David Paiva Martins, Aradas. Um olhar sobre a segunda metade do século XX. 1ª ed., Aradas, Junta de Freguesia de Aradas, 2011, págs. 27 e 28.

FEIRA DO OUTEIRINHO

Uma coisa de que provavelmente ninguém se lembra é a Feira do Outeirinho. É natural que isso aconteça porque, bem vistas as coisas, a feira acabou por finais da primeira metade do Século XX.

Era uma feira mensal. Realizava-se no Largo do Outeirinho, junto da Igreja Paroquial. A primeira foi no dia 17 de Fevereiro de 1889. A partir daí, tinha lugar no dia 17 de cada mês. Porém, com o andar do tempo, como nas redondezas se realizavam diversas outras nesse mesmo dia, a nossa foi perdendo vitalidade. Com a finalidade de lhe dar novo fôlego, a Junta de Paróquia, na sua sessão de 5 de Fevereiro de 1905, resolveu mudar-lhe a data para o dia 14. A primeira feira dessa nova data realizou-se em 14 de Maio de 1905.

Em 1 de Fevereiro de 1908 ocorreu o Regicídio. Foi um acontecimento brutal e traumático a que se seguiu, cerca de 2 anos mais tarde, em 5 de Outubro de 1910, a implantação da República. As lutas políticas, que resultaram dessas alterações profundas, tiveram também sérias consequências no meio social da nossa Freguesia. Entre elas, um agravamento das relações inter-pessoais que redundou em novo período de definhamento da nossa feira, que acabou por deixar de se fazer.

Anos mais tarde, numa sessão extraordinária da Junta, em 27 de Dezembro de 1914, o vogal Casimiro dos Santos Madail tomou a palavra e propôs que a Junta fizesse os esforços necessários para se estabelecer uma feira, a fazer no Largo do Outeirinho, porque isso era muito útil para o povo. O Presidente, Duarte Tavares Lebre, achava a ocasião inoportuna para tal iniciativa, porque o povo da Freguesia estava dividido em duas correntes políticas - o que, em seu entender, prejudicaria a prosperidade da feira. Então, o vogal Manuel Simões Morgado propôs que, por / 28 / meio da propaganda à feira, se procurasse unir o povo e acabar com a divisão provocada por essas duas correntes políticas. Acrescentou que seria muito útil que, para fazer essa propaganda, se nomeasse uma Comissão em cada Lugar da Freguesia. A proposta foi aprovada.

Em consequência, na sessão de 24 de Janeiro de 1915, a Junta decidiu convidar todos os lavradores a comparecer com os seus gados e produtos à primeira feira, que se realizaria em 17 de Fevereiro de 1915, continuando depois a ocorrer todos os meses no dia 17 de cada um.

Contudo, o entusiasmo inicial foi-se esbatendo, a feira voltou aos poucos a definhar e acabou por morrer. Foi outra vez restabelecida, após o final da Grande Guerra, por decisão tomada na
sessão da Junta de 6 de Julho de 1919. Mas também não durou muitos anos e acabou de novo por deixar de se fazer.

Na sessão de 22 de Março de 1931 da chamada "Junta Militar", foi deliberado "dar apoio à Comissão de Lavradores da Freguesia que pretende restabelecer a feira que há anos, por vários motivos, se não realiza". Marcou-se o reinício para o dia 17 de Abril de 1931. A Junta, nos prospectos de propaganda distribuídos na Freguesia e nos lugares vizinhos, dizia conceder aos feirantes todas as facilidades e não cobrar qualquer imposto que lhe fosse devido durante um ano. E, na sessão de 3 de Abril de 1931, decidiu que a feira inicial, do dia 17 seguinte, fosse anunciada com foguetes e repiques dos sinos e que uma Filarmónica tocasse no recinto durante a sua própria realização.

Na acta da sessão do dia 17 de Abril de 1932, data do primeiro aniversário do restabelecimento da feira, a Junta anotou que se congratulava "com o êxito que a feira tem sido, com comparência de gente da terra e de fora".

Porém, com a II Grande Guerra (1939-1945), os tempos mudaram. E no final da Guerra, que foram os meus tempos de criança, não recordo que a feira ainda existisse.

 

 
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