convergia um grupo de aveirenses que
oscilava entre os 20 a 35 elementos, de entre os
quais se destacavam os professores da jovem
Universidade de Aveiro e os professores do ensino
secundário (Liceu de Aveiro
e outras escolas secundárias(5).
2. De "projecto" de uma associação, ao nascimento da
ADERAV
À medida que se ia estruturando o grupo, também as
dificuldades surgiam, por
vezes em diálogos acalorados, gizando prioridades de
intervenção e seu âmbito regional ou sobre a
nomenclatura da associação a constituir. E havia
também os que ainda defendiam uma revitalização do
projecto "Núcleo de Estudos Aveirenses", se este
fosse aberto a todos os participantes. Mas foi-se
tomando claro que não havia possibilidade de "casar"
a dinâmica do grupo associativo com aquela hipótese
de projecto, pelo que, definitivamente se assentou,
pelo princípio da primavera de 79, na constituição
da Associação de Defesa e Estudo do Património
Natural e Cultural da Região de Aveiro – ADERAV, deixando cair a ideia de distrital (para
não definir barreiras à intervenção, considerando
que região seria mais abrangente) mas acentuando,
por vontade expressa dos aguedenses presentes, que a
sede deveria ser sempre em Aveiro.
É de salientar que foi da maior importância, para
algumas decisões entretanto tomadas no sentido da
autonomia da associação, o facto de ter sido
conseguida (na sequência de contactos anteriores
decorrentes dos seminários em que estive presente) a
especial autorização, por parte da Secretaria de
Estado da Cultura, para a realização de um
"seminário regional", agora mais responsabilizante
perante as forças sociais aveirenses, nomeadamente
professores, pois pedia-se um programa aproximado às
temáticas que haviam sido desenvolvidas nos
seminários de Lisboa e "os participantes
previstos", para deles se dar despacho no sentido da
dispensa de serviço, com vista à participação no
dito seminário.
Perante esta autorização – que representou, para
mim, na confiança pessoal e profissional, um
verdadeiro cheque em branco – houve que mobilizar
esforços,
respondendo a tudo e organizando e congregando
participantes(6), para que se não
perdesse a soberana oportunidade de apresentar em
público a associação, com obra a realizar. E mais,
que fossem diversos os intervenientes e em
diferentes áreas patrimoniais por forma a que não
restassem dúvidas de que se tratava de um associação
de múltiplos saberes ao serviço da mesma causa
regional ou – por que não? – uma causa
verdadeiramente nacional, em defesa dos valores
portugueses(7).
Enquanto se preparava o seminário, foi aprovado o
logotipo da ADERAV, sob desenho do Arq. Ventura da
Cruz, e aprovada a minuta da "escritura pública",
sob
/
11 /
coordenação do solicitador Sr. João Ribeiro,
escritura essa que veio a ser celebrada a 3 de Maio
de 1979(8), sem grande alarido público, para não
levantar pó na cidade... E já em conformidade com a
escritura e com os Estatutos da ADERAV aprovados
(com tantas reuniões a discuti-los), procedeu-se à
eleição da 1ª Direcção(9), que reunia ordinariamente
todas as semanas(10).
Assim, quando, de facto, se abriu o referido
seminário (decorreu de 14 a 20 de Maio)(11), já havia
legalmente uma associação a suportar o seu
funcionamento, o que era manifestamente confortante
e conferia maior eficácia nas relações entre
palestrantes e participantes, sendo certo que
"alguém" estava a desempenhar, estatutariamente, uma
função de coordenação. E isto, não sendo
publicitado, por interesse associativo, era
motivador, nomeadamente para o grupo de Lisboa (com
Dr. Rui Rasquilho e Dr. José Adragão) mas também
para as representações de Coimbra, de Viseu e da
Figueira da Foz, sobretudo, que bem acompanhavam as
dificuldades sentidas no arranque da associação, em
Aveiro. E foram quarenta professores, em regra
activos e conscientes, cobrindo a generalidade dos
concelhos do Distrito, mas, especialmente, as
escolas de Aveiro e de Águeda.
Sumariamente, o "seminário" constava da programação
que se transcreve:
dia 14-10 h – Apresentação, pelo Dr. Amaro Neves;
11 h – Arqueologia e cultura popular, pelo Dr. João
da Inês Vaz (Viseu); 15 h – Urbanismo da Região em
debate, pelos Arq. Rogério A. Barroca, José L. Prata
e Jorge Ventura da Cruz (todos de Aveiro);
dia 15-10 h – Artesanato, pelo Prof Hélio
Terrível; 15 h – Literatura Popular, pelo Dr.
António Capão; 21 h – Cancioneiro de Águeda: a
música e a dança, o traje e a vida;
dia 16-10 h – Escola-Museu-Comunidade, pelo Dr.
José Azevedo (Figueira da Foz); tarde – visita
guiada à zona norte da Ria (Estarreja/Ovar/Santa
Maria da Feira);
dia 17-10 h – Património Natural e Ambiente, pelos Drs Renato Araújo e Armando Moura (Univ. de Aveiro);
15 h – visita à cidade, pelo Mons. João Gaspar; 21 h
– Aveiro e a sua tradição barrista, pelo Dr. David
Cristo;
dia 18-10 h – Que Defender e como defender o
Património Cultural, pelo Dr. Rui Rasquilho (da Sec.
de Est. da Cultura); 15 h – Mesa redonda sobre as
problemáticas abordadas, coordenada pelo Dr. Rui Rasquilho e pelo Dr. José Adragão;
dia 19-10 h – visita ao Museu Histórico da Vista
Alegre; 15 h – Grupos de trabalho – conclusões;
/
12 /
dia 20-10 h – leitura e aprovação das conclusões;
12 h – encerramento dos trabalhos (Dr. Amaro Neves);
A imprensa regional, com alguma surpresa por parte
dos promotores, deu guarida aos assuntos tratados e,
de forma indirecta, noticiou o aparecimento da
associação. Daí que, a pouco e pouco, fosse
crescendo o número dos entusiastas,
contabilizando-se mais de uma centena de membros
sócios ao findar o primeiro ano de actividade.
Basicamente, como se apresentava no Editorial do
n.º 1 do Boletim, eram muitas as boas vontades reunidas
para melhor defender o Património e, globalmente, a
Associação respondia aos interesses gerais, nesse
sentido, enquanto ia funcionando também como
"escola", para os mais jovens aderentes.
Mas, é óbvio, nem tudo foram rosas e foi preciso
muito espírito combativo para demover alguns
interesses instalados ou remover mentalidades
demasiado conservadores, neste campo da vida
cultural ou da riqueza nacional.
3. Os anos de afirmação – os grandes combates
Apagados os holofotes do nascimento da ADERAV, isto
é, da euforia
momentânea, era preciso trabalhar. E criar condições
para que fosse possível desenvolver esse trabalho,
com novas perspectivas. A verdade é que o entusiasmo
não faltou...
Do exercício associativo, destacam-se as seguintes
iniciativas:
Em Junho, promovida pelo núcleo de Águeda, uma
visita (com meia centena
de participantes) a Macieira de Alcoba (Património
Natural e Cultural), com reunião nesta freguesia
serrana, de que resultaram propostas aprovadas que
foram posteriormente, apresentadas à edilidade
aguedense que as acolheu com simpatia, tanto mais
que diziam essencialmente respeito à zona do
concelho.
Em Julho, "semana arqueológica" no lugar da "Gôcha"
(freguesia de
EspinheI/Águeda), com duas dezenas de jovens,
escavando um forno de telha, romano, ao mesmo tempo
que se promoveram recolhas de carácter etnográfico;
em Aveiro, a Direcção reuniu com o presidente da
Edilidade, a quem manifestou preocupação pela
degradação de vários monumentos, alertando-o para o
interesse patrimonial na manutenção do conjunto
industrial da Fabrica Campos(12), em fase de abandono.
O presidente, Dr. Girão Pereira, desejando
inteirar-se sobre o interesse cultural do citado
conjunto industrial, pediu no entanto uma "memória
descritiva" daquilo que a Associação considerava
essencial a acautelar. Semanas depois, foi entregue
a referida "memória descritiva"(13).
E, a rematar a discussão sobre a importância, para a
ADERAV, de um Boletim informativo, decidiram-se
número de páginas, formato, equipa coordenadora e...
apoios à edição(14). Este boletim seria semestral,
onde se desse conta do que de mais importante
/
13 /
se ia fazendo e, por achegas e escritos, houvesse
uma formação mais alargada, a ser distribuída
graciosamente às Câmaras Municipais e a organismos
interessados.
Em Setembro/Outubro decorreu a primeira fase do
levantamento (mais tarde publicado) das actividades
artesanais do concelho de Aveiro, com vista ao
encontro "Artesão/Artesanato", e houve um colóquio
sobre "Património Cultural Popular", sob
responsabilidade de Hélder Pacheco, Inspector de
ensino do Porto.
Já em Janeiro de 1980, foi feito um primeiro
"itinerário urbano", orientado por
Eduardo Cerqueira, figura grada da cultura
aveirense que sempre apoiou a jovem Associação,
acorrendo dezenas de interessados ao percurso que
este intelectual brilhantemente ilustrou. Daqui
resultou uma reportagem na PV. Apresentou-se a
público o nº 1 do Boletim ADERAV e uma delegação
alargada esteve presente no Encontro Nacional de
Associações do Património que reuniu meia centena de
associações.
|
Fez-se uma Assembleia Geral para discutir o plano de
trabalhos do ano seguinte e várias intervenções, na
imprensa regional, como alerta para a destruição do
cordão dunar a sul da Vagueira (o que motivou
oportuna reportagem na TV). E
insistiu-se no agravamento das condições ambientais
se persistirem mais atentados ao cordão dunar, na
região da Gafanha do Areão ou noutros locais
sensíveis do nosso litoral atlântico que,
entretanto, foram visitados por equipas de
associados, entre os mais conhecedores do assunto, a
nível nacional.
A Associação manifestou-se publicamente por ver
parte do convento franciscano de S. António cedida
para a P. J., pois entendia que este conjunto
arquitectónico, pelo seu historial e inserção na
vida da cidade, era merecedor de destino mais
compatível com a vida cultural aveirense. |
A concha, símbolo da ADERAV. |
/
14 /
Foram lançados alertas quanto à degradação do
património construído e quanto ao património Arte
Nova, nomeadamente na Rua de João Mendonça, situação
que mereceu a sensibilidade da TV.
Delegações da ADERAV, após visitas ao património
dos respectivos concelhos, foram recebidas pelos
presidentes das Câmaras de Ovar, da Murtosa e de
Vagos, seguindo-se, depois, um encontro com os
deputados da Região na Assembleia da República
(nomeadamente M. José Sampaio e Vital Moreira) para
lhes dar conta das preocupações da Associação.
A 1 de Março deste ano, houve eleições(15),
continuando as actividades programadas e que,
globalmente, haviam sido aprovadas na As. Geral. Das
correspondentes a este ano de 1980/81, destacam-se:
um "Sarau" em Águeda, com a participação da
Orquestra Típica;
uma intervenção de fundo, pelo núcleo do Ambiente,
sobre a Pateira de Fermentelos e sobre a Ribeira do
Pano – e que mereceu particular atenção por parte
dos órgãos de comunicação social, nomeadamente da
TV;
congratulação pelo facto da C. M. A veiro ter
decidido manter inalteráveis as fachadas Arte Nova
(e as de acompanhamento) da Rua de João Mendonça;
insistências, na imprensa, sobre a importância
cultural do conjunto industrial da Fábrica Campos,
"precioso exemplar da tardia revolução da indústria
chegada até nós, que bem pode e deve ser preservado
para fins culturais e recreativos da população
Aveirense e dada a sua localização e excelentes
condições"(16);
um colóquio sobre "S. Jacinto – colónia de garças e
aves da Ria", pelo Eng.º Cunha Dias, de que resultou,
dias depois, um comunicado à imprensa alertando para
as ameaças que pairavam sobre esta colónia e sobre a
Ria, em geral.
Mais tarde, foi feita visita especial ao núcleo
vareiro da ADERAV, para mais estudos e estratégias
a desenvolver e, aproveitando-se a visita oficial da
esposa do presidente da República a Ovar, foi-lhe
manifestada a preocupação da associação pelo estado
degradado da Ria de Aveiro, igualmente apresentada
aos deputados presentes.
Naturalmente, com a dinâmica da Associação, vieram
também as tentações
políticas. Destas, a mais evidente e que fez agitar,
temporariamente, a serenidade dos
associados, foi a que se desencadeou em vésperas do
25 de Abril de 1980, por causa da "subscrição do
manifesto" que algumas associações pretendiam
dirigir à população aveirense. Depois de protelada a
discussão, esta veio a ter lugar na reunião de 21 de
Abril, altamente acalorada e com posições
divergentes, mas que acabou por terminar com uma
postura equilibrada, "tendo ficado decidido que este
não seria subscrito", com um voto contra.
Explicava-se a posição assumida, considerando que
"tal não se justificava já que não tem a ver com os
objectivos da associação e tornava-se perigoso"(17)
assumir o contrário, pois ficava aberta a entrada a
todas e quaisquer manifestações de ordem política.
Assim se travaram discussões alheias aos objectivos da ADERAV.
/
15 /
A acabar este primeiro semestre, houve uma série de
intervenções coordenadas pelo Dr. Armando Moura, em
defesa e estudo do litoral marítimo e cordão dunar,
de Mira a Ovar, com repercussão na imprensa regional
e nacional;
Maio e Junho foram ainda o espaço preferencial para
campanhas de sensibilização, na imprensa regional,
com vista à defesa do conjunto da Fábrica Campos,
com várias intervenções na TV. Ao mesmo tempo,
articulou-se com o Arq. Le Coq, da Reserva de S.
Jacinto, um conjunto de intervenções reforçando a
unidade e o valor patrimonial daquele espaço sob sua
guarda.
Montaram-se dois campos de trabalho, para férias,
com o apoio do Instituto da Juventude: um, na
povoação de Cristelo (Branca), para Arqueologia,
dirigido pelo Dr. João da Inês Vaz, outro, em
Anadia, para levantamento das actividades populares
e artesanato (com duas dezenas de jovens
participantes).
Publicou-se o Boletim informativo nº 2, e fez-se uma
visita guiada ao concelho de Arouca, reunindo com os
associados daquela área e, depois, trocando
impressões com os responsáveis autárquicos.
Em Agosto, fez-se a exposição resultante do
levantamento feito no concelho de Anadia (na Escola
Secundária) e apresentaram-se, sumariamente, as
conclusões bem positivas da campanha arqueológica de
Cristelo (onde estiveram vários arqueólogos e mais
de duas dezenas de estudantes, alguns deles,
estrangeiros).
Do segundo semestre, perdeu-se a memória das
intervenções, mas sabe-se que não abrandou o seu
ritmo de acção, face a uma dinâmica vivida e
partilhada, envolvendo cada vez mais os entusiastas
da jovem Universidade de A veiro, nas diferentes
áreas de investigação e levando acções de
sensibilização às escolas, por solicitação dos
docentes, membros da Associação.
O Boletim nº° 3 foi publicado em Janeiro de 81. Em
Fevereiro aprovaram-se contas e foi manifestada
satisfação pelas notícias que apontavam no sentido
da C. M. de Aveiro se interessar pela manutenção da
Fábrica Campos, bem como pela abertura do Museu
Etnográfico da Murtosa, aproveitando-se esta
oportunidade para propor também a criação de um
museu semelhante em Aveiro.
Entretanto, houve eleições. Renato Araújo assumiu a
presidência da Direcção e na Assembleia Geral, João
Ribeiro. De salientar que o novo elenco directivo
trouxe uma ligação mais directa à Universidade, em
diferentes campos, e uma intervenção mais forte na
área do Património Natural.
Em Março e Abril, houve várias alocuções feitas por
associados e a Associação participou na reunião
nacional da FADEPA (Federação das Associações de
Defesa e Estudo do Património), em Coimbra. No mês
seguinte, a ADERAV desenvolveu actividades
integradas nas "festas da cidade", entre elas uma
sessão do Prof. José Hermano Saraiva, enchendo
completamente o salão cultural.
Em Junho e Julho promoveu-se uma campanha em defesa
do "moinho da Ria", sob o patrocínio de Eduardo
Cerqueira e fez-se o lançamento do Boletim nº 4
(distribuído graciosamente às edilidades e
associações), enquanto decorriam as actividades de
verão, com visitas guiadas à descoberta da Arte Nova
e da Casa Portuguesa, em Aveiro.
/
16 /
Em Outubro, houve mudança de instalações, com todos
os materiais que, entretanto, iam constituindo o
património da ADERAV (18).
Nos meses seguintes, foram feitas visitas guiadas
por técnicos especializados quer ao cordão litoral,
zona sul, ao bairro da Beira Mar e ao último núcleo
de muralhas existente em Aveiro, seguindo-se
reuniões com as Câmaras Municipais directamente
responsáveis pelas zonas naturais respectivas e pelo
património visitado. E foi enviado ao IPPAR, para
classificação, o processo referente ao imóvel "Casa
de Santo António", em Albergaria-a-Velha.
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Prospecto do Debate Público sobre
A(s) Torre(s) de Aveiro. |
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Mas o que mais marcou a actividade deste mandato
foi, sem dúvida, um debate aberto à população sobre
"A(s) Torre(s) de Aveiro", agendado para 16 de
Janeiro de 1982, com a presença dos Arq. Fernando
Távora e Nuno Portas, e dos associados Aristides
Hall e Amaro Neves, presidindo Renato Araújo.
Inicialmente, foi pedido ao Presidente da C.M.A. que
este debate tivesse lugar no salão cultural – o que
mereceu a sua concordância – mas, na antevéspera,
foi subitamente indisponibilizado o dito espaço,
obrigando a refazer-se toda a publicidade, para se
realizar no Conservatório de Aveiro(19), que estava
cheio (Nuno Portas não esteve). O debate foi quente,
por vezes escaldante, salientando-se nele a
frontalidade e honestidade intelectual do Arq.
/
17 /
Fernando Távora que, sobre a "torre dos 32 andares"
–
ele que era pai do projecto! – disse que, decorrido
tanto tempo após a concepção da obra no seu conjunto
(para o Plano Director de 1964), não havia, nesta
altura, razão nenhuma para o sustentar, tanto mais
que, se fosse feito agora, apareceria desenquadrado,
dado que se não deu cumprimento à obra geral em que
a torre se enquadraria, na previsão do Plano
Director.
|
Como se calcula, a partir destas afirmações e outras
semelhantes, a ADERAV não mais deu tréguas no combate
àquela ocupação, quer por textos quer por outras
manifestações, ainda que alguns membros tenham sido
alvo de graves ameaças... Mas, o que importa é que a
torre não cresceu! E ficou a todos a sensação de que
se tinha obtido uma vitória notável para o futuro e
para o desenvolvimento equilibrado da cidade, dando
ecos repetidos na imprensa regional, como que
sentindo a população a respirar de alívio, pois
ninguém baixou os braços até haver certeza municipal
de que aquele afrontamento não iria ter andamento.
Nesta luta, merece ser destacado o "grupo de
Arquitectos" associados (Rogério Barroca, José
Prata, Ventura da Cruz, Óscar Graça) que, com
entusiasmo, ajudaram a uma frente comum em defesa do
património edificado que merecia ser preservado,
abrindo também pontas de debate para outras
questões. |
Tomada de posição contra a construção das torres no
largo do Côjo. |
Entretanto, as eleições para 1982/83(20) trouxeram à
presidência Aristides Hall, destacado investigador
da Universidade, na área das Ciências do Ambiente,
pelo que se continuou a orientar a maior força de
intervenção associativa no sentido ambiental,
abrindo contactos inclusivamente com a Portucel e à
zona de Estarreja e maior atenção às zonas hídricas
da Região. Mas o urbanismo, em geral, e os "centros
históricos" continuaram a ser, também, uma área de
grande preocupação.
/18 /
Em Março, teve lugar uma excelente intervenção,
patrocinada pelo Governo
Civil e pela C.M. de Aveiro e sob responsabilidade
do Prof. J. M. Cabral Ferreira e da
Prof. M. Laudomira de Jesus, da Universidade do
Porto, sobre "O património na oferta turística" e
"efeitos socio-económicos e culturais do turismo",
de que resultaram
posteriores desenvolvimentos na área de Aveiro,
patrocinados pela ADERAV.
Foi dado particular ênfase no apoio
às escolas,
sensibilizando professores e
alunos para as problemáticas do património natural e
cultural. Enquanto isto,
aproveitando o encontro "Cultura Popular das
Beiras", em Águeda (16-20 de Abril),
em que a Associação interveio(21), foi exposta ao
Ministro da Cultura (Dr. Lucas Pires)
uma série de preocupações regionais pela voz de
Aristides Hall, com outros membros
da Direcção, incluindo a necessidade nacional de uma
"lei da Água", face ao
conhecimento da degradação das condições na Ria de Aveiro, visível e sofrível nos canais da cidade.
Mas, neste primeiro semestre de 1982, o
acontecimento cultural que mais
marcou a cidade e a Região de Aveiro, quase
exclusivamente "levantada" e montada
por membros da ADERAV, foi a exposição "Cem Anos de
Artes Plásticas" – em
evocação da grande exposição que havia decorrido em
Aveiro em 1882 (organizada
pelo Grémio Moderno) – cuja comissão organizadora
foi constituída por Amaro Neves,
Cândido Teles, Vasco Branco, Énio Semedo e João
Gaspar. Tratou-se de um extraordinário certame
artístico-cultural (que coube ao reputado crítico
Dr. Matos Chaves a "oração de sapiência"), que
assentou na inventariação de artistas aveirenses e
de peças representativas, ao longo desse século,
para o que foi constituído um
"catálogo" especial, montado para ser mais um número
do Boletim ADERAV... mas
tal não aconteceu, por uma boa causa(22). Não se pode
esquecer quanto trabalhosa foi
esta exposição que mobilizou, durante muitos meses,
intensamente, vários associados.
Mas, confesse-se, foi consolador verificar o êxito
alcançado(23).
Entretanto, diligenciaram-se várias reuniões com o
núcleo de Anadia que,
desde cedo mas sempre reconhecendo a positiva
influência que a ADERAV ali havia desenvolvido,
manifestava vontade de gerir autonomamente a "sua"
associação de defesa do património. Apoiando essa
vontade, a Direcção esteve presente em todas as
reuniões de interesse mútuo e patrocinou colóquios
para que essa associação nascesse e fosse
efectivamente activa para o bem público(24).
Publicaram-se os dois boletins previstos e
mantiveram-se os olhares atentos ao património
aveirense, insistindo nomeadamente com a ocupação
urbana das margens
/
19 /
da Ria, a norte de Aveiro. E por diversas vezes a
TV (já que a imprensa regional estava mais atenta às
intervenções) veio ao encontro das preocupações da
Associação.
Em Novembro, dia 14, decorreu mais uma jornada
aglutinadora da massa associativa, reunindo cerca de
uma centena de participantes numa extraordinária
visita guiada que, essencialmente, tinha como
referência os pontos seguintes e respectivos guias:
1– Ordem Terceira de S. Francisco (por João G.
Gaspar); 2 –- Quinta de S. Francisco, em Eixo (por
Eduardo Cerqueira); 3 – Pateira de Fermentelos (por
Aristides Hall e Armando Duarte); 4 – Panteão dos
Lemos, na Trofa do Vouga (por Amaro Neves).
Em Dezembro, foram mandados textos descritivos e
apelativos à defesa e valorização do património, em
termos duros mas autênticos, face ao desprezo e
abandono, visível em alguns deles (S. Francisco, em
Aveiro, como paradigmático), ao Sr. Ministro da
Cultura, ao Governo Civil e ao Bispo da Diocese, aos
Deputados por Aveiro, ao Instituto do Património e
ao Director Regional dos Monumentos Nacionais, à
Câmara Municipal e a todos os órgãos de
comunicação... |
|
Capa do catálogo da exposição 100 anos de Artes
Plásticas. |
E continuou-se a luta pela defesa da Fábrica Campos,
na convicção de que ainda era possível salvaguardar
o complexo industrial que se mantinha de pé. Neste
sentido, já no início de 1983, a Direcção elaborou um
extenso documento(25) que enviou à Câmara Municipal,
propondo, inclusivamente, formas de articulação
cultural e de valorização das diversas peças,
continuando a mobilizar a opinião pública, mesmo com
recurso à TV, em vários apontamentos e programas.
E houve que mudar, mais uma vez, "armas e bagagens",
com brevidade, agora para uma sala na "Fábrica do
Azul", na Forca, sendo já a 4ª sede da ADERAV.
/
20 /
A eleição dos novos Corpos Gerentes da ADERAV para
83/84 processou-se
em Abril, passando a dirigi-la o capitão António J.
Cruz Mendes, coadjuvado por
Lourenço Santos e Artur Jorge Almeida, enquanto
Aristides Hall presidia à As. Geral.
Desta anuidade, ressalta uma grande preocupação com
a redacção das actas(26),
secretariadas por Maria Helena Lucas (raramente
assinadas pelo presidente). Destas,
registe-se a ampla discussão em tomo do que seria
"um centro histórico" – emitindo
documento específico, sob coordenação dos
arquitectos – e, mais tarde, sobre a Fábrica Campos(27).
Depois de longos meses de preparação, esteve
patente, de 10 a 24 de Março, a
exposição Para a imagem antiga de Aveiro – O Postal
Ilustrado, que "constituiu
assinalável êxito, conforme o comprovam os
indicadores como a elevada afluência de
público, a venda do Catálogo (cuja edição quase
esgotou), e ainda os comentários expressos em órgãos
de comunicação social" (28)
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Cartaz e capa do catálogo da
Exposição do Postal
Antigo de Aveiro |
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Por outro lado, continuaram-se as intervenções e
palestras, por vezes a
solicitação de grupos de jovens, bem como as visitas
guiadas, promovidas por
"núcleos" (Vale de Cambra, com uma ampla
participação de associados, e Museu de
Ílhavo).
Pela perda que representou para a Associação,
registou-se a morte de Eduardo
Cerqueira, em memória de quem se editou o Boletim nº
10.
/
21 /
A 19 de Abril, como que culminando anos de luta em
sua defesa, "foi enviado
o processo de classificação da Fábrica Campos, quer
ao Ministro da Cultura quer ao Instituto Português
do Património Cultural, pensando contribuir assim,
para a defesa e
valorização do património arquitectónico da cidade e
da região"(29).
Mas, em 4 de Maio, abriu ao público (encerrou a 31
deste mês), nas instalações
do Museu Nacional de Aveiro, a Exposição Cerâmica
Artística e Decorativa – Aveiro I (30), com larga
repercussão na imprensa, chamando a atenção para as
potencialidades e valor patrimonial das cerâmicas e
dos artistas envolvidos, bem como dos objectos
produzidos, em qualquer época que seja. E foi
desafiada a Câmara Municipal, em sessão pública, a
pronunciar-se sobre a constituição de um Museu da
Cerâmica (ou
Museu da Indústria), eventualmente na Fábrica
Campos.
Em Julho, foi publicado o livro
Aveiro – História e
Arte, de Amaro Neves, edição inteiramente assumida
pela Associação. E também houve um clamoroso
protesto por declarações dos responsáveis da Câmara
sobre o destino do conjunto industrial da Fábrica
Campos, bem como outro sobre um edifício Arte Nova,
na Rua Von Haff. A um e a outro destes casos reagiu,
positivamente, a TV e a imprensa.
No ano de 1984-85, arrastou-se a eleição da
Direcção, passando a presidir Lourenço Santos,
assessorado por Maria Helena Lucas e Artur Jorge
Almeida. O ritmo de visitas guiadas e de palestras
em escolas manteve-se, recebendo-se também algumas
prestigiadas organizações da Defesa do Património
nacionais, em Aveiro.
Já em Janeiro de 1985, houve um I Encontro de
Colectividades Culturais do Concelho de Aveiro
(organizado de parceria com o Clube dos Galitos), o
qual excedeu todas as expectativas de
participação(31).
E mais uma vez, houve que mudar a sede da
Associação, com todos os materiais possíveis, agora
para o edifício do antigo Magistério Primário,
recuperado para Biblioteca Municipal (onde se
manteria por cerca de três anos).
Continuaram-se os "campos de férias", nas áreas do
Património Popular e promoveram-se novas eleições
que, em segunda via(32), para o ano de 85/86, ditaram Arnaldo Dias Teixeira para presidente, assessorado
por Rogério Barroca, presidindo à As. Geral,
Lourenço Santos. A convite da Câmara Municipal de Aveiro, ADERAV
integrou o Conselho Consultivo Municipal, delegando
a sua representação no presidente (33).
De 11 a 20 de Maio deste ano de 85, integrada nas
Festas da Cidade, esteve patente no Museu de Aveiro,
uma exposição-homenagem ao artista cerâmico Armando
Andrade(34), reputado escultor vareiro que trabalhou
nas mais famosas empresas de cerâmica artística
nacionais e da região de Aveiro. A exposição, dado o
interesse regional, esteve também patente em Ovar,
de 2 a 15 de Junho, no museu desta cidade,
/
22 /
donde era natural o artista homenageado. Daqui
resultou a oferta de algum espólio do artista,
enriquecendo as colecções do museu.
|
A 6 de Outubro, a Direcção
discutiu um pequeno subsídio do Instituto da
Juventude que havia recebido – sem o ter pedido –
não obstante estar esclarecida de que o iria receber
como compensação aos gastos feitos num campo de
arqueologia, realizado anos antes (Julho 79, no
lugar da Gôcha, em EspinheI). A direcção não
entendeu a questão e pôs em causa a seriedade de
quem organizou o evento, o transporte e a
alimentação dos vinte jovens presentes... enfim,
ainda bem que o Sr. Presidente do IPJ, Dr. José
Fragateiro, com tantos anos de atraso, tinha a
memória fresca e sabia o que tinha prometido e...
faltava pagar. Ainda bem!
Foi também editado Aveiro –
silhuetas do tempo que passa..., confrontando
imagens do património urbano, antigas e actuais, da
autoria dos associados Amaro Neves e Carlos Ramos,
fotógrafo. |
Capa do catálogo da exposição/homenagem a Armando
Andrade. |
Em Outubro/Novembro, com a colaboração efectiva da
ADERAV(35) e em
parceria com o Clube dos Galitos, organizou-se a XIV
Exposição Filatélica Nacional,
que mobilizou vastos recursos humanos da Associação,
pelas áreas apresentadas e pela
dimensão nacional do certame. Ainda em Novembro
houve mais uma jornada sobre
"património cultural popular", orientada por Hélder
Pacheco. Entretanto, organizava-se
um boletim especial de homenagem a João Sarabando,
coordenado pela Direcção(36).
Na fase final desta anuidade, notava-se um certo
cansaço na gestão da
Associação que, todavia, não preparou a passagem do
testemunho e, por outro lado,
/
23 /
não conseguiu a mobilização suficiente para o acto
eleitoral, no tempo normal, o que só viria a
acontecer em 12 de Outubro de 86.
Nesta As. Geral, foi eleito para presidente Armando
Duarte, professor da Universidade, assessorado por
Énio Semedo, Artur Jorge Almeida, Cristina Bóia, Ema
Cristina Coutinho, M. Albertina Nunes e M. da
Conceição Pinho. A As. Geral era orientada por
Renato Araújo. Na própria sessão foi aceite a
elaboração de um boletim regional, o nº 16,
encarregando-se o "corpo redactorial" da sua
elaboração e apoios à edição. O tema seria,
basicamente, a região da Bairrada e a sua riqueza
humana e vitivinícola(37).
Curiosamente, na primeira reunião do novo executivo,
realizada nesse mesmo dia, foi registado que "não
houve qualquer entrega de relatório de actividades
nem de contas, sendo os elementos da direcção actual
ostensivamente ignorados durante trinta e cinco
minutos. Perante esta situação de impasse, apenas
foi dito que só na semana seguinte os relatórios
seriam dados a conhecer"(38). Mas tudo se foi
ultrapassando...
Na reunião de 29 de Outubro, a Direcção
congratulou-se pela eleição do seu
presidente da As. Geral, Renato Araújo, para reitor
da Universidade de Aveiro.
Promoveu-se maior intercâmbio com o "núcleo de
Arquitectos de Aveiro",
participando na sua revista, decidiu-se a
organização da Cerâmica Artística e Decorativa
Aveiro II (39), sempre com o objectivo de não deixar
cair a luta pela Fábrica Campos e de levar por
diante o Museu da Cerâmica (ou da Indústria).
Enquanto isto, continuaram-se as palestras em
escolas e ao serviço de outras associações, sempre
que
solicitado ou justificado o apoio, nomeadamente em
Castelo de Paiva, em Anadia, em
Vagos, em Vale de Cambra e em Ílhavo. Foi ainda
decidido memorar a vida e a obra de J. M. Mendes
Leite, emérita figura do século XIX, com sessão
pública, intervenções e publicação de textos
alusivos à sua vida política. Ao mesmo tempo, fez-se
uma exposição de documentos que testemunham essa
grandiosa obra de político.
Robusteceu-se a informação à imprensa com textos
adequados aos temas que,
entretanto, iam animando a vida da Região e,
sobretudo, a aveirense, tais como(40):
A razão de uma luta
A entrega do ramo – um valor cultural a preservar
Barcos no Canal central – A propósito...
Porto de Aveiro – Com que acessos?
O IP5 e o Nó das Pirâmides...
Entretanto, a última acta de reunião a que presidiu
Armando Duarte foi a 18 de Novembro de 87. Deduz-se
que, aguardando o acto eleitoral e por alguma
inércia do
/
24 /
colectivo, se tenha entrado num período mais de
deixar correr, esperando a chegada de nova direcção.
A verdade é que não se respeitavam os Estatutos,
nomeadamente no que concerne às eleições e cada vez
mais se tornava difícil encontrar quem se
apresentasse para cumprir um mandato anual.
Reclamava a Direcção que havia expirado o seu tempo,
mas o presidente da As. Geral reclamava que
importava saber quem se apresentava para assumir...
e o tempo ia passando.
Enquanto se arrastava esta indefinição, esmorecia,
naturalmente, a normal capacidade de intervenção
pública ou, talvez melhor, instalava-se algum
desânimo entre os associados...
4. O décimo aniversário – novo ânimo e múltiplas
actividades
À medida que ia aproximando o ano de 1989
– em que a ADERAV festejaria o
seu décimo aniversário – muitos eram, mesmo entre
os fundadores, aqueles que, então, pensavam ser uma
"coroa de glória" festejar-se uma tal efeméride,
dada a curta existência que, normalmente, marca a
vida das associações culturais. Alguns, no entanto,
lamentavam que, com um palmarés de serviços tão
relevantes, se não conseguisse essa glória... a
verdade é que, na hora das eleições, ninguém parecia
disponível.
Por sua vez, os que já tinham assumido a sua
direcção, consideravam que uma
associação deve traduzir a sua vida pela
rotatividade dos corpos directivos e, em último
caso, mesmo o núcleo mais restrito dos fundadores
argumentava que a Associação não fora criada para
servir nenhum deles mas tão só Aveiro e a sua
Região.
Perante algumas destas argumentações, mais parecia
que, de facto, não se
celebraria o décimo aniversário...
Angustiados, reuniam-se alguns associados e
discutiam o assunto. Por último,
deu-se a conhecer que, se não surgisse outra
hipótese de assegurar a direcção da colectividade,
dar-se-ia cumprimento a um "acerto de cavalheiros"
que havia sido feito entre três membros fundadores,
no qual se estabelecia uma sucessão rotativa na
presidência, com a colaboração dos dois restantes
membros. E, frustradas outras hipóteses que se não
levantaram, avançou o primeiro dos nomes do dito
acordo (sem depois se ter cumprido o restante da
rotação no assumir das direcções seguintes).
As eleições decorreram a 5 de Janeiro de 1989, sendo
eleito Amaro Neves como presidente e dois vice
presidentes: Deniz Ramos Padeiro e Óscar Graça. Mas,
a Direcção contou com o empenhamento da "troica"(41),
mobilizando os sócios meios "arrefecidos" e muitas
vontades de novos simpatizantes, foi visível um
certo fulgor na gestão desse ano, tendo-se editado o
número 17(42) (em que, a propósito do 10º
aniversário se publicou um singelo apontamento sobre
Como nasceu ADERAV").
/
25 /
Articularam-se com o Prof. José Hermano Saraiva
algumas intervenções sobre o Património Cultural de
Aveiro, no Diário Popular, de que era director, em
resultado do que se deslocou a Aveiro a fazer duas
palestras sobre estas temáticas, com grande
afluência de público.
E, como curiosidade, na reunião de 15 de Fevereiro,
foi decidido "oferecer à Câmara Municipal de Aveiro
400 volumes (l00 exemplares de cada) dos títulos
seguintes: Aveiro – História e Arte; Aveiro –
Silhuetas do tempo; Ílhavos e Murtoseiros na
Emigração Portuguesa; Mendes Leite, a serem
distribuídos gratuitamente conforme a edilidade e o
seu pelouro da Cultura bem entenderem. Desta forma
deseja esta associação divulgar Cultura/Património
regionais e ao mesmo tempo sensibilizar a Edilidade
que Vª Ex.ª dirige para algumas das actividades que
a ADERAV tem desenvolvido ao longo dos 10 anos de
existência (a celebrar em Maio), defendendo,
promovendo e divulgando valores culturais, com visitas guiadas, campos de trabalho, acções de
juventude, colóquios, exposições, diversas edições
(cerca de 3 dezenas, das quais a mais regular é o
"boletim") para o que tem contado, em geral, com
reduzidos apoios do município e, eventualmente, de
outros organismos"(43).
Em Março, de 22 a 27, dois elementos da Direcção
estiveram na VI Assembleia Geral do Movimento
Ecológico Ibérico, em Espanha.
Por outro lado, fez-se uma grande exposição sobre
Capelas de Aveiro, com cerca de 40 trabalhos de
artistas aveirenses (nenhum podia apresentar mais de
três), a qual serviu de pano de fundo para a edição
do livro "Capelas de Aveiro", com os textos de
António Cristo(44). Estas acções enquadraram-se nas
"festas da cidade" deste ano de 89.
A 15 de Junho, mais uma vez, por informação da CM de
Aveiro, se impôs a mudança de sede, desta feita para
o Bairro de Santiago, nos ditos "comboios amarelos",
o que teve de ser feito com urgência.
E, durante o verão, fizeram-se como de costume as
visitas a grupos de jovens e
campos de férias, em articulação com o IPJ.
A "rentrée" do ano escolar trouxe outra movimentação
nas escolas, levando a palestras e acções com grupos
de professores, nomeadamente àqueles que se
encontravam em estágio pedagógico (Águeda e
Murtosa).
A Direcção reuniu com os candidatos dos partidos
concorrentes à Câmara de Aveiro expondo-lhes as
principais preocupações patrimoniais, em total pé de
igualdade da informação, e posteriormente emitiu um
comunicado sobre a recuperação da Fábrica Campos,
esperada há dez anos... De seguida, promoveu
encontros com as Câmaras de Vagos, de Ílhavo, da
Murtosa(45) e de Águeda para manifestar as
preocupações locais, nas áreas do Património.
De 11 de Novembro a 16 de Dezembro, esteve patente a
Bienal Internacional de Cerâmica Artística de
Aveiro, nos pavilhões do Canal do Côjo, com uma
representação internacional que excedeu as
expectativas e uma qualidade que
/
26 /
surpreendeu a própria comissão organizadora(46) e até
o júri internacional que presidiu à selecção das
peças apresentadas. Neste certame se empenhou
activamente a direcção da ADERAV, ao longo de
muitos meses – de resto, ele traduzia a
concretização do grande sonho, ao realizar as duas
Exposições de Cerâmica Artística, promovidas
anteriormente pela Associação – e, naturalmente, do
êxito alcançado se orgulhava também o núcleo
directivo, reconhecendo sem dúvida o indispensável
apoio logístico e político da Câmara Municipal.
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Capa do catálogo da 2.ª Bienal Internacional de
Cerâmica Artística. |
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Decidiu-se ainda fazer "capas" como símbolo ADERAV
para encadernar os boletins editados, agrupando-os
em dois volumes, enquanto Henrique de Oliveira se
dispôs a fazer todos os índices alfabéticos para
esse agrupamento, publicados no nº 17.
De resto, foi no geral um ano de iniciativas e
concretizações amplas – para além das edições,
exposições, visitas guiadas e intervenções... e do I
Encontro Distrital de Associações Culturais e do
Património, realizadas na Universidade com a
participação do Reitor – concretizações que deram
força e nova vida à ADERAV, a nível distrital,
adequadas ao aniversário que se celebrava e que,
para uns tantos (os costumados detractores) era
anunciado como "canto do cisne" da Associação.
Enfim, festejavam-se dois lustros de muitas sessões
de sensibilização para os valores culturais
regionais, de pequenas ou grandes batalhas pela
defesa e valorização do património aveirense e,
também, apesar de tudo e, às vezes, contra os mais
diversos poderes locais, as "grandes vitórias"
alcançadas em beneficio da Cultura e do Património
da Região de Aveiro.
/
27 /
A consciência disto mesmo se traduziu, em parte, nas
palavras de abertura do Boletim nº 17, com o título
Dez anos depois, em que se faz uma auto-crítica ao
trabalho desenvolvido mas, mais do que evocar as
acções e as grandes batalhas conseguidas, graças à
mobilização dos associados, se reconhece que a maior
vitória até então travada foi uma constante "acção
pedagógica que conta em Aveiro uma década de
esforço e que, por certo, levará as novas gerações a
assumirem comportamentos diferentes dos que herdaram
de seus pais".
De facto, sendo a maioria dos aproximadamente 350
membros da Associação
constituída por professores de diferentes sectores,
apresentava-se como primeiro objectivo, a longo
prazo, "a batalha da educação na defesa dos valores
naturais e culturais como bens comunitários
extremamente valiosos e os mais caracterizadores de
uma região", pelo que importava, acima de tudo,
preparar as gerações mais novas para assumirem a
herança patrimonial.
No final do ano de trabalho, não se apresentando
disponível nenhum dos elementos da "troica", a
direcção apresentou uma lista a sufrágio, para o ano
de 1990, encabeçada por M. Albertina Nunes (já tinha
dado vastos contributos à Associação), coadjuvada
por Artur Jorge Almeida e António F. Oliveira,
presidindo à As. Geral Amaro Neves e, ao Conselho
Fiscal, Énio Semedo.
A Direcção participou no encontro de Associações de
Estudo e Defesa do Património Cultural, Natural e
Ambiental que se realizou no Museu Marítimo de
Ílhavo e, a convite do pelouro da Cultura da Câmara
de Aveiro, no encontro-debate sobre as actividades
da Cultura, no ano anterior e para o ano corrente.
Foi feita uma visita prolongada a Anadia, para
avaliar o estado da capela de S. João da Azenha
(apoiada nos associados activos que por ali
residiam) e, sobre o assunto, emitiu-se um parecer
dirigido a esta Câmara Municipal no sentido de que,
equacionando-se eventualmente a construção de uma
capela nova, importava, acima de tudo "lembrar que a
capela velha deverá ser melhorada e sempre
mantida"(47).
Em Abril, o debate foi essencialmente sobre recursos
hídricos dos concelhos de Arouca e de Castelo de
Paiva, com texto de cunho pedagógico, relacionados
com os rios Paiva e Arda, propondo que, "num futuro
próximo, seja criado o Parque Natural da Serra da
Freita e Gralheira"(48).
Em Maio, articulou-se um programa de visitas guiadas
à cidade e ao concelho, orientadas por associados
conhecedores das áreas e património a visitar, e a
associação esteve presente, com stand próprio, na
Feira do Livro.
Entretanto, acabadas as visitas guiadas programadas,
emitiu-se um texto de reflexão sobre o património
aveirense, que foi distribuído à imprensa, com
grande divulgação no semanário Litoral(49).
No começo do ano lectivo, como habitual,
desenvolveu-se a normal actividade de interligação
às escolas. Ainda antes de acabar a anuidade e tal
como havia sido planeado, editou-se um número
especial do Boletim, sobre a Bairrada, com data de
Novembro de 1990, a propósito dos "Cem anos de
espumante da Bairrada", que obteve
/
28 /
um êxito surpreendente. E, nele porque a todos
abalou a triste notícia, foi prestada
homenagem à figura do prof. Dr. Aristides Hall,
emérito investigador da Universidade
de Aveiro, subitamente falecido, tendo em conta os
prestimosos serviços prestados à
ADERAV – seu membro fundador, sempre disponível e
entusiasta exemplar na defesa do Património Natural
e Cultural da nossa Região.
De 2 a 30 de Novembro, alguns membros da Associação
deram corpo, na
sequência de meses de trabalho anterior, à comissão
organizadora(50) da II Bienal
Internacional de Cerâmica Artística, que repetiu,
melhorado, o êxito alcançado na
primeira.
A participação da ADERAV, de resto, foi então bem
sublinhada pelo
presidente da Câmara Municipal, Dr. Girão Pereira,
escrevendo na Apresentação do respectivo
Catálogo, a propósito dos contextos cerâmicos de
Aveiro e da sua região – «Esta ambiência criou os pressupostos necessários
para a realização de exposições
próprias, como as duas "Mostras de Cerâmica
Artística e Decorativa" que se ficaram a dever
à iniciativa da Associação de Defesa do Património
da Região de Aveiro –
ADERAV, com o apoio da Câmara Municipal de Aveiro
(51). |
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Capa do último número do Boletim da ADERAV. |
A 15 de Novembro, em Assembleia Geral, foram eleitos
os novos corpos
directivos para o ano de 1992, com Emanuel Cunha,
como presidente da Direcção,
/
29 /
assessorado por Joaquim Correia, Artur Fino, Rosa
Maria Oliveira, Arsénio Mota, Teresa Costa e Armor
Pires Mota, enquanto na As. Geral presidia Vasco
Branco.
Como se pode avaliar, com um leque de figuras
ligadas à literatura e à arte, desde logo se
perspectivou uma exposição de pintura e intervenções
públicas literárias, entre as quais um ciclo de
palestras. Discutiu-se o II Encontro de Associações
Culturais, a realizar em 23 e 24 de Maio, bem como a
participação da Associação, na Feira do Livro.
Se escapam à análise as actividades desenvolvidas,
por falta de actas regulares e também de boletins
informativos, é certo que o II Encontro das
Associações Culturais do Concelho de Aveiro foi uma
realização de bom nível e de bons frutos.
Palestras e intervenções literárias também as houve,
com regularidade, corporizadas pelos nomes que
integravam os corpos directivos. E, dadas as boas
relações institucionais entre o presidente e a
responsável pelo pelouro da Cultura, Dr.ª Maria da
Luz Nolasco, algumas outras actividades resultaram
em colaboração mútua, pelo bem geral da cultura
regional e aveirense.
Entretanto, também a Fábrica Campos foi sendo
recuperada e, reconhecendo-se publicamente os anos
de luta que ADERAV havia desenvolvido pela defesa
deste imóvel (a parte mais importante do conjunto)
da arquitectura industrial, foi considerada
justa e merecida a sua integração nesse espaço
entretanto recuperado, para ali se transferindo
então a actual sede, com algumas comodidades e em
espaço capaz de
possibilitar mais e novas acções.
5. Subitamente, a grande crise directiva
... e o
renascer das cinzas
Agora, caminhava-se para o final de mais um lustro
de vida e tudo parecia
orientado da melhor maneira para anuidades e
mandatos de sucesso...
A eleição para o ano de 1993, no entanto, veio
tardiamente, a 30 de Março, e pretendeu enquadrar
uma daquelas vozes críticas à actuação da ADERAV,
pois pensou-se que, assim, se daria a melhor
oportunidade a novos entusiasmos e perspectivas. Mas
o presidente eleito, tendo aceite, foi criticando e
sempre protelando a sua entrada em funções e
consequentemente retardando qualquer intervenção,
sem
reuniões nem actividades.
Deu-se então uma situação anómala: por um lado, uma
Direcção estatutariamente empossada mas cujo
timoneiro não aparecia para enfrentar as situações,
nem se propunha a encontrar uma outra solução, por
inércia total; por outro,
a anterior Direcção que, perante a realidade e
dentro do possível, ia "carregando" uma
gestão corrente mas manietada face ao acto eleitoral
que havia decorrido. E o tempo foi correndo,
correndo, esgotando-se o resto de 93 e o ano de 94,
sem novidades directivas...
Bem se fizeram diligências diversas (não se poupou a
esforços o presidente em exercício, Emanuel Cunha),
junto do presidente designado, para que se
resolvesse a crise... mas, nada! E passaram-se mais
os anos de 95 e 96. Neste contexto que mais parecia
de morte por inanição, também o Presidente da As.
Geral, Vasco Branco,
ansiava por uma solução airosa que repusesse o
normal funcionamento associativo. E o
/
30 / cepticismo começou a instalar-se... e muitos
viravam-se para os fundadores mais
aguerridos e activos, exigindo intervenção.
Foi o que acabou por acontecer, com a total
concordância do presidente da
Assembleia Geral, Vasco Branco, que, goradas outras
hipóteses, expressamente para o
efeito convocou uma Assembleia para 11 de Janeiro de
1997 e onde, à falta de
secretário, se elegeu ali mesmo um que, "preto no
branco", fizesse a respectiva acta
que relata:
Aberta a sessão, o presidente fez uma exposição da
letargia da ADERAV neste dois
últimos anos e mostrou satisfação por ver reunido um
grupo de aveirenses em torno
deste projecto. Apontou alguns "casos" mais
significativos do património construído e
evocou o "Aveiro Antigo". Seguidamente, convidou o
associado Amaro Neves a
apresentar a nova proposta de Direcção (52).
Feita a justificação dos novos elementos, a
Assembleia discutiu um plano de trabalho apresentado
pela candidata a presidente da Associação,
colheram-se sugestões
entre os presentes e acertaram-se prazos de
actividades, sendo aprovados por
unanimidade todos os corpos directivos, com a
sensação de que se havia virado uma
página angustiada, nos anais da ADERAV.
E tudo parecia ser pacífico... mas, semanas depois,
já alguns arautos da
desgraça que não tinham assumido as anteriores
responsabilidades, voltavam a
"questionar a legalidade do acto eleitoral", tal
como se discutiu na reunião de Direcção
de 26 de Abril de 97, valendo a determinação da
presidente de "cumprir o seu mandato
até ao fim". Então, substituindo-se um elemento, por
conveniência de serviço, foi
apresentada e aprovada a ideia de saber, junto da
vereadora do pelouro da Cultura da
C.M. Aveiro, que destino se projectava para a velha
casa do Dr. Alberto Souto, em
Bonsucesso, pois se encontra em adiantado estado de
ruína, bem como para a casa dos
avós de Eça de Queirós, em Verdemilho, ou ainda para
o conjunto em que se integra a
"casa Paris", na avenida Lourenço Peixinho (entre
outros casos).
Em Junho, comprometeu-se a Direcção a um
levantamento dos edifícios Arte
Nova, no concelho de Aveiro – mas foi sugerido que
esse levantamento e intervenção fosse mais amplo,
sobretudo alargado a Ílhavo –, e redigiu-se uma
"carta aberta" para a
imprensa sobre o estado desse património edificado.
De facto, a preocupação dominante da Direcção desta
anuidade foi, numa
primeira fase, a Arte Nova em Aveiro, abrindo-se
lentamente a outras áreas do
património construí do, mesmo fora do concelho.
Diversas reuniões com o executivo
municipal pouco adiantaram na sua conservação, mas
foi-se enraizando a ideia de que
urgia um debate público sobre a defesa desse
património, nomeadamente do princípio
do século XX e de feição Arte Nova (mas também Deco
e "casa portuguesa"), pelas
intervenções de arquitectos aveirenses.
Curiosamente, o Conselho Consultivo da
/
31 /
Cultura e o Conselho Consultivo do Património
Edificado, a partir de 1998, integraram diversos
membros identificados com a vida da ADERAV, a
convite do vereador do Pelouro da Cultura, Jaime
Borges(53).
E, por articulação entre este pelouro e a Direcção
da Associação, foi organizado o encontro nacional
sobre Arte Nova(54), aqui reunindo (na já recuperada
Fábrica Campos, convertida em Centro Cultural e de
Congressos), por dois dias, os especialistas desta
área do conhecimento artístico e do planeamento
urbano, bem como da recuperação do património
edificado, com a presença do Ministro da Cultura,
Manuel Carrilho, atraindo centenas de interessados
nos debates.
Alguns textos foram produzidos, por iniciativa da
presidente, sobre estas manifestações
arquitectónicas, gerando interesse pelas TVs, a
nível nacional. Entretanto, foram pedidas ou
propostas ao IPPAR, entre 1997 e 1998, as seguintes
classificações de património edificado:
- Pastelaria Avenida, na Av. Lourenço Peixinho,
Aveiro, a 15 de Junho de 1997;
- Ourivesaria Matias, na Av. Lourenço Peixinho,
Aveiro a 16 de Outubro de 1997;
- Casa Paris, na Av. Lourenço Peixinho, Aveiro, a 16
de Outubro de 1997;
Já com a data de 6 de Agosto de 1998, um vasto leque
de propostas:
- Casa Dr. Alberto Souto, Bonsucesso (freguesia de
Aradas);
- Casas nº 168-172, e 216 A, B e C, na Av. Lourenço
Peixinho, Aveiro;
- Casas no 158-162, na avo Lourenço Peixinho e nº
6-14, na rua Eng.º Oudinot;
- Farmácia Ala, na Praça J. Melo Freitas;
- Edifício "Testa e Amadores" (em frente ao Museu
Nacional);
- Casa na Rua Miguel Bombarda nº 1, 5, 7, 9, 11 e 13;
- Edifício da Av. Central (antiga Rua do Rato), n°
23-29;
- Casa na Rua de Eça de Queirós, nº 1;
- Em Espinho, o edifício do Sport Clube de Espinho;
Isto é, um punhado de propostas de classificação,
antes que e na esperança de que os camartelos
municipais não chegassem e, insensivelmente, tudo
demolissem, como tantas vezes, infelizmente, tem
acontecido.
Mas foram dois anos com escassos registos de
actividade e poucas actas (com alguns conflitos
internos, gerados por detractores(55)), ainda que de
"contactos com
entidades oficiais a nível de Lisboa" e com as
Câmaras do Distrito ou, por outra via, se "discutiu
o que estava a acontecer de grave no património da
cidade de Espinho" como adiantou a presidente, na
reunião da Assembleia Geral de 9 de Julho de 199956,
quando se procedeu a novo acto eleitoral. Em face
deste, para 1999-2000, reelegeu-se Maria João
Fernandes, como presidente, com António Sérgio
Azeredo e Luís Souto de
/ 32 /
Miranda como vice presidentes, enquanto na As. Geral
presidia Amaro Neves e, no Conselho Fiscal, Pedro
Silva.
Deste "mandato" se relevam as intervenções nas áreas
do património edificado,
continuando essencialmente focalizadas na Arte Nova
de Aveiro e seu Distrito, como referem as poucas
actas lavradas - incluindo a de balanço final – e
nas propostas de classificação apresentadas ao IPP
AR, nos concelhos de Albergaria-a-Velha, de Aveiro, de Espinho e de Ílhavo, num conjunto de cerca
de quatro dezenas de propostas, devidamente
justificadas, com vista a que se garantisse a
salvaguarda deste património(57) .
A data da maioria delas tem a ver com as
disponibilidades da equipa que as elaborou, sob
orientação da presidente que, neste particular, não
se poupou a esforços, nomeadamente insistindo com os
poderes instituídos, a nível central, com vista a
manter este "núcleo patrimonial" como o essencial da
intervenção Arte Nova, no Distrito de Aveiro.
Mas, obviamente, por cansaço da equipa que dirigia a
Associação (cuja presidente residia em Lisboa),
tomava-se imperioso dar lugar a outras boas
vontades, para o que foi convocada a As. Geral com
vista a eleições, o que veio a acontecer a 24
de Março de 2001. Desta resultou eleito, como
presidente, Delfim Bismarck, com
António Sérgio Azeredo e Luís Souto de Miranda como
vice-presidentes, dirigindo a Assembleia Geral Maria
João Fernandes e, no Conselho Fiscal, Nuno Pinto
Teixeira. Na Assembleia se fez justiça "ao esforço
de levantamento e pedidos de classificação do
Património Arte Nova", adiantando a presidente
cessante que se iria realizar, a curto prazo, "um
colóquio internacional sobre Arte Nova em Portugal",
na sequência dos trabalhos desenvolvidos na Região
de Aveiro, ao serviço da ADERAV.
Nas primeiras reuniões ordinárias, foi preocupação
da nova direcção constituir "equipas temáticas" para
melhor se fundamentarem as intervenções, agendar
reuniões com os executivos das principais Câmaras
Municipais do Distrito, programar um
concerto musical na igreja de Angeja como forma de
chamar à atenção para o valor da igreja e do seu
recheio artístico e delinear o novo figurino de uma
revista que substituísse o antigo Boletim ADERAV,
com maior amplitude de intervenção, a apresentar ao
público no mês de Maio próximos8. E neste mês, houve
um protocolo entre a ADERAV e a QUERCUS com vista a
uma intervenção conjunta no sentido de se discutir e
melhorar a proposta de alteração para o IP5, no
troço de Albergaria-a-Velha/Aveiro, pelas
implicações ambientais desse tal trajecto.
Foi também dado parecer ao LNEC sobre a velha casa
do Dr. Alberto Souto, em Bonsucesso, para onde se
projecta a transferência do Arquivo Distrital.
Em 18 e 19 de Maio, a Associação participou no
encontro sobre Aveiro – Azulejaria de Fachada, no
Centro Cultural e de Congressos, com intervenção de
vários elementos, entre os especialistas nacionais.
E, na Feira do Livro, esteve em stand próprio
promovendo a venda das suas edições.
Em Junho, apresentaram-se ao IPPAR, para
classificação, os seguintes imóveis:
/
32 /
Casa da Fonte (séc. XVIII), em Albergaria-a-Velha;
Troço de calçada romana (séc. lI), na freguesia da
Branca;
Quinta das Relvas (séc. XVIII), na mesma freguesia;
Quinta do Outeiro (séc. XIX), também na freguesia da
Branca.
Em Setembro, 20 e 21, foi a presença na Arrábida, no
curso dedicado a "1890-1914 as décadas prodigiosas
–
Arte Nova em Portugal e na Europa", coordenado pela
Dr.ª Maria João Fernandes, então presidente da As.
Geral.
Várias reuniões com executivos municipais foram
concretizadas e organizaram-se visitas guiadas,
nomeadamente a A veiro. E ainda "tomámos posição
pública, através de jornais e rádio, em relação a
vários temas, dos quais destacamos: Edifício Severim
Duarte, traçado do IC 1, Teatro Aveirense"(59).
|
A 20 de Novembro, foi decidido tomar posição firme
contra a ideia, apresentada pelo executivo municipal
de Albergaria-a-Velha, de mudar o pelourinho de
Angeja.
Já em 2002, a 13 de Março, foi solicitada ao IPPAR a
classificação da capela da Senhora dos Remédios, em
Pardilhó, Estarreja. E a 22 de Maio, os elementos da
Direcção presentes no Conselho Consultivo do
Património Edificado, Delfim Bismarck e Sérgio
Azeredo, redigem documento(60) alertando para a
urgência na intervenção e defesa da igreja e
convento de S. António e capela da Ordem Terceira de
S. Francisco, na cidade de Aveiro, documento esse
que foi dirigido à Diocese, ao IPPAR, à C. M. de
Aveiro e a outras instituições. |
Capa do primeiro número da revista Patrimónios. |
/
34 /
Nos meses seguintes, concretizaram-se entrevistas
com representantes municipais em Ovar, Estarreja,
Aveiro, Albergaria-a-Velha... e foram acompanhadas
as delegações do IPPAR a Pardilhó e à capela de
Santo Amaro, em Beduído (Estarreja), onde se haviam
encontrado, para além de sepulturas diversos
"achados arqueológicos, nomeadamente uma pequena
lâmina em sílex, com cerca de 10 cm, datada do
Calcolítico"(61). Foram também promovidas, uma
palestra com a Dr. Rosa Pinho, da Universidade de
Aveiro, realizada em parceria com a C.M. Murtosa, e
visitas guiadas à cidade de Aveiro.
A 17 de Julho foi presente à C.M. de Estarreja, um
vasto conjunto de propostas de classificação como
"Imóveis de Valor Cultural Municipal", devidamente
justificadas, relativas a edifícios que se encontram
na área deste Concelho(62). Deste conjunto de
propostas, algumas delas foram igualmente
apresentadas ao IPPAR, resultando posteriores
classificações.
Entretanto, a 29 de Novembro de 2003, houve As.
Geral para a eleição de novos corpos sociais, ali se
apresentando a presidente da Mesa da Assembleia,
Maria João Fernandes, a justificar a sua dedicação à
Associação, nomeadamente na área da Arte Nova – o
que ninguém pôs em causa – ainda que não pretendesse
apresentar qualquer lista para nova direcção. Em
todo o caso, eleito o secretário, Luís Souto de
Miranda, elaborou-se a acta da reunião geral que foi
longa e acalorada, e que ditou algumas alterações
aos Estatutos e, também, os novos corpos sociais –
eleitos por unanimidade dos presentes – que serão
dirigidos por Delfim Bismarck com os vice
presidentes Luís Souto de Miranda e António Sérgio
Azeredo, tendo como presidente da As. Geral, Deniz
Ramos Padeiro e, no Conselho Fiscal, Nuno Pinto
Teixeira.
Desde logo, à nova Direcção se impôs, como todos
reconheceram, o dever de comemorar as "bodas de
prata" da ADERAV... E, neste sentido, entre outras
actividades mais correntes, foi prometido o nº 4 de
Patrimónios, um ciclo de palestras e também umas
jornadas sobre Património Cultural e Natural, além,
claro, da evocação da criação da Associação.
Mas, ainda antes desta celebração, mais um percalço
se levantou... obrigando a Associação a nova mudança
de sede, ainda que com a promessa de se tratar de
"situação temporária".
6. O Boletim ADERAV e outras edições
Quem conheça a história da associação lembrará como
foi difícil fazer o
boletim, por mais simples que ele hoje nos pareça.
Um mar de dificuldades! No tempo em que ele nasceu,
poucos sócios escreviam "artigos", poucas pessoas se
aventuravam... e para fazer uma pequena edição,
havia que procurar tipografias que se prestassem a
fazê-lo. Assumimos constituir uma comissão – "um
corpo redactorial": Énio Semedo, Henrique de Oliveira e
Amaro Neves – como forma de o viabilizar, quer do
ponto de vista da colaboração quer da organização e
revisão, acompanhando-o de perto nas tipografias
(valendo, em muitos casos, a boa vontade do Sr.
Anjos, tanto na Tipave
/
35 /
como na Lito-Águeda), garantindo também, dentro do
possível, os suficientes apoios
para não sobrecarregar os exíguos recursos da
Associação.
Neste campo, o principal obreiro desta tarefa foi
Henrique de Oliveira, labutando com o seu computador,
sobretudo quando este não respondia às exigências do
patrão. Nisto – o seu a seu dono – tudo tinha que
ser reescrito em conformidade com as gráficas e só
ele o fazia... assim se foram ensaiando escritos e
formas de o fazer, com a convicção de que para
garantir a sua unidade e o tempo regular de edição,
se não devia abrir mão da tarefa de coordenação. De
resto, quando ela se quebrou, os resultados não
foram positivos.
A cada novo número, um novo alento se dava, pois
podiam exibir-se "na praça pública", como troféu,
preto no branco, estudos de diferentes autores (bem
queridos ou não do sistema político) e diferentes
temáticas, do natural ou do cultural, mas que todas
traduziam os principais anseios na defesa do
Património. Introduziu-se uma rubrica – o noticiário-intervenção
– que colmatou algumas falhas
de actas e de outros registos, mas em cada um dos
boletins se impunha sempre um levantamento do que
havia sido feito... quando se conseguia. De qualquer
forma, vale a pena comparar o que se conseguia fazer
ao editar o nº 1 com o que se fez como nº 17 ou
18...
Dos Boletins especiais, dois deles tiveram procura
surpreendente e houve até
um caso em que foi necessário fazer reedição.
Mais tarde, entendeu-se mandar encadernar as
colecções de boletins em dois volumes, com
encadernação timbrada pelo símbolo da ADERAV,
evitando que se perdessem alguns boletins.
Duas outras publicações, como boletins, se fizeram,
com muito agrado: a de O
Postal Antigo de Aveiro e a de Homenagem a Armando
Andrade. Aquela, pela sua especificidade, teve uma
adesão imediata e esgotou quase com o fecho da
exposição que a suportou, levando a que os
alfarrabistas solicitassem aquela edição e a
vendessem a preços loucos... e pagou bem o que nela
se apostou! A do Armando Andrade foi na perspectiva
dos apoios às exposições artísticas que se fizeram e
igualmente paga pelas Câmaras de Aveiro e Ovar.
Assim, ao todo, se melhor quisermos, fizeram-se 20
boletins. Para o tempo... foi obra!
Enquanto isto, outras edições, de maior amplitude,
se empreenderam, tais como: Aveiro – História e Arte
(1984), )Os Ílhavos e os Murtoseiros na emigração
Portuguesa (1984), Aveiro – Silhuetas do tempo que
passa (1985), Mendes Leite (1987) e Capelas de
Aveiro (1989).
Editaram-se 4 postais ilustrados e uma serigrafia de
Aveiro antigo (1983), como se esculpiu um busto
alusivo ao centenário de José Estêvão (1983), em
grés. Enquanto tudo isto, criaram-se e editaram-se
vários cartazes alusivos às exposições que se iam
organizando e pequenas outras publicações para
visitas guiadas.
Mais recentemente, sob a coordenação de Delfim
Bismarck, actual presidente, foi lançado um novo
formato e corpo de boletim, sem dúvida mais ousado –
a II série, com o título "Patrimónios" que,
prevendo-se ser semestral, tem mantido a tiragem
anual. O nº 1 apareceu em 2001, o número 2, em
2002, o 3º em 2003 e este, o número 4, em 2004.
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36 /
7. De 25 anos de vida, em plena actividade... uma
reflexão!
Na verdade, cumprem-se 25 anos de vida... Quem se
atreveria a pensar, há uns
anos atrás, que tal ia ser possível? E quantos não
terão desejado, também, que tal não acontecesse, a
avaliar pelas acusações que fizeram aos seus
directores temporários ou às tomadas de posição
assumiram face às situações que se apresentaram?
Mas a verdade é que a ADERAV, se justificava há 25
anos atrás, continua a justificar-se e, por certo,
mais ainda do que ao tempo do seu nascimento.
Porém, importa dizer que só foi possível chegar aqui
por um esforço colectivo
de um punhado de verdadeiros resistentes e
inconformados cidadãos, culturalmente conscientes
das responsabilidades que sobre si recaem, enquanto
cidadãos de corpo inteiro, de "antes quebrar que
torcer"; por uma consciência sólida sobre o
interesse dos nossos valores culturais (naturais ou
construídos) e por uma fé arreigada de que são estes
que nos alimentam o espírito e ajudam a construir em
cada dia a nossa identidade e as nossas diferenças
regionais num espaço cada vez mais alargado que é a
Europa.
Por outro lado, para que a Associação se mantivesse
viva, houve que fazer trabalho sério e continuado,
nunca a fazer de conta que se fez. Por vezes,
enfrentaram-se ameaças graves(63) e sofreram-se
retaliações diversas, quando os poderes económicos e
políticos não gostaram das intervenções... mas nada
nos fez demover.
Fez-se tudo bem feito? Certamente nem tudo correu
bem, houve uns períodos melhores que outros, que
houve, por vezes, atritos pessoais dentro da própria
instituição... mas também se construíram sólidas
amizades no espírito generoso do
aprender a amar as nossas coisas, equipas de
trabalho que se apoiaram numa
construção solidária, numa partilha de saberes muito
ampla, como escola de Humanidade pois que, aqui,
ninguém tirou o lugar a ninguém pela simples razão
de que não havia lugares.
ADERAV é uma organização de pessoas com defeitos e
virtudes, ainda que voluntariamente participantes
com o objectivo de contribuir para que a Região
tenha um desenvolvimento mais harmonioso,
respeitando os valores herdados e, se possível,
aprendendo a transmiti-los às gerações mais novas
nas melhores condições, por amor aos pais e avós,
isto é, à memória colectiva.
Em todo este esforço que foi e continuará a ser
grande, lembrar-se-ão associados que, ao longo do
percurso, foram deixando a Associação, por vezes com
exemplos de luta que muito ajudaram nos grandes
combates e nos momentos menos bons. Eduardo
Cerqueira, João Sarabando, Aristides Hall, João
Ribeiro, Cândido Teles, João Afonso Cristo ... estão
entre os mais recordados!
Por tudo isto, ADERAV vai continuar os mesmos
objectivos gerais. Celebrar 25 anos de vida não foi,
nem nunca se imaginaria tal, um objectivo da
associação. Mas, 25 anos são uma boa razão para mais
reflectir e, certamente, também para festejar.
____________________________________
* Presidente fundador da ADERAV
1 – Ficou estabelecido, no
final da primavera de 76, entre mais de uma dúzia de
"aderentes", que a formalização do grupo se faria no
inicio do novo ano lectivo, o ano de 1976/77.
2 – A circular dizia: Sob a orientação de responsáveis
da Direcção Geral do Património Cultural (Sec. Est.
Da Cultura), vai realizar-se em Aveiro em 8 e 9 de
Junho, no Museu (convento de Santa Joana Princesa).
um seminário subordinado ao tema – "A região de
Aveiro: A Comunidade e o Património Cultural", com a
seguinte ordem de trabalhos: dia 8-21h – Encontro
com os Professores da região de Aveiro – "Escola e
Comunidade"; dia 9 – 9.30h – Experiências realizadas
em Viseu, Coimbra e Aveiro; 11.30h – Visita Guiada
ao Museu, pelo seu Director; 16h – Análise dos
planos de futuro; 21h – Sessão aberta à população.
Desta circular deve dar-se conhecimento a todos os
professores, informando que a participação nestes
trabalhos é considerada serviço oficial e reveste
particular interesse para os docentes de História,
Português e Ed. Visual que se
sintam verdadeiramente empenhados na defesa do
Património Cultural. – Aveiro, 22 de Maio de 1978, A Comissão Executiva
(as. Amaro Neves).
3 – Esta colecção viria a ser, posteriormente,
adquirida pela Câmara Municipal.
4 – Anos mais tarde, o Director penitenciava-se,
alegando que tinha recebido informação de que se
tratava de organização politizada, com objectivos
pouco claros. Afinal, reconhecia... éramos boa
gente!
Importará, para explicar esta reacção, identificá-la
com um "projecto" que se dizia existir, liderado
pelo Dr. David Cristo e outras eventuais figuras
regionais de projecção, chamado "Núcleo de Estudos Aveirenses"
– que teria, diziam, os mesmos objectivos
da ADERAV, projecto para que também fui, mais
tarde, convidado, mas de que nunca se viu obra
realizada, salvo uma conferência e uma edição de um
estudo, com aquele patrocínio.
5 – A relação dos nomes mais participantes consta em
"Como nasceu o projecto", Boletim, n° 17, 1989.
6 – Para a organização do seminário contei, sobretudo,
com Américo Figueira e Henrique Oliveira, cabendo a
este secretariar, a quem coube também a redacção
final dos documentos a enviar para a Direcção Geral
do Património.
7 – É curioso ler, à distância do tempo, o Editorial
do Boletim n° 1, escrito em 1979, a justificar a
razão de ser da Associação.
8 – Foi celebrada na Secretaria Notarial de Aveiro,
perante o notário Dr. Fernando dos Santos Manata, com
os seguintes outorgantes: primeiro, Amaro Ferreira
Neves; segundo, Esmeralda Augusta Pereira Barata
Figueira; terceiro, João
Afonso Rebocho de Albuquerque Cristo; quarto, Júlio
Domingos Pedrosa da Luz de Jesus; quinto, Óscar
Augusto Mendes da Graça; sexto, Rogério Augusto Neto
Barroca.
9 – A Direcção – os corpos sociais
– era constituída
por Amaro Neves (presidente), Américo B. Figueira
(vice presidente)
e os vogais Rogério Barroca, Esmeralda B. Figueira,
Hélio R. Terrível, José Figueiredo da Silva e M.
Gabriela Gonçalves; As. Geral: Deniz Padeiro, João
Marins Ribeiro e Júlio Pedrosa; Cons. Fiscal: Óscar
Graça, Henrique de Oliveira e João Afonso Cristo.
10 – As reuniões decorriam, como antes (salvo as do
grupo mais alargado, que se faziam na Escola
Secundária Homem Cristo), na cave da minha casa, na
Rua Mário Sacramento, 77 3.º - D., assim continuando
até 1982.
11 – Para pormenores do programa, consulte-se o nº
1
do Boletim da ADERAV.
12 – Na reunião com o edil,
Dr. Girão Pereira,
estiveram Amaro Neves, Rogério Barroca e Óscar
Graça, sendo a proposta de defesa da Fábrica Campos
apresentada por este. De notar a preocupação com a
constituição desta delegação: o
presidente da ADERAV e dois arquitectos.
13 – Dessa memória se registaram os pontos principais,
no "noticiário-intervenção" do Boletim nº
1
14 – Livro de Actas. Acta de 9 de Julho de 1979.
(15) – Amaro Neves foi reeleito como presidente, Deniz
Padeiro presidia à Assembleia Geral e Renato Araújo
ao Conselho
Fiscal.
(16) –
"Noticiário/intervenção", Boletim n° 2, Aveiro,1980.
(17) – Acta nº 18, de 21
de Abril de 1980.
(18) – Registe-se que esta "começou por funcionar numa
sede provisória posta ao dispor da Associação por
Amaro Neves, passou depois para uma sala (aliás bem
desconfortável) cedida pela C. M. de Aveiro, sita na
rua Combatentes da Grande Guerra. Tendo a Câmara
procedido à venda do imóvel foi a Direcção avisada
de que deveria proceder à retirada de toda
a documentação [...] Entretanto, para funcionar,
como terceira sede foi cedida uma sala em Aradas,
pelo associado Artur Jorge Almeida" (Boletim
n.º 5,
Aveiro,1981).
(19) – Aveiro estava a viver momentos agitados pela
pretensão, já autorizada pela Câmara Municipal, de
construir o "Edifício Rumo", no centro do Côjo. A
isto se opunha, tenazmente, a ADERAV, pelas
implicações que daí adviriam... o que levou alguns
elementos, numa atitude audaz, a afixarem cartazes,
noite dentro, com vasos de flores, no sitio onde
outros iriam lançar, no dia seguinte, a 1ª pedra da
dita obra. Dirigiu esta acção Aristides Hall e Énio Semedo... com outros, cujos nomes havia que
defender.
(20) – A constituição dos Corpos Sociais está no Boletim
nº 6, Aveiro, 1982. A As. Geral era presidida por
Amaro Neves e como vice-presidente da Direcção
estava Énio Semedo.
(21) – A comunicação foi a cargo de Amaro Neves.
(22) – De há meses que se falava, no executivo
municipal, na necessidade de haver um boletim
informativo, de carácter
cultural. Simplesmente, era necessário que alguém o
fizesse... e não surgia o boletim! Então, consultada
a Comissão
Organizadora e a Direcção da ADERAV, entendeu-se
que o bem geral deve estar acima do particular e foi
oferecido ao
vereador Custódio Ramos todo o "número especial"
preparado para ser Boletim ADERAV, nascendo, assim,
o nº 1 do
"Boletim Municipal de Aveiro".
(23) – Saliente-se que, nas recolhas efectuadas, vários
aveirenses (que não eram associados da ADERAV) como
João
Sarabando, Dr. Moreira Lopes, Gervásio e Carlos
Aleluia... confiaram à comissão, sem reserva nem
qualquer
contrapartida, peças artísticas de reconhecido
valor, das suas colecções. Isto mostra a
credibilidade que ADERAV, pelas
suas acções, havia conquistado na imagem pública.
(24) – O Dr. Carlos Alegre e outros, membros da ADERAV,
continuaram a desenvolver serviços comuns.
(25) – Consulte-se "Noticiário-Intervenção", Boletim
nº
9. 1983.
(26) –Esta referência, positiva, contrasta com a
ausência de actas de Março de 1981 a Maio de 1983.
(27) – Acta nº 40, de 18 de Novembro, 1983.
(28) – "Noticiário-Intervenção", Boletim nº 11, Maio de
1984. De facto, ainda antes do verão desse ano, o
referido catálogo
estava esgotado. A respectiva comissão organizadora
foi constituída por Amaro Neves, António J. Cruz
Mendes, Artur
Jorge Almeida, Casimiro Ferreira, Henrique de Oliveira,
João Afonso Cristo, João de Meio Freitas, Lourenço
Santos,
Manuela Salomé, M. Helena Lucas e Rogério Barroca.
(29) – Idem, Ibidem.
(30) – A Comissão Organizadora foi constituída por Amaro
Neves, Énio Semedo e Cândido Teles.
(31) – Em Boletim nº 14, 1985, apresentam-se as
conclusões e uma memória da 21 colectividades
presentes.
(32) – A explicação vem no "Notícíário-Intervenção" do
Boletim nº 14, considerando os primeiramente eleitos
que os sócios presentes na eleição tinham sido
poucos em relação ao total do colectivo.
(33) – Acta nº 12, de 10 de Março de 1986.
(34) – A Comissão Organizadora foi constituída por Amaro
Neves, Cândido Teles e Énio Semedo.
(35) – Especialmente da "comissão" Amaro Neves, Énio
Semedo e Artur Jorge Almeida.
(36) – De verdade, este Boletim não foi feito pelo
"corpo redactorial", surgindo problemas diversos que
o tempo foi
ajudando a resolver.
(37) – Foi grande a sua aceitação, beneficiando das boas
relações de amizade do Sr. Luís Costa, sempre disponível para promover esta região e os seus
valores culturais.
(38) – Como se depreende, nem sempre foi tudo tão
cordial quanto se desejava, mas os objectivos
fundamentais prevaleciam para além dos desacertos de
momento.
(39) – Na Acta nº 16, de 29 de Julho de 1986, a Direcção
congratulou-se pelo êxito deste certame, "cuja
comissão integrou os seguintes associados: Cândido Teles, Amaro neves, Énio Semedo, João Gaspar e Paulo
Rebocho".
(40) – Por mercê da aquisição do Semanário Litoral
(Amaro Neves e Armando França), a partir de 1985, os
textos e actividades da ADERAV passaram a ter ali
particular destaque, ao mesmo tempo que eram
abordadas com frequência as problemáticas globais da
Defesa do Património Natural e Cultural da Região de
Aveiro. Aliás, em Acta de 18 de Fev., a Direcção da
ADERAV propõe um concurso sobre Património
Cultural, a ter efeito nas páginas do Semanário
Litoral.
(41) – Énio Semedo e Artur Jorge Almeida.
(42) – Consta como aprovada a edição, na última reunião
da Direcção anterior. Veja-se Boletim nº 17. ADERAV,
Aveiro, 1989. Apesar de muito sucinto sobre a
fundação, remetemos para esse trabalho o leitor,
evitando repetir alguns apontamentos então
produzidos.
(43) – "Noticiário-Intervenção", Boletim nº 17, Agosto
de 1989.
(44) – A organização e revisão dos textos foi feita por
Amaro Neves.
(45) – No final de Novembro, foi decidido ofertar a esta
Câmara Municipal «175 volumes de obras editadas pela ADERAV, para serem distribuídas a escolas e
associações culturais», encarregando-se da entrega a
associada M. José Ouellet ("Noticiário", Boletim nº
18, Aveiro, Nov. de 1990).
(46) – Dessa comissão fizeram parte os associados (por
ordem alfabética): Amaro Neves, Artur Fino, Cândido
Teles, Emanuel Cunha, Énio Semedo, Fernando J.
Morgado, Jeremias Bandarra, João G. Gaspar e Vasco
Branco, sobrando apenas dois outras elementos: Faria
Frasco e Henrique Diz.
(47) – Boletim nº 18.
(48) – Idem.
(49) – Edição de 20-07-1990.
(50) – Por ordem alfabética: Amaro Neves, Artur Fino,
Cândido Teles, Emanuel Cunha, Énio Semedo, Jeremias
Bandarra,
João Gaspar e Vasco Branco. Aliás, estes elementos
mantiveram-se igualmente, na realização da III
Bienal, em 1993,
com repetido êxito. As seguintes edições foram
sendo, cada vez mais, assumidas pelos serviços
municipais (ainda que
com intervenções pontuais dos associados, como, por
exemplo, as sessões de abertura e de intervenção
sobre a História
da Cerâmica na região), institucionalizando o
certame.
(51) – Catálogo da II Bienal Internacional de Cerâmica Artística
– Aveiro 91, C.M. Aveiro, 1991. Os
catálogos foram da
concepção do artista gráfico Artur Fino, com a
colaboração de Jeremias Bandarra.
(52) – Era composta por Maria João Fernandes "de quem
apresentou currículo", Manuel Rodrigues, Manuel
Barreira, Cardoso Ferreira, António Sérgio Azeredo,
M. Gabriela Faria, José Maria. A DI" Maria João
Fernandes, não residindo em A veiro mas interessada
no seu estudo por raizes familiares, havia-se
inteirado da situação da ADERAV e propunha-se, com
alguns apoios, faze-la renascer, face aos
reconhecidos bons serviços que por esta associação
se haviam
prestado, em vez de pessoalmente se estarem a criar
organismos paralelos... e, nisto, colheu boas
vontades, sendo
primeira preocupação da presidente relançar o debate
sobre a "Arte Nova", a partir de uma publicação que,
sobre este
tema, se estava a ultimar.
(53) – Mantiveram-se por todo o mandato (até 2002),
neste órgão, os seguintes elementos: Amara Neves,
António Sérgio
Azeredo, Delfim Bismarck, Pedro Silva ...
(54) – A organização deste evento foi partilhada entre a
Câmara Municipal e ADERAV, com a participação
directa de vários associados como palestrantes.
(55) – O mais visível foi protagonizado (certamente por
questões pessoais contra a presidente e/ou Direcção
para que fora eleito) no Campeão das Províncias de
11 de Fev. de 1999 e seguintes, obrigando o
presidente da As. Geral, nas edições sequentes, a
defender a Associação, enquanto a presidente
prestava os necessários esclarecimentos.
(56) –Livro de Actas. Acta nº 44.
(57) – A listagem destas propostas encontra-se publicada
em Patrimónios, nº 1, Aveiro, 2001, pg.153-157.
(58) – A apresentação teve lugar a 5 de Maio, com vasto
auditório, no Museu da República, aproveitando-se
para comemorar o 22º aniversário da associação.
(59) – Revista Patrimónios, nº 2, 11 série, Aveiro,
2002, pg. 159.
(60) – O texto está inserto na revista Patrimónios, nº
3, Aveiro, 2003, pg. 151.
(61) – Idem, pg 154.
(62) – A relação consta de Patrimónios. nº 3. Aveiro,
2003. pg. 155-158.
(63) – Casos relacionados com a construção do "Edifício
Rumo", projectado para o centro de Aveiro, no local
onde se
encontra o Forum... |