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Artes - Letras - Ciências
Suplemento do n.º 271 do "Litoral"
Dezembro de 1959, Ano I, n.º 4
págs. 18 e 19

 

VELA BRANCA DO MEU SONHO

 

POR CIMA DA CIMALHA DENEGRIDA
ACENA-ME A VELA BRANCA
DO MEU SONHO
E O AZUL REAL É TINGIDO
DE TONS FORTES IMAGINADOS.

O RACIOCÍNIO DIZ-ME BAIXINHO:
NASCIMENTO...
INSTINTO...
DEPOIS, RAZÃO.

 

NÃO, NÃO QUERO IR CONTIGO;
TENHO MEDO DO ESCURO
TENHO MEDO DE ESTAR SÓ.

QUERO VOLTAR AO INSTINTO...
POR CIIMA DA CIMALHA DENEGRIDA
ESPERA-ME A VELA BRANCA
DO MEU SONHO.

APRE! QUE A RAZÃO FAZ DOER.

amândio sereno

 


Todos buscamos gestos sem sentido
para lhes darmos o sentido exacto
daquele que não soube conservar-se. 

Nesse intervalo apenas pressentido
cada um de nós deixa o seu retrato,
realmente, sem um único disfarce. 

poema de DINIS DE RAMOS


POEMA

de

Joaquim

Namorado
 


EM CADA ESQUINA
A TENTAÇÃO NOS APETECE 

EM CADA GESTO
A MÃO NOS ACARINHA 

EM CADA SOMBRA
UM DESCANSO SE ADIVINHA 

EM CADA SOFRIMENTO
UM CORAÇÃO PADECE. 

SOFRE
AMA
DESCANSA
ACARICIA

 CORAÇÃO COMPADECIDO
APODRECE.
 


Esperança quase sem esperança

 
E agora, irmãos?
Nesta curva da nossa longa estrada,
Que mais vamos fazer por nossas mãos?
— Nada de nada
Nada, que as forças caem-nos dos braços.
De nada, porque o tempo só nos foge.
Vida sem amanhã — que não há passos.
Talvez sem hoje...
 

Cansados, deixemos dobrar os joelhos.
E marquemos, no chão,
O espaço para os corpos gastos, velhos,
De que as almas — quais delas? — subirão.

alberto de serpa

 

BAIXO-RELEVO 

AQUELA CURVA DA ESTRADA
ONDE O LUAR AMORTECE;
AQUELA CANÇÃO MAGOADA
QUE A VOZ DO RIO CANTOU,
QUANDO OLHAMOS A DISTÂNCIA
DOS LONGES QUE JÁ NÃO SOU;
A FAVORÁVEL FOLHAGEM,
LEVEMENTE A ADOECER,
DO CHOUPO QUE SE DEBRUÇA
E AINDA ME FAZ DOER
POR JÁ NÃO SER SENTINELA
DA MAIS FUNDA INTIMIDADE
QUE AMBOS SOUBEMOS VIVER;
O SEIO NU QUE ME DESTE,
INSACIÁVEL, VORAZ,
NUMA VOLÚPIA INSTINTIVA
DE QUEM NÃO SABE O QUE FAZ
A TUA BOCA
QUE A MINHA SEDE APAGAVA,
FARTA DE TANTO BEBER,
E QUE OUTRA SEDE MAIS VIVA
FAZIA EM MIM RENASCER;
AQUELA CARÍCIA LEVE,
AQUELE OLHAR DEMORADO,
A FEBRE
DA TUA CARNE ESCALDANTE;
— TUDO QUE FOI PARA NÓS
UMA PAISAGEM VIVIDA,
 

GRITE, BEM ALTO, O NOSSO AMOR DISTANTEI

1935 - Pedro Zargo

 

As imagens têm voz Entrevista com Mário Braga Correspondência dos Leitores Três Poemas de William Carlos Williams Rodolfo da Cantuária Crítica literária Carta a Mário Sacramento Considerações gerais sobre "factos" Carta a Luís Francisco Rebello Uma exposição de monotipias de Emanuel Macedo e José Paradela Digesto de Notícias Lembrança de Raul Brandão Ilusões (conto) Entrevista com o Dr. José Pereira Tavares Concerto do Silêncio (crónica) Do infinitamente pequeno ao infinitamente grande Poemas EscamasAsas cortadas Fac-símiles

 

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