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DIAS, Diamantino –, Glossário. Designações relacionadas com as Marinhas de Sal da Ria de Aveiro, Aveiro, C. M. A., 1996, págs. 33 a 46.

Glossário

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Caldeirões
Algumas raras marinhas, dotadas de grande superfície de evaporação, possuem estes compartimentos que actuam como uma segunda ordem de algibés.

 

Caldeiros
Reservatórios de forma rectangular, com uma altura de água aproximada de 8 cm., situados entre os algibés e as sobre-cabeceiras, e que são as primeiras peças do mandamento; a largura de cada caldeiro é igual à de três meios.

 

Cale
Canal da Ria que permite a navegação com qualquer maré.

 

Cambeia
Ruptura verificada na defensão, provocada, designadamente, pelas seguintes causas: mau tempo, correntes fortes, ondas provenientes da navegação a motor ou, ainda, galerias abertas pelas ratazanas.


 

Camisa
Ligeira camada de sal que se deixa no fundo dos cristalizadores, após as primeiras rapações, a fim de evitar que, quando se rê, a areia dos vieiros venha misturada com o sal.

 

Canastras
Cestas utilizadas, principalmente, no transporte de sal, à cabeça, com uma capacidade que varia entre 60 e 80 quilos para os homens, sendo de 50 quilos quando utilizadas por mulheres; podem transportar-se, também, nelas, moliço, codejo e lamas.

/ 34 /
Nas marinhas, o sal é normalmente levado, pelos moços, do tabuleiro de sal para as eiras e destas para os saleiros, enquanto que na descarga dos barcos para os armazéns, o mais das vezes, são as salineiras que se ocupam desta tarefa.
Hoje em dia, há armazenistas que se socorrem de passadeiras mecânicas para carregar e, muito especialmente, descarregar as embarcações.
 


Canastras a secar, encostadas ao palheiro. Foto de João Salgueiro.

Canastras de roda
Veja-se Abrir roda.

 

Canejas
Pequenas valas que levam a água, directamente, das carreiras dos lacrimais para os meios de baixo, alimentando, cada uma, dois meios.

 

Canejeiro
Veja-se Cabeça de carneiro.

 

/ 35 / Capar o torrão
Separar o torrão da torroeira, com um último golpe de enxada, fazendo-se, assim, o cu do torrão.

 

Capelo
Camada de lama que remata, superiormente, a defensão.
O mesmo que Coroa.

 

Carreiras de longo
Valas que alimentam os meios com água dos talhos, durante as curas; situam-se, geralmente, de duas em duas cabeceiras.
Quando estas últimas peças do mandamento funcionam como cristalizadores, as carreiras são continuadas, até aos talhos, por uma vala com esta designação, que abastece, directamente, as cabeceiras e as marinhas propriamente ditas.
Assim, as carreiras grandes e pequenas são também conhecidas, respectivamente, pelos nomes de carreiras de longo da marinha nova e da marinha velha.
Veja-se Couraça.
O mesmo que Carreiras grandes.
 


Carreiras dos lacrimais e meios de cima da marinha nova, em seco após a estrangedura. Foto de Costa e Melo.

 

Carreiras dos lacrimais
Veja-se Caixas da carreira.

 

Carreiras grandes
Veja-se Carreiras de longo.

 

Carreiras pequenas
Valas que continuam as carreiras grandes, ao longo da marinha nova, e que sustentam a marinha velha; constroem-se, geralmente, de seis em seis meios,
/ 36 / delimitando, assim, os talhões.
Veja-se Carreiras de longo.
O mesmo que Carreirinhas.

 

Carreirinhas
Veja-se Carreiras pequenas.

 

Casqueiros
1. Cristalizadores suplementares, sem os correspondentes meios de cima, cuja alimentação se processa através dos meios de cima da marinha velha que lhe ficam próximos.
2. Aparas de pinheiro utilizadas para a construção dos muros.
O mesmo que Falheiras.

 

Castanhol
Veja-se Bajunça.
O mesmo que Junça.

 

Cavaletes
Veja-se Prancha.

 

Chão encaldado
Presença de agulhas entre o sal comum.
O mesmo que Chão entabuado e Enjoo.

 

Chão entabuado
Veja-se Chão encaldado.
O mesmo que Enjoo.

 

/ 37 / Chapear
Reforçar com lama a cobertura de bajunça dos montes.

 

Circiar
Cilindrar os fundos dos cristalizadores e dos alimentadores com o círcio, para os compactar e impermeabilizar.

 

Círcio
Cilindro de madeira, com um diâmetro entre 40 a 60 cm., e uma distância entre eixos de 1,1 m., com duas hastes chamadas moeiras, cujos elos se adaptam aos quícios; é utilizado no nivelamento do parcel dos alimentadores e cristalizadores.

 

Cobrir
Revestir os montes com bajunça, para preservar o sal da chuva. Há alguns anos a esta parte, há marnotos que têm vindo a substituir a cobertura tradicional por telas plásticas e redes.

 

Codejo
Sulfato de cálcio que se deposita, principalmente, nos meios de cima e nas cabeceiras, quando funcionam como alimentadores, entre os 13 e 27 graus Baumé, se bem que os marnotos observem a precipitação mais significativa entre os 18° e 24° Baumé.
/ 38 / Depois de rapado, o codejo fica a secar no tabuleiro do sal, sendo, em seguida, transportado para o malhadal, onde serve de adubo às pequenas hortas, ou, ainda, para as peças mais fundas do mandamento, para fazer subir o nível do respectivo parcel, quando esta ordem não tem a queda suficiente.
O mesmo que Gesso.

 

Comedorias
Ordem onde se efectua o armazenamento de água da salina, composta pelo viveiro e os algibés.

 

Coroa
Veja-se Capelo.

 


Cobrindo o monte com bajunça. Foto de Rota da Luz.

 

Coroar
Veja-se Baldear.  O mesmo que Encapelar.

 

Corredor de barachinhas
Veja-se Alferes.  O mesmo que Anafador.

 

Correr os liames
Compactar, impermeabilizar e alisar os liames, a fim de não os deixar abrir fendas.
 

Corta barachas do mandamento
Alfaia com uma lâmina trapezoidal, em aço, de 1 m. de base, por 18 cm. de altura, com cabo em ferro, usada para cortar as barachas do mandamento, quando há necessidade de aumentar as áreas dos diferentes reservatórios desta ordem, sendo esta uma tarefa para três homens: dois para puxar pelas cordas amarradas em orifícios abertos, no cabo, junto à lâmina, e outro para manter a direcção pretendida.
Tanto quanto se sabe, só existiu um exemplar.

 

/ 39 / Corta barachinhas
Alfaia dotada de um cabo de 85 cm., tendo, na extremidade, uma peça em U invertido, que envolve a barachinha de lama, que é cortada cérce por uma lâmina metálica inserida na parte inferior do referido encaixe; precisa do trabalho de dois homens: um para a puxar com uma corda e outro para orientar o rumo.

Cortar as cabeceiras
Abrir a água das cabeceiras, pela primeira vez, na véspera da botadela.

 

Cortar lama
Aluir as lamas novas e as areias depositadas no fundo dos cristalizadores, com o ugalho da lama, para que sejam mais facilmente removidas pelas almanjarras.

Coruto
Parte do monte de sal que fica acima das canastras de roda.

 Fotografia da Câmara Municipal de Aveiro.

/ 40 / Couraça
Vala que continua o entraval, no sentido do comprimento da marinha, e tem como utilidade impedir a infiltração da géniga.
Quando se está a reformar a água, em tempo de curas, a couraça funciona, também, como carreira de longo, podendo, se necessário, trazer a água dos algibés.

 

Cristalizadores
Compartimentos no fundo dos quais se deposita o sal.
Os cristalizadores normais são os meios de baixo; no entanto, em anos bons e nas marinhas valentes, podem também empregar-se, para tal função, os meios de cima, as cabeceiras e, muito excepcionalmente, os casqueiros e os talhos.
O solo destes compartimentos deve ser suficientemente permeável para permitir a infiltração de sais, considerados impurezas do sal comum.

 

Cu do torrão
Parte inferior do cubo de lama.

 

Cura
Acção de curar.

 

Curar
Endurecer a praia dos cristalizadores, alternando a exposição dos fundos em seco, à acção do sol, durante quatro a oito dias, com a tomada de água nova que se deixa morrer ou se arreia, ou, ainda, se ugalha.

 

Dar grade
Alisar, com a almanjarra de três paus, os fundos das peças do mandamento.

 

Dar molhaduras
Molhar bem o parcel dos meios de cima e de baixo, durante a cura, procurando-se obter uma melhor compactação.

 

/ 42 / Dar sol
Expor os compartimentos sem água, à acção do sol, para aquecer os fundos, queimar o moliço e secar as lamas.
O mesmo que Levar a praia a seco, Pôr ao sol e Secura.

A dureza da faina do sal. Fotografia de João Salgueiro. 
 

Defensão
Muro exterior da marinha, construído em torrão cimentado com lama, que delimita a propriedade e impede a entrada da água da Ria.
Quando a marinha se situa num local desabrigado ou onde se verifiquem correntes de forte intensidade, ou, ainda, haja muito navegação a motor, a parte externa deste muro deve ser consolidada com o assentamento de uma protecção em pedra e caco. O mesmo que Muro.

 

Deixar morrer a água
Deixar evaporar, completamente, a água de um reservatório.

 

Descascar
Cortar os cabeços da praia do mandamento com enxadas ou pás.

 

Desmamadela
Última fase da cura que consiste em passar a água concentrada dos meios de baixo para os meios de cima, com a intenção de adiantar a botadela.
Este trabalho é prejudicial ao bom funcionamento posterior da salina.

 

Dispor a praia
Plantar, em forma de pé de galinha, pequenos tufos de vegetação do sapal, de 10 por 10 cm., no sítio donde se extraiu o torrão, para propiciar que, nesse terreno, cresçam, de novo e o mais rapidamente possível, as plantas que integram o torrão.
Veja-se Bessa.

 

/ 43 / Eira
Zona do malhadal onde o sal é acumulado em montes; em princípio, as eiras devem ser duas para cada quinhão,

 

Elos
Argolas, primitivamente em madeira e, depois, em ferro, na extremidade mais grossa das moeiras, onde se encaixam os quícios,

 

Emarachar
Colocar o sal no tabuleiro do sal.
O mesmo que Embarachar e Enfeitar.

 

Embarachar
Veja-se Emarachar.
O mesmo que Enfeitar.

 

Emontear
Pôr o moliço em laboiros.
O mesmo que Montear.

 

Encamisar
Criar camisa.

 

Encanar
Drenar as nascentes de água doce existentes no subsolo da praia, com especial cuidado quando se trata dos meios.

 

Encanas
Canais de drenagem em madeira, por onde se evacuam, para os poços das encanas, as águas doces existentes no subsolo da praia.

 

/ 44 / Encapelar
Veja-se Baldear.
O mesmo que Coroar.

 

Encher bessa
Preencher, com terra, não só o espaço compreendido entre a fiada de torrão e a parede de um muro que se está a reparar ou construir, mas também um vazamento. Veja-se Abrir bessa.

 
Encher o monte. Foto de Mário Marnoto.

Encher os montes
A primeira canastra de sal é colocada no centro da eira e as seguintes vão sendo despejadas, umas em cima das outras, sempre em pontos diferentes do monte, seguindo-se o mesmo percurso circular; quando a estrela atinge a altura de um homem, começa-se a abrir roda, ou seja, a colocar sal na saia (a aba), aumentando-a, por forma a que o monte vá perdendo a sua forma cónica, até se criar uma base plana superior, necessária para se fazer novo coruto. Esta operação de abrir roda vai-se repetindo, até se formar um monte com o tamanho desejado.
Veja-se Abrir roda.

Encimar.

Encimar
Parte final do emarachar, após se ter deixado escorrer as moiras, no tabuleiro do sal.

 

Encinho
Veja-se Ancinho.

 

Enfeitar
Veja-se Emarachar.
O mesmo que Embarachar.

 

/ 46 / Enfenar
O torrão enfena, quando nele se começam a desenvolver plantas, cujas raízes ajudam à sua consolidação.

 

Engaço
Alfaia formada por um cabo de madeira de 1,3 m., tendo, na extremidade, um pente de ferro com 3 ou 4 dentes; entre outras coisas, serve para abrir a bomba de tubo, no princípio da safra, quando a salina está, ainda, no fundo, enganchando-se um dos dentes na palmeta submersa e puxando-a para cima.

 

Engiva
Linha de separação entre o cristalizador e o tabuleiro do sal.

 

Enjoo
Veja-se Chão encaldado.
O mesmo que Chão entabuado.

 

Ensebar os portais
Diz-se que os portais ensebam, quando, após a abertura do tabuleiro, ficam entupidos com o sal que se foi depositando, durante a passagem das moiras muito concentradas, sendo necessário desobstruí-los, para que os cristalizadores sejam devidamente alimentados; este entupimento verifica-se em condições atmosféricas muito favoráveis à feitura do sal.

 

Entraval
Vala, com uma largura aproximada de um metro, situada entre o tabuleiro do sal da marinha velha e a malhada; tem como função defender a marinha das infiltrações da água da Ria e receber as águas nascidas no subsolo da praia e as provenientes das sangraduras, sendo vazada para o esteiro, durante a maré baixa, através da bomba de escoar.
O mesmo que Intervalo.

 

 
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