Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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A câmara escura e a
lanterna mágica constituem os antepassados mais longínquos da máquina fotográfica
e das modernas máquinas /
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de projectar. A câmara escura deveria já ser
conhecida na Antiguidade, mas o seu estudo rigorosamente científico só foi
efectuado a partir do século XVI por
Leonardo
da Vinci
,
que, nos seus documentos escritos,
datados de 1558, efectua a descrição do princípio óptico, referindo mesmo a
possibilidade de obtenção de imagens com absoluto rigor de forma e de cor
através da sua projecção sobre uma folha de papel branco. A
lanterna mágica só no
século XVII foi inventada, tendo-se ficado a dever ao jesuíta alemão Atanásio
Kircher
[1].
Constitui o antecessor dos modernos sistemas de projecção (diapositivos e
cinema) e era um sistema de projecção de imagens sobre um ecrã branco. As
gravuras a projectar eram desenhadas à mão sobre lâminas de vidro. Alguns anos após a invenção
da lanterna mágica, que Kircher descreve na obra Ars
Magna Lucis et Umbrae, o dinamarquês
Walgenstein
substituiu, em 1660 o processo de iluminação por luz artificial. Apesar de ter
constituído inicialmente uma forma de diversão, foi desde muito cedo utilizada
como recurso pedagógico. De acordo com a informação fornecida por Henri
Dieuzeide[2],
num período anterior à Revolução Francesa,
«Parot, preceptor do Delfim, propunha que
se utilizasse a lanterna mágica para difundir, de uma forma sistemática,
"da China ao Canadá", imagens em vidro, cuja eficácia ele tinha
podido comprovar no seu ilustre e enfadonho pupilo.» Pouco tempo depois, são
dadas a conhecer as vantagens da lanterna mágica por Jean-Paul Marat, numa
comunicação feita à Academia, mas as suas palavras não produziram qualquer
efeito, o mesmo sucedendo a Émile Raynaud, inventor do teatro óptico, por
volta de 1873, que recorreu a projecções para ilustrar os seus cursos.
Curiosamente, um escritor português faz referência, em meados do século XIX,
à utilização da lanterna mágica como recurso educativo. Na obra A
cidade e as serras, Eça de Queirós é o primeiro entre nós a sugerir o
emprego das imagens projectadas por meio de uma lanterna mágica como uma forma
eficaz de ensinar adultos analfabetos. Aliás, Jacinto, a personagem queirosiana
que decide iniciar uma actividade educativa junto dos habitantes da sua região,
pensa não apenas no recurso às imagens projectadas como forma de educação,
mas também na utilização de livros com estampas: «Jacinto
meditava o bem das almas. Já encomendara ao seu arquitecto, em Paris, o plano
perfeito duma escola, que ele queria erguer, naquele campo da Carriça junto à
capelinha que abrigava «os ossos». Pouco a pouco, aí criaria também uma
biblioteca, com livros de estampas, para entreter, aos domingos, os homens: a
quem já não era possível ler. Eu vergava os ombros, pensando:- «Aí vem a
terrível acumulação das noções! Eis o
livro invadindo a serra!»
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Perante o cepticismo do
amigo, que ao saber que Jacinto também quer fundar uma creche lhe diz que só
falta criar também um teatro, Jacinto responde-lhe que não será um teatro,
aquilo que pensou, mas sim uma sala para projecções: «- Não te falta senão um teatro! dizia eu, rindo. - Um teatro, não. Mas tenho a ideia duma sala, com projecções
de lanterna mágica, para ensinar a esta pobre gente as cidades desse mundo, e
as coisas de África, e um bocado de história.[3]» Só passados vários anos, graças
a sucessivos aperfeiçoamentos técnicos, a projecção de imagens fixas começou
a conquistar lentamente terreno no campo pedagógico. O advento da fotografia e
os processos de inversão do negativo em positivo permitiram uma maior
facilidade e rigor na obtenção de imagens projectáveis, tornando-se os
diaprojectores bons auxiliares no campo do ensino, passando a constituir um dos
diferentes recursos educativos englobado pela expressão «meios audiovisuais»,
sendo a técnica da projecção fixa, no dizer de H. Dieuzeide, «aquela
que possibilita mais facilmente uma base de lição e de estudo colectivo
aprofundado, sob o controlo do professor, para todas as disciplinas documentais
e a qualquer nível (...).[4]» A introdução do projector
de diapositivos como recurso educativo começa a ser encarado pelos pedagogos em
toda a Europa e no continente americano a partir dos começos deste século,
tendo conhecido um elevado incremento sobretudo durante e após a Segunda Grande
Guerra. Além do diaprojector ou
projector de diapositivos, cujo antepassado é a lanterna mágica, existem
actualmente outros sistemas de projecção de imagens fixas: o episcópio, o
retroprojector e o data display. O
episcópio permite projectar imagens existentes em suportes opacos, tais como
livros, enciclopédias, fotografias, postais ilustrados, etc., exigindo o total
escurecimento da sala, condição importante para que as imagens projectadas
possam ser observadas em boas condições. O retroprojector, recurso tecnológico
mais recente ao serviço da educação, permite projectar não só imagens em
suportes transparentes, mas também objectos opacos, obtendo-se imagens em
silhueta. Tem a grande vantagem sobre os outros sistemas de não necessitar do
escurecimento da sala. Este recurso, juntamente com o data display, pequeno ecrã de cristais líquidos que se coloca
sobre o retroprojector, permite projectar imagens provenientes de um computador,
fazendo com que apenas um único aparelho destes possa ser utilizado com melhor
rendimento por toda uma turma. Tal como refere McClusky[5], a educação é conservadora e geralmente só muitos anos após a sua invenção certos recursos tecnológicos começam a ser utilizados pelos técnicos do / 52 / ensino. Apesar do advento da fotografia, a partir do século XIX, e das inovações técnicas introduzidas na lanterna mágica, que a conduziram aos modernos sistemas de projecção fixa, só a partir de 1920 começaram a surgir firmas comerciais que se dedicaram à produção de transparências para projecção com objectivos didácticos. Uma das primeiras firmas especializadas na produção, quer de máquinas de projectar, quer de transparências, foi a Keystone View Company de Meadville, na Pensilvânia, que se tornou conhecida pela produção de diapositivos e estereogramas para uso escolar. [1] - Atanásio Kircher (1601-1680), jesuíta de origem alemã, foi ordenado sacerdote em 1628 e fixou-se em Roma em 1635. Além da lanterna mágica, inventada em 1650, Kircher é considerado o pai da história da música e inventor de duas máquinas, uma para escrever e a outra para compor música. [ Consulte-se a recensão bibliográfica efectuada em 2012. ] [2] - Henri DIEUZEIDE, As técnicas audiovisuais no ensino, Col. Saber, nº 67, 2ª ed., Lisboa, Publicações Europa América, 1973, pp. 18-19. [3] - EÇA DE QUEIRÓS, A cidade e as
serras, Obras de Eça de Queirós, 1ª ed., Lisboa, Lello & Irmão,
1958, vol. I, pp.
479-480. [4] - H. Dieuzeide, op. cit., p. 49. [5] - F. Dean McClusky, "Introdução" à 2ª parte da obra citada de P. Saettler, pp. 78-81. |
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