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DIAS, Diamantino –, Glossário. Designações relacionadas com as Marinhas de Sal da Ria de Aveiro, Aveiro, C. M. A., 1996, págs. 47 a 60.

Glossário

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Envieirar
Juntar o sal ou, durante a fase de preparação da marinha, o moliço, nos vieiros.
O mesmo que Quebrar.
 

Enxada de correr liames
Enxada pequena utilizada para compactar os liames.

 

Enxada de cortar torrão
Enxada com uma pá de 20 x 20 cm., usada, não só com o fim específico que o seu nome indica, mas também em reparações diversas, por exemplo, dos muros.

 

Escabelada
Destruição da parte superior de um muro, provocada pela passagem da água em marés anormalmente altas, estrago este que, se não for reparado a tempo, provoca o aparecimento de uma cambeia.

 

Escada
Escada, por vezes, de lanços, que se encosta ao monte de sal, para colocar a bajunça na sua parte superior, durante a operação de cobrir.

 

Escoar a água-mãe
Ugalhar a água-mãe dos meios de baixo para os meios de cima, por cima do tabuleiro do meio, com o ugalho de bulir.

 

Escoar a marinha
Trabalho preparatório que consiste em vazar a água de alagamento do ano anterior, através da bomba de tubo.

 

/ 48 / Espanadela
Acção de espanar.

 

Espanar
Dar molhaduras aos meios, com o ugalho da lama, com o fim de compactar e salgar a praia.

 

Estar com barbeiro
Quando, durante a fase de produção, a água chega aos cristalizadores com uma graduação inferior a 25 graus Baumé, logo, insuficiente para uma satisfatória produção de sal, diz-se que a marinha está com barbeiro, o que equivale a dizer que está com pouca força.

 

Esteiro
Canal da Ria que não permite a navegação na maré baixa.

 

Estrangedura
Acção de estranger.

 Estrela. Foto C. M. Aveiro.

Estranger
Limpar os cristalizadores das lamas e moliço, utilizando os ugalhos da lama e as almanjarras.

 

Estrela
Veja-se Monte de sal.
O mesmo que Mancheia e Mão cheia.

 

Estrelar
Iniciar o monte de sal.

 

/ 49 / Extrema
Divisória entre duas salinas de diferentes proprietários, definida por um muro ou uma simples baracha.

 

Falheiras
Veja-se Casqueiros.

 

Faxinas
Estacas de madeira usadas para construir a sapata da defensão.

 

Fazer a marinha
Veja-se Amanhar a marinha.

 

Fechar o mandamento
Quando as peças desta ordem têm água suficiente para o governo do dia seguinte, fecham-se as respectivas bombinhas, com as palmetas, e encosta-se-lhes lama, com a pá de amanhar, para garantir uma boa vedação.
Veja-se Abrir o mandamento.

 

Fechar o tabuleiro
Quando os cristalizadores têm água para suprir as necessidades do dia, fecham-se os correspondentes portais, com um pouco de lama, depois de os desensebar convenientemente; dado que se trata de uma operação de muita responsabilidade e que requer muita técnica fica a cargo do marnoto.
Veja-se Abrir o tabuleiro.

 

Feira dos moços
Até princípios dos anos oitenta, no dia 25 de Março — data da inauguração da secular Feira de Março — e nalguns Domingos subsequentes, os moços, que pretendiam trabalhar nas marinhas, reuniam-se, nos Arcos e na Ponte Praça — antes desta existir,
/ 50 / o local de encontro era a ponte do lado poente —, esperando serem contactados pelos marnotos, que os poderiam contratar para toda a safra, por uma importância a acordar entre as duas partes interessadas, em função dos conhecimentos do trabalho de salinagem e da aptidão física.
O contrato era normalmente ratificado com o tradicional alborque.

 
Feira dos moços, em 25 de Março de 1976. Fotografia de Énio Semedo.

Feitura
Fase da safra que se segue à botadela e durante a qual se procede à colheita e conservação do sal.
O mesmo que Produção.

 

Ficar na areia
Diz-se que a marinha fica na areia, quando se tenta fazer a botadela sem que as moiras tenham a concentração necessária, pelo que os resultados não são os melhores.
O mesmo que Não pegar a marinha.

 

Ficar no fundo
Uma marinha fica no fundo, quando se mantém inundada, sem se recuperar para a sua actividade principal.
 

Foicinha.
Foicinha

Foicinha
Foice que serve para abrir os portais, para além da função normal de cortar a bajunça e ceifar as ervas dos muros, as quais, especialmente depois de secas, podem ser mais uma impureza a juntar a muitas outras contidas na água.

 

Folsa
Pequeno canal sem saída que liga o esteiro à marinha.

 

/ 52 / Forrar
Revestir, em especial, as carreiras, os machos e o tabuleiro do sal, com tábuas, tendo em vista reduzir a conspurcação das moiras, com o Iodo que escorre destas divisórias, quando chove.

 

Géniga
Água da Ria que se infiltra através da defensão.

 

Gesso
Veja-se Codejo.

 

Governar o mandamento
Veja-se Abrir o mandamento.
O mesmo que Amanhar o mandamento.

 

Governar o tabuleiro
Veja-se Abrir o tabuleiro.

 

Greiros
Aberturas na defensão, para facilitar o escoamento da marinha.

 

Imoirar
Meter águas concentradas das cabeceiras, nos meios de cima.
O mesmo que Meter moiras.

 

Intervalo
Veja-se Entraval.

 

/ 53 / Junça
Veja-se Bajunça.
O mesmo que Castanhol.

 

Laboiros
Pequenos montes de moliço, juntos com o ancinho, na altura da limpeza das marinhas.

 

Lacrimais
Orifícios de comunicação entre as carreiras dos lacrimais e os meios de cima. O mesmo que Lagrimais.

 

Lagrimais
Veja-se Lacrimais.

 

Lamas novas
Lamas depositadas durante a época invernosa.

 

Levar a praia a seco
Veja-se Dar sol.
O mesmo que Pôr ao sol e Secura.

 

Liames
Conjunto das barachas, barachinhas, canejas, carreiras, machos, tabuleiro do meio, tabuleiro do sal e travessas.
Veja-se Liames finos e Liames grossos.

 

Liames finos
As barachinhas e as canejas.

 

/ 54 / Liames grossos
As barachas, as carreiras, os machos, o tabuleiro do meio, o tabuleiro do sal e as travessas.

 

Limpeza
Trabalhos preparatórios da salina, no início da época, essenciais para o seu bom funcionamento.

 
Transporte do sal da marinha nova ao longo de um macho. Foto C. M. Aveiro

Lodo
Pó proveniente dos liames, arrastado pelas chuvas, que suja o sal depositado nos cristalizadores.

Machos
Muretes de secção rectangular, situados de seis em seis meios, por onde passa o pessoal; por vezes, são forrados, lateralmente, com tábuas, para melhor resistirem aos estragos provocados pela invernia e se reduzir as possibilidades de poluição do sal com o lodo.


  Maço

Maço
Grande martelo de pau rijo, com um cabo de 1,1 m., utilizado para cravar e consolidar a estacaria e as barachinhas de madeira.

 

Malhada
Espaço entre o intervalo e o malhadal, onde se depositam, para secar, as lamas e o moliço, que, mais tarde, se levam para o malhadal, onde servem de adubo às pequenas hortas.

 

Malhadal
Muro largo que se segue à malhada e onde se situam as eiras e o palheiro.
Por vezes, o marnoto cultiva, neste terreno, uma pequena horta, onde é frequente ver
/ 56 / uma figueira ou uma parreira arrimada ao palheiro, cujos frutos são utilizados como sobremesa, nas parcas refeições do pessoal.

 

Manchas
Aglomerados de sal, nos meios de cima, provocados por uma grande concentração das moiras provenientes do mandamento.
Quando tal acontece, passam, também, a utilizar-se, como cristalizadores, as cabeceiras, os meios falsos e os casqueiros.

 

Mancheia
Veja-se Monte de sal.
O mesmo que Estrela e Mão cheia.

 

Mandamento
Ordem evaporadora da salina, em cujos reservatórios (caldeiros, sobre-cabeceiras, talhos, cabeceiras e, excepcionalmente, caldeirões), se deposita grande parte, não só das impurezas transportadas pela água, mas também dos sais de ferro, carbonato de cálcio e gesso.

 

Mandamento dormente
Mandamento cuja queda é insuficiente, pelo que as águas arreiam com dificuldade; para compensar este defeito, aumenta-se a altura de água nos algibés e caldeiros.

 

Mandamento verde
Mandamento que não está, ainda, devidamente curado.

 

Mão cheia
Veja-se Monte de sal.
O mesmo que Estrela e Mancheia.

 

/ 57 / Mãos
Uma salina divide-se, para fins de redura, em três mãos, cada qual com um terço dos meios da marinha, podendo-se, assim, rer, todos os dias, uma das mãos, já que três dias, com condições climatéricas favoráveis (vento e calor), são suficientes para que o sal se deposite em quantidade satisfatória, no fundo dos cristalizadores.

 

Marachas
Veja-se Barachas.

 

Marinha
1. Ordem cristalizadora da salina, ou seja, a marinha propriamente dita, composta pelos meios.
2. Veja-se Marinha de sal.
O mesmo que Salina
 


Marinhas Balacozinha, Rata e Ponte, do grupo de S. Roque / Esgueira. Foto C. M. Aveiro.

 

Marinha botada
Salina que se encontra na fase de produção.

 

Marinha da borda
Salina situada longe do canal de comunicação entre a Ria e o mar.

 

Marinha de baixo
Andaina que se segue à marinha de cima.
O mesmo que Marinha velha.

 

/ 58 / Marinha de cima
Andaina contígua ao mandamento.
O mesmo que Marinha nova.

 

Marinha de popa ao Norte
Salina cujo eixo está orientado no sentido Norte-Sul, com o viveiro a Norte e a marinha propriamente dita a Sul.
Esta orientação é a mais recomendável, na medida em que permite que os ventos de Noroeste, dominantes na região durante a safra, percorram a salina diagonalmente, auxiliando a evaporação e facilitando a mistura das águas frescas, provenientes do viveiro, com as águas antigas, que se encontram nos restantes compartimentos.

 

Marinha de popa ao Sul
Salina mal orientada, com o viveiro a Sul.
Veja-se Marinha de popa ao Norte.

 

Marinha de sal
Instalação a céu aberto, destinada a obter, por evaporação, o sal dissolvido na água da Ria.
Numa salina, há as seguintes peças principais: viveiro, algibés, caldeiros, sobre-cabeceiras, talhos, cabeceiras, meios de cima e meios de baixo.
É construída, essencialmente com lamas, em plano inclinado, situando-se o viveiro na parte superior e as andainas na inferior, para que a água passe de um compartimento para o seguinte só por acção da gravidade.
Deve situar-se num local bem exposto aos ventos dominantes, tendo em vista facilitar a evaporação, e o mais próximo possível do canal de comunicação entre a Ria e o mar, para tomar água com boa concentração salina.
O mesmo que Marinha e Salina.


Marinhas. Foto Mário Marnoto.

Marinha de viveiro à ilharga
Salina irregular, com o viveiro paralelo à couraça, ou seja, no sentido do comprimento, que, por força desta disposição, toma e escoa água pelo mesmo esteiro.

 

/ 59 / Marinha do mar
Salina situada perto do canal de comunicação entre a Ria e o mar.

 

Marinha dobrada
Salina com duas andainas — uma na marinha nova e outra na marinha velha.

 

Marinha forte
Salina que possui grandes comedorias e um bom mandamento e cuja situação lhe permite tomar água de alta concentração salina, nas marés vivas. O mesmo que Marinha Valente.

 

Marinha fraca
Salina cujas comedorias são insuficientes para alimentar as restantes ordens, durante quinze dias, pelo que tem de tomar água fora das marés vivas.

 

Marinha fria
Diz-se que a marinha está fria, quando, na altura das espanadelas, a água das poças dos meios tem menos de 23° Baumé.

 

Marinha mista
Salina em parte dobrada, em parte singela, ou que tem casqueiros para além dos cristalizadores normais.

 

Marinha moleirinha
Salina cujo solo é de natureza argilosa.

 

Marinha nova
Veja-se Marinha de cima.

 

/ 60 / Marinha podre
Salina que não consegue manter a dureza necessária do fundo dos cristalizadores, por existirem nascentes de água doce no seu subsolo.

 
Marinha velha. Foto de Joaquim Félix.

Marinha quente
A marinha está quente, quando se está a espanar e a água das poças dos meios tem 25° Baumé, estando, portanto, a salgar.

 

Marinha singela
Salina com uma só andaina.

 

Marinha valente
Veja-se Marinha forte.

 

Marinha velha
Veja-se Marinha de baixo.

 

Marinha virada
Segundo os marnotos, quando, por força das condições atmosféricas (Nordeste e muito calor), a secura é muito forte, abrem-se rachas na praia do mandamento. Assim, se a água da primeira rega é muito doce, os sais de ferro, existentes no subsolo, vêm à superfície, tornando a água avermelhada; diz-se, então, que a marinha está virada ou com viradela, sendo necessário dar de novo sol, a fim de recuperar a praia.
O mesmo que Viradela.

 

Marnoto
Homem que trabalha nas marinhas de sal e dirige a sua exploração, sendo este o nome que prevalece no Salgado da Ria de Aveiro.
O mesmo que Salineiro.

 

 
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