Henrique J. C. de Oliveira, Os Meios Audiovisuais na Escola Portuguesa, 1996. |
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Apesar
de, segundo Descartes, as imagens poderem ser fonte de erro e apenas «as
regras luminosas do método» e da razão, pela análise metódica daquilo
que se observa, permitirem chegar ao verdadeiro conhecimento, a verdade é que,
a partir do século XVIII, vão surgir na Europa obras de divulgação do
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conhecimento que se apoiam de maneira significativa no primado da imagem,
estando a informação verbal muitas vezes reduzida ao mínimo, a pequenas legendas
nas quais se indicam os nomes dos objectos e dos respectivos elementos que os
constituem. Entre as várias enciclopédias
publicadas na Europa (Inglaterra e Alemanha), destaca-se a primeira grande
enciclopédia francesa, cuja realização foi encetada por Diderot, principal
animador e redactor de várias áreas do conhecimento humano (filosofia,
literatura, moral, religião, política), e que teve a participação de
D'Alembert e de outros especialistas, de acordo com as diferentes áreas de
especialização. Tal como se pode ler no Discurso
Preliminar, da autoria de D'Alembert, no campo tecnológico, houve o cuidado
de representar «os esquemas das máquinas
e dos utensílios. Nada foi omitido do que podia mostrá-los distintamente
aos olhos [o sublinhado é nosso]. No
caso em que uma máquina mereça pormenores pela importância do seu uso e pela
quantidade de componentes, passou-se do simples ao composto. Começou-se por
juntar numa primeira gravura tantos elementos quantos os possíveis de observar
sem confusão. Numa segunda gravura, vêem-se os mesmos elementos com alguns
outros», de modo a mostrar, de maneira clara e sucessiva de que modo é
constituída uma máquina mais complicada, «sem
nenhum embaraço nem para a inteligência, nem para os olhos.»[1] A consulta desta obra permite verificar que, além dos textos mais ou menos desenvolvidos sobre diferentes temáticas, houve o cuidado particular em representar rigorosamente pela imagem, em pranchas rigorosamente desenhadas, tudo quanto diz respeito a objectos, instrumentos diversos e recursos tecnológicos da época, desempenhando a imagem, em muitos casos, o suporte principal de transmissão de conhecimentos, fazendo-se corresponder a cada objecto ou a cada componente uma referência numérica com a respectiva legenda. O recurso à imagem como forma de representação de projectos e inventos tecnológicos era já prática corrente em séculos anteriores, sendo célebres, por exemplo, os documentos que chegaram até nós de Leonardo da Vinci, cujo rigor do desenho permitiu nos nossos dias reconstituir alguns projectos que não chegaram a ser concretizados pelo autor. O recurso a desenhos anatómicos, por exemplo, foi desde muito cedo prática corrente no ensino da medicina, sempre que não era possível recorrer à observação directa. [1] - D'Alembert, Discours Préliminaire. In: L'Encyclopédie,
apud André LAGARDE e Laurent MICHARD, XVIIIe
Siècle, Paris, Bordas, 1964, pp. 236-248. |
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