Liturgia Pagã

 

Sugestões de uma agência de férias

18º Domingo do tempo comum (ano A)

1ª leitura: Isaías, 55, 1-3

2ª leitura: Carta de S. Paulo aos Romanos, 8, 35-39

Evangelho: S. Mateus, 14, 13-21

 

Isaías parece um agente de férias revolucionário: Venham satisfazer os vossos desejos sem gastar dinheiro! E continua: porque havemos de o gastar em coisas que nos deixam desiludidos? Porque havemos de comer e de beber coisas sem sabor? Sigam o conselho do Senhor das grandes aventuras!

Pois é, os caminhos de Deus não são os caminhos do dinheiro. Não só nos deixamos enganar nos negócios como podemos alinhar em esquemas de corrupção, de violência, e de guerras mortíferas. É por isso que o dinheiro não pode ser o nosso Senhor… (Mateus,6,24).

O dinheiro ganho honestamente é que ajuda a embelezar e a tornar cativantes os caminhos de Deus. O Papa Francisco não se cansa de falar da única gestão plenamente humana, que nos proporciona umas férias de aventuras enriquecedoras, para nós e para quantos vamos encontrando nas praças ou nos desertos. Quem esbanja em prazeres só arrebenta balões ou procura estontear-se para não ter que pensar na vida.

São Paulo sublinha que a nossa fortaleza perante os mais desesperantes situações não consegue ser comprada pelo dinheiro. Por isso, em tudo devemos ter presentes as sugestões do Senhor das aventuras…

Será que alguém deseja procurar algum mago poderoso que arrebata multidões?

O evangelho de hoje fala da tentativa de Jesus por arranjar um tempinho de repouso, sobretudo depois da triste notícia da execução de João Baptista. Ainda se meteu num barco na mira de um local tranquilo. Mas o povo, quando soube disto, saiu a pé das cidades à volta, para irem ter com Jesus. Os quatro evangelistas referem esta «publicidade» de Jesus, certamente para vincar que Jesus era para toda a gente. Jesus ficou comovido com tamanha manifestação de apreço, e atendeu o melhor possível às necessidades corporais e espirituais.

Mas porquê a multiplicação dos pães e dos peixes? Para fazer «show»? No relato de S. João, o povo continua a segui-lo, como a um «ídolo», mas Jesus falou claro: «vós procurais-me não por terdes visto sinais admiráveis mas porque comestes bem e de graça» (6,23-27). (Não falta quem lembre das férias só os bons churrascos bem acompanhados…).

Nas nossas aventuras, podemos encontrar vários destes «sinais admiráveis»:

- A preocupação pelo bem-estar dos outros, sem olhar a que partido ou classe pertencem.

- O incentivo da autoconfiança e iniciativa dos discípulos: estes têm que saber resolver os problemas.

- Todo o povo comeu, e não apenas os espertinhos.

- Quando nos decidimos a dar do que temos para fazer bem aos outros, nunca nos faltará que fazer: surgem sempre novas portas onde desejam que entremos. O que interessa é multiplicar a felicidade – e sem fazer contabilidade ao que temos, ao que damos, ao que recebemos.

- É o dom de si próprio que alimenta. Os outros poderão ver que não nos movemos por interesse próprio mas por fazer bem o que é bom.

Jesus Cristo não possuía artes ou forças mágicas, como certos relatos levam a crer. A mulher em sofrimento de fluxo de sangue (Marcos, 5, 25-34) e que tocou o manto de Jesus, acreditando que bastaria isso para ser curada – ficou mesmo curada. Mas Jesus chamou a atenção para que o seu manto não tinha poderes mágicos: «foi a tua fé que te salvou e curou».

Os seus milagres foram por vezes acusados de serem obra do demónio. De facto, podemos ficar deslumbrados com ilusões ou jogos perversos. O essencial é saber «quem está por trás». Para Jesus, era central que acreditassem na sua união íntima com Deus, e que por isso podia fazer seu o convite da 1ª leitura: «Prestai-me ouvidos e vivereis».

Das nossas férias, interessa trazer a imagem e o proveito das coisas admiráveis que vivemos. O grande «milagre» de Deus é a «multiplicação» do Universo e especialmente da vida – sob as formas mais extraordinárias, que nos emocionam e convidam a entrar nessa aventura.

3-08-2014


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